A palavra “capelão” tem sua origem na história da capa de São Martinho. Segundo a tradição, Martinho de Tours era um soldado romano quando encontrou um mendigo com frio e, movido pela compaixão, cortou sua capa ao meio para compartilhá-la. Mais tarde, teve um sonho em que viu Cristo vestindo a parte que havia dado ao pobre, o que levou à sua conversão. A metade preservada da capa tornou-se uma relíquia sagrada, guardada ao longo dos séculos por clérigos chamados cappellani, nome que deu origem ao termo “capela” (cappella), o local em que era mantida.
Com o tempo, os capelães passaram a ser nomeados pelos reis para celebrar missas, guardar relíquias e redigir documentos. Eles se tornaram conselheiros reais em assuntos eclesiásticos e seculares, e essa função se espalhou pelo Ocidente cristão. Atualmente, o papel do capelão não se restringe às monarquias, mas se faz presente em hospitais, escolas, prisões, equipes esportivas, forças armadas, entre outros contextos.
A história de São Martinho me lembra Eliseu, o jovem lavrador que recebeu de Elias a missão de continuar seu legado profético. A capa lançada por Elias no momento em que subiu ao Céu (2Rs 2:13) simbolizava não apenas o chamado divino, mas também o poder e a capacitação para cumprir a missão de curar e ensinar. Assim como Elias havia sido um líder espiritual em Israel, Eliseu deveria discipular uma nova geração para fazer a diferença no reino.
Eliseu tinha o perfil de um bom capelão. “Era um homem interessado nas pessoas, sempre amigável, simpático e pronto a ajudar” (Comentário Bíblico Adventista [CPB, 2012], v. 2, p. 956). Ao contrário de Elias, que tinha mensagens de condenação e juízo, Eliseu era um profeta pacífico. “A Inspiração o retrata como alguém que entrava em contato pessoal com o povo, rodeado pelos filhos dos profetas e levando cura e alegria por intermédio de seus milagres e seu ministério” (Ellen G. White, Profetas e Reis [CPB, 2021], p. 140). No entanto, embora fosse “manso e gentil, Eliseu possuía também disposição e firmeza. Cultivava o amor e temor a Deus e, na humilde rotina do trabalho diário, adquiria força de propósito e nobreza de caráter, crescendo na graça e no conhecimento divinos” (Ellen G. White, Educação [CPB, 2021], p. 41).
Eliseu, o profeta da paz, tornou-se a pessoa certa para “dividir a capa” com as novas gerações. Seu ministério foi fundamentado em dois pilares. O primeiro foi fortalecer as escolas dos profetas, localizadas em pontos estratégicos: Gilgal, Betel e Jericó. Essas unidades foram fundadas por Samuel e restabelecidas por Elias, com o objetivo de formar jovens para atuar na obra do Senhor. O segundo pilar foi levar cura e bênçãos às pessoas. Ele curou um leproso, ressuscitou o filho da sunamita, multiplicou alimentos, fez um machado flutuar e, até mesmo em seu sepulcro, fez os mortos reviverem.
Se você observar atentamente, verá que Eliseu é um tipo de Cristo, combinando o ministério duplo de ensino e cura. Como “profeta da graça”, ele deu um spoiler do que Jesus faria séculos depois. Não deveria ser este o perfil de um capelão do século 21: levar a Palavra e o alento aos outros? Deus quer, em Sua obra, capelães que sejam exemplos de caráter e de poder. Que cubram os desprezados, alimentem os famintos, ouçam os aflitos, confortem os enlutados, ensinem os inexperientes e amem os perdidos. Ou seja, pequenos cristos. Aceita dividir sua capa?
Milton Andrade, editor da revista Ministério