Os Adventistas do Sétimo Dia não se ajustam à norma de mutação de movimento revolucionista para o de introversionista. E isso, em parte, porque o movimento não se iniciou como uma aproximação muito íntima de um tipo perfeito de resposta. Desde o começo, sua resposta foi multilateral, e embora não fosse uma seita conversionista, tem o movimento mostrado um curso de desenvolvimento muito mais denominacional do que muitos dos corpos separatistas que salientavam o advento como sendo seu principal ponto de separação de outros corpos do cristianismo. Várias e amplas considerações ajudam a explicar a diferença que há entre os Adventistas do Sétimo Dia e o desenvolvimento de outros corpos sectários que começaram com fortes orientações revolucionistas-adventistas.

  • 1. Primeiro, o movimento Adventista do Sétimo Dia não surgiu como um corpo separado simplesmente como um movimento adventista, mas antes no desapontamento quanto ao advento, e depois de alguma reformulação de idéias.
  • 2. Desde o começo, o ensino do advento era um dos vários assuntos que faziam parte da primeira carta do movimento e dos termos em que ele veio a existir. Não somente pregar o advento mas também as condições para ele tornaram-se um foco essencial de atenção, com significativos resultados para a fé e a prática.
  • 3. Essas condições e a necessidade de pregar sobre elas eram validadas pela inspiração divina. Assim adquiriu o movimento, desde sua origem como organização separada, uma fonte de legitimação: não somente as Escrituras, mas também um vaso de interpretação. Assim adquiriu o movimento, desde sua origem como organização separada, uma fonte alternativa de legitimação. Assim teve o Adventismo possibilidades para outros meios de desenvolvimento além do modelo que eu venho empregando.
  • 4. O movimento herdou e adaptou um ministério profissional a seu serviço. Esse fator determinou até onde a demanda de plena igualdade de compromisso poderia ser feita, e deu lugar ao desenvolvimento de agentes especializados num grau que seria evitado por uma posição sectária mas completa. Naturalmente é claro que no Adventismo do Sétimo Dia o ministério não fica bem na mesma relação que os outros ministérios para com os seus movimentos, mas a existência de um quadro de agentes de tempo integral foi influente elemento no possível desenvolvimento da igreja.
  • 5. Elementos extremamente importantes para levarem o movimento a se desenvolver diferente do modelo que esbocei foram o aumento gradativo dos interesses: especialmente, o interesse nas medidas educacionais e nos requisitos dietéticos, no cuidado médico, na liberdade religiosa e no sabatarianismo. Em alguns respeitos, certamente poderiam esses vários itens ter-se tornado mecanismos para isolar os Adventistas do Sétima Dia de mais amplos envolvimentos com a sociedade, e talvez, em alguns sentidos, o tenham feito.

O controle da provisão educacional é um expediente estratégico extremamente importante para manter os limites, visto ela operar na área mais sensível de socialização do jovem. Não sei justamente quão importante tem sido a educação na conservação da identidade dos Adventistas do Sétimo Dia, mas eu me inclinaria a crer que tem sido extremamente significativa para reforçar a solidariedade do grupo no passado. Isso assim tem permanecido enquanto um elemento muito grande da educação era essencialmente mais moral que estritamente técnico. (A tendência tem sido, em toda a educação, a moral dar lugar à técnica — sem dúvida, também, nas escolas adventistas).

  • 6. Finalmente, o curso de desenvolvimento adventista tem sido, provavelmente, influenciado consideravelmente pela diversidade de estilos litúrgicos herdada e pela relativa liberdade para o desenvolvimento litúrgico, dentro do movimento. Não é minha parte especular as razões das diferenças litúrgicas no adventismo. Dadas as diferentes tradições das quais os adventistas vieram no começo, talvez a ênfase sobre a uniformidade litúrgica tivesse aparecido desnecessariamente distributiva e ser uma questão de menos que primária importância, dada a expectação da breve volta de Cristo. Talvez, também, tenha sido o caso de que a própria ênfase sobre os ensinos do sábado possa ter tornado a verdadeira prática litúrgica menos importante do que a ocasião para a prática. Pode ser que em comum com muitos outros grupos de “igrejas livres”, os principais interesses fossem a doutrina e a exegese, que são em si mesmas, a marca de um novo público letrado, capaz de debater esses assuntos. Em face desses interesses, a liturgia, os estilos devocionais e de embelezamento das igrejas, e a prática da igreja eram de menos importância direta. Pode isso ter permitido o estabelecimento de estilos um tanto “mais elevados” em alguns lugares, que podem ter refletido a mobilidade social para cima e crescente posição dos adventistas. Dá-se também o caso de que, com a diminuição do interesse nas doutrinas (visto outros interesses terem mobilizado a capacidade do homem para as letras), tem aumentado a atenção para o culto, levando geralmente a formas mais elaboradas. Onde cresce o interesse pela liturgia, pode-se ter a certeza de que se expressará no desenvolvimento e aprimoramento das práticas litúrgicas. Se é que houve um enriquecimento da vida da igreja pelo desenvolvimento da liturgia, certamente pode este também indicar alguma diminuição na insistência das esperanças do advento. Outros elementos do adventismo também têm tido a oportunidade de crescer desde os desapontamentos da década de 1840, e isso se pode dizer que ocorreu em aproximações para com o regime dietético e o evangelismo.

“O denominacionalismo implica um complexo de característicos, que incluem crescente tolerância para com os outros movimentos, atenuação dos compromissos distintivos e diminuída ênfase sobre os limites”.

Parece-me que certos fatores na tradição adventista do sétimo dia mostram a semelhança com um processo de denominacionalização. Nesse sentido é importante a existência de um ministério profissional. Os ministros estão sujeitos a tomar como um importante grupo de referência para as suas próprias realizações os ministérios já existentes de outros movimentos. Portanto, o ministério pode desenvolver interesses importantes para suas próprias funções. Estão estes especialmente relacionados com o preparo em que é provável haver o desejo de igualdade intelectual com o ministério de outros movimentos. Esses interesses diferem do dos leigos, e o ministério está freqüentemente na posição de cultivar seus interesses e de salientar a necessidade deles em todo o movimento. Também é provável que, mais tarde, os jovens mais seriamente comprometidos pensem muito se não se deviam tornar ministros. Isso se torna em si mesmo um recrutamento dos que se sentem mais sujeitos a se ajustarem a uma vida de maior virtuosidade religiosa. Oportunidades de diferença chegam a haver para os que têm diferentes disposições para com sua fé comum.

A existência de um ministério por longo período de tempo, também pode promover certo interesse na pesquisa e o desejo de saber o que os outros professos religiosos, os intelectuais da religião (os teólogos) estão dizendo. Isso leva a exigir teólogos do próprio movimento, tanto para dar ao movimento os tipos de apoio escolástico de que gozam os outros movimentos, como para exigir respeito, segundo o mesmo critério. Tal processo não é meramente um desenvolvimento de novos interesses, é capaz de levar a crescente relatividade nas crenças religiosas. Entrar num mundo de discursos com os observadores de fora é começar a partilhar as premissas daquele discurso, a aceitar estruturas para argumento e discussão que pertencem à tradição teológica e não à tradição adventista do sétimo dia. Esse processo é capaz de levar à reavaliação dos próprios ensinos, história, suposições e interpretação própria. A existência de universidades dentro do movimento é um comentário sobre os processos do desenvolvimento da seita. O próprio fato de que a um observador de fora que pouco sabe sobre o adventismo do sétimo dia se peça para falar acerca do movimento do ponto de vista externo é indício de um tipo de orientação liberal que não é característica à de seitas, senão de um processo muito longo de desenvolvimento. A influência de especialistas internos pode produzir relacionamentos ambivalentes entre diferentes seções e dentro do movimento: entre tradicionalistas e liberais, entre intelectuais e homens de fé simples, entre organizadores e pensadores. Contudo, também há um sentido no qual a existência de um corpo de especialistas ministeriais deve encorajar o desenvolvimento de outros grupos de profissionais, seja dos próprios ministros, seja na forma de novos quadros de recrutas especiais.

Um movimento com tantos lados como a Igreja Adventista do Sétimo Dia tem bastante lugar para a especialização em vários departamentos e urgente necessidade disso, principalmente em Educação e na Medicina (cada uma das quais se subdivide cada vez mais em ramos internos de especialização de si mesmo). O desenvolvimento dessas áreas de especialização não pode deixar de criar reclamos de coordenação, administração e organização em vários níveis, para que os cargos burocráticos também cresçam em número e influência. Devido à situação contemporânea e do mundo, especialmente nas missões e na educação, bem como na Medicina, a tendência que se pode ver é para o aumento de ações centralizadas em atividades locais. Métodos de escalonamento são realizados cada vez mais em muitos departamentos da atividade humana; cresce o número de subdivisões técnicas e também a necessidade de coordenação interna deles uns com os outros. Há cada vez maior dependência de equipamento elaborado e dispendioso (em hospitais, laboratórios de pesquisas, departamentos de computação, etc.) e a considerável semelhança de crescimento na agência central, com outras subdivisões de coordenação hierárquica. Visto aumentar o controle técnico e o planejamento nacional é provável haver um deslocamento do que é estritamente moral, e talvez do teológico, pela demanda de novos métodos de organização. O aumento da especialização é em si mesmo algo que se pode ver dentro das organizações da igreja. É em si um aspecto das grandes denominações e de muitas maneiras estão os adventistas equipados para continuarem a desenvolver-se nessa direção, rumo a normas denominacionais de organização, especialização e controle internacionais cada vez maiores.

(Não ignoro o fato de que, apesar das tendências nesse sentido no mundo mais amplo, o movimento mantém o que a muitos respeitos é para o observador de fora interessante equilíbrio como “economia mista”, em que tanto há empreendimentos oficiais como particulares, como, por exemplo, casas de saúde, obra de publicação e a produção de alimentos saudáveis).

O denominacionalismo implica um complexo de característicos, inclusive crescente tolerância de outros movimentos, a atenuação de compromissos distintivos, reduzida ênfase sobre os limites e os esquemas que mantêm esses limites. Também, a denominação se acomoda, em grande medida, à cultura secular e aceita suas provisões. Há uma concessão nas obrigações morais num ponto, em qualquer lugar, entre as normas oficiais e ideais da sociedade e as práticas comuns de outras pessoas. Também há gradual aumento de confiança nos meios seculares e políticos de controle, em vez de no controle interno do grupo. A disposição de cooperar mediante o transpor os limites de grupo numa variedade de causas especiais, mesmo correndo o risco de “perder” para essas mesmas causas os membros que estão principalmente preocupados com esses setores, é uma característica do denominacionalismo. É claro que, nesses termos, os Adventistas do Sétimo Dia ainda têm algum caminho a andar antes de serem denominacionalizados. Naturalmente, há várias e importantes barreiras que lhes têm impedido o “progresso” quanto a alcançar esse alvo.

Raramente precisam os mecanismos inibidores serem mencionados, visto serem eles mais conhecidos pelos leitores adventistas do que por mim. O primeiro deles é o ensino do sábado, que, talvez, mais do que qualquer outro item, tem sido um dos meios de conservar os adventistas separados e diferentes. Talvez mais do que qualquer outra coisa este período de tempo é muito pouco compreendido pelos que não são do movimento. Este é, acima de tudo, um sinal de identidade, e esse sinal deve funcionar como um emblema distintivo e sectário que mantém os limites, reafirmando, embora esse ponto não seja agora salientado, a idéia de uma elite.

É também evidente que a aceitação de inspiração especial do movimento em sua origem deve, também, ser um ponto de divisão entre os Adventistas do Sétimo Dia e os outros movimentos, e para eles deve parecer como um traço distintivo sectário. Enquanto os outros movimentos conservarem os Adventistas do Sétimo Dia à distância, o processo de denominacionalização está sujeito a ser impedido, tanto devido à impropriedade dos modelos de outras denominações sobre o cristianismo, como às próprias prováveis reações dos Adventistas do Sétimo Dia para impor separatismos.

A posição do movimento quanto ao regime alimentar também é um ponto poderoso para manter os limites, e certamente tem sido uma força cumulativa, desde as prescrições do Velho Testamento, até sua extensão pelas prescrições ulteriores da Sra. White. A prática Adventista nessas questões, reforça, assim, suas crenças distintivas levando-as a consolidar e tornar evidente no estilo de vida atual, bem como em importante forma simbólica, seu afastamento do mundo mais amplo.

Até certo ponto, a segregação e a concentração voluntárias dos adventistas em regiões particulares, pelo menos nos Estados Unidos, certamente têm sido um poderoso meio para maior consolidação do isolamento da comunidade maior. As seitas são, em sua origem, comunidades, e, apesar de seu tamanho, têm os adventistas conseguido manter muitos dos aspectos de comunidade diante da crescente sociedade impessoal. Certamente, tais desenvolvimentos acentuam o controle social do grupo, reforçam o valor do grupo, e mantêm a distinção entre os ideais da comunidade e a prática dos homens na sociedade maior. O desenvolvimento da média do povo tem alterado um tanto a possibilidade de segregação geográfica em comunidades independentes, e a simultânea distribuição de novas idéias, valores, estilos e modas que estão bem longe do controle do movimento pode ter seu poderoso efeito acomodativo. As perspectivas da vida da comunidade e da separação sectária estão muito alteradas no mundo desde a Segunda Guerra Mundial.

Para o observador de fora, há certos aspectos de distinção no movimento que devem ser mencionados. Em primeiro lugar, há o equilíbrio da autonomia local e da ordem hierárquica. Naturalmente, os Adventistas são orgulhosos da estrutura que desenvolveram, e não há dúvida quanto ao equilíbrio fora do comum entre o centro e a periferia, através dos escalões de considerável independência regional que se interpõem. Talvez seja esta diversidade de níveis de controle que leva a mais ampla diversidade no movimento do que a que é comum nos movimentos sectários: uma diversidade na liturgia e na exclusividade de abertura ou dimensões ecumênico-separatistas da vida e da prática adventista.

Para o observador de fora, as tensões que conduzem a movimentos religiosos separatistas têm de ocorrer na medida em que se abre para um mundo mais amplo. O evangelismo não permite que os adventistas se desviem da sociedade mais vasta; e todavia, o evangelismo, também, apresenta os seus próprios problemas para a persistência de valores comunitários e da moralidade que se aprende nas relações do dia-a-dia da comunidade local. Como o relacionamento social transcende o nível comunal, como o faz agora tão depressa, mesmo na vida da criança, assim o cometimento moral dos grupos separados pode ser mais difícil de sustentar, uma vez que seus preceitos morais tenham sido esquecidos com as relações do cotidiano em mente. No mundo moderno, isto me parece, a mim, é mais difícil do que nunca, estar no mundo mas não ser do mundo. Mas os adventistas do sétimo dia, parece-me, estão a travar de contínuo esta batalha — e não sem sucesso.