Nenhum pastor quer ser um pregador maçante. Nenhum pastor gosta de pensar que os membros de sua igreja aguardam cada um de seus sermões com uma espécie de resignação. Nenhum pastor quer admitir que suas exposições são confusas e difíceis de serem acompanhadas. Mas permanece o triste fatro de que tal é realmente o caso em maior número de vezes do que gostaríamos de admitir.

E esta lamentável situação persiste a despeito do fato de que muitos de nós não temos gasto pouco dinheiro e tempo para adquirir e ler livros sobre como melhorar nossos sermões. No entanto, as técnicas e sugestões que esperávamos fossem revolucionar nossas apresentações, de algum modo não corresponderam a nossas expectativas. Não porque as sugestões não sejam válidas. Mas, como pastores atarefados, temos dificuldade para lembrar — quanto mais para executar — o grande número de recomendações e advertências que encontramos em nosso estudo dos livros especializados. E como estamos ocupados, nossos sermões prestes a ser proferidos amiúde são julgados pelo único critério: É este um “bom'”sermão?

Semelhante análise qualitativa e não específica talvez seja melhor do que nenhuma avaliação crítica. Mas seria muito mais benéfico se cada pastor tomasse tempo para determinar em sua própria mente quais são os critérios mais significativos e fundamentais aplicáveis a cada sermão, quer seja doutrinário, devocional, evangelístico, filosófico, expositivo ou apologético. Com isto não estamos desprezando os primorosos detalhes pelos quais os sermões podem ser consideravelmente melhorados. Assegura, porém, que todo sermão seja examinado criteriosamente para ver se contém pelo menos os requisitos básicos de um bom sermão. Esse processo não requer muito tempo, mas pode fazer maravilhas para melhorar os sermões.

Os critérios pelos quais procuro elaborar e avaliar meus próprios sermões são seis perguntas simples, porém muito importantes. Eu as divido eqüitativamente em duas categorias: conteúdo e elaboração. Os três pontos que seguem constituem a base de minha avaliação do conteúdo dos sermões que preparo:

1. O sermão é cristocêntrico? Jesus disse: “E Eu, quando for levantado da Terra, atrairei todos a Mim mesmo.” S. João 12:32. O verso 33 torna claro que Ele estava falando de Sua morte na cruz. No entanto, não é menos verdade que se Cristo for exaltado no púlpito, atrairá pessoas a Si mesmo. Onde Cristo não é exaltado, o povo perecerá por falta da nutrição e do refrigério que só Ele pode proporcionar. Todo sermão, quer seja uma exposição sobre o Antigo Testamento, uma apresentação sobre Mordomia Cristã ou um prólogo para a Santa Ceia, deve ser cristocêntrico.

Tornar o sermão cristocêntrico não significa necessariamente falar diretamente sobre Cristo — embora certamente não falemos em demasia sobre Ele. Antes, tornar o sermão cristocêntrico significa que ele deve ser uma representação do amor de Deus em Cristo, mesmo que o assunto seja a destruição dos pecadores, e que deve ser apresentado no contexto da salvação oferecida gratuitamente em Cristo. Quando Ele é introduzido assim em todo discurso, até os assuntos mais penosos podem ser expostos de um modo que não desperte hostilidade nem afaste os ouvintes.

2. O sermão apresenta a “vida abundante”? Jesus declarou: “Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância.” S. João 10:10. João escreveu suas epístolas “para que a nossa alegria seja completa” (I S. João 1:4). Com efeito, tudo que Deus pede de nós é intrinsecamente superior às outras alternativas.

Com demasiada freqüência dizemos às pessoas que elas devem fazer algo ou enfrentar as conseqüências; fazê-lo, senão… Semelhante tentativa de aproximação pode ter produzido resultado — pelo menos na aparência — nas décadas ou nos séculos que se foram. Mas é completamente imprópria hoje em dia. Na atualidade precisamos de sermões que realcem a beleza de cada aspecto da verdade de Deus. Desde a alegria oriunda de partilhar nossos recursos, até a conveniência e realização do viver saudável, ou até o simbolismo expresso no batismo, tudo isso é intrinsecamente belo e compensador, e deve ser apresentado como tal. A vida abundante é uma forma de motivação muito mais eficaz do que o medo de perder-se. Os pregadores, hoje em dia, devem ser os melhores vendedores do mundo, e não os feitores mais exigentes.

3. Experimentei pessoalmente aquilo sobre que estou falando? Quando lhes foi ordenado que deixassem de pregar ou enfrentassem as conseqüências, Pedro e João declararam sem hesitação: “Nós não podemos deixar de falar das coisas que vimos e ouvimos.” Atos 4:20. Há algo relacionado com a experiência pessoal que confere ao orador um entusiasmo que não pode ser reprimido. Tanto João como Pedro, em suas epístolas, salientam sua ligação pessoal com Jesus. E enquanto nós pregadores não pudermos colocar-nos detrás do púlpito e recomendar a nossos ouvintes o que sabemos que é verdade por experiência pessoal, não haverá autoridade em nossos discursos, e só bem pouca vida.

Pregar da experiência pessoal não significa, é claro, estar sempre contando experiências pessoais. Os sermões devem exaltar a Cristo, não o próprio eu. Pregar da experiência pessoal significa — isto sim — que nós mesmos lutamos com as questões, que chegamos ao ponto em que irrompeu a luz, e, incentivados pelo gozo que experimentamos, recomendaremos que a expectante congregação partilhe o que “vimos e ouvimos”. Toda doutrina, toda biografia bíblica, toda exposição deve primeiro ter tocado a vida do pregador, para que seja pregada de tal maneira que comova a vida dos ouvintes.

São estes, portanto, os meus critérios para avaliar o conteúdo de meus sermões. São simples, mas os considero essenciais. Sejam quais forem os critérios adotados, à medida que eles se tornam mais familiares, não somente constituem a base para avaliação crítica, mas também uma fórmula para o devido preparo de sermões. Em breve, os sermões corresponderão naturalmente aos requisitos estabelecidos anteriormente.

Entretanto, ter meramente algo importante para dizer não significa que será expresso automaticamente de uma forma que as pessoas assimilem com facilidade. Deve-se dar cuidadosa atenção à estrutura do sermão. Eis as perguntas que faço sobre a forma de meus sermões:

1. Tenho um alvo bem definido, uma introdução que atraia a atenção e uma conclusão vigorosa e concisa? Todo sermão deve ter um objetivo bem definido. O pastor não tem a obrigação de preencher um período de tempo específico na hora do culto. Mas ele tem a obrigação de alimentar o rebanho. Deve ter um alvo, e todo aspecto de seu sermão sempre deve avançar em direção desse alvo.

O pregador não somente precisa saber para onde está indo, mas também levar a congregação consigo, desde o começo. As pessoas geralmente decidem se vale a pena prestar atenção a um orador nos primeiros minutos de sua palestra. Convém considerar meticulosamente como introduzir o sermão de um modo que prenda a imaginação e o interesse da maioria dos ouvintes: jovens e idosos, membros e visitantes, consagrados ou não.

A conclusão é de suma importância. Bons pregadores gastam o que talvez pareça uma quantidade de tempo totalmente desproporcionada preparando os últimos dois ou três minutos de seu sermão. Esses pregadores sabem, porém, que se a conclusão não for enfática, concisa e comovente, o sermão, em grande parte, terá sido pregado em vão. Com freqüência, é útil escrever todas as palavras da conclusão e estudá-las diligentemente, pois assim, quando certas palavras e frases bem selecionadas forem apresentadas, fluirão de maneira mais espontânea, estimulando a congregação a dar o passo desejado.

2. Escolhi um assunto que poderei expor adequadamente numa só apresentação, e rejeitei toda bagagem desnecessária? Mark Twain afirmou que bem poucos pecadores se converteram depois das 12:00 horas! Os sermões devem ser curtos e oportunos. Por melhor que seja a apresentação, há um limite para o que a congregação pode assimilar de uma só vez. Alguns professores de homilética asseveram que todo minuto de pregação após as doze horas da manhã desfaz a eficácia de dois minutos pregados antes das doze; e se ele passar dez minutos além do tempo estipulado, como que terá anulado todo o seu sermão.

Obviamente, alguns assuntos requerem mais tempo do que outros. A exposição de alguma passagem complicada pode requerer mais tempo do que um sermão devocional. Porém, se o pregador, sabendo exatamente o que deseja dizer, dirigir-se para o alvo, não se deixando desviar por pormenores que não são essenciais (embora sejam interessantes), conseguirá percorrer uma grande distância num tempo relativamente curto. Se o pregador perceber que ainda terá falta de tempo, se bem que o sermão esteja isento de superfluidades, talvez convenha fazer planos para apresentar o assunto como tuna série, e não como uma só unidade. E sua congregação será grandemente abençoada por isso — para não mencionar que eles o bendirão grandemente!

3. O sermão tem uma seqüência lógica e fácil de ser lembrada? Clara organização da parte do pregador é uma condição prévia para rápida assimilação dos detalhes por parte dos ouvintes. Se o ponto A não se coaduna, natural e Obviamente, com os pontos B e C, poucos ouvintes gastarão seu tempo decifrando o mistério. Além disso, aquilo que é muito bem estruturado será lembrado com mais facilidade, tanto pelo pregador como pelos ouvintes.

Há uns onze anos, assisti a um discurso de formatura, e até hoje consigo recordar cada um dos pontos apresentados. Esses pontos não eram excepcionalmente profundos, e a apresentação não foi excepcionalmente dinâmica. O segredo de minha notável recordação é a clareza da organização do orador. Ele só apresentou três pontos, mas os inculcou tão vigorosamente que permanecem em minha memória até hoje.

Como pregadores, talvez não sejamos os mais profundos pensadores do mundo, nem os maiores oradores. É muito provável que não lembremos — e muito menos ponhamos em prática — todos os requisitos da apropriada elaboração dos sermões. Se, porém, estabelecermos um sistema de controle de qualidade para os nossos sermões — um sistema simples que possa tornar-se o método de nossa preparação de sermões e a base de nossa própria avaliação crítica, e se aderirmos tenazmente aos critérios que nós mesmos achamos essenciais, nossa pregação assumirá um novo aspecto, nossos sermões terão novo poder e pesquisadores famintos e sedentos serão conduzidos a Cristo, onde sua alma ficará satisfeita.

James Coffin, pastor assistente da Igreja ASD “Avondale Memorial”, Cooranbong, Austrália.