Quero iniciar estas considerações a respeito de pregação expositiva, dando uma visão geral sobre o meu processo de preparar um sermão. Ele começa com a seleção de uma passagem; minha preferência é tê-la como parte de uma série desenvolvida em cima de um livro da Bíblia. Isso ameniza a agonia de não saber qual será o texto do sermão do próximo sábado. Algumas vezes, no entanto, é difícil decidir quanto da passagem será focalizado. Um capítulo? Um versículo?

Em seguida, levo em consideração os ouvintes. Quem são eles? Quais são as suas necessidades, suas interrogações, suas lutas, alegrias e tristezas? Daqui, eu volto ao texto e medito no seu significado, passado e atual. Então, rascunho um esboço de sermão e reflito sobre como ele deveria ser apresentado aos ouvintes. Depois, penso no objetivo que desejo alcançar, buscando sempre estar seguro de que falarei sobre o que o texto real-mente quer dizer. Nesse ponto, devo estar apto para desenvolver várias maneiras diferentes de apresentação do texto, esboçando-as lado a lado.

Agora é o tempo de decidir o melhor caminho para a apresentação da mensagem – o melhor esboço, a melhor narrativa, argumentos e ilustrações que me permitam pregar da forma mais agradável possível. A essa altura eu já estou trabalhando extensivamente no esboço. Uso o meu computador, para facilitar as mudanças e ajustes necessários. Gradualmente o sermão vai tomando forma.

No final de tudo isso, faço a minha pergunta mais importante: “E agora?” Algumas vezes todas as coisas se fragmentam aqui, se o sermão não for pregado. Muito freqüentemente, a pergunta “e agora?” leva à revisão do trabalho de esboço. Muitas vezes o menor ponto é expandido ao máximo no final do sermão, e o maior ponto acaba comprimido numa sentença. O objetivo é dizer algo importante aos ouvintes, permanecendo absolutamente fiel ao texto.

A tarefa final no preparo do sermão é produzir um esboço de pregação, a menos que alguém não utilize anotações. Agora, vejamos todo esse processo detalhadamente.

Escolhendo a porção bíblica

Logo de início, eu costumo escrever o texto na parte superior de uma folha de papel. Tomemos para este sermão, a passagem de II Coríntios 5:14 e 15. Fui atingido pela idéia de que Paulo foi compelido, ou constrangido, pelo amor de Cristo. Sua vida evidenciava que alguma coisa além do interesse próprio o impulsionava. O mesmo deveria ser dito de cada genuíno cristão. Em segundo lugar, fui confrontado com a declaração paulina sobre a causa pela qual o amor de Cristo o compeliu. Há, porventura, um sermão aqui? Diz esse texto alguma coisa significativa a mim e a meus fiéis? Poucos momentos de meditação convenceram-me de que nele existem muitas possibilidades. Esse é um material altamente homilético!

Eventualmente busquei apoio em outra porção bíblica – II Cor. 5:13-21. Ela provê o contexto imediato, necessário à compreensão da porção central do texto sobre o qual o sermão focalizará, ou seja, os versos 14 e 15. Achei que poderia ser difícil expor os versos 14 e 15 sem contínua referência aos versos anteriores e posteriores.

Os ouvintes

Uma boa pregação bíblica torna o texto significativo para as necessidades dos ouvintes. Isso requer a colocação do texto no contexto: primeiro, o contexto do mundo no qual os ouvintes vivem, e, então, os mais comumente reconhecidos aspectos do contexto bíblico.

Para pregar bem, alguém deve expor a Escritura, mas também fazer continuamente a pergunta “e agora?” Não é bastante dizer a um ouvinte que “isto é o que o texto significa”. O pregador deve também dizer “é por isso que ele é importante para nós”. Assim, ao iniciar o preparo de um sermão, é muito importante perguntar “como o povo ouvirá este sermão? Qual é a sua necessidade, que problemas está enfrentando?” Então, enquanto examina o texto, o pregador também tira as respostas para as questões que os ouvintes provavelmente levantarão.

O texto

Depois de considerar os ouvintes, passo agora a refletir sobre o texto. A primeira coisa que devo saber a seu respeito é o contexto, fundamental para a exegese. Tendo respondido as questões contextuais, olho as construções gramaticais e examino as palavras importantes. Nesse ponto, tento elaborar um esboço.

Para apresentar um bom sermão expositivo, o pregador deve imergir-se nas palavras, na teologia e nos antecedentes escriturísticos. Deve estar familiarizado com todo o contexto no qual o livro da Bíblia está inserido. Não há substitutos para a exaustiva leitura do livro em consideração. Somente quando for conhecido, de memória, o conteúdo de cada capítulo, é possível compreender-se a interligação das variadas partes e dos argumentos. Especialmente em se tratando das epístolas.

Para mim, nada é mais importante na pregação expositiva, do que ver o texto em seu contexto. Certo dia, vi um comercial de televisão que ilustra bem esse ponto. O filme mostra uma mancha isolada. Que será? No início, é impossível dizer. Gradualmente a câmera vai mostrando novas manchas, uma após a outra. As primeiras duas ou três são da mesma cor, mas as outras são diferentes. Ainda assim é impossível dizer o que são elas. A câmera continua rodando. As cores iniciais mudam, aparece algum contorno, a borda de alguma coisa, uma curva. As manchas iniciais se misturam tomando uma forma ainda desorganizada. Finalmente, a descoberta! As manchas formaram um círculo escuro, que nada mais é que a pupila de um olho. Depois aparece uma face; e, por fim uma criança.

É impossível superestimar a importância da compreensão do contexto no qual o texto está inserido. Essa compreensão é conseguida partindo-se do contexto maior, passando-se progressivamente ao contexto imediato, até chegar ao texto. Na passagem que escolhemos, de II Coríntios 5:14 e 15, devemos considerar o mundo do Novo Testamento. Vejamos:

Paulo (ainda como Saulo), era um fariseu. Logo após a morte e ressurreição de Jesus Cristo, nós o encontramos lutando para destruir a Igreja cristã. Ele estava convencido de que o Cristianismo era uma heresia e que Jesus era um impostor. Mas depois de encontrar o Cristo vivo na estrada de Damasco, tornou-se convencido de que Ele era, de fato, o longamente esperado Messias. E com todas as suas forças saiu a proclamá-Lo entre judeus e gentios. O que mudou?

Obviamente, depois da experiência da estrada de Damasco, ele conheceu que Cristo estava vivo. Mas por que deveria isso fazer Paulo mudar de rumo? Certamente Deus lhe deu uma missão como apóstolo dos gentios, mas qual seria sua mensagem – simplesmente que Cristo vivia? Qual o significado disso? Talvez a experiência da estrada de Damasco fosse menos significante do que os três dias seguintes de cegueira. Três dias durante os quais Paulo lutou com a mais desconcertante questão de sua vida, a questão de como poderia Cristo ser ao mesmo tempo maldição e bênção de Deus.

Paulo, seguramente, conhecia a declaração escriturística segundo a qual todo o que for pendurado no madeiro é maldito de Deus (Deut. 21:23; Gál. 3:13). Ele certamente crera que Jesus não era o Messias, porque foi “maldito de Deus”. Ao encontrar-se com Jesus na poenta estrada, Paulo começou a entender os fatos. Jesus fora exaltado, no entanto era como um maldito de Deus. Como poderiam essas duas questões aparentemente irreconciliáveis ser harmonizadas?

Quem sabe, a resposta lhe veio durante os três dias em que permaneceu cego, antes do seu batismo, talvez mais tarde. Seja como for, ele viu que Jesus era maldito de Deus, no sentido vicário; não por ter Ele cometido pecado, mas pelo pecado de outros. A partir daí, o centro da mensagem de Paulo deveria ser a expiação vicária de Cristo. A bem conhecida e freqüentemente citada ênfase na justificação, pela teologia paulina, deve ter origem em sua luta para encontrar uma resposta para o dilema que nasceu em sua mente, no dia em que encontrou a Cristo.

Nossos versos em II Coríntios 5 são produto da mente de Paulo, modelado por sua compreensão do que Jesus é, o que Ele fez, o que representou. Para compreender esses versos, necessitamos entrar na mente de Paulo, penetrar sua experiência, lutar com suas questões e regozijar com suas descobertas. Isso é o que eu entendo por compreender ao máximo o contexto do Novo Testamento, no qual esses versos aparecem. Se pudermos fazer isso, então começamos a compreender o primeiro dentre os muitos contextos nos quais o texto deve ser colocado.

O contexto imediato é o relacionamento de Paulo com a igreja de Corinto e os destinatários de sua carta. O apóstolo explana que suas atitudes em relação a eles são compelidas pelo amor de Cristo.

Diante disso tudo, já é possível ver porque a descoberta do contexto é mais que uma parte importante da compreensão do texto; deve ser também a melhor maneira para se pregar um sermão. Ler o texto e descrever seu contexto deve ser tudo o que os ouvintes necessitam para compreender o que Deus está dizendo no texto, não apenas aos ouvintes originais mas aos de hoje também. A descrição da declaração original e dos argumentos do autor deve ser tudo o que é necessário para estabelecimento de pontos de contato que levem os ouvintes a dizer: “Minha vida se identifica com esta situação. Deus está falando para mim.”

Exegese

Não há uma linha clara entre a com-preensão do contexto e fazer outros tipos de exegese. No primeiro caso, posso usar minha mente, mas para fazer o último, necessito de instrumentos. É aqui onde recorro à língua grega e faço minha tradução. Olho as palavras, verbos e substantivos; identifico as palavras mais importantes, uso uma concordância bíblica para encontrar semelhanças, examino a gramática, e tento captar a contribuição de todos esses instrumentos.

No texto em consideração, por exemplo, há uma questão gramatical óbvia a ser resolvida no verso 14. Trata-se da expressão “o amor de Cristo” (agape tou Christou), um genitivo objetivo, ou subjetivo? Se é objetivo, então a frase significa “o amor que eu tenho por Cristo me constrange”; se subjetivo, a expressão quer dizer “o amor que Cristo tem por mim, me compele”. De fato, há inevitáveis discordâncias entre comentaristas, sobre como, ou mesmo se a questão pode ser respondida gramaticalmente. Talvez não faça muita diferença, pois o amor de Jesus por nós dá origem a nosso amor por Ele (I João 4:10). Em ambos os casos somos compelidos.

Nos escritos de Paulo, o genitivo depois de agape é sempre subjetivo (ver Rom. 5:5; 8:39; 15:30; II Tess. 3:5; Efés. 2:4; Col. 1:13). Considerar as duas posbilidades somente enriquece o sermão.

Uma outra questão exegética é o significado de duas frases: “um morreu por todos” e “logo, todos morreram” (II Cor. 5:14). O aoristo da primeira frase sugere a única e todo abrangente morte de Jesus no Calvário. Ela aconteceu no tempo e espaço como um evento histórico consumado. O aoristo da segunda frase sugere algo similar, mas consideravelmente duro de compreender – em algum ponto no tempo e espaço todos nós morremos. A referência de Rom. 6 leva-nos a uma declaração paulina semelhante: “Nós morremos para o pecado” (verso 2); “foi crucificado com Ele o nosso velho homem” (verso 6). Quando e como nós morremos para o pecado? Quando e como nosso velho homem foi crucificado? O argumento de Paulo torna claro que o “como” foi “em Cristo” (versos 3, 4, 5, 6, e 8); e o “quando” foi por ocasião da morte de Cristo. Deus negociou-nos com Cristo. Colocou-nos nEle, e nEle morremos. Fomos sepultados e fomos ressuscitados. NEle, agora nós sentamos à destra de Deus (Efés. 2:6). Paulo tornou-se convencido de tudo isso, e essa convicção o conduziu sob o impelente amor de Cristo.

Há um paralelo entre nosso texto e Romanos 6. Estar “constrangido” em II Cor 5:14 faz paralelo com “sabendo isto, que foi crucificado com Ele o nosso velho homem”, combinado com “assim também vós considerai-vos mortos para o pecado, mas vivos para Deus em Cristo Jesus” (Rom. 6:6 e 11). Estar “constrangido” pelo amor de Cristo faz paralelo com “oferecei-vos a Deus como ressurretos dentre os mortos” (Rom. 6:13). Em ambos os casos, uma compreensão do significado da cruz leva o cristão a um ministério consagrado em favor de Cristo. Romanos 6 é a aplicação geral, a todos os cristãos, da experiência pessoal de Paulo com o evangelho e suas implicações para ele.

Nesse ponto da preparação do sermão, recorro aos comentários. Levando em conta que cada um deles tem alguma perspectiva diferente, busco ajuda no maior número que possa obter. Prefiro ler o que os comentaristas dizem, sem tomar nota. Isso previne quanto a tomar emprestadas sua linguagem e idéias específicas. Em lugar disso, quero ter minha própria compreensão do texto. Com esse método, tenho a ajuda dos comentaristas sem precisar citá-los no sermão.

Tendo feito o máximo de exegese, escrevo uma paráfrase do texto. Ela deve conter tudo o que sei sobre o texto, através da pesquisa e da leitura do que outros disseram. Eis uma paráfrase de II Cor. 5:14 e 15: “O amor que Jesus tem por mim e que eu tenho por Ele é a força que compele minha vida. Tudo o que faço e sou resulta disso. Meu amor por Ele procede da minha convicção de que Ele morreu por nós, na cruz, e que, quando Ele morreu, nós todos morremos nEle. E porque Ele morreu, deveriamos viver para Ele e não para nós mesmos.”

Aqui o divertimento acabou e o trabalho duro apenas começou.

Esboçando o sermão

Para mim, a parte mais cansativa no preparo do sermão chega com o esboço.

Estudar o texto é um divertimento. Minha mente oscila entre uma multidão de idéias que poderiam ser exploradas em um sermão. Vejo preciosas lições em cada uma delas. Conselhos que podem ser ampliados e exemplos para destacar. Mas, qual das idéias é a central? Qual delas deveria ser deixada para um outro sermão? Como o sermão deveria ser arranjado?

A tarefa difícil aqui é passar da com-preensão do texto para sua apresentação. Uma boa ajuda é encher uma página com resumos de esboços, rascunhando diferentes formas de apresentação do sermão.

Trabalhando com um computador, tenho a vantagem de sua habilidade para rearranjar elementos, criar e automaticamente numerar novos esboços. O processo é quase como uma brincadeira tentando reunir tudo o que sei sobre o texto, de diferentes maneiras.

Gradualmente vai surgindo um sentido de como manusear o texto, junto com a ordem de apresentação das principais idéias, e separação do que é mais importante do que não é. Decido a maneira de organizar o que eu quero dizer sobre o texto, uma maneira que aparece mais e mais freqüentemente em meus rascunhos. Ela deve ser tão natural que deveria ser fácil de ser lembrada, sem parecer algo forçado aos ouvintes.

Tema e objetivo

Este é o momento em que eu questiono sobre o tema e o objetivo. Qual é o tema do sermão? Nós, a exemplo de Paulo, seremos controlados pelo amor de Cristo quando também compreendermos que a vida e a morte de Cristo são nossas. Qual o objetivo? Proclamar o evangelho de um modo que crie fé e nova vida.

Novamente vem a pergunta: “e agora?” Eu tenho investido tempo estudando o texto; reuni um feixe de possíveis sermões que poderiam ser pregados a respeito dele. Mas, e agora? Merece ser pregado? Existe alguma boa razão para tomar o tempo de dezenas de pessoas para ouvir este sermão? É ele importante? E agora?

Minha teologia pastoral diz que as pessoas necessitam ouvir a história do evangelho muitas vezes, e sempre de uma nova maneira. Embora tenham-na ouvido uma vez no passado, elas não são as mesmas pessoas hoje. E além disso, talvez haja no auditório alguém que nunca ouviu antes, nem ouvirá de novo. O evangelho é sempre novo porque as pessoas que o escutam são diferentes hoje, em relação ao passado. Seu mundo é diferente. Suas necessidades se modificam. Elas vêem com ouvidos e mentes diferentes.

Se eu puder tornar viva a história de Je-sus, especialmente a história da cruz; se eu puder fazê-la real, se eu puder relacioná-la com as necessidades e emoções humanas básicas, então alguém, por certo, dirá: “Já ouvi isso antes, mas hoje, por alguma razão especial, compreendi realmente que foi para mim que Ele veio, foi por mim que Ele morreu.” Esse suposto ouvinte terá interiorizado e operacionalizado algo que antes lhe pareceu apenas uma proposição teológica abstrata. Cristo veio viver para ele, como Senhor e Salvador.

Quando eu me deparo com a questão “e agora?”, relacionada ao texto e ao sermão, respondo com a clara convicção de que isto é importante, básico, é assunto de vida ou morte. Afinal, o que poderia ser mais importante do que mostrar às pessoas onde elas podem encontrar vida?

Narrativa e ilustrações

A essa altura, é o momento de buscar ilustrações que facilitem a compreensão e a memorização dos pontos de vista apresentados. Buscar histórias que podem reforçá-los e inseri-las com um toque artístico, de tal modo que tornem vivas as idéias.

Primeiramente, eu penso em quais histórias novas serviríam como ilustrações, e se há alguma história bíblica que possa ser utilizada. Se não houver boas histórias, recorro à minha coletânea de ilustrações.

Nos últimos anos tenho experimentado mudanças em meu estilo de pregar – do didático/intelectual para o narrativo/afetivo. Ainda no processo de preparo, pergunto-me se não existiría alguma forma de apresentar o sermão num estilo narrativo. Seria possível tomar o que tenho aprendido do texto e partilhar isso em forma de história?

No caso particular da história do encontro de Paulo com o Jesus ressurreto, e sua experiência pessoal com a igreja de Corinto, sugiro que esse texto pode ser pregado a partir da narrativa da jornada de Paulo para Damasco. Ele estava seguro de sua compreensão a respeito da suposta falsidade do cristianismo, imaginando que Jesus não podia ser o Cristo, já que Se tornara “maldito de Deus”. Então ele encontrou o Cristo vivo. Como pode ser isso? Como pode um homem maldito de Deus ser exaltado? Posso descrever o tormento vivido pelo apóstolo durante aqueles três dias de cegueira em Damasco, enquanto lutava para reunir, como num quebra-cabeças, aquilo que faz sentido com tudo o que ouvira a respeito de Deus e das Escrituras. Posso também levar os ouvintes a partilhar de sua excitação no momento em que, num lampejo ele compreende que Jesus foi “maldito de Deus não por Si mesmo, mas porque “Aquele que não conheceu pecado, Ele o fez pecado por nós; para que nEle fôssemos feitos justiça de Deus” (II Cor. 5:21).

Através dessa narrativa, eu posso transformar um argumento teológico num drama com grande apelo humano e arte. Posso fazer dramática e viva a descoberta do evangelho por Paulo. É possível tomar a doutrina da Justificação pela Fé e torná-la viva através da experiência desse grande homem de Deus. Posso tecer uma linha que liga a experiência de Paulo com a experiência dos meus ouvintes. Posso mostrar o apóstolo Paulo como um exemplo de pessoa que era tão seguro de que estava certo, que estava terrivelmente errado. Posso até mesmo sugerir àqueles que em minha congregação mostram-se rígidos em suas opiniões, que eles deveriam imitar a Paulo e repensar sua própria fé.

Podendo escolher entre uma apresentação narrativa de conceitos derivados de um texto da Escritura, e uma apresentação didática desses mesmos conceitos, eu deveria escolher sempre a primeira opção. Não é sem razão que Deus apresenta a história bíblica numa forma narrativa.

A leitura do texto e descrição do seu contexto devem despertar nos ouvintes a convicção de que Deus está lhes falando ainda hoje. Cada membro na congregação deve dizer: “Minha vida se identifica com esta situação. Deus está falando para mim.”

Feita a opção pela narração, o esboço deve ser diferente do que seria, caso fosse apresentado de uma maneira mais didática.

Duas grandes narrativas compõem a linha principal do sermão. Na verdade, dois caminhos a partir da narrativa: um segue a reflexão teológica sobre o que significa ser compelido pelo amor de Cristo, e outra, seguindo uma reflexão igualmente teológica sobre o que significa ser convencido de que se Um morreu por todos, logo todos morreram. Tudo isso deveria prover abundância de cores, dinamismo e interesse. A parte teológica dá oportunidade para tecer uma linha da experiência de Paulo ao texto, e daí para nossa vida. Os conceitos teológicos perdem a abstração e a aridez, através do estilo narrativo. Isso me parece um modo muitíssimo melhor de trabalhar material teológico e doutrinário, do que o método usual de exposição ou instrução de tópicos.

Esboço

Usar ou não esboço é um assunto altamente pessoal. Alguns pregadores usam um manuscrito para ler; outros pregam sem qualquer tipo de anotação. Há quem fique no meio-termo, usando um esboço apenas para ativar a memória. O que o pregador decidir, deve ser o melhor para ele. Falando de minha experiência pessoal, o melhor é o menor esboço que eu possa carregar. Procuro preparar-me gastando o máximo de energia e tempo. Levo comigo o mínimo em for-ma de notas – e experimento o máximo de liberdade em minha pregação.