O Ministério de Capelania Adventista foi criado com o propósito de restaurar integralmente as pessoas, conduzindo-as a uma vida plena em Cristo. Jesus declarou: “Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10:10). Essa promessa salvífica inclui a atuação de Deus por meio de Seus colaboradores na Terra, com a missão de abençoar, auxiliar e aliviar o sofrimento humano neste mundo marcado pelo pecado.
Diante das crescentes complexidades e fragilidades do mundo, esse ministério busca atender as necessidades atuais, exigindo vocação, experiência e preparo adequados. Por isso, a igreja reconhece a importância do Ministério de Capelania para os desafios do tempo presente.
O termo “capelão” tem origem no latim cappellani e se refere àqueles que ministram, oferecem apoio e auxiliam no crescimento espiritual de outras pessoas. Isso inclui, especialmente, o cuidado espiritual e emocional em momentos de crise. “O vocábulo começou a ser utilizado para designar um clérigo que servia como ministro do monarca. Diferentemente dos párocos, ele não era responsável por uma paróquia, mas sim pela vida espiritual do rei e de sua corte. Investido de autoridade eclesiástica, também possuía uma capela.”1 Com o tempo, essa concepção levou a atuação dos capelães a se concentrar, sobretudo, em contextos institucionais. Essa visão, com adaptações e variações, permanece até hoje no âmbito das igrejas cristãs.
Capelania adventista
A missão do Ministério de Capelania Adventista é servir e restaurar as pessoas, conduzindo-as ao discipulado em Cristo.2 O trabalho do capelão reflete o ministério compassivo de Jesus, que Se aproximava das pessoas e supria suas necessidades.
Espera-se que esses ministros possuam sensibilidade para lidar com as fragilidades humanas, aliada a uma formação avançada que os capacite a enfrentar os desafios de sua missão. Assim, o capelão atuará como provedor de cuidado espiritual, mediador, líder organizacional e especialista na integração entre a missão e o trabalho operacional. Esses aspectos são fundamentais, pois pessoas de diferentes culturas e crenças entram em contato com as instituições e são atendidas por elas.
O Ministério de Capelania reconhece que todos os seres humanos possuem uma dimensão espiritual, independentemente de sua crença ou prática religiosa. Isso exige que o capelão tenha um coração disposto e desenvolva habilidades para ministrar às pessoas respeitando sua individualidade. Nesse sentido, o Ministério de Capelania existe porque “as pessoas precisam de cuidado pastoral, mesmo que não pertençam a uma igreja […] e especialmente quando estão passando por uma crise”.3
“A capelania hospitalar me proporcionou o privilégio de estar presente nos momentos mais marcantes da vida das pessoas: a indescritível alegria do nascimento de um bebê, a emoção de uma recuperação esperada com ansiedade ou a dor profunda de uma despedida.
Nesses instantes, quando as emoções estão à flor da pele, temos uma missão inabalável: levar palavras de consolo e esperança, ajudar cada pessoa a encontrar paz em meio à tempestade e reafirmar a certeza de que Deus continua no controle, mesmo quando um diagnóstico desafia a fé.
Além disso, somos agentes de transformação na clínica, levando valores de compaixão, empatia e serviço a cada colaborador. Trabalhamos lado a lado com médicos e enfermeiros para oferecer um atendimento integral, em que o cuidado espiritual é tão importante quanto o físico.
Diariamente, acompanhamos pessoas de diferentes crenças, oferecendo apoio sem impor nossa fé. Esses desafios nos impulsionam a nos apegarmos ainda mais ao braço onipotente de Deus e a permanecermos firmes na missão de ser luz na escuridão.“
Carlos Zarate é capelão da Clínica Adventista Good Hope, em Lima, Peru, há dez anos.
“Servir ao Senhor é sempre um grande privilégio, independentemente da área da Obra. No ministério pastoral hospitalar, destaco um desafio significativo: lidar diariamente com um turbilhão de emoções. Em um único dia, pode-se celebrar a alta de um paciente ou o nascimento de um bebê e também compartilhar a dor de alguém que recebeu um diagnóstico de doença terminal ou está enfrentando a perda de um ente querido.
Na capelania educacional, o grande desafio é conquistar a atenção de uma geração hiperconectada, constantemente estimulada por tecnologias e telas. Ainda assim, atuar nesse ministério proporciona um dos maiores privilégios: a oportunidade de crescer e amadurecer como pastor, graças ao dinamismo e à intensidade do trabalho, além da profunda dependência de Deus.“
Daniel Almeida é capelão do Colégio Adventista Grão-Pará e atuou na capelania hospitalar por quatro anos.
A Igreja Adventista tem trabalhado de forma persistente para oferecer direção clara e propósito ao Ministério de Capelania, visando um serviço mais amplo e eficaz em ambientes complexos. O Regulamento da Associação Geral declara: “Todos os capelães são pastores, embora nem todos os pastores sejam chamados para ser capelães. Para se tornar capelão, o pastor deve ter formação teológica avançada, experiência pastoral comprovada por credenciais válidas e endosso eclesiástico.”4
Com base nessa diretriz, a Igreja Adventista do Sétimo Dia considera a capelania um ministério oficial e especializado, que exige pastores devidamente qualificados.
Perfil do capelão
Atualmente, a Divisão Sul-Americana possui uma descrição do perfil dos capelães que atuam nas áreas de educação e saúde. Esse perfil considera cinco competências e 25 indicadores, que estabelecem um modelo para orientar o plano de desenvolvimento pessoal e profissional desses ministros.
Cada instituição ou campo, com o apoio dos diversos níveis da igreja, deve se empenhar para que os capelães se desenvolvam em conformidade com o perfil estabelecido.
Certa vez, ao escrever ao capelão do Sanatório de Battle Creek, nos Estados Unidos, Ellen White ressaltou os seguintes aspectos relacionados ao perfil e às competências necessárias para aqueles que atuam nessa área: “É de suma importância que aquele que é escolhido para cuidar dos interesses espirituais dos pacientes e auxiliares seja uma pessoa de bom senso e firme aos princípios, alguém que exerça influência moral, que saiba lidar com as mentes. Deve ser uma pessoa sábia e culta, afetuosa, assim como inteligente. Pode a princípio não ser inteiramente eficiente em todos os sentidos; deve, porém, mediante intensas reflexões e o exercício de suas habilidades, qualificar-se para essa importante obra. É necessário muita sabedoria e bondade para servir convenientemente nessa posição, mesmo com inflexível integridade, pois devem ser enfrentados preconceito, fanatismo e erro de toda forma e espécie.”5
“Em 2010, recebi o chamado divino para iniciar uma experiência pioneira no Chile: a capelania não tradicional em colégios, universidades e hospitais. Mais tarde, em 2018, esse ministério se expandiu para o campo humanitário, servindo a mais de 840 funcionários da Adra no país, dos quais apenas 40 são adventistas.
Trabalhar com mentes secularizadas exige um dom especial do Espírito Santo para construir pontes de confiança. Além disso, requer criatividade e integridade. O desafio é ser luz sem confrontar, mas também sem diluir a verdade. Cada pessoa representa uma oportunidade de aplicar o método de Cristo: apresentar um Salvador próximo e humano. Como capelão, acompanho pessoas em momentos de vulnerabilidade – em hospitais, desastres socioambientais e nas forças armadas –, levando esperança onde é mais necessário.
A capelania vai além dos sermões; é a fé traduzida em ação. Servir sem agenda, ouvir sem julgar e orar em meio ao caos reflete o amor radical de Jesus. As conversões e curas mais profundas geralmente acontecem longe dos púlpitos. No cotidiano – até mesmo nos desastres mais devastadores –, Deus age por meio de uma escuta atenta e palavras oportunas.
Carregar o sofrimento alheio exige raízes devocionais profundas. Além disso, a constante atualização técnica é essencial. Eu me especializei em determinadas áreas, como infância, emergências e ambiente militar, para me comunicar no idioma de cada profissão.“
Jaime Carrilo é capelão da Adra e do Exército do Chile.
“A capelania me permitiu atuar diretamente na construção do caráter de crianças e jovens em uma fase crucial da vida. Essa experiência foi fundamental para minha jornada ministerial, proporcionando aprendizado sobre planejamento, gestão do tempo e desenvolvimento de projetos espirituais. Costumo dizer que ser capelão é um dom, uma habilidade que nem todo pastor formado no seminário necessariamente desenvolve. Um bom capelão tem grande potencial para se tornar um excelente distrital, mas o contrário nem sempre acontece.
Diante da relevância desse ministério, é essencial refletirmos sobre a forma como a capelania escolar é encarada. Atualmente, a escola é frequentemente vista apenas como uma incubadora ministerial, um local de passagem para pastores recém-formados. Essa alta rotatividade compromete o vínculo com os alunos, as famílias e a própria instituição.
O ideal seria que a formação teológica incluísse uma preparação específica para a capelania, com estágios voltados à realidade escolar. Mais do que um trampolim para outros ministérios, a capelania deveria ser reconhecida como um chamado para toda a vida pastoral.“
Jairo Oliveira é departamental de Família e diretor de Capelania da Associação Paulistana. Atuou como capelão por 15 anos.
A pioneira continua a descrição, destacando a importância da maturidade e idoneidade moral do candidato: “Esse lugar não deve ser ocupado por uma pessoa de temperamento irritável, de combatividade violenta. Deve-se ter cuidado para que a religião de Cristo não se torne repulsiva em virtude de severidade ou impaciência. Os servos de Deus devem procurar, por meio da mansidão, da bondade e do amor, representar corretamente nossa fé sagrada. Embora a cruz jamais deva ser ocultada, ele deve apresentar também o amor inigualável do Salvador. O obreiro deve estar imbuído do espírito de Jesus, e então os tesouros do ser devem ser apresentados em palavras que encontrem seu caminho para o coração dos ouvintes. A religião de Cristo, exemplificada na vida diária de Seus seguidores, exercerá uma influência dez vezes maior do que os mais eloquentes sermões.”6
Capacitação para a missão
Na América do Sul, o Ministério de Capelania cumpre sua missão prestando serviço em diversas instituições, com foco principal nas áreas de educação e saúde. Atualmente, cerca de 560 capelães atuam em colégios e universidades, aproximadamente 45 apoiam a obra de saúde em hospitais e clínicas, e 10 servem em outras instituições.
A igreja necessita de diversos dons e habilidades para cumprir sua missão com eficácia. Por esse motivo, são necessários ministérios especializados, capazes de alcançar diferentes grupos em variados ambientes, utilizando estratégias adequadas às distintas realidades. Assim, a capelania amplia o alcance missionário, abrindo caminhos e criando oportunidades extraordinárias para o evangelho em contextos difíceis.
A igreja oferece apoio e oportunidades de desenvolvimento para seus capelães. Os pastores que atuam nessa área podem receber o endosso denominacional da Associação Geral, que é o reconhecimento oficial para o exercício desse ministério. Além disso, eles têm acesso à capacitação contínua, a fim de aprimorar suas competências e realizar um trabalho de excelência.
“Ministrar às novas gerações é um privilégio, ajudando-as a enfrentar questões como sexualidade, autoestima e família. É também uma honra formar novos líderes e conduzir o corpo docente e suas famílias aos pés de Jesus. Contudo, existem desafios, como comunicar as verdades bíblicas de maneira acessível e conscientizar a comunidade educacional e a igreja sobre a importância desse ministério.“
Jimena Valenzuela é professora universitária e capelã do Instituto Adventista Avellaneda, na Argentina. Atua na capelania há 13 anos.
Na América do Sul, foram formados especialistas nessa área, o que permite acompanhar de forma mais eficaz o desenvolvimento do Ministério de Capelania. Além disso, foram criados programas de especialização e pós-graduação, que oferecem excelentes oportunidades de aprendizado e crescimento. Isso segue a recomendação feita por Ellen White: “As associações devem cuidar para que as escolas sejam providas de professores bem competentes no ensino da Bíblia, bem como que possuam profunda experiência cristã. Os melhores talentos do ministério devem ser empregados em nossas escolas.”7
Como ministério essencial na missão da Igreja Adventista, a capelania fortalece o cuidado espiritual e emocional em instituições educacionais, de saúde e em outros contextos. Seu compromisso é levar esperança e restauração a todos os que necessitam, cumprindo a ordem de Cristo de servir ao próximo com amor e compaixão. Por meio da atuação dedicada de capelães preparados e comprometidos, esse ministério amplia o impacto do evangelho, alcançando pessoas que, muitas vezes, não seriam alcançadas pelos métodos tradicionais. Assim, o Ministério de Capelania permanece como um instrumento valioso para testemunhar sobre o amor de Deus e conduzir mais pessoas a uma vida plena em Cristo.
“Ser pastor escolar é uma oportunidade valiosa de influenciar o presente e o futuro da igreja, pois envolve a formação espiritual dos jovens, que serão os próximos líderes da comunidade adventista. Os jovens, geralmente mais sinceros e abertos, têm disposição para servir ao evangelho, são curiosos para aprender sobre a Bíblia e mostram fidelidade aos princípios que acreditam ser corretos. Além disso, revelam talentos impressionantes e uma entrega sincera à missão, tornando o trabalho profundamente gratificante.
Contudo, os desafios são significativos. O capelão deve compreender as diferentes necessidades de cada faixa etária, desde os pequeninos da educação infantil até os adolescentes do ensino médio, ajustando sua linguagem e abordagem conforme o público. Outro desafio é equilibrar a firmeza nos princípios da fé adventista com o respeito no diálogo com alunos, pais e funcionários de outras religiões. Além disso, a rotina de um pastor escolar exige grande organização e preparo, já que a agenda inclui semanalmente diversos projetos e atividades.“
Tális Keller é capelão do Colégio da Faculdade Adventista do Paraná.
Josué Espinoza, secretário ministerial associado para a Igreja Adventista na América do Sul
Referências
1 Luz M. Rivera, Capellanía Institucional: Nociones Básicas de la Capellanía (Nashville, TN: Abingdon Press, 2010), p. 13.
2 Regulamentos Eclesiástico-Administrativos da Divisão Sul-Americana, seção FA 06 S.
3 N. Paget e J. McCormack, El Trabajo del Capellán (Filadélfia, PA: Judson Press, 2006), p. 5.
4 General Conference Working Policy, seção FA 30.
5 Ellen G. White, Testemunhos Para a Igreja (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2021), v. 4, p. 475.
6 White, Testemunhos Para a Igreja, v. 4, p. 475, 476.
7 Ellen G. White, Evangelismo (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2023), p. 330.