Como administrar o estresse e maximizar o bem-estar na família pastoral

Em seu livro The Hidden Link Between Adrenalin & Stress, Archibald Hart descreve, com detalhes surpreendentes, os efeitos fisiológicos negativos e prejudiciais de uma experiência religiosa quando ela implica um nível “alto”1 de adrenalina, inclusive, quando semelhante condição é promovida por alguma prática espiritual legítima.2

Há o estresse agudo, crônico e a vulnerabilidade individual ao estresse. Além disso, existe a susceptibilidade da família ao estresse. Assim, mais do que apenas sobreviver, pastores e suas famílias precisam encontrar maneiras de ser bem-sucedidos, apesar da exposição inevitável a essas várias formas de estresse. O propósito deste artigo é refletir sobre métodos pelos quais podemos aprender a lidar com a dura realidade do estresse no contexto familiar.

A analogia da viga

Como o ar, o estresse está em toda parte. Está ao redor e dentro de nós também. Não podemos vê-lo nem tocá-lo, mas ele pode nos esmagar. Como o oceano, o estresse flui e reflui. Em certos momentos, mal conseguimos perceber seu poder. Em outros, ele se assemelha a uma tempestade que ameaça nos engolir. O estresse é uma força que pode destruir pessoas e minar famílias.

Os estudiosos podem discordar acerca de uma definição precisa dessa condição. Entretanto, há certo consenso de como ela ocorre. Por exemplo, os engenheiros sabem da importância de conhecer quanto peso uma viga de aço é capaz de suportar. Para ter essa informação, a viga é testada por meio do aumento gradativo de pressão, até que ela se rompa. Então, calculando a margem de segurança e garantindo que as peças não sejam carregadas muito próximo do ponto de ruptura, elas podem servir à sua finalidade, sem perigo de colapso.

Não podemos medir tão facilmente a tolerância das pessoas ao estresse. Obviamente, não é correto lançar sobre elas responsabilidades cada vez maiores até que tropecem e caiam, só para ver quanto podem suportar. Contudo, há uma forma indireta de estimar o peso relativo dos vários fatores de estresse. A respeitada escala de Holmes e Rahe3 identifica 43 situações estressantes da vida que, combinadas, podem sobrecarregar alguém ao ponto de resultar em provável doença física.4

Nem todos entrarão em colapso quando submetidos aos mesmos eventos estressantes. Assim como existem diferenças quanto à força física, as pessoas diferem em termos de quão resilientes ou resistentes elas são ao estresse. Em diferentes períodos da vida, até a pessoa mais forte pode enfrentar momentos de maior vulnerabilidade. No entanto, eventos como a morte de um ente querido, doença grave ou acidente provavelmente vão testar os recursos de enfrentamento da maioria das pessoas.

Além disso, uma viga de aço pode suportar grande peso por longo período sem enfraquecer. Entretanto, se ela estiver exposta a frequentes variações de pressão ou até mesmo a uma carga mais leve, conforme o passar do tempo, isso pode gerar fadiga no material, tornando-o instável. De idêntica maneira, a força de uma pessoa não pode ser mensurada por meio da forma vigorosa com que ela lidou com uma grande emergência. O que importa, de fato, é a capacidade que ela tem de enfrentar os efeitos negativos das crises esporádicas que lhe acontecem e também os efeitos cumulativos do desgaste diário.

Portanto, quando falamos sobre gerenciamento do estresse pastoral, nós nos referimos ao peso das cargas ocasionais excessivas, à exposição contínua a intensas pressões diárias e ao grau de vulnerabilidade do pastor e de cada membro de sua família ao estresse.

Preparo para as crises

Prever com exatidão quando vamos ser confrontados com problemas pessoais é quase impossível, mas há algumas coisas que podemos fazer para nos preparar para esses desafios.

Primeiramente, temos que encarar os fatos. Posso pensar: “Sou um bom motorista, sem nenhuma ocorrência em minha habilitação. Acidentes acontecem apenas com as outras pessoas.” Ou: “Estou seguro em meu trabalho e confiante de que nada vai mudar.” E ainda: “Quando você cuidar de sua saúde assim como eu, não terá qualquer doença grave.” Entretanto, a realidade é que mesmo as pessoas mais organizadas e zelosas podem passar por circunstâncias ruins. Portanto, temos que estar preparados para qualquer eventualidade.

Algumas atitudes simples incluem saber como agir em caso de incêndio em casa, manter documentos importantes em um cofre ou carregar números de telefone de emergência em sua carteira. Com essas e outras medidas de emergência personalizadas, o impacto das situações estressantes será moderado para as pessoas e as famílias.

O pastor sempre tem mais trabalho a fazer do que horas em seu dia. Isso exige disciplina. Evidentemente, o agendamento é essencial e, embora existam certos compromissos fixos, os eventos da semana não devem ser rigidamente fechados, de tal maneira que uma circunstância inesperada venha a desmantelar todos os planos cuidadosamente definidos.

Em seguida, precisamos aprender a priorizar as atividades. No fim da semana, o pastor deve se alegrar pelo fato de ter cumprido os itens mais importantes de sua lista de tarefas. Considere esse elemento como algo essencial a fim de se manter em equilíbrio.

Os benefícios de se atender a todos os compromissos importantes durante a semana, porém, serão perdidos se o pastor reagir a qualquer imprevisto que surgir no caminho. Geralmente, os itens de maior prioridade são frequentemente substituídos por questões de menor importância que demandam ação instantânea.

Por isso, é fundamental exercitar a terceira disciplina. É uma questão de integridade dizer não quando responder sim significa anular compromissos feitos anteriormente. Algumas pessoas querem que você largue tudo para ajudá-las naquilo que consideram urgente, mas que, de fato, não se pode chamar de urgência real. O estresse momentâneo que você pode sentir ao dar uma série de recusas polidas, mas resolutas, a uma pessoa insistente, será compensado pela satisfação de saber que você não terá que “tirar de Pedro para dar a Paulo”.

Além disso, é necessário saber dizer não a algumas tarefas, quando a lista de itens a fazer é muito longa para o dia ou as prioridades estabelecidas são alteradas. Alguns pastores acharão simples resolver isso, escolhendo as atividades com base no que é mais fácil de ser feito. Entretanto, é preciso dizer sim às tarefas mais importantes e, no fim do dia, não aos trabalhos incompletos e menos importantes. Nesse caso, é imprescindível valorizar o que você realizou e resistir à tentação de se entristecer por causa das tarefas inacabadas.

Por exemplo, você deve separar tempo para preparar seus sermões. Em média, isso pode tomar dez ou mais horas por semana. Se você gosta de viver no limite, pode começar a elaborar a mensagem um dia ou dois antes de apresentá-la. Contudo, imprevistos podem surgir, e isso pode comprometer seriamente seu tempo de estudo. A sensação de que o sermão não foi adequadamente preparado pode intensificar seu desconforto e aumentar seu estresse. Então, no início da semana, conclua as tarefas mais complexas, para que tenha tempo hábil a fim de preparar satisfatoriamente a mensagem.

Lidar com pessoas – a principal atividade do pastor – é muito desgastante, especialmente se vários membros difíceis parecem ter prazer em arrumar problemas. Adicione a isso o dilúvio interminável de e-mails, mensagens de WhatsApp, telefonemas (às vezes no meio da noite) e assuntos de comissão. Não é de admirar que muitos pastores sobrevivam apenas por viver na adrenalina!

Reservas profundas

Além dos efeitos negativos imediatos do estresse provocado por pressões diárias, essa condição também resulta em consequências prejudiciais de longo prazo. Hans Selye descreve o que sua pesquisa revelou sobre “energia de adaptação”,5 um recurso que nos ajuda a superar momentos difíceis. Alguns herdam grande “fortuna” dessa energia para lidar com os estressores da vida, outros, uma quantidade menor. No entanto, a oferta é limitada para cada pessoa e não há como repor essa reserva. “O estágio de exaustão, depois de uma demanda temporária sobre o corpo, é reversível [pelo sono restaurador e férias], mas a exaustão completa de todas as reservas de energia de adaptação não é. Uma vez que elas são exauridas, ocorrerá senilidade e, por fim, a morte.”6

Curiosamente, em 1890, 17 anos antes de Selye nascer, Ellen White escreveu: “Aqueles que fazem grandes esforços para realizar muito trabalho em determinado tempo, e continuam trabalhando quando seu juízo lhes diz que devem descansar, nunca lucrarão. Estão vivendo sobre capital emprestado. Estão desperdiçando a força vital de que precisarão em algum momento futuro. Quando a energia que eles têm usado de forma imprudente é exigida, eles falham por falta dela. A força física se foi, as faculdades mentais falham. […] Seu tempo de necessidade chegou, mas seus recursos físicos estão esgotados. […] Deus nos proveu de energia indispensável, que será necessária em diferentes períodos da vida. Se de forma imprudente esgotarmos essa energia pela exaustão contínua, teremos sofrido perdas em algum tempo […] Nossa utilidade será diminuída, quando não, destruída nossa própria vida.”7

Sensibilidade ao estresse

Isso leva a uma reflexão sobre a vulnerabilidade do pastor ao estresse. Obviamente, quanto mais susceptível for a pessoa, maior será a necessidade de tomar medidas de proteção.

Um bom ponto de partida seria descobrir a quantas crises de estresse você esteve exposto nos últimos 12 meses. É possível obter uma ideia disso preenchendo o teste da escala de Holmes e Rahe online.8 Se descobrir que seu nível de estresse está elevado por causa de alguma situação extraordinária, como por exemplo uma crise financeira ou problema familiar, você precisará ter um cuidado especial para se proteger contra os efeitos adversos dessa condição.

Além de estar alerta para afastar o estresse desnecessário, você pode fortalecer sua resistência física, dando atenção especial à sua saúde. Sono adequado, exercício físico, alimentação saudável e recreação revitalizante são essenciais.

Você também deve reconhecer que não é só o estresse externo que deve ser monitorado. Há emoções tóxicas que atormentam o espírito e exaurem as energias. “Desgosto, ansiedade, descontentamento, remorso, culpa, desconfiança, todos tendem a consumir as forças vitais, e a convidar a decadência e a morte. […] Ânimo, esperança, fé, simpatia e amor promovem saúde e prolongam a vida. Um espírito contente, animoso, é saúde para o corpo e força para a alma”.9

Se você fizer uma contagem aproximada do número de pensamentos negativos e autocríticos que ocupam sua consciência por dia e comparar com a frequência de seus pensamentos edificantes e afirmativos, terá um bom indicador da quantidade de autoestresse imposto que pode ser reduzida por meio do pensar correto.

Estresse familiar

Como o ministro, as famílias também podem experimentar estresse. Assim, é importante que seus membros aprendam a se proteger dos estressores prejudiciais. “O estresse de viver uns com os outros ainda representa uma das maiores causas de aflição”,10 escreveu o pai da pesquisa sobre o assunto, Hans Selye.11 Embora ele estivesse falando a respeito das interações humanas, assistentes sociais, terapeutas familiares e pastores podem testemunhar sobre os transtornos gerados quando as coisas dão errado nas famílias.

Ao procurar gerir o estresse na casa do pastor ou ao aconselhar pessoas para
ajudá-las a lidar com as adversidades no lar, é necessário aumentar a consciência sobre o que provoca essa condição na família. De fato, escrever o que acontece e quem desencadeia os problemas pode concentrar a atenção acerca de quais mudanças precisam ser feitas.

Normalmente, o pastor achará que é contraproducente tentar mudar as pessoas. Elas certamente tentarão resistir. O que precisa de ajuste são as palavras e as ações. Tenha em mente que mudanças repentinas são difíceis. Mudanças graduais são mais fáceis. Então, pense em reduzir a frequência de certos comportamentos que provocam estresse e aumentar a ocorrência de palavras e atos que aliviem o estresse. Lembre-se sempre de celebrar as melhorias, ainda que pequenas.

Os conselheiros encontrarão problemas muito comuns em famílias que se envolvem em aborrecimentos simplesmente porque os membros são desprovidos de habilidades básicas de comunicação e resolução de problemas. Quando essas deficiências são corrigidas, os níveis gerais de estresse podem diminuir drasticamente.

Jovens famílias que nunca tiveram a oportunidade de aprender como viver bem no contexto familiar podem se beneficiar muito ao observar outras famílias lidando de maneira eficiente com o estresse. A sabedoria acumulada pelos casais mais idosos pode ser passada adiante, de modo que os desafios enfrentados pelos casais inexperientes podem ser mais controláveis.

A capacidade de seus membros para administrar sentimentos é fundamental para a harmonia familiar. Selye afirma: “Entre todas as emoções, aquelas que – mais do que quaisquer outras – contam para a ausência ou presença de estresse nas relações humanas são os sentimentos de gratidão e boa vontade e suas contrapartes negativas, ódio e desejo de vingança.”12

Traduzindo em termos religiosos, somos aconselhados a cultivar “a gratidão. Louvai a Deus pelo Seu admirável amor em ter dado Cristo para morrer por nós. Nada lucramos em pensar em nossas mágoas. Deus nos convida a meditar na Sua misericórdia e no Seu amor incomparável, a fim de que sejamos inspirados com o louvor”.13

Antídoto poderoso

Enquanto “o estresse de viver uns com os outros ainda representa uma das maiores causas de aflição”14, encontramos também a verdade de que “muitos estudos mostram que o principal fator de resiliência é contar com relacionamentos de apoio e cuidado dentro e fora da família. Relações que criam amor e confiança, fornecem modelos e oferecem incentivo e credibilidade ajudam a reforçar a capacidade de resistência de uma pessoa”.15

Os pastores estão estrategicamente posicionados para promover relacionamentos fortes e saudáveis e realizar o santo trabalho de trazer brilho e bênção16 sobre suas próprias famílias e também sobre as famílias dos membros da igreja, que compõem a casa de Deus – caracterizada como tendo a paz “que excede todo o entendimento”.

Referências

  • 1 Archibald D. Hart, The Hidden Link Between Adrenalin & Stress (Waco, TX: Word Books, 1986), p. 32.
  • 2 Ibid., p. 56.
  • 3 “Holmes and Rahe stress scale”, Wikipedia, <en.wikipedia.org>, acesso em 19/4/2016.
  • 4 “The Holmes and Rahe stress scale,” Mind Tools, <mindtools.com>, acesso em 19/4/2016.
  • 5 Hans Selye, Stress Without Distress, (London: Hodder and Stoughton, 1977), p. 22-24.
  • 6 Ibid.
  • 7 Ellen G. White, Christian Temperance and Bible Hygiene, <egwwritings.org>, p. 64, 65.
  • 8 Ver “The Holmes and Rahe stress scale,” Mind Tools.
  • 9 Ellen G. White, A Ciência do Bom Viver, <egwwritings.org>, p. 241.
  • 10 Selye, Stress Without Distress, p. 46.
  • 11 “Hans Selye”, Wikipedia, <en.wikipedia.org>, acesso em 19/4/2016.
  • 12 Selye, Stress Without Distress, p. 48.
  • 13 Ellen G. White, Obreiros Evangélicos, <egwwritings.org>, p. 479.
  • 14 Selye, Stress Without Distress, p. 48.
  • 15 American Psychological Association, “Resilience factors & strategies,” em The Road to Resilience, <apa.org>, acesso em 19/4/2016.
  • 16 Ellen G. White, Testemunhos para a Igreja, v. 6, <egwwritings.org>, p. 190.