De acordo com o apóstolo Pedro, Deus chama pastores para desempenhar um serviço espontâneo, exemplar e de boa vontade (1Pe 5:2, 3). Essa obra, segundo Ellen White, é “solene e sagrada” (Evangelismo [CPB, 2023], p. 129). Como porta-vozes de Deus, os ministros do evangelho devem representar o Senhor em pensamento, palavra e ação.
Nesta entrevista, Carlos Hein fala a respeito da importância do chamado no ministério pastoral. Adventista de quinta geração, Hein nasceu em Entre Rios, na Argentina. Cursou Teologia na Universidade Adventista del Plata e se casou com a enfermeira Graciela Hellvig em 1978. Ambos trabalharam como missionários na lancha Luzeiro, no Amazonas. Hein também serviu como pastor distrital, departamental, presidente de Campo, vice-reitor e secretário ministerial da Divisão Sul-Americana. Concluiu seu ministério como diretor de Desenvolvimento Espiritual no Sanatório Adventista del Plata. Atualmente reside na Argentina. Com Graciela, teve três filhos: Nancy, Bily e Erwin.
Qual é a importância do chamado para o ministério pastoral?
Vou responder a essa pergunta contando sobre uma situação que aconteceu comigo há alguns anos. Naquela ocasião, o céu estava escuro, fazia muito frio, e o vento soprava com força. Estávamos às portas de uma grande tormenta. Tudo indicava que seria prudente esperar um pouco antes de sair para fazer algumas visitas. Mas havia uma família sofrendo, passando por uma grande necessidade. Eu devia sair! Enquanto caminhava contra o vento forte, veio à minha mente a seguinte pergunta: “Por que eu faço o que faço?”
A resposta a essa pergunta dá sentido ao meu ministério. Não faço o que faço como um meio de ganhar a vida ou apenas porque gosto. Sou um pastor porque “sobre mim pesa essa obrigação; porque ai de mim se não pregar o evangelho!” (1Co 9:16).
Sempre me lembro daqueles operários de Berlim que estavam cavando uma vala em um terreno pedregoso, em uma tarde muito quente, quando um jornalista se aproximou e perguntou a eles o que estavam fazendo. Um deles falou: “Estamos trabalhando como burros!” Outro, olhando para o repórter, simplesmente disse: “Estamos fazendo uns poços.” Mas outro operário, que parecia mais feliz, respondeu: “Estamos construindo uma catedral!” Este era o único que trabalhava feliz, porque sabia o que estava fazendo. Não via simplesmente uma vala ou um trabalho árduo, mas sabia que estava construindo um edifício para a adoração a Deus.
O apóstolo Paulo tinha isso bem claro em sua mente. Quando escreveu ao seu amado discípulo Timóteo, apresentou-se, dizendo: “Paulo, apóstolo de Cristo Jesus, por ordem de Deus” (1Tm 1:1). Ele tinha muito claro o motivo pelo qual estava no ministério: ele havia sido chamado por Deus. Por essa razão, trabalhava com entusiasmo e alegria (1Tm 1:12).
O que diria para um pastor que perdeu o propósito no ministério?
A única maneira de ser feliz no ministério é dizer e viver as palavras de Jeremias: “Tu, ó Senhor, estás em nosso meio, e nós somos chamados pelo Teu nome. Não nos abandones!” (Jr 14:9). Obviamente, nem sempre é fácil aceitar o chamado divino. Jeremias quis escapar dele, mas não pôde. A Palavra de Deus era como um fogo em seu coração, e ele não teve outra escolha a não ser apreciá-la (Jr 20:9).
Quando Deus convoca alguém para o serviço, essa convocação não é improvisada, passageira ou reversível, como Paulo observa: “Porque os dons e a vocação de Deus são irrevogáveis” (Rm 11:29). Com relação a um colega que perdeu o propósito no ministério, eu o levaria a rever sua relação com Deus e o estimularia a aprofundar seu relacionamento com Jesus. Certamente também lhe estenderia a minha amizade e intercederia por ele em oração.
Quais conselhos daria a um pastor aspirante?
No diálogo com os aspirantes ao ministério, sempre procurei recordar que o chamado de Paulo estava ligado à pessoa de Cristo. A identidade essencial do apóstolo era a de “servo de Cristo Jesus”. Foi essa condição de se considerar “sob ordens” superiores que lhe permitiu confrontar as muitas dificuldades que rodearam seu ministério. Isso foi especialmente verdadeiro em relação à congregação em Corinto, que foi para ele uma verdadeira dor de cabeça – situação que todos os ministros muitas vezes enfrentam. Houve momentos em sua experiência de liderança que foram perigosos e frustrantes. Ele os descreve assim: “Quando chegamos à Macedônia, não tivemos nenhum alívio. Pelo contrário, em tudo fomos atribulados: lutas por fora, temores por dentro” (2Co 7:5). No entanto, em meio a tantas dificuldades, ele pôde afirmar: “Graças, porém, a Deus, que, em Cristo, sempre nos conduz em triunfo” (2Co 2:14). Portanto, creio que os pastores aspirantes precisam centralizar seu ministério na pessoa de Jesus, Aquele que sempre nos faz vitoriosos.
Como um pastor pode renovar a chama do ministério pastoral?
Poderiam ser mencionadas várias dicas para renovar a chama do ministério pastoral, mas as mais importantes são: 1) Recordar diariamente por que faço o que faço (por mandato de Deus) e 2) Renovar diariamente a minha dependência de Deus, o que a Bíblia chama de olhar “firmemente para o Autor e Consumador da fé” (Hb 12:2). Sem Ele, não podemos fazer nada (Jo 15:5).
Ellen White escreveu: “O que necessitamos neste tempo perigoso é de um pastorado convertido. Necessitamos de homens que reconheçam sua pobreza de alma, e que busquem ardentemente o dom do Espírito Santo. Uma preparação interior é necessária para que Deus nos dê Sua bênção” (Ministério Pastoral, p. 32).
De quais maneiras um pastor pode ajudar um colega que está desanimado?
Todos os pastores desejam ter êxito no ministério. Um dos maiores perigos que corremos é “competir” com os nossos colegas. Há vários anos, quando me coube pregar em um encontro de presidentes realizado na minha União, um presidente muito experiente disse: “O grande problema no ministério ocorre quando vemos os nossos colegas como concorrentes, não como amigos.” Essa frase me impactou durante muito tempo. Embora eu desejasse que isso não fosse verdade, a realidade é que existe sim competição entre alguns pastores.
De que maneira posso ajudar um colega desanimado? Só há uma maneira: dar-lhe verdadeira amizade. Para que isso seja possível, em primeiro lugar, é necessário desenvolver uma amizade genuína com Jesus.
O que nossos colegas mais precisam é encontrar ouvidos dispostos a escutar com empatia e ombros dispostos a ajudar a levar os fardos da vida. Nossos colegas devem ver refletida em nós a humildade de Jesus! Eu oro para que Deus nos ajude a desenvolver a cada dia mais uma amizade maior com Ele e uns com os outros, sem competição!