Embora já se tenham passado vários anos, conservo ainda na memória a imagem de um vídeo todo colorido do Pastor H. M. S. Richards pregando. Em pé, diante de uma multidão, ele intercalava em seu sermão a história de como Harriet Beecher Stowe, atarefada esposa e mãe, saía do seu quarto de manhã bem cedo para estar a sós com Deus. Depois, com sentimento, ele repete de cor:
“Sempre, sempre contigo, quando rompe a manhã,
Quando o passarinho desperta e as sombras se vão;
Mais bela que a manhã, mais graciosa que a luz do dia,
Vem a agradável sensação: Estou contigo!” Muitas vezes ele conseguia repetir todas as estrofes, cada qual com o seu poder dinâmico peculiar, chegando a um clímax de prender a respiração, com as palavras:
“Assim será afinal, naquela manhã radiosa, Quando a alma despertar e as sombras da vida fugirem;
Oh! nessa hora, mais bela que o despontar do dia,
Se erguerá o doce pensamento: Estou contigo!”
Podeis imaginar com que sentimento, nós do quarteto Arautos do Rei, Cantávamos aquele velho hino, quando víamos o esforço que o “Chefe”, como nós o chamávamos, havia investido nele — tomando tempo para descobrir como ele foi escrito, e depois memorizá-lo. (Ainda hoje, quando o antigo Arautos do Rei se junta para cantar, “Sempre Contigo” é o hino preferido.)
O Pastor Richards gostava realmente dos grandes hinos, e os usava poderosamente em seus sermões. A perspectiva que os 35 anos sentado atrás dele me proporcionaram, convenceu-me de que este uso poderoso dos hinos era uma das razões por que o povo gostava de ouvi-lo.
Mas não são só os sermões que podem ser beneficiados quando os ministros procuram saber a história de nossos hinos. Os ministros desempenham uma função vital no desenvolvimento do cântico congregacional ardoroso. Aqueles que têm grande apreciação pelos hinos, que se dedicam a conhecer o conteúdo dos hinos e a maneira de usá-los, e usam o material histórico para educar e despertar o interesse de sua congregação, verão sem dúvida um acentuado crescimento no cântico durante a hora do culto — parte importante da revitalização da igreja.
Cerca de 28 anos após a publicação de nosso Church Hymnal (Hinário para a Igreja) de 1941, a Companhia Publicadora de Cânticos da Austrália apresentou um livro de reserva para fornecer essa espécie de material histórico. 0 Singing With Understanding (Cantar com Entendimento), de Eduard E. White, volume acompanhante do hinário de 1941, continha comentários sobre seus hinos, representando 10 anos de esforços em pesquisar e escrever. Em reconhecimento ao mérito dessa obra, a comissão que produzia o nosso novo hinário recomendou que tão logo fosse possível, se preparasse um volume acompanhante, a fim de que a história dos hinos e a biografia dos compositores e autores favorecesse o uso correto do hinário desde o início. O Companion to the Seventh-day Adventist Hymnal, publicado recentemente pela Review and Herald Publishing Association, resultou dessa recomendação.
Aposentado e vivendo agora na Inglaterra, o Pastor White era a pessoa indicada para reescrever e apresentar atualizados os comentários sobre todos aqueles hinos do hinário de 1941, que foram conservados. A comissão de hinário e a Review and Herald, pediram-me que escrevesse os comentários sobre os hinos acrescentados ao conteúdo do novo hinário, e me empenhasse com Raymond Woolsey, editor de livros na Review, para que o volume fosse publicado.
Dessa forma, durante aproximadamente três anos, o Pastor White e eu escrevemos centenas de cartas, visitamos bibliotecas, fizemos ligações telefônicas a parentes de autores falecidos, conferimos a autenticidade das histórias e datas, comparamos relatos nos diversos comentários do hinário, e depois fizemos a escrita e reescrita do nosso acompanhante.
Nosso objetivo foi produzir uma obra que fosse ao mesmo tempo erudita e prática. Procuramos fazer com que os autores, tradutores, compositores e arranjadores, aparecessem como se fossem pessoas vivas. 0 conhecimento de onde e quando eles viveram, e as condições que prevaleciam, ajudam-nos a entender melhor os tesouros poéticos e musicais que nos foram legados como uma bênção.
Ministros, diretores de música, diretores de corais e organistas, podem, igualmente, encontrar neste livro, material para auxiliar nossas congregações a se identificarem com aqueles que escreveram os hinos que gostamos de cantar. Algumas palavras sobre a história dos hinos — impressas no boletim da igreja ou, melhor ainda, ditas para introduzir o hino — despertará o interesse da congregação e a preparará para cantar com entusiasmo, com o espírito e o entendimento.
Para felicidade do nosso projeto, a casa do Pastor White, próxima do Colégio Newbold na Inglaterra, deu-lhe acesso a muitas fontes originais, entre elas o Museu Britânico. Seu relacionamento com os funcionários da British Hymn Society foi valiosa. E uma vez que uma grande quantidade de nossos hinos teve origem nas Ilhas Britânicas, foi-lhe possível verificar fatos e gravuras que eu não poderia examinar do lado de cá do Atlântico.
Tive o privilégio de trabalhar em vários centros de recursos. Um deles foi a biblioteca do Emory University School of Theology, que contém mais de 10.000 volumes sobre hinologia. Consegui também muitas informações importantes na biblioteca da Fundação Morávia de Música em Winston-Salem, Carolina do Norte. E achei as pessoas encarregadas do McCutchan Collection, da Honnold Library, Claremont, Califórnia, muito generosas no que tange ao seu tempo e ajuda. Um gigante da hinologia metodista, George McCutchan, deixou-lhes cerca de 12.000 volumes, muitos dos quais raros e preciosos. É desnecessário dizer que gastei vários dias ali.
Mas o tempo que gastei na Andrews University’s Heritage Room, reunindo material para o capítulo intitulado “Hinologia Adventista do Sétimo Dia”, foi de todos o mais excitante! Essa coleção inclui quase todos os hinários adventistas publicados, desde o primeiro, compilado por Tiago White em 1849. O coração bateu-me um pouco mais depressa quando segurei em minhas mãos o Hymns and Tunes for Those Who Keep the Commandments of God and the Faith of Jesus, de 1869—pois na primeira página em branco encontrei escrito: “Uriah Smith, Battle Creek, Michigan. ” O exemplar que usei, do primeiro hinário da Escola Sabatina, Song Anchor, tinha gravado em ouro na capa “F. E. Belden”, e na página interior em branco estava um rascunho seu para um novo hino que ele deixou sem terminar.
Para dar uma idéia da espécie de material que o Companheiro do Hinário Adventista contém, citarei um trecho da descrição que ele faz do hino 187: “Jesus, Amigo dos Pecadores”:
“Escrito em 1910, este hino toma emprestado várias frases do ‘Jesus, Amante de Minhalma’, de Wesley [hino 490]. Comenta também como ele usa um certo número de nomes de Cristo para descrever Seu ministério completo em nossa vida. Foi publicado primeiro com a afinação céltica HYFRYDOL (ver hinos 167 e 204) no Gospel Songs de Alexander, nº 2, publicado por Revell.
“J. Wilbur Chapman nasceu em 17 de junho de 1859, em Richmond, Indiana, e se educou no Seminário Teológico Lane. Após ordenação ao ministério presbiteriano, foi pastor durante 20 anos em Albany, Nova Iorque; Filadélfia; e Cidade de Nova Iorque. Uma visita do grande evangelista D. L. Moody, despertou-o e o inspirou, e desde então sua vida foi repleta de evangelismo. Em 1902, ele foi indicado secretário de uma Comissão Evangelística pela Assembléia Geral da Igreja Presbiteriana. O trabalho de campanhas das grandes cidades foi tão bem-sucedido que logo ele precisou deixar o trabalho administrativo para atender chamados de todas as partes do mundo para dirigir missões de pregação.
“Foi também mostrado a Moody como usar o poder do canto em suas reuniões, de sorte que ele contratou os serviços de cântico do evangelista Charles Alexander, que foi um verdadeiro mágico em dirigir gigantescos corais e ajuntamentos nos serviços de cântico. Chapman e Alexander trabalharam tão bem como equipe, que percorreram o mundo, pregando e cantando durante 10 anos. (Na página 233 do livro, há uma gravura de uma reunião de comerciantes ao meio-dia em Melbourne, Austrália, no Town Hall, em maio de 1909.) Alexander descrevia sua habilidade e a de seu companheiro em ‘manobrar’ uma grande multidão: ‘A qualidade musical de sua voz agitava e, contudo, serenava um auditório. Suas palavras, pronunciadas com clareza, podiam ser ouvidas sem muito esforço por uma grande multidão (às vezes 10 mil pessoas), até quando silenciava para um leve murmúrio (de Charles Alexander, H. C. Alexander e J. K. MaClean, 1920). Nestes dias de dependência de microfones e amplificadores, aquele feito parece quase impossível! Chapman morreu em 25 de dezembro de 1918, em Jamaica, Nova Iorque.
“A melodia chamada MANÁ SAGRADO vem do uso daquela frase várias vezes no texto, em geral associada a esta música: ‘Irmãos, Reunamo-nos Para Adorar.’ A melodia e composição foram primeiramente publicadas por William Moore em sua coleção Columbia Harmony, em 1827. O livro foi registrado em Wilson County, Tennessee, e impresso em Cincinnati; Moore alegou ser o compositor de 18 de suas melodias. Nada mais foi encontrado a respeito de sua vida. Essa melodia agradável se tornou tão popular que muitos dos compiladores dos últimos livros de música de nota inventada, oblonga do Sul, a incluíram.
Familiarize seu povo com Wilbur Chapman, e faça com que ele saiba que ele escreveu aquelas palavras a respeito de nosso amante Salvador logo após suas reuniões australianas. Depois, quando você lhes mostrar como essa música é fácil de ser cantada, raramente eles deixarão de cantá-la!
Absorvendo a atenção de sua congregação, você pode dar vida a seus serviços de culto.
Wayne Hooper, membro do antigo quarteto “Arautos do Rei’’
“Num esforço para tornar a obra erudita e prática a um só tempo, o autor deste artigo e o Pastor White consultaram as melhores bibliotecas e as melhores obras que encontraram, favorecendo o assunto dos hinos e seu uso pela igreja.“