O papel do líder na administração da igreja

O desenvolvimento e o sucesso de qualquer igreja ou ministério, em grande medida, depende do estado em que se encontra a liderança. O líder que deseja ter êxito em seu trabalho ministerial necessita de habilidades, de competências e, sobretudo, de uma boa relação com Deus.
Sob essas premissa s, torna-se imprescindível rever o trabalho pastoral no contexto de sua gestão na igreja local. Além disso, é importante observar o que as Escrituras e outros autores dizem sobre uma
boa liderança e os desafios administrativos atuais.

Crescimento em Cristo

As igrejas precisam desenvolver os dons proporcionados pelo Espírito Santo. Porém, quando essas graças espirituais não são usadas pelos membros do corpo de Cristo, o desânimo e a inatividade podem
se transformar em dormência espiritual. É isso o que a comunidade cristã deseja? Creio que não. Os fiéis de nossas igrejas necessitam ser formados, informados, reformados e transformados à imagem de Cristo. Por definição, o corpo de Cristo é dinâmico e requer avanço constante.
Geoff rey Bromiley escreveu que Jesus “é o coração e o fundamento do nosso ministério”.1 Dessa forma, cada crente é membro do corpo de Cristo e sócio de Seu ministério contínuo, colaborando no serviço de salvar pessoas. Nesse processo, o Espírito Santo sempre foi fundamental, inclusive no tempo da igreja apostólica. Refletindo sobre isso, F. F. Bruce escreveu: “O surgimento e o progresso do cristianismo,
desde os seus primórdios até à conversão dos ingleses, optou por usar a analogia da expansão do fogo”.2 A igreja, como um incêndio fora de controle, espalhou-se de Jerusalém em um período relativamente
curto e alcançou todo o mundo conhecido.
O que havia no cristianismo, em suas crenças, em suas práticas e em seus primeiros adeptos, que provocou sua rápida expansão até os confins da Terra? Um aspecto a considerar é que surgiu do solo estéril do fragmentado judaísmo. Além disso, nasceu em um período notável da história que propiciou sua expansão. O apóstolo Paulo se referiu a essa ocasião como “a plenitude do tempo” (Gl 4:4): a época do nascimento de Cristo e de Sua igreja.


Necessidade de organização
O Manual da Igreja diz: “Assim como não pode haver um corpo humano vivo e ativo, a menos que seus membros estejam organicamente unidos e funcionando juntos, igualmente não haverá uma igreja viva, que cresça e prospere, a menos que seus membros estejam unidos em um corpo espiritual coeso, todos desempenhando seus deveres e funções outorgados por Deus, sob a direção de uma autoridade divinamente constituída. Sem organização, nenhuma instituição ou movimento pode prosperar.”3
O Novo Testamento fornece evidências de uma igreja organizada e, como em qualquer instituição em desenvolvimento, percebe-se o dinamismo e a centelha de um grande movimento. Edward Hayes explicou: “Sob a direção e o cuidado apostólico, surgiu uma organização que correspondeu à necessidade. […] Mas embora não seguindo uma ordem especial, surgiram certos padrões organizacionais imediatamente depois do Pentecostes. […] A fé da igreja crescente não foi estática,
mas vibrava com a vida e o dinamismo.”4 A necessidade administrativa surgiu ao se deparar com a multiplicação diária de conversos. Tornou-se urgente organizar as forças evangelizadoras para alcançar
o maior número de pessoas com a mensagem de salvação. As Escrituras especificam que foram designados anciãos nas igrejas (At 14:23), os quais deviam zelar pela “sã doutrina” e administrar os recursos doados pelos voluntários da igreja.


Desafios da liderança
A administração eclesiástica e a liderança pastoral são duas realidades necessárias em nossa comunidade. A igreja do século 21 deve ser capaz de examinar tudo e reter o que é bom ( 1Ts 5:21), especialmente
em matéria de organização.
A liderança pastoral exige muitas tarefas e responsabilidades: “Em virtude de sua ordenação, ele [o pastor] está qualificado para dirigir todos os ritos e cerimônias. Deve ser o líder e conselheiro da congregação. Deve instruir os oficiais em seus deveres e planejar com eles todos os ramos da obra e das atividades da igreja .”5
Existe hoje a necessidade crescente de uma liderança acompanhada por claros princípios de administração. Inclusive a evolução tecnológica exige também uma certa atualização no âmbito administrativo. Líderes cristãos tomaram consciência da necessidade de otimizar seus esforços para adquirir melhores competências administrativas. Isso significa que alguns líderes cristãos não parecem tão reticentes quanto ao uso de conceitos seculares no âmbito eclesiástico. Muitas organizações cristãs tentaram aplicar a filosofia administrativa secular para levar adiante a obra de Deus. No entanto, os princípios bíblicos de administração são essenciais para desenvolver e manter uma organização cristã.
“Se a empresa cristã deseja realizar as tarefas que Deus lhe propõe, seus líderes devem aplicar os princípios de administração com base na Palavra de Deus.”6 Isso significa buscar nas Escrituras respostas
sobre como administrar a obra do Senhor. O mesmo autor esclareceu que, “no passado, a comunidade cristã não se preocupava em manter um equilíbrio entre a liderança espiritual e a administrativa”.7
No entanto, a literatura atual concorda em mencionar a importância e a necessidade de uma liderança como a de Cristo. É com essa consciência que, recentemente, as organizações cristãs passaram a dedicar
mais tempo construindo uma liderança administrativa.
Em certas áreas, a administração eclesiástica não é tão diferente da administração de empresas. Ambas as áreas compartilham certos princípios: planejar, organizar, dirigir, coordenar e avaliar. Segundo Wilfredo Calderón, “a administração eclesiástica é o processo pelo qual a igreja, como um corpo, alcança seus objetivos por meio dos seus membros, mediante valorização, planejamento e organização, para uma execução coordenada e eficaz”.8 Como processo de planejamento, a organização deve coordenar e dirigir as atividades da instituição. O planejamento também se aplica às pessoas, organizadas em uma hierarquia, que desempenham tarefas ou funções. Também deve ser reconhecido que a organização é um dos dons do Espírito Santo (1Co 12:28), que consiste na capacidade que Deus dá a certos membros do corpo de Cristo para gerir as questões administrativas da igreja (At 6:1-7; Lc 14:28-30).
A administração é dirigida por pessoas com habilidades dadas por Deus e que entenderam que o corpo de Cristo precisa ter planos a curto, médio e longo prazo, a fim de cumprir sua missão na Terra. Peter Wagner assinala que o corpo de Cristo deve “compreender claramente os objetivos imediatos e de longo prazo de uma unidade particular do corpo de Cristo e conceber e executar planos efetivos para a realização dessas metas”.9


Reconstruindo o conceito de liderança
Como liderar uma organização? Essa preocupação se expressa materialmente na busca pela efetividade nas ações. Nesse sentido, procura-se melhorar o aproveitamento dos recursos, a economia de esforços e a otimização de resultados. Em nossa era de avanço científico e tecnológico, nada pode ficar ao acaso. Portanto, pastores, gerentes ou qualquer outro tipo de administrador precisam refletir sobre a responsabilidade de se trabalhar com pessoas.
Mas, o que significa, então, liderar organizações? Para responder essa pergunta, devemos reconhecer que a administração é tão antiga quanto o ser humano. Quando um homem constitui uma família e se sente
na obrigação de cumprir metas, surge a necessidade de distribuir tarefas e atribuir certas responsabilidades a cada integrante. Da mesma forma, dirigir uma congregação requer dedicação intensa e constante. O próprio Jesus usou princípios de comando, estabeleceu hierarquia e delegou autoridade.
Assim, os discípulos desenvolveram um estilo de administração que, até hoje, as igrejas seguem como exemplo.
Ralph Stogdill revisou mais de três mil livros e artigos e concluiu como é difícil ter uma compreensão clara e integrada do conceito de liderança. Advertiu que “existem tantas definições de liderança como pessoas que tentaram definir o conceito”.10 McCall e Lombardo, citados por José M. Peiró, indicaram que “o número de modelos não integrados, teorias e esquemas conceituais sobre a liderança é preocupante”.11 Isso porque, na sua maioria, a literatura a respeito contém muitos erros e contradições.
No entanto, dentro da ciência da administração, as seguintes definições podem esclarecer certos aspectos. George R. Terry afirmou que administrar é “um processo distintivo que consiste no planejamento, organização, direção, execução e controle do trabalho através do emprego de pessoas
e recursos de vários tipos”.12 Herbert A. Simon definiu “administração” como uma “ação humana, racional e cooperativa para chegar a determinados objetivos”.13 É evidente que esses conceitos não podem ser dissociados do que acontece no trabalho pastoral. Ele demanda pressões e desafios como treinamento e educação constante, orientação aos membros em suas responsabilidades, planificação, acompanhamento e avaliação das ações administrativas.
Segundo George Terry, “a habilidade de um líder deveria ser induzir os seguidores a trabalhar juntos, com zelo e confiança em tarefas fixadas por ele”.14 Tomislav Ostoic observou também que “liderança é a arte
de influenciar as pessoas de modo que elas se esforcem voluntariamente para as metas do grupo. […] O líder toma seu lugar à frente do grupo, facilitando seu progresso e inspirando-o a alcançar as metas da organização”.15 Em outras palavras, onde existem grupos humanos, aparecerão pessoas que exercem influência sobre os outros, dirigindo e orientando suas atividades.


Pastor-líder
O termo pastor na Bíblia deriva da palavra hebraica rō‘ê e do substantivo grego poimēn, cujos significados básicos apontam para a ideia de apascentar, alimentar e cuidar.16 Também “é usado com referência a Deus, o grande Pastor, que apascenta Suas ovelhas (Sl 23:1-4; cf. Jo 10:11)”.17 O Salmo 23, reconhecido como uma joia literária do Saltério, é um “canto de confiança descrevendo o cuidado de Deus para com o rei e sua comunidade, usando a imagem de um pastor e anfitrião”.18 Esse é o jeito divino de “administrar” Seu povo e deve ser o modus operandi dos pastores de hoje: apascentar pessoas.
É interessante observar que Israel era um povo predominantemente pastoral. Seus conceitos religiosos foram coloridos por seu vocabulário e hábitos comuns em uma comunidade pastoral. Na Bíblia, o termo “pastor” foi usado pela primeira vez por Jacó, em Gênesis 49:24. A metáfora do pastor indica as intenções de Deus ao cuidar do Seu povo, pois sabe que as ovelhas necessitam de constante vigilância e proteção contra as feras, além de abrigo e conforto. “O pastor ajuda os perdidos e doentes. Sem pastor, as ovelhas geralmente perecem.”19 Daniel Carro indica algumas qualidades do pastor presentes no Salmo 23:

  1. 1. O bom pastor: vida e proteção.
  2. 2. O pastor bondoso: descanso e repouso.
  3. 3. O pastor sábio: guia e ensino.
  4. 4. O pastor poderoso: companhia e vitória.
  5. 5. O pastor cuidadoso: provisão e alimento.
  6. 6. O pastor pessoal: amizade e conforto
  7. 7. O pastor principal: casa e família.20
    No Novo Testamento, Jesus é apresentado como o Bom Pastor (10:11), “o grande Pastor das ovelhas” (Hb 13:20), o “Supremo Pastor” (1Pe 5:4). Ele foi capaz de dar a vida para salvar Suas ovelhas. Jorge A. Leão escreveu: “É preciso ver Jesus, por um lado, pregador e, por outro, pastor,
    o que cuida e cura as ovelhas.”21 Depois da ressurreição, Jesus disse aos discípulos: “Como o Pai Me enviou, assim vos envio” (Jo 20:21). Ele espera que cada pastor assuma sua responsabilidade do mesmo modo como Ele a cumpriu, tanto na proclamação do evangelho quanto no ministério pessoal.
    Pode-se observar ainda que, no contexto em que Jesus expressou “Eu Sou o Bom Pastor”, Ele advertiu que existem pessoas que, embora sejam pastores, são catalogadas como “assalariadas”, ou seja, não têm interesse em defender o rebanho. Jesus olhou para o mundo religioso e observou
    os “assalariados” vivendo de seus luxos e deixando de lado o cuidado pelas ovelhas. Estes homens não eram pastores, mas caçadores. Que tipo de postura assumimos hoje? Somos pastores ou apenas
    assalariados?

Conclusão

Quando uma pessoa aceita o chamado de Deus para entrar no ministério pastoral, terá de enfrentar grandes desafios: a resolução de conflitos interpessoais, restaurar a vida espiritual da igreja, orientar, capacitar, visitar, dar estudos bíblicos, pregar a grandes e pequenos auditórios, administrar cerimônias de batismo, funeral, casamento, entre outras atividades. A lista de atividades ao serviço de Deus parece não terminar. Jorge A. Leão explicou de maneira interessante a vocação pastoral no século 21: “O pastor tem que cumprir seu ministério em um mundo profundamente conflitante, com problemas aos quais não se pode dar uma solução rápida e fácil.”22

Não é estranho, então, encontrar pastores confusos em um mundo confuso. Essa confusão exige uma mensagem de salvação com propósitos concretos e com suma urgência. Cada pastor deve se orientar pelos princípios estabelecidos por Cristo em Sua Palavra. Deve compreender e conhecer o mundo em que está inserido e pedir diariamente para ser cheio do Espírito Santo. Assim, poderá pastorear de maneira correta as ovelhas que foram encomendadas à sua responsabilidade.

Ellen White descreveu o espírito que deve caracterizar o pastor: “O espírito do verdadeiro pastor é de total esquecimento de si mesmo. Ele perde de vista o eu para que possa fazer as obras de Deus. Pela pregação da Palavra e pelo ministério pessoal nos lares do povo, toma conhecimento de suas necessidades, tristezas e provações; e ao cooperar com Aquele que carrega nossos fardos, participa das aflições das pessoas, confortando-as em suas tristezas, alimentando a alma faminta e ganhando o coração delas para Deus.”23

Referências
1 G. W. Bromiley, Christian Ministry (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1959), p. 35.
2 F. F. Bruce, Hechos de los Apóstoles: Introducción, Comentario y Notas (Grand Rapids, MI: Nueva
Creación, 1990), p. 91.
3 Manual da Igreja (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2023), p. 27.
4 Edward L. Hayes, La Iglesia: El cuerpo de Cristo hoy (Puebla: Las Américas, 2003), p. 148.
5 Manual da Igreja, p. 34.
6 Aldo Broda, Administración: principios gerenciales para líderes cristianos (Miami: Editorial Unilit, 2001), p. 12.
7 Broda, p. 12.
8 Wilfredo Calderón, Administración de la Iglesia Cristiana (Miami FL: Vida, 1982), p. 45.
9 C. Peter Wagner, Su Iglesia Puede Crecer (Barcelona: Clie, 1980), p. 137-153.
10 Mónica García Solarte, “Formulación de un modelo de liderazgo desde las teorías organizacionales”,
Entramado, v. 11 nº 1, 2015, p. 60-79.
11 J. M. Peiró, Desencadenantes del Estrés Laboral (Madri: Pirámide, 1999), p. 77.
12 Terry George, Principios de Administración (Nova York: McGraw Hill, 1961), p. 1.
13 Herbert A. Simón, Administrative Behavior (Nova York: MacMillan 1958), p. 1.
14 Terry George e Leslie Rue, Principios de Administración (Buenos Aires: El Ateneo, 1986), p. 5.
15 Tomislav Ostoic, Administración Educacional (Antofagasta: Universidad Católica del Norte, 1998),
p. 32.
16 cf. Ludwig Koehler; Hebrew and Aramaic Lexicon of the Old Testament, p. 1259; Walter Bauer, A Greek–
English Lexicon of the New Testament and Other Early Christian Literature, p. 843.
17 W. E. Vine, Diccionario Expositivo de Palabras del Antiguo y del Nuevo Testamento Exhaustivo
(Nashville, TN: Caribe, 1999), p. 531.
18 The Lockman Foundation, Biblia de Estudio (La Habra, CA: Foundation Publications, 2000), Salmo 23.
19 Daniel Carro, José Tomás Poe e Rubén O. Zorzoli. Comentario Bíblico Mundo Hispano (El Paso, TX:
Mundo Hispano, 1993), v. 8, p. 124, 125.
20 Carro, Poe e Zorzoli, Comentario Bíblico Mundo Hispano, v. 8, p. 124, 125.
21 Jorge A. León, Psicología Pastoral Para Todos los Cristianos (Buenos Aires: Kairos, 2012), p. 49.
22 León, Psicología Pastoral Para Todos los Cristianos, p. 55.
23 Ellen G. White, Atos dos Apóstolos (Tatuí, SP: Casa
Publicadora Brasileira, 2021), p. 335.

JOEL ÁLVAREZ
professor na Universidad Adventista de Chile