O que você precisa saber sobre esse movimento contemporâneo que pretende reformar a comunidade cristã

No dia 8 de julho de 2005, um documentário exibido pela rede de TV norte-americana Public Broadcasting Service (PBS) definiu igreja emergente como “um movimento crescente que está repensando o que o cristianismo e a igreja devem representar em uma cultura contemporânea”.1 Bob Abernethy, âncora do programa, comentou que o movimento propõe um modelo de adoração e de igreja para as novas gerações, que experimentam a mutação cultural que ocorre atualmente.

O que é igreja emergente? O que isso envolve? Por que devemos nos preocupar?

O que é?

Podemos descrever igreja emergente como um movimento dentro das igrejas evangélicas empenhado em adaptar estilos e práticas de adoração, com o objetivo de atrair a juventude secular e pós-moderna,
membros em geral e pessoas não cristãs por meio de uma nova proposta cúltica.

Quando os evangélicos emergentes adoram, eles geralmente utilizam vários estilos musicais. Do rock pesado a hinos tradicionais, dos cânticos spiritual a canções litúrgicas tradicionais do cristianismo e judaísmo. A liturgia pode estimular o adorador a se movimentar durante o culto e a se envolver em vários rituais. Geralmente estes incluem práticas místicas, oração contemplativa e pedidos escritos de oração. Oficinas de pintura ou outras formas de arte também podem ser oferecidas a fim de ajudar o fiel a se expressar em sua adoração. Nesse paradigma litúrgico sacramental, os fiéis veem Cristo em todas essas atividades.2

O ponto central da adoração da igreja emergente não é a pregação da Bíblia, mas seu ritual (eucaristia). Para alguns líderes do movimento, os “sermões” são opcionais,3 outros os apresentam de maneira simples e resumida, ou usam projeções e representações artísticas. Em alguns casos, vários apresentadores substituem o pregador, e preferem contar histórias a pregar como “transferência autoritativa de informações bíblicas”.4

Assim, podemos dizer que essa nova adoração e espiritualidade “emerge” da antiga liturgia católica romana, da espiritualidade oriental, do culto carismático contemporâneo e da cultura pós-moderna.5

O que está envolvido?

Movimentos complexos têm muitas causas inter-relacionadas, e a igreja emergente não é exceção. Uma série de questões de grande alcance impulsionou sua rápida ascensão e aceitação nos círculos evangélicos. Entre elas encontramos o sentimento de insatisfação interna quanto à atual condição da teologia evangélica, com suas persistentes divisões doutrinárias,6 e o alarmante percentual de jovens evangélicos que abandonam as igrejas.7 Esses fatores são combinados com a convicção de se ter encontrado a chave para superar tais desafios, usando para isso os recursos disponíveis no supermercado das tradições antigas e da cultura pós-moderna.

A igreja emergente, portanto, envolve mais do que simplesmente mudanças no estilo de adoração.8 O teólogo evangélico Justin Taylor descreve os líderes do movimento como “evangélicos autoproclamados que procuram revisar a teologia, renovar a essência da adoração e transformar a comunidade adoradora evangélica, que está consciente do contexto global pós-moderno no qual vivemos”.9 Isso indica que a igreja emergente não trata apenas das inovações de culto. Em vez disso, propõe uma grande revisão da crença evangélica, de sua teologia e identidade eclesiológica. O objetivo é renovar o centro do movimento evangélico.

A igreja emergente intencionalmente procura adaptar o cristianismo ao pensamento pós-moderno. De acordo com Stanley Grenz, falecido líder teológico do movimento, a incorporação de ideias modernistas deficientes10 levou os evangélicos ao fundamentalismo e às divisões liberais e conservadoras que surgiram entre as denominações protestantes na metade do século 20.11 Grenz defendia que a solução para os problemas teológicos evangélicos era adotar ideias pós-modernas. Na prática, isso implicava renunciar a todos os absolutos (filosóficos e bíblicos) e abraçar a tradição cristã e a cultura pós-moderna como a nova base sobre a qual a igreja deveria se firmar. Assim, o novo movimento se vê emergindo da tradição cristã como uma “reforma pós-moderna” da igreja.12

À medida que os cristãos emergentes interpretam as Escrituras a partir da perspectiva hermenêutica da tradição da igreja,13 inevitavelmente abraçam o pluralismo teológico, o relativismo e o ecumenismo católico romano.14 Por essa razão, o movimento não “possui um sistema hermético ou declaração de fé”.15 Seu projeto teológico promove a unidade geral dos cristãos, abraçando uma “ortodoxia generosa”16 que inclui a maioria dos ensinamentos e práticas tradicionais que “emergiram” ao longo da história cristã.

Stanley Grenz defendia com convicção que o movimento evangélico e a Reforma Protestante são de natureza ecumênica.17 Voltando às suas raízes, os evangélicos emergentes querem se tornar o principal movimento do evangelicalismo norte-americano.18

Por que se importar?

Durante os últimos 50 anos, o uso de materiais “evangélicos” aumentou significativamente no meio adventista. Em vez de refletir na exatidão e criatividade das Escrituras, muitos têm se contentado em seguir as tendências. Esse empréstimo acrítico ocorre não só na teologia, mas também no ministério, na espiritualidade, no culto e na missão. Um crescente número de pastores tem recomendado literatura emergente às suas igrejas para a vida devocional, ministérios, missão e adoração. Se algo não for feito, esse processo pode redefinir o adventismo à imagem da igreja emergente.

É preciso notar que surgem no movimento práticas pastorais distantes das Escrituras, baseadas no pentecostalismo e na espiritualidade mística católica.19 A princípio, é difícil compreender os evangélicos emergentes que abraçam a espiritualidade mística e restabelecem as formas litúrgicas do catolicismo romano. Certamente, eles acham o misticismo católico compatível com o evangelho.

Contudo, para entender o porquê, precisamos nos lembrar de que já ocorreu uma mudança paradigmática no culto e na espiritualidade do evangelicalismo. O paradigma do estilo de adoração carismático substituiu em grande parte o paradigma bíblico de adoração instituído pela Reforma, que era centrado na Palavra de Deus.

Além disso, também precisamos nos lembrar de que, como os estilos de adoração carismática e católica estão baseados nas mesmas premissas filosóficas e teológicas, seus rituais são vistos como mediadores da presença de Deus para o adorador. Não é de admirar, então, que os emergentes não façam nenhuma objeção em seguir esse modelo, não somente nas práticas espirituais particulares, mas também no apelo de seus cultos a um público pós-moderno que diz experimentar Deus diretamente e não por meio das Escrituras. A igreja emergente está voltando para Roma. Se continuarmos brincando de “siga o mestre”, as novas gerações voltarão a Roma também.

No entanto, há uma forte oposição ao movimento entre membros e líderes evangélicos. Compreendendo que a igreja emergente está radicalmente redefinindo o evangelicalismo, alguns deles têm se envolvido, mas com ressalvas.20 Não é de surpreender que o debate seja sobre o papel das Escrituras na teologia, no ministério e na adoração. Esses líderes questionam a rejeição das Escrituras como a única fonte da teologia e do ministério.21 Fidelidade à Bíblia e à sua interpretação é a linha que os divide. O evangelho e a identidade do movimento estão em jogo. O destino da igreja remanescente também.

Como remanescentes de Deus, nossa missão, identidade e natureza estão no entendimento consistente e na aplicação inteligente de todos os ensinamentos bíblicos. Nossa vida, nosso ministério, nosso culto e nossa missão devem resultar de um profundo estudo e compromisso com a Bíblia. Isso significa que nosso modo de pensar, em todo o mundo, deve se fundamentar exclusivamente nas Escrituras, e não nas diversas culturas e tradições.

Se você está entre aqueles que usam recursos das igrejas emergentes, sabe que há coisas boas e ruins nesses círculos. No entanto, com base nas evidências apresentadas, eu sugiro que você não as “transfira” automaticamente para nossas igrejas e ministérios, mas, primeiramente, avalie tudo criticamente à luz do pensamento bíblico, a fim de reter o que é bom e remodelá-lo para se adequar à visão teológica adventista presente em nossos princípios e doutrinas bíblicas. Isso requer dos ministros e membros uma ampla compreensão da história do amor de Deus no grande conflito, conforme revelado em Sua Palavra.

O desafio

A cultura está mudando rapidamente. O evangelicalismo está mudando. O ecumenismo está se intensificando. A história está cumprindo a profecia, e as apostas são altas para o remanescente final de Deus. Os adventistas do sétimo dia permanecerão fiéis às Escrituras, ou se acomodarão à tradição e à cultura?

Para cumprir nossa missão, devemos parar de “seguir o mestre” da reforma pós-moderna do evangelicalismo e nos tornar líderes de uma reforma bíblica,22 seguindo somente as Escrituras e gerando um movimento aprovado pelo Céu.

Na fidelidade pessoal e teológica às Escrituras, devemos ser criativos em encontrar maneiras de alcançar todas as culturas com a história da salvação. Afinal, Deus chamou Sua igreja remanescente para desempenhar o papel principal no capítulo final da grande controvérsia entre o bem e o mal. 

Referências

  • Bob Abernethy, “The Emerging Church, parte 1”, <www.pbs.org>.
  • 2 Dan Kimball, Emerging Worship (Grand Rapids, MI: Zondervan, 2004), p. 95.
  • 3 Ibid., p. 87.
  • 4 Ibid.
  • 5 D. A. Carson, Becoming Conversant With the Emerging Church (Grand Rapids, MI: Zondervan, 2005), p. 12.
  • 6 Ibid., p. 14.
  • 7 Philip Clayton, Transforming Christian Theology (Mineápolis, MN: Fortress, 2010), p. 46.
  • 8 Scot McKnight, “Five Streams of the Emerging Church”, Christianity Today, fevereiro de 2007.
  • 9 Justin Taylor, “An Introduction to Postconservative Evangelicalism and the Rest of This Book”, em Reclaiming the Center, ed. Millard J. Erickson (Wheaton, IL: Crossway Books, 2004), p. 18.
  • 10 Carson, p. 25, 26.
  • 11 Stanley J. Grenz, Renewing the Center (Grand Rapids, MI: Baker Academic, 2000), p. 86, 326-331.
  • 12 Leonard Sweet, SoulTsunami (Grand Rapids, MI: Zondervan, 1999), p. 17.
  • 13 Grenz, p. 214-215, 315.
  • 14 Ibid., p. 346-351.
  • 15 McKnight, Ibid.
  • 16 Brian D. McLaren, A Generous Orthodoxy (Grand Rapids, MI: Zondervan, 2004).
  • 17 Grenz, p. 325.
  • 18 Ibid., p. 350, 351.
  • 19 McLaren, p. 175.
  • 20 Roger Oakland, Faith Undone (Silverton, OR: Lighthouse Trails, 2007).
  • 21 Chad Owen Brand, “Defining Evangelicalism”, Reclaiming the Center, p. 295-304.
  • 22 Angel Manuel Rodríguez, “The Adventist Church and the Christian World”, Perspective Digest, 2008, p. 17.