Dicas para elaborar um planejamento relevante para a igreja local

Cezar Camacho

Os sonhos fazem parte da vida. Sonhamos com diversos objetivos que desejamos alcançar. Nós, pastores, além dos sonhos pessoais, nutrimos propósitos relacionados ao nosso ministério. Desejamos ver nossas igrejas repletas de membros fiéis, saudáveis espiritualmente, administradas de maneira equilibrada e com uma dinâmica vibrante de discipulado que resulte em crescimento espiritual e numérico para o reino de Deus.

Não importa se você é um pastor que está começando sua trajetória, está no meio dela ou próximo da jubilação. De fato, todos nós desejamos, à semelhança de William Carey, realizar grandes coisas para Deus. Como podemos, então, tirar os sonhos de nosso coração e colocá-los em prática em nosso ministério?

Acredito que exista uma ferramenta fundamental nesse processo que jamais deveria ser esquecida: o planejamento. Muitas pessoas têm dificuldade em compreender a importância ou ainda elaborar um plano executável para seu ministério. A partir daquilo que li, de meus estágios em igrejas norte-americanas e brasileiras e minha experiência ministerial, creio que a seguinte definição de planejamento seja apropriada: “Planejar nada mais é do que transformar sonhos em objetivos exequíveis por meio de estratégias saudáveis.”

Em realidade, o planejamento funciona como um GPS. Primeiro é necessário chegar a um consenso sobre aonde se quer ir (sonhos), para então calcular uma rota até o destino (estratégias saudáveis). E isso se aplica para pastores de várias igrejas ou de uma só, líderes de igrejas abastadas ou sem recursos, grandes ou pequenas. O importante é que o planejamento seja adequado para a situação. É preciso destacar que sem planejamento ministerial somos apenas um grupo de pessoas tentando fazer alguma coisa importante e diferente para Deus, com a ideia de que tudo dará certo no fim. Por isso, gostaria de compartilhar algumas ideias sobre como podemos elaborar um planejamento funcional para nossas igrejas, a fim de organizar o trabalho, dar direção à congregação, gerar engajamento pessoal e multiplicar discípulos para o reino do Céu.

Do sonho ao plano

Siga a voz de Deus. Um bom planejamento começa com a submissão de nossa vontade aos propósitos divinos. Nem tudo que sonhamos para nosso ministério é o que o Senhor deseja para Sua igreja. Portanto, ao conduzir o processo de planificação, seja fiel aos escritos inspirados e permita que a vontade de Deus prevaleça ao longo do trabalho.

Escreva seus sonhos. Seja muito claro, simples e objetivo ao colocar seus sonhos no papel, pois algo que parece complexo ou confuso pode não ser entendido nem atrair pessoas. Uma das experiências mais agradáveis ao conduzir a igreja com base em um plano bem estabelecido é ouvir os membros dizendo: “Meu pastor sabe para onde está levando a igreja!”

Defina a missão e visão da igreja. A declaração de missão basicamente expressa a razão de a igreja existir, ou a responsabilidade que ela tomou para si no mundo. Essa declaração aponta aos membros o segmento em que a igreja se encontra e define sua identidade. A missão não costuma mudar ao longo do tempo e ajuda no planejamento ao fornecer uma compreensão clara a respeito da atividade da congregação.

Por sua vez, a visão comunica aos membros o que a igreja deseja ser no futuro. Ela é fundamental para formulação do planejamento estratégico congregacional, pois determina, por exemplo, o que deve ou não ser feito para cumprir a missão. A visão ajuda a tirar a equipe de líderes da igreja da zona de conforto, mantendo a ênfase no crescimento.

Infelizmente, muitas declarações de visão e missão falham porque são muito extensas. Uma vez que a igreja define sua visão e missão, deve trabalhar para que essas declarações sejam expressas em frases tão curtas e simples de lembrar que facilitem sua memorização e promoção.

Faça um diagnóstico detalhado. Nenhum plano será adequado se não considerar a real condição de cada igreja. Analisar a condição de suas congregações é um fator de sucesso, pois permite compreender as forças e fraquezas, oportunidades e ameaças, e ainda como maximizar as forças e oportunidades e minimizar as fraquezas e ameaças. Além disso, ajuda a evitar o uso das mesmas estratégias que falharam no passado.

Identifique seu público-alvo. Todo planejamento deve considerar as características da comunidade ao redor de cada igreja e também o perfil dos membros locais. Isso dará a você condições de compreender as necessidades sociais que podem ser supridas pela igreja, bem como alocar os membros certos para ministrar nesse sentido.

Determine os objetivos que pretende alcançar. Considerando seu público-alvo e os recursos humanos e estruturais que tem à disposição na igreja, estabeleça os objetivos que deseja alcançar. Cuide para que seja algo entre três e quatro metas, pois um número de propósitos maior do que esse pode inviabilizar seu cumprimento. Lembre-se também que os objetivos devem ser específicos, mensuráveis, atingíveis, relevantes e temporais. Metas impossíveis levam as pessoas à frustração e a um sentimento de derrota por não completá-las.

Avalie como seu distrito pode contribuir para o cumprimento dos objetivos de seu Campo local. É muito importante conhecer bem o plano de atividades do Campo local para que seu distrito contribua efetivamente com ele. É fundamental estabelecer um planejamento local que esteja alinhado com o programa geral da instância superior.

Estabeleça as estratégias adequadas para alcançar suas metas. Estratégias são as ferramentas que você usa para alcançar os objetivos. Quanto mais claro for o diagnóstico de seu distrito, mais fácil será definir as estratégias. Nunca se esqueça de que elas podem mudar, conforme surgirem diferentes necessidades. Além disso, no processo de elaboração, procure responder às seguintes perguntas: Quem? Quando? Onde? Como? Quanto? Estratégias precisas favorecem um planejamento bem-sucedido.

Elabore o orçamento. É muito importante fazer uma estimativa do valor necessário para cumprir as metas do planejamento. Nesse ponto, considere os recursos locais, o valor que a igreja tem em caixa e uma perspectiva de quanto os membros podem ofertar; a verba do Campo, valores que podem ser direcionados pela administração regional para seus projetos congregacionais; e outras doações provenientes de pessoas de fora do seu distrito.

Envolva os líderes no processo de planejamento. Se você quiser que seus sonhos se tornem realidade, compartilhe-os com os líderes. Quando isso não é feito, eles tendem a considerar os planos como um “projeto do pastor”, resultando em falta de motivação e engajamento. Lembre-se de que se o planejamento for somente seu, você terá somente a si mesmo para executá-lo.

Minha sugestão é que você reúna os líderes em um lugar diferente, para um encontro especificamente marcado para discutir o planejamento. Deixe-os à vontade para analisar todas as ideias propostas. Ouça o que eles têm a dizer, pois a experiência dos membros locais é um recurso muito importante nesse processo. Não tenha receio em acatar sugestões nem em defender pontos sobre os quais você tem mais experiência. Promovendo um ambiente agradável e colaborativo, o plano resultante será o reflexo da liderança, não do pastor. Portanto, seja paciente, educado e entusiasta. Cheguem a uma conclusão, para que tudo seja de todos e, assim, todos alcancem tudo. E mesmo que você não consiga ver a realização de todos os objetivos, os líderes seguirão adiante com os sonhos e darão ao próximo pastor um panorama adequado do que está acontecendo.

Apresente o planejamento à igreja. Depois que o planejamento for definido em conjunto com os líderes, ele deve ser apresentado à congregação. O ideal é que isso seja realizado em um programa especial, com a participação dos líderes mais influentes e apaixonados pelo plano aprovado. Lembre-se de que pastores sozinhos podem atrair pessoas para segui-lo.

Mas pastores apoiados por líderes apaixonados pelo planejamento podem ajudar a contagiar todas as pessoas da igreja. Uma frase popular diz: “Se você não sabe aonde quer ir, qualquer caminho serve.” Eu faria a seguinte paráfrase: “Se você não sabe para onde quer ir como pastor, como vai conduzir pessoas a algum lugar?”

Do plano à realidade

Um planejamento bem elaborado é importante, mas se os líderes e os membros não se movimentarem para colocá-lo em prática, nada acontece. Para que isso ocorra, além de sermões e programas que incentivem a ação, é necessário investir em dois processos fundamentais: capacitação e avaliação.

Se você não capacitar os líderes locais, dificilmente eles conseguirão executar o planejamento determinado. Por isso, antes de colocar seus planos em ação, treine muito bem seus colaboradores. Ensine-os, por exemplo, a liderar, aconselhar ou resolver problemas. Quanto mais tempo você investir na capacitação, mais resultados positivos terá, pois pessoas bem instruídas tendem a cumprir a missão com efetividade. E não tenho receio de dizer: Gaste mais tempo capacitando do que pregando! O sermão tem grande chance de ser esquecido em pouco tempo. Mas o conhecimento fica gravado na mente e nunca se apaga. Pessoas qualificadas servirão a Deus enquanto você for pastor delas, e depois de sua partida também. E é isto que importa na obra de Deus: transformar membros em discípulos para sempre.

Outro ponto fundamental no processo de execução do planejamento é a avaliação. Essa prática é importante em todos os segmentos da vida. No entanto, muitos não gostam de ser avaliados, pois se sentem desconfortáveis com a realidade muitas vezes descoberta. Contudo, quem não avalia regularmente o que está fazendo, como pode ter certeza de que está certo no que está fazendo? E como saber se vai alcançar seus objetivos?

A falta de avaliação é um dos principais problemas no processo de colocar os planos em ação. No papel, tudo parece dar certo, mas muitas vezes isso não ocorre na realidade por falta de avaliação constante. Não existe mágica! Os objetivos são alcançados quando são perseguidos com muita dedicação, suor e avaliação.

Quando avaliamos com transparência a execução do planejamento, e recomendo que isso seja feito a cada dois meses, conseguimos corrigir as rotas equivocadas, antes que nos levem ao fracasso. A avaliação deve estar baseada naquilo que está proposto no plano aprovado. Não se pode avaliar o que não foi planejado. Certo ditado diz que é “mais fácil corrigir o curso do navio enquanto ele ainda não foi muito longe, do que corrigi-lo no fim da viagem, quando já chegou a seu destino”.

Ao avaliar, é preciso ter cautela com alguns detalhes importantes. Em primeiro lugar, avalie processos, não pessoas. Lembre-se de que, na igreja, geralmente todos são voluntários que dedicam tempo, recursos e dons pela causa do evangelho. Outro ponto de destaque é não permitir que a avaliação se torne motivo para confrontos pessoais.

Durante o processo avaliativo, prefira fazê-lo de forma individual, pois a pessoa fica mais à vontade para conversar. Quando a avaliação ocorre em grupo, alguns líderes podem se sentir constrangidos ou humilhados por causa das comparações que podem, eventualmente, surgir durante a reunião. Em uma conversa pessoal, procure fazer perguntas diretas aos líderes sobre as estratégias e os objetivos propostos, a fim de que encontrem respostas seguras para as devidas mudanças, caso sejam necessárias. Seguem algumas perguntas sugestivas para esse encontro:

1. Quais objetivos sob sua responsabilidade foram alcançados? Se ainda não foram atingidos, o que aconteceu? Elogie o líder pelo trabalho já realizado e as conquistas obtidas. Caso alguma meta não tenha sido realizada, analise detalhadamente por que isso não aconteceu e identifique se houve algum erro estratégico.

2. O que precisamos fazer para alcançar o que não alcançamos? Quais estratégias podemos usar para cumprir os objetivos estipulados? Estude cuidadosamente novas estratégias para atingir essas metas.

3. Faltou algum tipo de capacitação ou material de apoio para executar as estratégias estipuladas? Se houve falta de treinamento ou de material, providencie-os rapidamente.

Ao fim da conversa, agradeça o trabalho realizado para Deus até aquele momento e motive o líder avaliado a continuar avançando em busca dos objetivos propostos. Não se esqueça de que o acompanhamento e os feedbacks positivos são atitudes fundamentais para gerar cadência de responsabilidade, engajamento e ação em torno das metas existentes em seu planejamento.

Conclusão

O planejamento é uma ferramenta importantíssima no processo de conduzir a igreja no cumprimento dos sonhos de Deus para ela. Se você falhou em algum planejamento, não desista. Olhe para frente e coloque em prática o que não foi feito. Use os erros como experiência para sua vida ministerial, erga a cabeça, confie no Senhor e avance. Ele conta com você!

Sem planejamento ministerial somos apenas um grupo de pessoas tentando fazer alguma coisa importante e diferente para Deus, com a ideia de que tudo dará certo no fim.

Cezar Camacho, pastor em Campo Limpo Paulista, SP