Conclusão

Conhecendo estes antecedentes, não admira que a paulatina entrada do culto das imagens na igreja cristã encontrasse tenaz oposição. O imperador bizantino Leão III, chamado o Isáurico (675-741), transformou-se num dos dirigentes do movimento de oposição ao culto das imagens. Constantino V, também imperador bizantino, filho de Leão III, opôs-se com maior energia que seu pai ao culto das imagens. O Concílio de Constantinopla (754), que teve a intenção que fora ecumênica, condenou o culto das imagens como heresia e idolatria. O Concílio de Latrão, do ano 769, anatematizou o Concílio de Constantinopla, e esse foi um ponto decisivo nessa contenda. O Concílio de Nicéia, do ano 787, promoveu “respeitosa reverência” às imagens, embora reservasse para Deus o “verdadeiro culto”.

Os que se opunham ao culto das imagens destruíam as que consideravam objeto de idolatria. Daí terem sido chamados de “iconoclastas” (destruidores de imagens). Esses opositores foram silenciados no século IX, e o culto às imagens pouco a pouco foi-se firmando e tornando-se mais ostentivo. Passo a passo foi-se transformando em algo inevitável para os fiéis que desconheciam a ordem do Decálogo que proíbe fazer imagens para tomá-las objeto de adoração e de culto.

É necessário que os alunos estudem amplamente este tema e se familiarizem com citações como a que consignamos agora: “O pároco ensinará pois que não somente é lícito ter imagens na igreja e dar-lhes honra e culto, visto que toda a honra que se presta a elas se ordena a seus originais; mas declarará também que assim se praticou até agora, com mui grande aproveitamento dos fiéis. … Demonstrará que as imagens dos santos estão postas nos templos para que sejam adoradas e para que nós, avisados por seu exemplo, conformemos nossa vida e costumes com os seus”. — Catecismo del Santo Concilio de Trento para los Párrocos, edição de Valença de 1782, p. 243.

A experiência ensina que esse culto às imagens tem sido apresentado como algo não somente inofensivo, mas também útil e benéfico. Por isso cumpre notar que o ato de atentar contra uma parte da lei de Deus tem trazido males diversos. Os que têm contemplado as festas religiosas, de origem católica, que se realizam nas regiões menos desenvolvidas dos países latino-americanos e do Sul da Europa, poderão dar testemunho da forma supersticiosa em que se realizam e da verdadeira idolatria que representam. Na América do Sul são notáveis as verdadeiras orgias a que dão lugar as festas religiosas do altiplano do Peru e da Bolívia. Nelas, as imagens ocupam um lugar central como objetos de culto.

Quanto à transformação do mandamento que manda repousar no dia de sábado, dando a razão para essa celebração que se entronca com a criação do mundo, pela ordem de “santificar as festas”, há vários livros de origem adventista que dão amplas informações quanto ao processo pelo qual a observância do sábado passou a ser suplantada paulatinamente pela do primeiro dia da semana.

Deverá o adventista dispor de uma documentação bem escolhida que lhe permita mostrar, com provas fidedignas, como se foi passando de algo aparentemente inofensivo e lícito, como a celebração de um culto matinal em homenagem à ressurreição no primeiro dia da semana, para o que se transformou numa celebração rival do sábado. Também deverá saber que a observância do sábado fazia com que os cristãos fossem confundidos com os judeus. Daí um dos motivos — talvez o principal — para que de alguma maneira celebrassem um culto no primeiro dia da semana.

5. Será de muita utilidade saber que há duas correntes de interpretação das profecias bíblicas pelos defensores da Igreja Católica.

A primeira delas chama-se preterismo. Este enfoque profético originou-se com o jesuíta espanhol Luís de Alcázar (1554-1613). Sua obra, de 900 páginas, intitulada: Vestigatio Arcani Sensus in Apocalypsi (Investigação do Sentido Oculto do Apocalipse), é um esforço para demonstrar que a Igreja Católica não pode estar simbolizada no Apocalipse.

Os capítulos 1 a 11 do Apocalipse são aplicados por Alcázar ao rechaço dos judeus e à desolação de Jerusalém pelos romanos. Estranha interpretação! Fazia com que a profecia anunciasse acontecimentos do passado. Não seria profecia de espécie alguma ao ocupar-se de fatos já decorridos (o Apocalipse foi escrito no ano 96). É a negação do próprio propósito do livro, destinado a indicar “as coisas que em breve devem acontecer” (Apoc. 1:1).

Alcázar aplica os capítulos 12 a 19 do Apocalipse à queda do paganismo romano e à conversão do império à Igreja. Segundo ele, o julgamento da grande meretriz (Apoc. 17) se efetuou com a queda da idolatria pagã.

A prova bíblica mais evidente para mostrar a inconsistência desta explicação se encontra, precisamente, no que constitui o objeto focal do conflito entre o bem e o mal: a obediência ao Decálogo. Cumpre lembrar que Apoc. 12:6 e 14 é a ÚNICA explicação (não há outra nas Escrituras) do período de perseguição de Daniel 7:25. Esse vínculo entre ambos os livros é de uma natureza tão sólida, que nos obriga a reconhecer que em ambos os livros se trata de um mesmo poder adversário da vontade de Deus. Esse poder julgaria ter autoridade para mudar os tempos e a lei de Deus (Dan. 7:25). Essa nefasta obra nunca foi realizada pelo Império Romano. Sua perseguição foi aberta, cruel, decidida. Em compensação, Roma Papal, sim, efetuou esse atentado. E a importância do mesmo se firma não somente no fato de que a obediência é fundamental na relação o homem com Deus, porém mais ainda na realidade, profeticamente anunciada, segundo a qual essa obediência seria o motivo da perseguição e da luta decisiva entre o bem e o mal (Apoc. 12:17; 14:12).

Alcázar aplica o capítulo 20 do Apocalipse a uma perseguição final de um anticristo vindouro. Os capítulos 21 e 22 são aplicados à glória e triunfo eterno da Igreja de Roma.

A segunda corrente é chamada futurismo. Seu iniciador foi outro jesuíta espanhol, Francisco Ribera (1537-1591).

Ribera atribui somente alguns dos primeiros capítulos do Apocalipse à Roma antiga, dos dias de João. O resto do livro profético é aplicado a três anos e meio literais de perseguição efetuada por um anticristo vindouro. Durante esse período, a Igreja teria que fugir para o “deserto”, ao passo que o perseguidor reinaria em Jerusalém. Ribera ensina que nesse tempo Roma cristã seria derribada devido a seus pecados. Desse modo, a Babilônia simbólica do Apocalipse seria a Roma pagã passada e uma Roma futura (distanciada do papado por haver-se extraviado em suas crenças e em suas práticas). A Roma do presente, Roma papal, ficaria assim livre de toda acusação, livre de todo envolvimento na profecia.

Cumpre salientar novamente que o atentado contra a lei JÁ É UM FATO. É algo que existe há séculos. Não é necessário esperar a presença de um anticristo vindouro que cumpra com essa nefasta obra. A simples comparação dos catecismos com o texto bíblico de Êxodo 20, basta para mostrar a triste realidade da falsificação e mutilação do Decálogo.

Diante dessas duas tendências, encontra-se a posição chamada histórica. É a que seguem os intérpretes adventistas. Baseia-se no fato de que as profecias do Apocalipse encontram seu cumprimento na História. É possível seguir nossa era cristã e comprovar nela o cumprimento das predições bíblicas.

O professor adventista deveria fazer todo o esforço necessário para poder ler inglês, a fim de compreender e utilizar os quatro valiosos volumes de The Prophetic Faith of Our Fathers, do Dr. LeRoy E. Froom. Essa obra, de grande valor e fartamente documentada, é um verdadeiro arsenal de fatos fidedignos que permitem rastear o cumprimento das profecias através dos séculos e a forma em que foram sendo interpretadas à medida que se iam cumprindo.

6. Nessa tarefa de colocar a Igreja Católica dentro do quadro profético, será de suma importância que o professor adventista esteja bem informado quanto ao significado do quarto século no processo da apostasia.

É o século da aparente conversão de Constantino ao cristianismo; das intromissões do poder civil na igreja cristã; da recepção de muitíssimos pagãos no cristianismo sem que realmente houvessem passado pelo processo de uma genuína conversão. No tocante à luta entre o bem e o mal, focalizada na lei de Deus e no respeito que lhe é devido, este é o século do edito dominical de Constantino (ano 321), completamente pagão em sua linguagem, que estabelece a observância do domingo. É também o século do Concílio de Laodicéia (cuja data não se pode determinar com exatidão, mas deve encontrar-se em meados do século IV). No Cânon 29 desse concílio se ordena: “Os cristãos não judaizarão nem estarão ociosos no sábado, mas trabalharão nesse dia; porém o dia do Senhor honrarão especialmente e, sendo cristãos, se for possível, não trabalharão nesse dia. No entanto, se forem encontrados judaizando, serão separados de Cristo (excomungados?)”.

A mistura indevida de paganismo e cristianismo trouxe, durante esse século, o culto das imagens. Este tipo de culto que tanto dano tem ocasionado em tantas partes, se explica facilmente quando nos lembramos de que não havia uma diferença insuperável para um pagão se deixasse de prostrar-se diante duma estátua de Júpiter, por exemplo, para fazê-lo ante a imagem de um apóstolo, profeta ou mártir.

Quanto à mistura indevida de paganismo e cristianismo (promovida por um imperador pagão), há algumas citações muito atraentes que deveriam ser usadas com eficácia. Consignaremos as seguintes:

“Culminava então a carreira política do imperador Constantino (entre os anos 313 e 315) em direção à monarquia universal, absoluta e hereditária. O audaz empreendimento exigia uma mudança substancial na consciência imperial forjada por Augusto e retocada por Adriano e Diocleciano. Contrariamente ao que entendiam seus antecessores e seus rivais, Constantino compreendeu que necessitava do apoio das tenazes comunidades cristãs para edificar o novo império. Por conseguinte, desde que foi proclamado imperador pelo exército, em 306, colocou os cristãos sob sua proteção e ingressou entre os que podiam ouvir a leitura dos evangelhos nos templos. Mas o seu pensamento era político, e não religioso. Queria organizar as comunidades episcopais autônomas numa igreja universal (católica é equivalente de universal), hierarquizada e doutrinariamente homogênea, que correspondesse ao império como a alma ao corpo”. — Luís Aznar, em sua introdução à História Eclesiástica de Eusébio de Cesárea, traduzida por Luís M. de Cádiz, Editorial Nova, Buenos Aires, 1950.

“Estando Constantino acostumado, como todos os imperadores romanos anteriores a ele, a ser pontífice máximo e a dispor das coisas referentes à religião como se fossem assuntos do Estado, não é de estranhar que se intrometesse tanto nos assuntos da Igreja Católica, à qual havia dado liberdade e que favoreceu até sua morte como nenhum príncipe cristão o fez depois, convocando concílios, tirando e pondo bispos, além de muitas outras exorbitâncias conhecidas pelo nome de cesarismo, regalismo, etc. … De Constantino herdaram seus filhos e descendentes posteriores o mesmo espírito de ingerência nos assuntos religiosos, ingerência que se transformou num mal endêmico no Império Bizantino e que foi a causa de tantos males para a religião”. — Nota de rodapé de Luís M. de Cádiz, Idem, p. 505.

7. A Babilônia simbólica do Apocalipse (cap. 17) também iria perseguir “os mártires de Jesus” (Apoc. 17:6). Para poder levar a cabo essa nefasta obra persecutória, contaria com a ajuda dos “reis da Terra” (verso 2). Essa união ilícita é uma realidade histórica que devemos saber apresentar.

Entre os imperadores, reis e outros governantes que puseram sua autoridade e poder do lado do bispo de Roma, destacam-se os seguintes: Constantino, Constâncio, Constante e Constantino II (estes três últimos filhos de Constantino), Valentiniano I, Graciano, Valentiniano II e Teodósio (os oito mencionados até agora correspondem ao século IV); Valentiniano III e Marciano (século V); Anastácio I, Clóvis I e Justiniano (século VI), Focas (século VII); Carlos Magno (século IX); Otão I (século X); Luís IX da França, conhecido como S. Luís, que terminou a guerra de extermínio contra os albigenses (século XIII); Filipe II da Espanha (século XVI); Maria Tudor da Inglaterra (século XVI), conhecida na História como Maria, a Sanguinária, pela forma em que perseguiu os dissidentes; Francisco I da França (século XVI); Luís XIV (séculos XVII e XVIII), tristemente recordado por haver revogado o edito de Nantes que dava liberdade religiosa aos huguenotes e também de infeliz memória pelos desmandos cometidos por seus soldados (chamados “dragões”) contra as famílias protestantes. Daí as chamadas “dragonadas”.

Nem todos os governantes que citamos favoreceram precisamente as perseguições religiosas. Seu papel consistiu principalmente em dar autoridade ao bispo de Roma. Tal é o caso nos séculos IV e V. Desafortunadamente, a partir do século VI, o bispo de Roma teve em mãos o poder de perseguir os dissidentes. Isto se deveu ao título de “Corretor de Hereges” que lhe deu o imperador Justiniano do Oriente, no ano 533.

8. Os sete pontos precedentes podem ser usados para dar uma visão clara do significado de Roma papal na História, como cumprimento das profecias.

O seguinte poderia servir de informação bibliográfica: • The Prophetic Faith of Our Fathers (quatro volumes), de LeRoy E. Froom; Los Videntes y lo Porvenir, de Conradi; Daniel y Apocalipsis, de Urias Smith; as notas de Daniel e Apocalipse de The SDA Commentary; as notas de rodapé do Apocalipse da Version Straubinger de las Escrituras; a História Eclesiástica, de Eusébio (edição da Editorial Nova, Buenos Aires, 1950); Daniel y Apocalipsis, de Wakeham. Há outros capítulos a que se pode recorrer em livros de diversos autores adventistas publicados pela Casa Editora Sul-Americana, pela Casa Publicadora Brasileira e pela Pacific Press.