Estratégias para uma igreja viva

Definido como “processo que leva ao estabelecimento de um conjunto coordenado de ações, visando à consecução de determinados objetivos”,1 o planejamento é essencial em todas as áreas da nossa existência, especialmente no serviço a Deus e à Sua igreja.

Deus que planeja

Quando estudamos a Bíblia e o Espírito de Profecia, percebemos claramente que servimos a um Deus que estabelece e segue um plano ordenado. Expressões como “tempo determinado” (Ec 3:1; Dn 8:19; Dn 11:35; Hc 2:3), “plenitude dos tempos” (Gl 4:4; Ef 1:10), e outras que denotam a existência ou importância de um planejamento (Gn 1 e 2; 2Rs 19:25; Jó 42:2; Pv 21:5; Lc 14:28-30), demonstram que o próprio Deus não faz as coisas sem um preparo.

O maior exemplo de planejamento vem do próprio Deus, quando formulou o plano da salvação. Ellen White escreveu: “O plano de nossa redenção não foi um pensamento posterior, formulado depois da queda de Adão. Ele foi ‘a revelação do mistério guardado em silêncio nos tempos eternos’ (Rm 16:25). Foi um desdobramento dos princípios que, desde os ­séculos da eternidade, têm sido o fundamento do trono de Deus. […] Deus não determinou a existência do pecado, mas previu-a e tomou providências para enfrentar a terrível situação.”2

Deus é intencional, organizado e tem objetivos a alcançar. Tudo isso Ele faz de forma pensada, coesa e planejada.

Plano divino

Inspirada por Deus, Ellen White orientou: “Deve ser feita na igreja uma obra bem organizada, para que seus membros saibam como comunicar a luz a outros e assim fortalecer a própria fé e aumentar seu conhecimento. Ao repartirem o que receberam de Deus, serão firmados na fé. A igreja que trabalha é uma igreja viva.”3

Com base nessa citação, a igreja que realiza sua obra de forma bem organizada é uma igreja forte, viva e que cumpre o papel para o qual foi estabelecida. Esse é o plano de Deus para nós!

Ciente da importância de organizar a igreja para o trabalho, tenho dedicado esforços desde o início do meu ministério, com a ajuda de Deus, para estabelecer planos junto aos meus liderados a fim de promover dois objetivos cruciais: 1) fortalecer espiritualmente os membros da igreja e 2) envolvê-los na missão. Portanto, as sugestões que compartilharei neste artigo são fruto da minha pequena experiência ao longo desses quase 15 anos de ministério.

Antes de prosseguir, é importante destacar que estas propostas para elaboração do planejamento eclesiástico podem ser adaptadas, aprimoradas e até descartadas de acordo com as características de cada igreja.

Primeiros passos

Busque sabedoria do alto. Seguindo as recomendação divinas, devemos consultá-Lo em oração, antes de qualquer coisa, e permitir que a palavra final na elaboração dos planos seja Dele (Pv 16:1). Assim, ­dedique um tempo considerável e/ou dias de oração antes de se reunir com a liderança para iniciar o planejamento. Esse era o método de Jesus (Lc 6:12-16).

Considere a agenda do campo local. Ao se reunir com a liderança (distrital e local), tenha em mãos o calendário anual de atividades fornecido pela Associação/Missão a qual você pertence. Isso facilitará a definição de datas e programações.

Ouça sua liderança. Consulte a liderança da igreja, ouça-a e compartilhe, de forma geral, sua visão e o que você gostaria de realizar – juntamente com eles – para a glória de Deus. É importante que seus sonhos sejam os sonhos deles também.

Coloque os sonhos no papel. Uma vez que todos sabem onde desejam chegar, é hora de montar o planejamento. Após feito, leve-o em sua agenda/celular e compartilhe as informações impressas e/ou digitalizadas com todos os seus líderes.

Planejamento sugestivo

Entendo que “igreja viva” é a igreja que cuida de seus membros e os alimenta espiritualmente. É também a igreja que congrega para adorar ao Senhor e doa em expressão de gratidão, além de contribuir para o sustento da obra de Deus. Por fim, é uma igreja que anuncia as boas-novas da salvação em Jesus. Vejamos de forma objetiva cada um desses aspectos.

Cuida

Partindo do princípio de que devemos cuidar, em primeiro lugar, dos nossos (Gl 6:10; At 2:46), e de que somos guardadores dos nossos irmãos, elabore planos para dar suporte a todos os membros. Na primeira ênfase definimos atividades como:

Visitação pastoral. Organize-se para visitar todos os membros em seus respectivos lares. Você também pode estabelecer dias e horários para recebê-los na igreja ou atendê-los por meio de chamadas de vídeo, especialmente aqueles que não têm muita disponibilidade de horário. Lembre-se de que a visitação é um dos principais trabalhos do pastor. Sugiro iniciar a visitação pelos anciãos e demais líderes da igreja.

Visitação do ancionato. Organize o ancionato para a visitação. Com base na lista de membros, reparta uma quantidade específica de famílias para cada anciã(o) “subpastorear”. Realize um treinamento básico4 sobre como devem proceder durante as visitas.

Pequenos grupos e unidades da Escola Sabatina. Além da visitação pastoral e do ancionato, o estabelecimento da maior quantidade possível de pequenos ­­grupos e a filiação dos membros às classes da Escola Sabatina são indispensáveis no levantamento e atendimento das necessidades espirituais da membresia, principalmente em igrejas grandes.

Alimenta

A nutrição espiritual da igreja é outro fator importante no planejamento distrital. Infelizmente, muitas pessoas naufragam na fé (1Tm 1:19) porque não se fortalecem espiritualmente nem se apegam à Palavra de Deus (Lc 4:4; Tt 1:9). Mas um pastor segundo o coração de Deus trabalha para que isso não aconteça. Assim, na segunda ênfase, você pode estabelecer as seguintes ações:

Calendário de pregação. Prepare um calendário de pregação5 com base nas necessidades da igreja. Isso ajudará sua congregação a se alimentar do que ela precisa e não apenas do que deseja ouvir. Organize séries temáticas, especialmente para os cultos de domingos e quartas. Priorize o estudo de temas mais profundos que ajudarão a solidificar a fé e o compromisso dos membros com a mensagem adventista. Defina as datas das semanas de oração, vigílias, santas ceias, batismos, entre outras.

Ensino prático. Segundo Ellen White, “deve haver menos pregação e mais ensino”6 em nossas igrejas. Assim, inclua em seu planejamento seminários sobre profecias, história da igreja adventista, soteriologia, como tirar melhor proveito dos momentos de leitura bíblica e devoção pessoal, entre outros.

Disponibilize conteúdos. Com a facilidade de comunicação por meio das ­redes sociais (especialmente o WhatsApp), aproveite para disponibilizar artigos, links e ­documentos oficiais da igreja para que os membros tenham acesso a conteúdos seguros. Você como pastor pode fazer isso rotineiramente ou delegar essa atividade a alguém do ancionato, ou ainda eleger um líder específico para essa função.

Congrega

Um dos grandes desafios que tenho enfrentado no ministério é com relação à evasão dos membros, tanto em igrejas pequenas quanto grandes, situação que se agravou após a pandemia da Covid-19. Essa é uma grande preocupação, pois a orientação bíblica é que a igreja se reúna para cultuar e que se alegre ao fazê-lo (Hb 10:25; Sl 122:1). Portanto, acrescente a seu planejamento anual várias ações que incentivem os membros a participar dos cultos regulares.

Aprimore as reuniões de culto. Tendo como base a ênfase “alimenta”, o aprimoramento dos cultos deve começar pelo “fortalecimento do púlpito”. Mensagens sólidas, com base bíblica, que vão ao encontro das reais necessidades dos ouvintes, fortalecerão a fé dos membros e trarão de volta os ausentes. Promova aulas aos pregadores da igreja sobre como preparar e apresentar sermões (essas aulas podem ser presenciais, on-line ou por meio de algum curso de oratória gravado).7

Ensine a igreja a adorar e louvar. Nos­sos membros precisam ser ensinados sobre o que é adoração. Faça sermões sobre o tema. Além disso, é importante dar atenção às mensagens cantadas. Oriente os dirigentes da música8 sobre o papel que o louvor desempenha na liturgia. Isso qualificará as reuniões de culto, tornando-as mais envolventes e com maior significado.

Envolva o maior número de participantes nas atividades dos cultos. A seguinte frase atribuída a Benjamin Franklin tem muito a nos ensinar: “Diga-me e eu esqueço. Ensine-me e eu lembro. Envolva-me e eu aprendo.” Para que haja maior adesão aos cultos, é necessário que os participantes se envolvam no processo, a fim de que haja mudança de mentalidade acerca da importância de se congregar. Recomendo as seguintes ações: realize uma enquete com os membros para que sugiram temas a ser abordados; envolva as crianças e adolescentes nas programações; escale líderes de departamento e suas respectivas equipes para dirigir determinadas reuniões de culto e programações especiais. Que outras sugestões você acrescentaria?

Doa

Inclua no seu planejamento algumas atividades que fortaleçam, eduquem e incentivem os membros acerca da fidelidade nos dízimos e ofertas como uma expressão de gratidão a Deus e para a manutenção de Sua obra local e mundial (Ml 3:10; 2Co 9:7; 2Co 11:8, 9).

Ofertório em todos os cultos.9 Além de fazer parte da adoração ao Senhor, realizar o momento do ofertório em todas as reuniões de culto proporcionará um lembrete constante e educativo sobre a importância da fidelidade. Converse com sua liderança sobre isso.

Defina percentuais de crescimento. Com base nas informações do ano anterior, estabeleça metas em percentuais de quanto desejam crescer nos dízimos e ofertas.

Acompanhamento regular pela comissão diretiva. Com a ajuda do departamento da tesouraria local e/ou da Associação/Missão, solicite os dados do ano anterior disponíveis no ACMS para um comparativo. A cada bimestre/trimestre dedique um tempo da reunião da comissão diretiva para analisar o crescimento/queda dos dízimos e ofertas.

Faça prestação de contas. Estabeleça datas para apresentar um relatório financeiro para a igreja. Inclua nesse relatório informações como: entradas e despesas, comparativos dos dízimos e ofertas, informações sobre o número de dizimistas e ofertantes, etc. Isso gera credibilidade e incentiva os membros a se comprometerem com a obra do Senhor.

Outras ações. Além das atividades elencadas acima, a implementação de uma equipe distrital de mordomia, a rea­lização da “Festa das Primícias”,10 a Se­mana da Fidelidade e alguns “plantões” para o incentivo do uso do aplicativo 7me, ­também podem ajudar no fortalecimento da fidelidade em sua igreja.

Anuncia

Por fim, nenhum planejamento estaria completo se não apresentasse ações que incentivem os membros a se envolverem na missão e no discipulado. Muitas são as possiblidades para compor as atividades dessa ênfase. Algumas delas são:

Estabeleça frentes missionárias. Defina junto à liderança o número de estudos bíblicos, duplas missionárias, classes bíblicas, livros missionários e quantas pessoas desejam alcançar por meio do batismo.

Séries evangelísticas. Separe as datas das programações evangelísticas regulares que temos em nosso calendário anual (Semana do Calvário, Evangelismo Feminino, Semana da Esperança, Reen­contro, entre outras) e estabeleça outras que julgar importantes. Forme equipes para planejar cada uma delas (quem será o orador, músicas, divulgação, etc.).

Projetos comunitários. Estabeleça projetos comunitários, como: atendimento aos beneficiados pela ASA, acompanhamento às famílias de presidiários, auxílio a moradores em situação de rua, refugiados, entre outros. Esses são campos férteis em que a semente do evangelho brotará e produzirá grande colheita – mas é necessário planejar antes.

Conclusão

Após definir todas as ações, tome um voto com a comissão diretiva e com a igreja. Faça o acompanhamento e a avaliação dessas ações nas reuniões regulares da liderança.

Por fim, como mencionado na introdução deste artigo, as atividades apresentadas são apenas sugestivas, e objetivam auxiliar você, amigo pastor, na construção do planejamento junto à sua igreja. E então, vamos planejar?

Que o Senhor abençoe você e seus líderes na elaboração de coisas grandiosas para a obra de Deus em 2024. Avancemos! Jesus tem pressa. 

Rubens Mandelli
pastor em Brasília, DF

Referência

Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa (Curitiba, PR: Editora Positivo Ltda, 2008), p. 1575.

Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2021), p. 11.

Ellen G. White, Serviço Cristão (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2022), p. 62.

Ver “Como Fazer uma Visita Pastoral”, Associação Ministerial, disponível em <link.cpb.com.br/32d5dc>, acesso em 30/10/2023.

Ver “Planejamento de Pregação” de Emilson Reis, Como Preparar e Apresentar Sermões (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2018).

Ellen G. White, Obreiros Evangélicos (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2023), p. 312.

Ver “Capacitação para Anciãos”, Associação Ministerial, disponível em <link.cpb.com.br/af572a>, acesso em 30/10/2023.

Ver “Liderança de Música e Adoração”, Unasp, disponível em <link.cpb.com.br/9e33e5>, acesso em 30/10/2023.

“Primeiro Deus – Crescimento Espiritual”, Divisão Sul-Americana, disponível em <link.cpb.com.br/85f366>, acesso em 30/10/2023.

10 Pollyana Trindade, “Projeto das Primícias Incentiva Membros a uma Renovação de Compromissos”, Datas Especiais, disponível em <link.cpb.com.br/04d712>, acesso em 30/10/2023.