A Divisão Sul-Americana da Igreja Adventista do Sétimo Dia, em seu concílio quinquenal realizado de 3 a 7 de novembro de 2015, estabeleceu o cuidado das novas gerações como uma de suas ênfases de trabalho.1 Essa decisão foi uma resposta à apostasia das novas gerações, observada nos registros da secretaria da DSA.

Comentando os relatórios estatísticos de 2015, o pastor Erton Köhler, então presidente da DSA, mencionou que “juvenis, adolescentes e jovens são a maioria de nossos membros, a maioria de nossos batismos e a maioria de nossas perdas. Em 2015, eles eram pouco mais de 55% dos membros, 70% dos batismos e quase 68% de nossas perdas”.2

Na mesma ocasião, Helder Roger, vice-presidente da DSA à época, disse que “a onda que esvaziou igrejas na Europa e nos Estados Unidos está caminhando para a América do Sul. A Igreja Adventista continua atraindo crianças e jovens, mas também está perdendo muitos deles”.3

Quase seis anos depois, durante a comissão diretiva da DSA realizada de 6 a 10 de julho de 2021, decidiu-se manter a ênfase no cuidado das novas gerações. Um relatório que analisou a entrada e saída de membros no decênio de 2011 a 2020 revelou que as estatísticas continuavam alarmantes: “Quando a análise é feita na faixa etária específica de 17 a 30 anos de idade (jovens), então as perdas superam os ganhos de membros. São 674.408 que deixaram a comunidade adventista contra 534.136 que se tornaram membros adventistas no mesmo período. Um saldo negativo de 26,3%.”4

Diante desse cenário, torna-se ainda mais evidente a necessidade de investir no cuidado das novas gerações. Afinal, “qualquer igreja está a apenas uma geração da extinção. Os jovens da igreja são seu maior patrimônio e esperança”.5

Contribuição do pastor escolar

Para enfrentar essa realidade, a Educação Adventista foi chamada a desempenhar seu papel. Diversas ações foram planejadas, e a atuação do pastor escolar passou a ganhar destaque.

Considerando que a “matéria-prima” do trabalho de um pastor escolar são os legítimos representantes das novas gerações, é natural esperar que seus esforços resultem em impactos significativos nessa área.

Nesse contexto, surge a questão: De que maneira o pastor escolar pode conquistar e manter as novas gerações na fé? Para responder a essa pergunta, proponho que os elementos a seguir caracterizem a práxis ministerial de um pastor escolar adventista.

Foco no objetivo principal da educação

Qualquer escola precisa atender a uma variedade de objetivos, muitos dos quais são determinados pelo próprio governo do país onde está estabelecida – como o currículo básico das disciplinas. Além disso, há demandas relacionadas à qualidade do ensino, ao crescimento nas matrículas, à qualificação dos colaboradores, entre outras. Cada um desses desafios pode impactar o sucesso ou fracasso da escola, razão pela qual há líderes responsáveis por essas questões.

No entanto, acima dessas responsabilidades, há um objetivo principal que deve nortear e unir os esforços de todos em uma escola adventista: fomos estabelecidos por Deus para salvar educando. Ellen White escreveu: “No mais alto sentido, a obra da educação e da redenção são uma.”6 E, se há alguém dentro da escola que tem o privilégio e a responsabilidade de manter o foco nesse objetivo principal, esse é o pastor escolar. Seu planejamento de trabalho e suas ações devem refletir esse compromisso, unindo os esforços de todos na busca desse propósito.

Entretanto, há algo ainda mais importante a ser destacado. O conhecimento de Deus, fundamentado na Palavra, deve vir de um relacionamento pessoal com Cristo. Caso contrário, corre-se o risco de que os alunos adquiram apenas o conhecimento teórico da Bíblia, sem experimentar o poder transformador do evangelho. “O principal objetivo da educação cristã na escola, no lar e na igreja é levar as pessoas a um relacionamento de salvação com Jesus Cristo.”7

Ao entender isso de forma mais profunda, passei a priorizar o relacionamento com Jesus em meu ministério de capelania. Fiquei especialmente feliz com o testemunho de um aluno do ensino médio que aprendeu a orar abrindo o “coração a Deus como a um amigo”.8 A partir disso, comecei a dedicar mais tempo ao ensino da alimentação espiritual da Palavra, pois “essa Palavra comunica poder e gera vida […], traz consigo a vida do Ser infinito. Transforma a natureza, restaurando-a à imagem de Deus”.9

Foco no grupo prioritário

Em 2025, a Educação Adventista na América do Sul alcançou a marca de aproximadamente 300 mil alunos matriculados – uma conquista histórica. No entanto, “apenas” cerca de 50 mil desses alunos são adventistas do sétimo dia. Em termos aproximados, a proporção é de 80/20, tornando os alunos adventistas uma minoria dentro da rede.

Diante desse fato, o pastor escolar poderia crer que sua missão mais importante seria evangelizar os 80% de alunos não adventistas. Embora essa missão seja, sem dúvida, nobre, ela não deve ser sua prioridade.

Ao avaliarmos a origem e o propósito estabelecido por Deus para a educação adventista, percebemos que a razão de nossa existência sempre foi o cuidado dos filhos da igreja. Fomos estabelecidos para oferecer um ambiente de proteção espiritual e doutrinária aos nossos filhos. Cada unidade da educação adventista deveria proporcionar um ambiente seguro e propício para o desenvolvimento espiritual dos filhos da igreja. Dessa forma, o ministério do pastor escolar não pode ser realizado em dissonância com essa missão primordial.

Confesso que levei um tempo para entender isso. Nos primeiros anos do meu ministério, pedia aos alunos adventistas que não atrapalhassem meus esforços evangelísticos com seus colegas não adventistas. Cheguei a dizer a alguns que, se necessário, “passaria por cima deles” para cumprir minha missão.

Felizmente, Deus abriu meus olhos, perdoou-me e deu-me uma segunda chance! Reavaliei meus objetivos ministeriais e, seguindo a revelação do Espírito de Profecia, estabeleci o cuidado dos filhos da igreja como minha prioridade. Pedi sabedoria a Deus e decidi firmemente que, se houvesse uma pessoa com esse propósito claro, seria eu.

Passei a procurar os alunos adventistas e a lhes dizer que havia sido enviado pela igreja para cuidar de cada um deles. Com ações planejadas e intencionais, procurava me aproximar deles, conhecê-los, discipulá-los e envolvê-los na missão.

Essa firmeza de propósito não pode ser vista como discriminação ou desprezo pelos outros alunos. Precisamos de sabedoria para “fazer estas coisas, sem omitir aquelas” (Mt 23:23, ARA). A ênfase no cuidado dos filhos da igreja não deve eclipsar os projetos de evangelismo do pastor escolar.

A boa notícia é que, enquanto mantemos firme esse compromisso, também estamos realizando um tipo específico de evangelismo. Segundo George Knight, “a escola cristã é uma agência evangelística, visto que seu propósito primordial envolve conduzir seus alunos a um relacionamento salvífico com Jesus Cristo. […] Ela tem tanto um papel conservador, ao prover uma atmosfera protetora para o crescimento cristão, como um papel revolucionário, visto que busca desenvolver agentes evangelísticos de vários tipos para a igreja”.10

Foco na estratégia de trabalho

Embora haja comum acordo que o afastamento das novas gerações das igrejas não se deva a um único motivo, David Kinnaman considera que o motivo que desencadeia todo o processo é a fragilidade do nosso discipulado. Em sua obra Geração Perdida, ele enfatiza que “o problema do afastamento é, em essência, um problema de desenvolvimento da fé; para usar uma linguagem religiosa, trata-se de um problema na formação de discípulos. A igreja não está preparando adequadamente a próxima geração para seguir fielmente a Cristo em uma cultura em rápida transformação”.11

Entre suas diversas atribuições, o pastor escolar corre o risco de diluir seus esforços, sem conseguir consolidar sua influência sobre seu rebanho. Quando isso ocorre, é válido aprender com Aquele que, mesmo cercado pelas multidões e com a maior missão já dada a alguém, escolheu o discipulado como Sua estratégia.

Com pouco tempo para Seu ministério público, Jesus dedicou-Se ao preparo de Seus doze discípulos. Embora tenha pregado, curado e ensinado incansavelmente (Mt 9:35), Seu foco sempre foi discipular.

Esse exemplo de Jesus já seria motivo suficiente para qualquer pastor, mas sua relevância se torna ainda maior ao considerarmos que a maioria dos discípulos era jovem. Jesus escolheu nas novas gerações aqueles que, capacitados pelo Espírito Santo e movidos por um profundo amor pelo Salvador, abalariam o mundo.

O pastor escolar deve seguir o mesmo caminho e, assim como Jesus, dar os seguintes passos:

1. Olhar para seus alunos e, mesmo reconhecendo suas imperfeições, ver tudo o que podem ser pelo poder do evangelho. Ellen White escreveu: “Em cada ser humano, Ele percebia infinitas possibilidades. Via as pessoas como poderiam ser, transformadas por Sua graça […]. Olhando para elas com esperança, inspirava-lhes esperança. Aproximando-Se delas com confiança, inspirava-lhes confiança. Revelando em Si mesmo o verdadeiro ideal do ser humano, despertava para a realização desse ideal tanto o desejo quanto a fé. Em Sua presença, as pessoas desprezadas e caídas compreendiam que ainda tinham dignidade e desejavam mostrar-se dignas de Seu olhar. Em muitos corações que pareciam mortos para as coisas santas despertavam-se novos impulsos. A muitos desesperançados, abriu-se a possibilidade de uma nova vida.”12

2. Cultivar relacionamentos genuínos com os alunos, compartilhando a própria vida ao transmitir os ensinamentos. Ellen White comentou: “A eles [os discípulos], mais do que a todos os outros, proporcionou as vantagens de Sua companhia. Por meio de relacionamento pessoal, produziu nesses colaboradores escolhidos Sua própria impressão. […]

“Somente por meio dessa comunhão – de uma mente com outra e de um coração com outro, do humano com o divino – pode-se comunicar a energia vitalizadora que a verdadeira educação tem por objetivo transmitir. Somente vida gera vida. […]

“[Os discípulos] estavam com Ele em casa, à mesa, em particular e no campo. Acompanhavam o Mestre em Suas viagens, participavam de Suas provações e dificuldades e, tanto quanto lhes era possível, participavam de Seu trabalho.”13

3. Semear a semente do evangelho com muita fé, confiando que renderá frutos para a eternidade. Ellen White afirmou: “Por algum tempo, a boa semente pode permanecer despercebida em um coração frio, egoísta e mundano, sem dar demonstração de se haver enraizado; porém, mais tarde, tocando o Espírito de Deus esse coração, a semente oculta brota e, finalmente, produz frutos para a glória de Deus. Ao longo da vida, não sabemos qual prosperará, se esta ou aquela. Isso não é de nossa alçada. Façamos o nosso trabalho e deixemos os resultados com Deus.”14

Conclusão

Diante do fato de que o cristianismo ocidental enfrenta um de seus maiores desafios históricos, com milhares de igrejas fechando suas portas e denominações correndo o risco de desaparecer, é urgente que o pastor adventista priorize o cuidado das novas gerações.

Nesse contexto, o pastor escolar adventista se destaca como peça chave na batalha. Seu ministério é voltado integralmente para as novas gerações, com objetivos centrados em conquistar e conservar crianças, juvenis e adolescentes para Cristo. Seus sonhos e ideais estão alinhados com os passos do Mestre, e toda a sua prática ministerial é dedicada a ajudar a igreja no cuidado das novas gerações.

Antônio Tavela, capelão da Casa Publicadora Brasileira

Referências

Felipe Lemos, “Jovens Sugerem aos Líderes Adventistas Como Tornar Igreja Mais Relevante”, Notícias Adventistas, disponível em <link.cpb.com.br/1ff1e8>, acesso em 17/3/2025.

Erton Köhler, “Uma Igreja Para a Maioria”, Revista Adventista, disponível em <link.cpb.com.br/48c1fb>, acesso em 17/3/2025.

Márcio Tonetti, “Relevante Para as Novas Gerações”, Revista Adventista, disponível em <link.cpb.com.br/c1c2ff>, acesso em 17/3/2025.

Felipe Lemos, “Liderança Adventista Encara Desafio de Atrair e Manter Novas Gerações”, Notícias Adventistas, disponível em <link.cpb.com.br/500f31>, acesso em 17/3/2025.

Barry Gane, O Caminho de Volta (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2013), p. 14.

6 Ellen G. White, Educação (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2021), p. 20.

George R. Knight, Educando Para a Eternidade (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2017), p. 84.

Ellen G. White, Caminho a Cristo (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2024), p. 59.

White, Educação, p. 87.

10 George R. Knight, Mitos na Educação Adventista (Engenheiro Coelho, SP: Unaspress, 2010), p. 53.

11 David Kinnaman, Geração Perdida (Pompeia, SP: Universidade da Família, 2014), p. 22.

12 White, Educação, p. 55.

13 White, Educação, p. 59.

14 Ellen G. White, Parábolas de Jesus (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2022), p. 32.