Muitos pregadores viam o histórico terremoto de Lisboa, ocorrido em 1º de novembro de 1755, como o cumprimento do sexto selo de Apocalipse 6:12-17. Posteriormente, eles também aceitaram o “inexplicável” escurecimento do sol, em 19 de maio de 1780, por algumas horas em alguns lugares da costa leste norte-americana como um cumprimento da predição: “O sol se tornou negro” (Apoc. 6:12). A chuva de meteoros na manhã de 13 de novembro de 1833, vista na América do Norte, foi entendida como um sinal espetacular no céu, advertindo a humanidade da iminente vinda de Cristo.

Poderiamos nós, hoje, em alguns casos, séculos depois desses eventos, manter a mesma compreensão? Afinal, eles não são tidos como tão inexplicáveis acontecimentos sobrenaturais, mas são como resultados de leis específicas e movimentos previsíveis da Natureza.

Expositores bíblicos persistentemente atribuíram o escurecimento do Sol e da Lua, em 1780, a um sobrenatural sinal cósmico do fim. Entretanto, evidências posteriores indicaram que o escurecimento poderia ter acontecido como resultado de queimadas na floresta. A fumaça eclipsou o sol, cobrindo cerca de 40 mil quilômetros quadrados, na parte oriental da América do Norte e do Canadá. Tal evento durou apenas poucas horas, dificilmente podendo ser qualificado como o acontecimento cósmico profetizado no Novo Testamento. Mervyn Maxwell e outros reconhecem que o tão falado “dia escuro” de 19 de maio de 1780 não foi precipitado por uma intervenção direta do Onipotente, mas por causas naturais.1

O terremoto

O terremoto de Lisboa, em 1755, possivelmente 8.5 na escala Richter, foi, entre-tanto, um tremor regional, mesmo que o abalo tenha coberto cerca de dois milhões de quilômetros quadrados; mais que um terço da Europa. A perda de vidas é estimada entre 15 mil e 30 mil, envolvendo pessoas que voltavam de 30 igrejas onde se comemorava o Dia de Todos os Santos.

Esse terremoto teve um efeito duradouro nas áreas filosófica, cultural e científica, no século dezoito. Segundo um autor moderno, “nenhum dramaturgo poderia ter estabelecido o momento dessa catástrofe com maior efeito”.2 Esse desastre natural realmente mudou o mundo à luz da prevalecente filosofia de Leibnitz. “Os maiores fundamentos do pensamento e cultura ocidental foram profundamente abalados. A auto-suficiência da Era da Razão adquiriu uma flacidez permanente depois do terremoto de Lisboa.”3

Todavia os cientistas relatam que através dos séculos os terremotos já mataram cerca de 15 mil pessoas cada ano. Antes de 1755, houve três terremotos de maior intensidade que o de Lisboa: o terremoto de Nápoles, Itália, em 1456, dizimou 30 mil vidas: em Shensu, na China, um terremoto matou 820 mil pessoas, em 1556; e o terremoto de Calcutá, em 1737, ceifou 130 mil vidas.

Depois de 1755, um tremor em Tóquio resultou em 200 mil mortos, em 1803; em 1920, o abalo de Kansu, deixou 180 mor-tos na China; e o terremoto de Kwanto, Japão, matou 140 mil pessoas, em 1923. Ainda na China, um terremoto causou a morte de 650 mil pessoas, em 1976.

O terremoto de Lisboa, porém, foi explicado pelos protestantes como um sinal de proximidade do advento de Cristo. A Igreja Anglicana chegou a proclamar um dia especial de jejum, em 6 de fevereiro de 1756. Em Boston, o fenômeno foi interpretado como um precursor da destruição do mundo, segundo mencionado por Cristo em Mateus 24:7. Em 1756, o ministro congregacional Charles Chauncy comparou a crise econômica causada pelo terremoto à condição predita em Apocalipse 18 e citou-a como uma advertência para arrependimento antes do juízo. O pastor puritano, de Boston, Jonathan Mayhew explicou que o terremoto de Lisboa foi um antecedente dos sofrimentos e pragas que culminarão com grande terremoto sobre Babilônia.4

A chuva de meteoros

Na noite de 13 de novembro de 1833, um observador declarou que “as estrelas estavam caindo como grossos flocos de neve”. As estimativas apontam de dez a 60 mil meteoros caindo por hora. Curiosos notaram que os meteoros todos pareciam vir da constelação de Leão. Gerald S. Hawkins, astrônomo da Universidade de Boston, mencionou que “se os cientistas ficaram perplexos com o fenômeno dos Leonídeos, podemos facilmente imaginar co-mo se sentiram os leigos. Não sabemos exatamente quantas mortes por ataques cardíacos e suicídios poderiam ser atribuídas ao acontecimento, mas muitas pessoas na região Sul estavam em pânico, pensando que o dia do julgamento havia chegado”.5

Mais tarde, o astrônomo H. A. Newton, de Yale, descobriu a causa natural da chuva de meteoros leonídeos. Buscando outros relatórios, ele encontrou que uma chuva semelhante acontecia praticamente cada 33 anos, começando em 902 d.C., “o ano das estrelas”. No mesmo ano, um observador italiano de Salerno estabeleceu que tratava-se do cumprimento de Lucas 21:25. O fenômeno dos leonídeos tinha si-do observada nos anos 1202, 1366, 1533, 1766 e 1799.

Newton sugeriu que o fenômeno poderia voltar em 1866; ele estava correto. Uma belíssima chuva de meteoros irradiou da constelação de Leão naquele ano, numa média de seis mil por hora. Devido às predições científicas, não houve excitamento generalizado. Foi verificado que o fenômeno dos leonídeos, em vários graus de intensidade, estava ocorrendo num ciclo natural ao longo de sua grande órbita elíptica ao redor do Sol. Em 1866, William Tempel, na França, descobriu que um cometa, depois nomeado de “Tempel-Tuttle”, foi o responsável pela chuva de meteoros de Leão, quando sua cauda de partículas de meteoros entrou na atmosfera terrestre. Ao passar muito próximo de Júpiter, em 1899, o puxão gravitacional desse planeta desviou o curso do cometa, de modo que ele saiu da rota, e a exibição celestial não ocorreu.

Muitos eruditos hoje não negam a causa natural desse fenômeno mas salientam a sua intensidade. Entretanto, em 17 de novembro de 1966, um número recorde de meteoros caiu sobre a América do Norte. O acontecimento foi melhor visto das montanhas, numa média de 1 milhão por hora.6 O Livro dos Recordes de 1992 declara que “a maior chuva de meteoros ocorreu na noite de 16 para 17 de novembro de 1966, quando os meteoros leonídeos foram vistos entre a América do Norte e a Rússia oriental”.7

Devemos lembrar que muitos que experimentaram o súbito impacto desse acontecimento histórico ficaram profundamente impressionados, vendo nele a mão de Deus em julgamento ou em preparação para o juízo final. Esses sinais levaram alguns ao arrependimento e a um senso apocalíptico de prestação de contas com Deus. Devemos respeitá-los por isso, e compreender que os sinais que eles observaram naquela tempo não apenas os ajudaram, mas também se tornaram preparatórios ou precursores dos sinais cósmicos mundiais que virão sob as sete últimas pragas.

Ademais, os sinais que eles viram como indicativos da proximidade da segunda vinda de Cristo desempenharam um papel significativo, ao chamar-lhes a atenção para os sinais vindouros. Assim eles prepararam o caminho para que esses sinais tenham impacto mais dramático entre aqueles que viveriam depois deles, próximos da volta de Cristo. Somente os sinais cósmicos, escatológicos, desempenharão realmente o papel de anunciar a segunda vinda de Jesus.

Novas tendências

À luz desses fatos, alguns expositores conservadores estão agora convencidos de que a interpretação tradicional desses fenômenos perdeu seu poder de convencimento. Hoje, o apelo é para a sincronização e a seqüência de tais ocorrências. “Seu aparecimento em conexão com o fim dos 1260 anos de supremacia papal antes e depois de 1798.”8 Mervyn Maxwell explica: “Como uma série, eles vieram na ordem e no tempo apropriados. A série de sinais que teve lugar ‘logo em seguida à tribulação daqueles dias’ (Mat. 24:29) foi evidentemente cumprida.”9

Essa conclusão é baseada na exegese de dois textos bíblicos: “Mas, naqueles dias, após a referida tribulação, o Sol escurecerá, a Lua não dará a suas claridade, as estrelas cairão do firmamento e os poderes dos céus serão abalados.” (Mar. 13:24 e 25). “A mulher, porém, fugiu para o deserto, onde lhe havia Deus preparado lugar para que nele a sustentem durante mil duzentos e sessenta dias.” (Apoc. 12:6).

Embora seja assumido que essas passagens tratem dos 1260 anos (538 d.C. -1798 d.C.), os fatos não são tão evidentes. O contexto de Marcos 13:18-25 (e Mat. 24:20-30) liga os “dias de angústia” para os seguidores de Cristo do ano 70 d.C. aos sinais cósmicos que introduzem o segundo advento. Nada no prognóstico do Monte das Oliveiras limita o tempo de angústia aos 1260 anos. Jesus também inclui o tempo de angústia sob o anticristo, porque referiu-Se especificamente a Daniel 12:1, falando da “grande tribulação, como desde o princípio do mundo até agora não tem havido, e nem haverá jamais” (Mat. 24:21).

Daniel afirmara que nesse tempo Miguel Se levantará em defesa do Seu povo e muitos ressuscitarão (Dan. 12:1 e 2). A referência de Cristo ao tempo de angústia de Daniel 12, não o restringe à Idade Média, indicando assim que o Sol e a Lua deveriam escurecer depois do período mencionado por Daniel. Isso enquadra a descrição das trevas sobrenaturais, mundiais, durante as últimas pragas de Apocalipse 16:10 e 11. Não há portanto justificativa para a suposição de que o tempo de angústia mencionado em Marcos 13:14 seja idêntico aos 1260 anos de Apocalipse 12:6.

Além disso, a interpretação tradicional da queda das estrelas (Marcos 13:24 e 25), em 1833, não é completamente sólida com a premissa de que a sincronização para os sinais celestiais deve vir dentro “daqueles dias”, se esses dias são calculados de 538 a 1798. A chuva de meteoros de 1833 claramente aconteceu de-pois desses dias.

A exegese da referência de Jesus à grande tribulação deve levar em conta o quadro total do tempo de angústia, como apresentado no quinto selo de Apocalipse 6:9-11 e 12:17: 13:15-17; 17:12-14. “Vestiduras brancas” são dadas àqueles que “vêm da grande tribulação” (Apoc. 7:13 e 14: 6:11). Essa tribulação, de fato, não está restrita à Idade Média ou aos 1260 anos. Mais que isso, Apocalipse 12:17 aponta especificamente o tempo de angústia da Igreja remanescente, uma angústia dilatada em Apocalipse 13:15-17 e 17:12-14. Tal experiência será interrompida pela intervenção de Cristo, com o súbito escurecimento de toda a Terra, durante as sete últimas pragas (Apoc. 16:10) e o terremoto universal (Apoc. 16:18-21).

Isso é claramente descrito por Ellen White, no capítulo 40 do livro O Grande Conflito. Os futuros sinais cósmicos durante as últimas pragas completam com precisão a sincronização e função do período de angústia do povo de Deus no mundo inteiro.

Conclusão

Muitos expositores adventistas contemporâneos também admitem problemas exegéticos com a antiga interpretação dos sinais cósmicos. Hoje os pontos mais relevantes são o crescimento da influência mundial do papa e da América do Norte: a intensificação de tragédias naturais, em todo o mundo, e o conseqüente estabeleci-mento do cenário para a crise e o tempo de angústia do povo de Deus.

Num livro recentemente publicado, Jon Paulien declara: “Necessitamos de uma abordagem sadia dos eventos correntes. Catástrofes naturais são tão excitantes que é quase instintivo aos seres humanos revesti-las de significado cósmico. Fome, pestilências, terremotos, guerras e rumores de guerras não são relacionados como sinais de que o fim chegou, em Mateus 24; em vez disso, são ‘sinais dos tempos’ que deveriam ocorrer durante o período entre o ministério de Jesus e o fim. Cristo não deseja que os observadores de tais eventos entendam o seu significado como o imediato estabelecimento do fim. O que Ele deseja é que todos permaneçam vigilantes.”10 

Referências:

  • 1. C. Mervyn Maxwell, God Cares. Nampa. Idaho: Pacific Press Publishing Association, 1985: 2:197.
  • 2. W. Breidert, Die Erschütterung der volkommenen Welt. Darmstadt: Wissenschaftliche Buchgesellschaft, 1994. pág. 6.
  • 3. B. Walker. Earthquake. Alexandria, Va.: Time-Life Books, 1982, págs. 46 e 48.
  • 4. LeRoy E. Froom, The Prophetic Faith of Our Fathers. Hagerstown. Md.: Review and Herald Publishing. 1954. 3:191.
  • 5. Gerald S. Hawkins, Splendor in the Sky, Nova Iorque, Harper & Row, 1969, pág. 220.
  • 6. Ibidem, pág. 222.
  • 7. D. McFarian, ed.. Facts on File. Nova Iorque, 1991. pág. 12.
  • 8. Jon Paulien in Symposium on Revelation, Silver Spring, Md.. Biblical Research lnstitute, 1:237.
  • 9. C. Mervyn Maxwell, Op. Cit., 1:214.
  • 10. Ibidem, pág. 157.