Aproveite os benefícios do mentoreamento em seu ministério

Se mentoreamento é “uma experiência relacional por meio da qual uma pessoa capacita outra pelo compartilhamento de dons concedidos por Deus, […] uma dinâmica positiva que permite que as pessoas desenvolvam seu potencial”,1 eu gostaria de considerar o tema sob uma perspectiva bíblica.

Uma brecha na formação

Podemos nos orgulhar de nosso histórico religioso, dos graus acadêmicos obtidos e dos muitos talentos que podem levar-nos a uma trajetória ministerial bem-sucedida. Entretanto, seria possível obter êxito maior se um ingrediente fundamental transcendesse todas essas qualidades exteriores. Atos 18:24 a 28
indica claramente que Apolo ingressou no ministério com os pré-requisitos básicos para uma carreira próspera. Seu currículo se destacava: era judeu de Alexandria, hábil na pregação, poderoso no conhecimento das Escrituras, bem instruído e treinado teologicamente e, além disso, mostrava muito fervor em relação ao ministério por meio das evidências de seu chamado (v. 24, 25).

Tudo contribuía em seu favor, pelo menos sob o ponto de vista humano. Entretanto, inicialmente Apolo estava abaixo de seu verdadeiro potencial ministerial. Faltava-lhe conhecimento básico, pois conhecia “apenas o batismo de João”. Ainda assim, experimentava algum êxito em seu ministério.

Entre o bom e o ótimo

Parece haver algo no início da caminhada ministerial que transmite a noção de que o recém-graduado do seminário sabe tudo. No entanto, não demora muito para descobrir quanto não se sabe sobre o ministério.

Em alguns aspectos, Apolo passava pela mesma experiência. Embora conhecesse o batismo de João, era lamentavelmente ignorante quanto ao batismo de Jesus (At 18:25b): “Eu vos batizo com água, para arrependimento; mas aquele que vem depois de mim é mais poderoso do que eu, cujas sandálias não sou digno de levar. Ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo” (Mt 3:11).

Até ser batizado com o Espírito Santo, Apolo experimentava um bom ministério, que ofuscava algo maior. Ecoando as palavras de Jim Collins: “O bom é inimigo do ótimo. E essa é uma das razões-chave por que existem tão poucas coisas que se tornam excelentes.”2 Então, por que se contentar com um bom ministério, quando existe a perspectiva de um grande ministério? Cada pastor pode experimentar um ministério de êxito por meio de uma fórmula simples, porém muitas vezes negligenciada: o batismo do Espírito Santo. Nós já passamos pelo “batismo de João” antes de ingressar no pastorado. Devemos experimentar o verdadeiro arrependimento e, diariamente, buscar a Cristo.

O poder do mentoreamento

Imediatamente antes de Sua ascensão, Jesus reafirmou a declaração de João Batista sobre seu batismo (At 1:8). Além disso, a promessa foi cumprida poucos dias após a partida de Cristo (At 2:1-4). O fogo do
Espírito Santo se tornou o catalisador para a verdadeira eficiência do ministério. Por meio de Seu poder, os discípulos impactaram o mundo com o evangelho. Contudo, mesmo após esse fenômeno sem precedentes, ainda vemos pessoas no ministério que trabalham sem o poder do Espírito. Apolo foi uma dessas pessoas. Talvez ele estivesse apresentando um de seus melhores e poderosos sermões, quando foi contido por dois membros de sua congregação. Eles descobriram que lhe faltava um ingrediente crucial.

Essa deve ter sido uma experiência humilhante e difícil para Apolo. Afinal, ele era uma autoridade teológica dentro da congregação e havia sido ensinado pelos mestres! Então, um simples casal de fabricantes de tendas apontou uma falha em seu ministério e sua vida espiritual. Não é fácil para nós, pastores, ouvir os fiéis indicando coisas que deveríamos saber, fazer e experimentar em nosso ofício como ministros do evangelho. Isso é como um golpe no coração de nossa credibilidade ministerial. Podemos ouvir mais facilmente a observação de colegas pastores, e, mesmo assim, isso pode ser uma experiência constrangedora.

Como aceitar uma recomendação como essa vinda de não-especialistas? Apolo parece ter sido receptivo ao que Áquila e Priscila lhe disseram, e o resultado foi positivo. Considerando que ele conduzia o povo antes, “auxiliou muito aqueles que, mediante a graça, haviam crido” (v. 27) depois. Visto que era capaz de refutar ensinos distorcidos dos judeus antes, “com grande poder, convencia publicamente” depois, “provando, por meio das Escrituras, que o Cristo é Jesus” (v. 28).

Que notável transformação ocorreu no ministério de Apolo! Ele não só conheceu o batismo de João, como também experimentou o batismo de Jesus, por meio do poder do Espírito Santo. O resultado de sua dependência do Espírito foi o verdadeiro êxito ministerial. Como consequência, os irmãos escreveram cartas recomendando-o aos cristãos da região de Acaia (v. 27).

Depois dessa experiência, o relato bíblico indica a permanência de Apolo em Corinto (At 19:1; 1Co 1:12; 3:4, 22). Mais tarde, Paulo, ao enfrentar problemas com os crentes dessa cidade, destacou o pastor Apolo como um modelo. Devido ao impacto de seu ministério junto aos coríntios, Apolo foi instado a voltar à região (1Co 16:12). Finalmente, Paulo o recomendou em uma urgente viagem missionária (Tt 3:13). O que poderia ter ocorrido se Apolo não tivesse encontrado Áquila e Priscila? O que aconteceria se ele tivesse ignorado o convite e rejeitado a orientação sobre a importância do batismo do Espírito Santo? O batismo do Espírito leva o ministério de um pastor a lugares inimagináveis e produz resultados extraordinários. “Deus usa um modelo de preparação para o desenvolvimento de líderes, não um modelo de planejamento. Líderes que dão o melhor em suas respectivas atribuições estão preparados para seu próximo nível de influência.”3

Áquilas e Priscilas modernos

Acredito que Deus tenha pessoas como Áquila e Priscila em cada congregação. No entanto, antes que elas possam ser valorizadas, primeiramente devem ser identificadas. Os pastores precisam estar atentos para encontrá-las, pois elas são as que realmente se interessam em querer que seu ministério alcance o potencial máximo. Ao olhar para trás, posso recordar os “Áquilas” e “Priscilas” que encontrei ao longo da jornada. Foram pessoas que humildemente compartilharam suas perspectivas sobre meu ministério, oraram por mim e por minha família e demonstraram apreço por meu trabalho. Sem falhar, estavam em cada congregação em que servi. “Deus usa as coisas comuns para edificar o caráter e expandir o coração do líder por meio do acúmulo de experiência e aprendizado, a fim de que ele esteja preparado para tarefas maiores.”4

Observe como Áquila e Priscila orientaram Apolo, facilitando sua compreensão a respeito do Espírito Santo e ajudando-o a alcançar maior êxito em seu ministério. Esses cristãos não desafiaram nem constrangeram o pastor publicamente e não fizeram comentários depreciativos em torno de mesas de jantar acerca do trabalho de seu líder. Eles desenvolveram um grande histórico de apoio pastoral, como ficou evidenciado na experiência de Paulo com o casal. O texto diz: “Ouvindo-o, porém, Priscila e Áquila, tomaram-no consigo e, com mais exatidão, lhe expuseram o caminho de Deus” (At 18:26). Pode ser difícil de aceitar, mas há momentos em que uma explicação mais precisa das Escrituras pode vir de um membro da congregação. Moisés recebeu sua bem-sucedida estrutura organizacional de seu sogro, Jetro, um sacerdote não israelita de Midiã (Êx 18:1-27). Deus pode escolher pessoas inesperadas para dar conselhos a seus pastores/líderes. “Experimentar o segredo da liderança que, em grande medida, significa ser conduzido”5 é um componente essencial para alcançar níveis mais altos de ministério.

Conclusão

Muitos pastores com graus acadêmicos avançados servem a igreja. Quando se trata de pregação e eloquência no púlpito, parece não haver nenhuma lacuna. Batismos podem ser medidos em todo campo mundial, com adesões à fé ocorrendo diariamente. No entanto, o ingrediente-chave para maior eficiência ministerial ainda parece estar em falta, e os pastores sabem disso. Necessitamos do Espírito Santo para apresentar a mensagem evangélica ao mundo todo (At 1:8).

O que fazer para resolver esse problema? Proponho quatro soluções simples e viáveis:

Em primeiro lugar, faça uma autoavaliação de seu ministério. Isso vai exigir uma análise honesta de seu conhecimento de Deus e de sua experiência pessoal com Ele. Além disso, demandará a aceitação da deficiência humana em relação a tudo que compreende o ofício pastoral. Também exigirá o compromisso de crescer em áreas identificadas como deficientes.

Na sequência, identifique os “Aquilas” e as “Priscilas” que o Senhor colocou em sua vida e seu ministério. Isso exigirá o discernimento espiritual de buscar a Deus por meio da oração e de se permitir ser vulnerável. Você deverá ter uma vontade genuína de aprender a partir do conhecimento e da experiência deles, construindo relacionamentos fundamentados na confiança mútua.

Em terceiro lugar, busque o conselho desses mentores, discuta suas ideias com eles, conte com as orações deles com e por você, enquanto ora pelo batismo diário do Espírito Santo.

Finalmente, dependa menos dos recursos externos do ministério e mais do
Espírito Santo. Isso significa deixar de lado “a armadura de Saul” e avançar em nome do Senhor de Davi. Significa abandonar a “espada de Pedro” e imitar Jesus, o Cordeiro de Deus. Significa fazer como o apóstolo Paulo: reconhecer sua insuficiência e depender da suficiência de Cristo (2Co 3:4-6). “Esta é a palavra do Senhor para Zorobabel: ‘Não por força nem por violência, mas pelo Meu Espírito’, diz o Senhor dos Exércitos’” (Zc 4:6). 

Referências

  • 1 Paul D. Stanley e J. Robert Clinton, Connecting: The Mentoring Relationships You Need to Succeed in Life (Colorado Springs, CO: NavPress, 1992), p. 12.
  • 2 Jim Collins, Empresas Feitas para Vencer (Rio de Janeiro: Elsevier, 2001), p. 17.
  • 3 Reggie McNeal, A Work of Heart: Understanding How God Shapes Spiritual Leaders (San Francisco, CA: Jossey-Bass, 2000), p. 45.
  • 4 Ibid.
  • 5 Henri Nouwen, In the Name of Jesus: Reflections on Christian Leadership (New York: The Crossroad Publishing Company, 1989), p. 57.