As iniciativas da Igreja Adventista na América do Sul

Erton Köhler

Desde o início de 2020, quando a pandemia do novo Coronavírus alcançou também a América do Sul, a sociedade e a igreja passaram a conviver com muitas incertezas. Ouvimos sobre um novo normal, mas ninguém sabe exatamente como ele será. Fala-se de um forte impacto nas finanças globais, porém seus efeitos reais são incalculáveis. Há uma busca permanente pela imunização de todas as pessoas, contudo isso ainda não aconteceu. A crise sanitária se misturou com posições políticas, e os resultados disso são imprevisíveis. Os meios virtuais passaram a dominar todas as áreas da vida. Mas, até onde o mundo deixará o toque e passará a ser tech?

A situação é tão grave que, segundo Yuval Noah Harari, historiador israelense, “crises como a do Coronavírus podem despertar os demônios interiores da humanidade”. Em outras palavras, podem trazer à tona o que os seres humanos têm de pior. Tantas incertezas têm alimentado o medo, a ansiedade, o sensacionalismo, a incredulidade, mas também a fé. Além disso, têm tornado muito mais desafiadora a vida dos pastores, confirmando as palavras de Ellen White, quando disse que a “Terra não é o lugar de repouso dos cristãos, e muito menos dos escolhidos pastores de Deus.”1

Como igreja, continuamos administrando as consequências da longa quarentena e do isolamento social, estamos elaborando planos e projetos com base apenas em possibilidades, buscamos formas de integrar estratégias pessoais e virtuais e trabalhamos para oferecer solidariedade às necessidades imediatas (emocionais, profissionais e alimentares) sem perder o foco em nossa missão de salvar.

Temos dedicado tempo ao diálogo, reuniões, planejamento e oração. Entre outras ações, procuramos estar em sintonia com a linha de frente e atender suas necessidades, buscamos ser ainda mais cuidadosos com o uso dos recursos financeiros, incentivamos o desenvolvimento de pessoas por meio do discipulado, fortalecemos a pregação profética dentro de uma moldura de esperança e trabalhamos com todo nosso empenho para manter a igreja viva, ativa e com foco missionário. Tudo isso sem saber exatamente os rumos que o planeta tomará.

Em que podemos encontrar, então, forças para seguir avante diante de tantas incertezas? Na promessa do Senhor, registrada em Jeremias 29:11: “‘Porque sou Eu que conheço os planos que tenho para vocês’, diz o Senhor, ‘planos de fazê-los prosperar e não de lhes causar dano, planos de dar-lhes esperança e um futuro’” (NVI). Nossas previsões são limitadas, nossa criatividade é restrita, nossa força é frágil e nossos planos não passam de boas intenções. Se tentarmos avançar sozinhos, vamos andar em círculos, ser consumidos pelo medo, paralisados pela pandemia e acuados por outras ameaças. Precisamos dobrar os joelhos e buscar os planos do Senhor. Apenas nas mãos Dele o dano aparente será transformado em prosperidade permanente. “O Senhor pode tirar vitória daquilo que, para nós, pode parecer frustração e derrota. Corremos o perigo de nos esquecermos de Deus e olhar para as coisas que se veem, em vez de contemplar pelos olhos da fé as que não se veem.”2

Não podemos negar os efeitos da crise. Quantas pessoas perderam familiares na pandemia? Ficaram sem trabalho? Enfrentaram conflitos espirituais? A situação é realmente grave, mas o legado do Senhor é outro. Ele promete prosperidade em meio à adversidade. E já começou a dar algumas amostras. Você observou quanta gente fortaleceu a vida devocional? Estudou mais as profecias? Voltou para os braços do Pai? Abriu o coração para as questões espirituais? Compartilhou contatos missionários usando os meios virtuais? Foi uma pequena demonstração de que “os limites humanos são a oportunidade de Deus.”3

O Senhor nos conclama hoje a dobrar os joelhos com fé, motivar a igreja a clamar pelo batismo do Espírito Santo e buscar conhecer intensamente Seus planos. Afinal, “somente o trabalho realizado com muita oração e santificado pelos méritos de Cristo mostrará, no final das contas, ter sido eficaz.”4

Os planos do Senhor ficarão mais claros, mesmo que a crise seja ainda mais forte. Movidos pela esperança, seremos capazes de encarar o futuro, pois Ele trará nosso mais esperado presente, a volta de Jesus! Podemos confiar que “logo a batalha estará terminada, e a vitória, ganha. Breve veremos Aquele em quem se têm centralizado nossas esperanças de vida eterna. Em Sua presença as provas e sofrimentos desta vida parecerão como se nada fossem.”5 Mas, enquanto esse dia não chega, precisamos continuar buscando sintonia com os planos do Senhor. Sempre lembrando que, muitas vezes, Ele envia as melhores oportunidades por meio das maiores dificuldades.

Em 2021, vamos trabalhar com as melhores possibilidades que Deus tem colocado em nossas mãos. Vamos priorizar a unidade da igreja; o fortalecimento de nossa identidade bíblica; a visão do discipulado com ênfase na comunhão, no relacionamento e na missão; e a implantação das competências ministeriais. Assim poderemos enfrentar esses tempos tão complexos, trabalhando integrados, com foco claro e criando as melhores condições para o desenvolvimento pastoral. Acreditando numa frase que li tempos atrás: “Coisas boas chegam para quem acredita, coisas melhores chegam para quem é paciente, e as melhores coisas vêm para quem não desiste.”

Conto com você na execução do Projeto de Ação Integrada para 2021. Abrace essas iniciativas como sendo o plano divino para aprofundar a unidade e fortalecer o discipulado.

Sem dúvida, os desafios continuarão diante de nós, pois as mudanças no mundo foram profundas e muito maiores que uma pandemia. Ellen White afirmou que “a obra que está perante nós é daquelas que põem em tensão toda faculdade do ser humano. Isso exigirá o exercício de vigorosa fé e vigilância constante. Por vezes as dificuldades que teremos de enfrentar serão muito desencorajadoras. A própria grandeza da tarefa nos aterrará.”6 Mas ela também nos assegurou que “com o auxílio de Deus, Seus servos finalmente triunfarão. […] Jesus estará conosco; Ele irá adiante de nós por intermédio de Seu Espírito Santo, preparando o caminho; e Ele será nosso ajudador em toda emergência.”7

Referências

1 Ellen G. White, Testemunhos para a Igreja (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2014), v. 1, p. 371.

2 Ellen G. White, Atos dos Apóstolos (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2014), p. 481.

3 Ellen G. White, História da Redenção (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2015), p. 293.

4 Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2014), p. 362.

5 Ellen G. White, Visões do Céu (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2009), p. 109.

6 Ellen G. White, Mensagens Escolhidas (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2015), v. 2, p. 407, 408.

7 Ibid., p. 408.

Erton Köhler, presidente da Igreja Adventista para a América do Sul