Quando fui batizado, meu pastor disse: “Agora você é um missionário de Jesus.” Na época, eu não entendia plenamente o que ele queria dizer. Como muitos novos convertidos, eu havia lido histórias de missionários que viajavam para outros países. Embora admirasse a coragem deles, eu não tinha uma compreensão clara de como poderia contribuir pessoalmente para a missão.

Ao longo dos anos, por meio da orientação do Espírito Santo e da experiência, tenho aprendido sobre a importância de estar envolvido na condução de pessoas à salvação em Jesus. Ao refletir sobre minha jornada, percebo que meus esforços poderiam ter sido muito mais eficazes se eu tivesse recebido treinamento adequado desde o início. Essa percepção ressalta a importância de capacitar os membros da igreja para o trabalho missionário e de promover congregações com mentalidade missionária.

Ellen White escreveu: “Não há limites à utilidade de uma pessoa que, deixando de lado o próprio eu, oferece margem à atuação do Espírito Santo no coração e leva uma vida de inteira consagração a Deus.”1 Essa declaração destaca o poder transformador do Espírito Santo em mobilizar indivíduos para a missão. Os pastores, naturalmente, desempenham um papel fundamental no cultivo dessa mentalidade dentro de suas congregações.

Quais são algumas estratégias para desenvolver igrejas com mentalidade missionária? Com base em princípios bíblicos e modelos bem sucedidos, como o Envolvimento Total dos Membros (TMI, na sigla em inglês), este artigo mostra que, ao engajar os membros, oferecer treinamento e promover uma cultura de ação, os pastores podem conduzir suas congregações a cumprir plenamente a missão dada por Deus.

Um quadro bíblico e prático

A Igreja Adventista do Sétimo Dia não é meramente uma instituição sócio-religiosa; é um movimento chamado por Deus para preparar o mundo para a segunda vinda de Cristo. Essa missão está firmemente enraizada na Grande Comissão: “Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a guardar todas as coisas que tenho ordenado a vocês” (Mt 28:19, 20).

Ellen White escreveu: “A obra de Deus na Terra jamais poderá ser terminada a não ser que os homens e as mulheres que constituem a igreja concorram ao trabalho e unam seus esforços aos dos pastores e oficiais da igreja.” 2 Essa mobilização exige intencionalidade para envolver cada membro.

Por muitos anos, a realidade de participação nas igrejas seguiu o Princípio de Pareto: 20% dos membros faziam 80% do trabalho. No entanto, em 2016, a Associação Geral lançou a iniciativa Envolvimento Total dos Membros com o objetivo de reverter essa tendência. O ETM enfatiza a participação de 100% dos membros na missão, sustentando que, quando todos estão engajados, as igrejas experimentam crescimento notável e exercem impacto muito maior na comunidade.

Desenvolvendo igrejas com mentalidade missionária

Os pastores devem se concentrar em três passos essenciais para criar igrejas com mentalidade missionária:

1. Inspirar os membros ao envolvimento: A maneira mais eficaz de inspirar os membros é o próprio pastor demonstrar entusiasmo. A paixão de um líder pela missão desperta zelo semelhante na congregação. Comece orando pelo derramamento do Espírito Santo e por um coração compassivo para com os perdidos. Como Ellen White registrou, citando as palavras de um anjo sobre a oração: “Enviem insistentemente suas petições ao trono e persistam nelas com firme fé.”3

Os membros ganham motivação e propósito quando entendem o “porquê” de sua missão. O exemplo do apóstolo Paulo em Filipenses 1:12 a 14 ilustra isso: mesmo preso, sua alegria, foco e determinação inspiraram outros a proclamar o evangelho com ousadia e coragem. Ele escreveu que seu aprisionamento foi “para o progresso do evangelho” (Fp 1:12).

Por que os membros devem se envolver na missão? Aqui estão cinco razões fundamentais:

  • Traz alegria ao crente. Jesus disse: “Tenho lhes dito estas coisas para que a Minha alegria esteja em vocês, e a alegria de vocês seja completa” (Jo 15:11). Ellen White comenta: “Não há maior bem aventurança deste lado do Céu, do que ganhar pessoas para Cristo.”4
  • Oferece uma oportunidade de salvação. Compartilhar Jesus dá aos outros a chance de responder ao chamado do Espírito Santo (1Tm 2:3, 4).
  • Alegra o coração de Deus. O Céu se regozija a cada pecador que se arrepende (Lc 15:10).
  • Molda nosso coração para sermos semelhantes a Jesus. A missão de Cristo foi “buscar e salvar o perdido”, e Ele chama Seus seguidores a fazer o mesmo (Mt 4:19).
  • Cumpre o mandamento de Deus. A Grande Comissão não é opcional; é um mandato para todos os discípulos (Mt 28:19, 20).

2. Oferecer recursos e oportunidades de treinamento: Nada grandioso acontece na igreja sem entusiasmo. No entanto, entusiasmo sozinho não basta. É necessário oferecer treinamento, recursos e ferramentas práticas para que a missão seja cumprida com eficácia. Isso significa capacitar os membros para:

  • Dar um poderoso testemunho pessoal;
  • Oferecer estudos bíblicos;
  • Liderar pequenos grupos;
  • Visitar lares e interagir com a comunidade;
  • Organizar e conduzir reuniões evangelísticas.

Ellen White afirmou: “Em toda igreja, os membros devem ser preparados de maneira tal que dediquem tempo para ganhar pessoas para Cristo. Como poderá ser dito da igreja: ‘Vocês são a luz do mundo’ (Mt 5:14), a menos que seus membros estejam realmente comunicando luz?”5

Esse preparo deve ser contínuo, com oportunidades regulares para o desenvolvimento de habilidades e o fortalecimento da confiança. Um exemplo bem-sucedido vem de Ruanda, onde, após o maior batismo da história da igreja, mais de 80% dos novos membros permaneceram ativos porque foram imediatamente envolvidos na missão.

3. Promover uma cultura de ação: Líderes devem buscar, de forma constante, envolver os membros na missão. A ordem de Jesus foi simples e direta: “Façam discípulos.” É um chamado para todos.

No início do meu ministério como pastor distrital, senti-me sobrecarregado. Queria realizar reuniões evangelísticas, mas tudo parecia inviável. Foi então que busquei orientação de um mentor experiente, que me ensinou a envolver a igreja por meio de pesquisas, reuniões e planejamento participativo.

A preparação deve sempre conduzir à ação. Como Ellen White exorta: “Despertem e compreendam seu dever os que estão encarregados do rebanho de Cristo, e ponham muitas pessoas a trabalhar.”6 Isso significa:

  • Fazer pesquisas para identificar interesses e dons dos membros;
  • Formar equipes ministeriais para atender às necessidades da comunidade;
  • Planejar campanhas evangelísticas e iniciativas de pequenos grupos;
  • Definir metas mensuráveis e avaliar o progresso regularmente;
  • Incentivar passos simples, como convidar amigos para a igreja ou servir ativamente na comunidade.

O envolvimento total promove unidade, estimula o crescimento pessoal e fortale os laços dentro da igreja.

O impacto do Envolvimento Total dos Membros

Desde o seu lançamento, o ETM tem produzido resultados notáveis:

  • Maior participação no trabalho missionário global;
  • Mais de 700 mil batismos apenas na Divisão Centro-Leste Africana e mais de 300 mil em Papua-Nova Guiné;
  • Conscientização sobre as necessidades da comunidade;
  • Melhoria nas taxas de retenção de membros, graças ao discipulado intencional;
  • Unidade de propósito e visão.

Esses resultados reforçam que a igreja foi organizada para a missão. Como Ellen White alerta: “As igrejas estão definhando porque seus talentos não foram empregados para difundir a luz.”7

Um chamado para todos

A missão da igreja é clara: preparar o mundo para a volta de Jesus. Para alcançar essa meta, cada membro deve estar ativamente envolvido. Os pastores têm um papel vital em inspirar, equipar e mobilizar suas congregações. O ETM oferece um modelo prático para isso, lembrando que salvar almas não é tarefa para poucos, mas um chamado para todos.

Que nós, como pastores e líderes, sejamos parceiros de Deus nessa grande missão. Se não formos nós, quem será?

Ramon Canals, secretário ministerial da Associação Geral

Referências

1 Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2021), p. 189.
2 Ellen G. White, Obreiros Evangélicos (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2024), p. 270.
3 Ellen G. White, Primeiros Escritos (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2022), p. 87.
4 Ellen G. White, Evangelismo (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2023), p. 231.
5 Ellen G. White, Serviço Cristão (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2022), p. 51, 52.
6 White, Serviço Cristão, p. 52.
7 White, Serviço Cristão, p. 49.