“P ela primeira vez eu encontrei real significado e propósito para a minha vida. Sinto que agora tenho uma nova existência. Descobri algo mais. Encontrei um grupo de pessoas que se interessam genuinamente por mim. Da aceitação e apoio que eu tenho experimentado, tenho aprendido o que significa ser objeto de amor e valorização como pessoa, como ser humano. Foi Deus quem me enviou à Igreja Adventista.”

Esse é o testemunho de Brian Effington, uma das 60 pessoas batizadas no final de uma campanha evangelística a qual tive a oportunidade de acompanhar. As reuniões eram coordenadas pelo Pastor Frank Cordona, capelão do Centro Médico Cristão do Tennessee, que colocou em prática uma nova estratégia. Nas primeiras noites, tudo aconteceu como de costume. Mas já na segunda noite, a estratégia do Pastor Frank começou a ser aplicada. Havia muito tempo, eu estava sentindo a necessidade de casar o ministério de pequenos grupos com o evangelismo público; e essa era justamente a estratégia do Pastor Frank. Oferecemos então às pessoas que vieram à reunião, a oportunidade de estudar a Bíblia em pequenos grupos.

Aproximadamente 150 pessoas anotaram seus respectivos nomes, indicando o desejo de participar do programa oferecido. Sugerimos que escolhessem unir-se a um dos seis grupos estabelecidos, conforme tivessem alguma relação com os problemas mencionados: depressão, diferenças familiares, conflitos jovens, doença, necessidades espirituais. A resposta foi decepcionante. Concluímos depois que as pessoas ficaram receosas de se identificarem publicamente com essas questões. Conseqüentemente, resolvemos instituir grupos gerais, desprovidos de rótulos. Isso funcionou.

Os grupos reuniam-se cada noite às 19h 15, distribuídos por algumas salas do edifício onde a série estava sendo realizada, e aí permaneciam durante 30 minutos. Enquanto os pequenos grupos empenhavam-se para identificar as necessidades dos participantes, nossa estratégia era torná-los parte integrante da própria campanha evangelística. Às 19h50, todos se dirigiam para o auditório principal, a fim de assistir ao programa de música e à apresentação da mensagem da noite.

Do total de batismos que realizamos no final da campanha, 80% eram pessoas que assistiram às reuniões dos pequenos grupos. Brian Effington era um daqueles novos conversos.

Sucesso de Wesley

Ministério de pequenos grupos não é nenhuma novidade. É parte das atividades da Igreja desde o seu início. Na história relativamente recente, João Wesley usou esse método de aproximação com muito êxito em suas atividades evangelísticas. Depois que Wesley pregava e o interesse dos ouvintes era despertado, ele colocava os que respondiam a seus apelos, em pequenos grupos, sob os cuidados de auxiliares leigos treinados para tratar com suas questões individuais e seus problemas pessoais.

As reuniões de pequenos grupos organizadas por Wesley, também chamadas “reuniões de classe”, são “a pedra angular de todo o edifício metodista”.1

Para Wesley esses pequenos grupos tornam-se o lugar onde um indivíduo pode encontrar os ingredientes fundamentais para uma vida cristã bem-sucedida. Wesley treinava cada grupo enquanto ministrava individualmente aos respectivos membros. Os grupos formavam o centro da vida devocional, estudo da Bíblia e oração. Eram também a base do cuidado pastoral. Seus membros partilhavam mutuamente suas aflições e angústias; fracassos e vitórias; doenças e esperança de cura; problemas no casamento e de paternidade; a agonia da pobreza, injustiça social e, em alguns lugares, opressão política. Encorajamento e auxílio práticos eram providenciados quando necessários.

Os grupos de Wesley ajudavam inclusive na solução do problema de desemprego, providenciando trabalho para algumas pessoas. Dessa forma, além de centro para estudo da Bíblia, oração e serviço cristãos, os grupos também eram centros de reforma moral e social.2

As reuniões de classes formaram a pedra fundamental da disciplina metodista – o principal segredo da ação de reavivamento daquela denominação. As reuniões normalmente eram realizadas uma vez por semana, durante uma hora ou mais. Cada pessoa era motivada a falar sobre sua experiência, seus problemas e necessidades particulares que porventura tivesse. Quando a questão requeria, era providenciada a correspondente ajuda, não se deixando de fazer orações por todos os casos. Segundo o próprio Wesley escreveu, “conselho e repreensões também eram ministrados, quando se faziam necessários, disputas eram resolvidas, desentendimentos removidos; e depois de uma hora ou duas empregadas nesse trabalho de amor, eles concluíam o encontro com orações e ação de graças”.3

Áreas de ação

Aprendendo com Wesley, nós buscamos tornar nossa campanha evangelística um genuíno meio de assistência aos interessados e suas necessidades específicas. E o ministério dos pequenos grupos é, sem dúvida, um importante meio de cumprir esse objetivo. Quantas áreas de ministério os pequenos grupos podem abranger durante uma campanha de evangelismo público? A resposta depende dos talentos disponíveis na congregação ou nas congregações envolvidas com o trabalho, caso haja mais de uma, e também das necessidades das pessoas que assistem às reuniões. Mas existem algumas necessidades básicas que podem ser encontradas em qualquer pequeno grupo, conforme enumeramos a seguir:

Problemas espirituais. Nós acreditamos que muitos problemas têm uma raiz espiritual. Em virtude disso, o melhor remédio são o ensinamento e a aplicação dos princípios da Bíblia. Levar o povo a um relacionamento com Jesus e com outros cristãos é nosso objetivo. Trabalhamos para ajudar as pessoas a buscar vitória. sabedoria paz e alegria em Cristo. Essa é a melhor ajuda que um pequeno grupo pode providenciar.

Amizade. A discussão realizada em um pequeno grupo também pode ser direcionada a uma extensa variedade de problemas encontrados entre as pessoas que assistem às reuniões evangelísticas. São problemas que podem variar entre vícios, desânimo, estresse, ansiedade e solidão. No entanto, o propósito dominante de um pequeno grupo deve ser prover amizade, encorajamento e apoio para os indivíduos. Uma genuína demonstração de amizade e solidariedade pode ser uma fonte de fortalecimento para os membros do grupo.

Depressão. Esse é um dos principais problemas da sociedade moderna. Boa parte da população em todos os lugares sofre alguma forma de depressão. E por isso, também, muitos são dependentes de remédios que favorecem uma boa convivência com as circunstâncias que os tornam deprimidos. Entretanto, usualmente, o melhor tratamento para a depressão é a terapia cognitiva, já que a maioria dos casos da doença está relacionada com hábitos negativos de pensamento.

Pesquisas mostram que uma aproximação cognitiva que busque ajudar através da construção de modelos positivos de pensamento, resulta muito ajudadora no tratamento da depressão.4 E o sistema de apoio dos pequenos grupos pode ser um potencial agente no desenvolvimento de pensamentos positivos como coragem, fé, esperança e alegria.

Se os problemas forem demasiadamente sérios para ser tratados dentro de um pequeno grupo, pode-se recomendar a assistência de um profissional. Mesmo assim, as pessoas podem continuar fazendo parte dos grupos evangelizadores.

Doença. Uma área da vida que necessita de especial atenção é a área física. Por isso, deveríamos providenciar um programa de orientação para a saúde, como parte introdutória de uma campanha evangelística, ou se desenvolvendo simultaneamente a ela. Distribuição de literatura e palestras que orientem ao público no uso dos remédios simples da Natureza e adoção de hábitos preventivos de saúde, devem fazer parte do programa.

Assistência social. Constantemente Jesus Cristo estava focalizando sobre o ministério aos pobres. “Nosso Senhor Jesus Cristo veio ao mundo como o incansável, servo das necessidades humanas”, diz Ellen White,5 e assim devemos ser. Muitas igrejas têm uma equipe responsável pela realização de serviços comunitários que pode atuar durante as reuniões.

Quando os pequenos grupos estão envolvidos nesses ministérios, o evangelismo torna-se atrativo para as pessoas que freqüentam as reuniões todas as noites. Amizade sólida e significativa é estabelecida, ajuda prática é sempre bem recebida; as pessoas desenvolvem um senso de pertinência e lealdade ao grupo e, finalmente, à igreja. Tanto a pregação pública como o trabalho pessoal dos pequenos grupos trabalham juntos para levar os interessados a uma completa entrega da vida a Cristo, a experimentar um estilo de vida significativo, e, finalmente, ao batismo e à união com a igreja.

Continuidade

Os pequenos grupos formados durante uma campanha evangelística não são desfeitos ao término da fase intensiva da série. mas devem continuar. Na verdade, devem se tornar parte integrante da vida congregacional, provendo apoio para os que foram batizados.

Colocar esse plano em prática significa testemunhar um maior número de pessoas decidindo-se pelo batismo, mais conversos permanecendo na igreja, e mais envolvimento dos membros nas atividades missionárias.

Referências:

1 Howard A. Snyder, The Radical Wesley. Downers Grove, InterVarsity Press, 1980. pág. 38

2 Blaine Taylor, John Wesley: A) Blueprint for Church Renewal. Champaign. III: Steven E. Clapp Pub.. Crouse Printing, 1984. págs. 24 e 25.

3 Wesley s Works, vol. 8. págs. 253 e 254

4 David B. Burns, Feeling Good: The New Mood Therapy. Nova York: Wm. Murrill Co.. Inc.. 1980.

5 Ellen White. Obreiros Evangélicos, pág. 41.

Dicas para formar pequenos grupos

Determine o propósito dos pequenos grupos em sua campanha evangelística, ou seja, prover amizade, companheirismo, encorajamento e apoio para as pessoas que estão lutando com problemas específicos.

• Selecione e treine líderes para os pequenos grupos. Se o sistema já funciona dentro da congregação, os líderes daqueles grupos, com um pouco mais de orientação, podem ser usados na campanha de evangelismo público.

Identifique as necessidades de sua audiência. Isso pode ser feito logo no início da série; de preferência, na segunda noite. Um formulário de pesquisa pode ser usado para que os visitantes partilhem suas necessidades específicas. Dê-lhes a garantia de que serão mantidos anônimos. No momento em que for usar os formulários, informe do projeto de implantação de pequenos grupos para encorajar e apoiar os que estão lutando com problemas difíceis.

• Na próxima noite, anuncie o tempo e o lugar da reunião dos pequenos grupos. A estação do ano indicará se as reuniões serão conduzidas antes ou depois das reuniões evangelísticas.

• Comece imediatamente. Quanto mais cedo implantar o programa, mais rapidamente providenciará ajuda, estabelecerá relacionamentos significativos, e ganhará a confiança da audiência.

• Deixe bem claros os alvos dos pequenos grupos: prover um sistema de apoio que assegure aceitação, compreensão, encorajamento e oração intercessória. Ao lado disso, dê sugestões práticas sobre como lidar com as situações difíceis, enfrentadas pelos membros do grupo.

• Encoraje-os a continuar assistindo às reuniões evangelísticas, reconhecendo que Cristo, na realidade, é quem resolve os problemas. No entanto, o propósito dos pequenos grupos não é discutir ou repetir o sermão do evangelista.

• Incentive os líderes dos grupos no sentido de torná-los um genuíno ministério para os membros e uma fonte de ajuda ao evangelista, em sua tarefa de conduzir pessoas a Cristo.

• Planeje reuniões regulares dos líderes dos pequenos grupos com o evangelista, para assegurar coordenação e cooperação no trato das necessidades psicológicas e espirituais das pessoas, durante o andamento da série de conferências.

• Continue o ministério dos pequenos grupos depois da série evangelística, para assegurar a continuidade de apoio e encorajamento aos novos membros, bem como para aqueles que não tomaram a decisão de unir-se à igreja. Os grupos também podem providenciar treinamento e capacitação em algum tipo de trabalho missionário para cada membro do grupo.

JOHN FOWLER, D.Min., evangelista associado do programa de televisão Está Escrito, nos Estados Unidos