Estar inserido no ambiente virtual é importante, mas não deve substituir o relacionamento real com Deus

Você participa de quantas redes sociais? Por acaso, tem ideia da quantidade de fotos, vídeos ou textos que “curtiu” na última semana? Quanto tempo tem utilizado para conferir sua timeline? Essas são atividades que, até poucos anos atrás, eram inexistentes em nossa rotina. De fato, nossa sociedade está totalmente integrada às conexões proporcionadas pela internet. Dentro da rede mundial de computadores, há diversos sistemas que proporcionam o contato e a interação entre pessoas e organizações. A esses sistemas, damos o nome de redes sociais.

Por meio delas é possível encontrar amigos de escola que não vemos há anos, compartilhar momentos felizes de nossa vida, opinar sobre fatos cotidianos e ter acesso aos mais diversos conteúdos. Também é possível evangelizar por meio das tecnologias contemporâneas. A Igreja Adventista tem usado as redes sociais para alcançar pessoas que, no mundo “off-line”, não seriam facilmente abordadas. Como líderes de igreja, também podemos utilizar essa ferramenta para manter contato com os membros de nossas congregações, delegar tarefas, compartilhar informações importantes ou divulgar eventos.

Todavia, esse sistema é uma via de mão dupla. Ao mesmo tempo que podemos alcançar mais pessoas, também se tornou mais fácil sermos alcançados. Quanto maior for nossa presença nas redes sociais, maiores serão as chances de sermos procurados. Essa facilidade faz com que os membros de nossas igrejas esperem que nosso tempo de resposta seja rápido. Assim, precisamos ser cada vez mais velozes em visualizar, mais ágeis em responder e mais eficazes em produzir conteúdos que atendam às necessidades congregacionais. Então, chega o sábado e, com ele, a dúvida: permanecer ou não conectado?

Retrato de nosso tempo

Antes de responder a essa questão, é preciso compreender um pouco da sociedade em que estamos inseridos. Certamente, uma de suas características é a impaciência. Para Eduardo Giannetti, as pessoas vivem em um conflito entre a espera e a consumação imediata, preferindo as realizações e os prazeres agora, mesmo tendo consciência das consequências com as quais se depararão no futuro.1 Talvez isso não seja novidade para nós; entretanto, o que não percebemos é que estamos em meio a fortes correntezas que nos levam na mesma direção. Eugênio Trivinho apresenta essa condição como “a violência da velocidade”.2 Possivelmente não percebamos, mas vivemos em uma sociedade impaciente que procura ser mais rápida e eficiente para ter tudo o que deseja aqui e agora. Essa busca se intensifica com a utilização da internet, pois essa ferramenta nos permite agir de maneira mais rápida. Pesquisamos, compramos e nos relacionamos com poucos cliques. Pegamos nosso smartphone e enviamos recados para os membros de nossas congregações enquanto esperamos o sinal ficar verde, para “ir agilizando as coisas”. Todo tempo ocioso, mesmo que seja de poucos segundos, é utilizado para resolver algo. Estamos sempre conectados. Queremos ser cada vez mais produtivos e a interação por meio das redes sociais nos proporciona isso. Contudo, é preciso lembrar que não passamos incólumes à violência da velocidade e às consequências da conexão constante.

Susan Greenfield alerta para os perigos ao cérebro que a permanente conexão à internet tende a promover.3 Ela destaca a diferença entre a televisão e a internet: “Há uma grande diferença para o que fazemos na internet, que é altamente interativa e também tende a ser mais estimulante.”4 É justamente esse estímulo característico dos ambientes digitais que os tornam mais atrativos e viciantes. Computadores, tablets, smartphones, enfim, os dispositivos interativos, quando usados de maneira excessiva e ininterrupta, deixam a mente em um estado de confusão sobre a realidade.5 Nicholas Carr afirma que as pessoas nesse estado perdem momentaneamente a noção clara do que seja passado, presente ou futuro, e comenta que a disponibilidade instantânea promovida por esses dispositivos não é dominada pela cognição, mas pelos sentidos, deixando a mente em um estado semelhante ao provocado pelo Alzheimer ou mesmo pelo autismo.6 Ellen White escreveu sobre a referida condição, deixando-nos uma clara admoestação sobre essa perigosa realidade: “Parece estar-se apoderando do mundo, em muitos sentidos, uma intensidade qual nunca antes se viu. Nos divertimentos, no ganhar dinheiro, nas lutas pelo poderio, na própria luta pela existência, há uma força terrível que absorve o corpo, o espírito e a alma. Em meio a essa corrida louca, Deus fala. Ele nos ordena que fiquemos à parte e tenhamos comunhão com Ele. ‘Aquietai-vos, e sabei que Eu sou Deus’ (Sl 46:10).”7

Tempo para se desconectar

Em um panorama como esse, o sábado exerce uma função paradoxal. Ele é como uma pausa nesse sistema veloz e um antídoto para os males da conexão constante. Assim, fica fácil compreender porque, para algumas pessoas, esse dia é considerado monótono ou até mesmo inútil. Vive-se praticamente uma crise de abstinência. O sábado vai contra a velocidade da sociedade, contra a necessidade implacável de conexão, contra aquilo a que estamos acostumados. Nesse tempo sagrado, o ser humano não é avaliado pelo que produz, mas pelo que é: um filho de Deus. No sábado, nossa adoração não é mensurada por quantas atividades da igreja conseguimos atender, mas pela ligação que temos com nosso Criador por meio de nosso corpo e mente.

Costumamos nos lembrar de Êxodo 20:8-11 e de suas especificações acerca de não fazer nenhum trabalho. Geralmente, isso nos remete ao descanso físico. Todavia, em Isaías 58:13-14 temos a afirmação clara de que o descanso de nossa mente e o direcionamento dela a questões espirituais compõem nossa adoração plena. Aplicado à atualidade, esse texto nos ensina não só a não “trabalhar” aos sábados nas redes sociais, mas também a refletir sobre o que vemos nelas durante esse tempo sagrado.

A respeito disso, é importante saber como as redes sociais funcionam e como elas escolhem o conteúdo que nos é apresentado. Vamos tomar como exemplo o Facebook. Tudo que visualizamos, curtimos, compartilhamos ou comentamos é filtrado pelos sistemas (algoritmos) que fazem a rede social funcionar. Nada passa despercebido. Você já notou que depois de procurar algum produto ou serviço, mesmo que seja em outro site, aparecem ofertas do item procurado em sua timeline? Todas as suas ações são catalogadas e constituem seu perfil online para que as empresas possam oferecer exatamente aquilo de que você precisa. Essas empresas lucram por meio das informações obtidas de seus usuários. Todos nós somos “funcionários”, gerando conteúdo e produzindo informações que são coletadas pelas redes sociais e vendidas aos anunciantes. Esse processo ocorre toda vez que nos conectamos, inclusive, aos sábados.

Assim, após curtir, comentar, compartilhar, ver ou publicar algo relacionado a nosso esporte favorito ou à nossa carreira profissional, o Facebook irá mostrar em nossa timeline mais conteúdos alusivos a esses assuntos. Entretanto, como o sistema que gerencia esse processo não é adventista do sétimo dia, ele não selecionará, no sábado, apenas temas apropriados para esse dia. Portanto, as publicações que aparecem em nossa timeline refletem os conteúdos vistos durante a semana. Embora não “cuidemos de nossos próprios interesses” no sétimo dia, acabamos permitindo que eles venham a nós por meio do smartphone. Uma foto ou uma publicação que desvie o foco do propósito do repouso sabático é suficiente para estragar o espírito de adoração nesse dia.

O sábado é um lembrete eterno de Deus como Criador, um tempo separado por Ele para que o ser humano experimente restauração física e mental. Durante esse dia, o Senhor deseja que Seus filhos encontrem a paz por meio de uma conexão real com o Céu. Ellen White reforça a importância desse cuidado: “Ao começar o sábado, devemos pôr-nos guarda a nós mesmos, a nossos atos e palavras, para que não roubemos a Deus, apropriando-nos para nosso próprio uso daquele tempo que pertence estritamente ao Senhor.”8

É mais fácil para o observador do sábado identificar os itens “não sabáticos” pré-definidos e tradicionalmente aceitos e assim evitá-los. Contudo, como a internet e suas atividades tem natureza fluida, disfarçada e intensa, os cristãos ficam vulneráveis a falhas na avaliação da real violência de uma imersão descuidada nesse universo, permitindo-se a distração e a perda de foco naquilo que é realmente prioritário (Mt 6:33).

Devemos ficar atentos com respeito à força persuasiva e ao caráter dominante que a cibercultura exerce na vida dos observadores do sábado. Muitos filhos de Deus até desejam se desconectar. Entretanto, não conseguem deixar de conferir, mesmo no sábado, redes sociais, notícias, músicas e informações. É uma compulsividade que não se interrompe ao pôr do sol de sexta-feira. Como vimos, isso é muito perigoso. Então, o que devemos fazer? A resposta é simples. O sábado deve ser um dia de conexão com o Criador e desconexão das coisas deste mundo. Um dia para apreciar a paz do convívio com o Pai Celestial e evitar a agitação e a ansiedade (Lc 10:41).

Precisamos proteger nossa mente desligando os aparelhos e ligando nossos pensamentos ao Criador por meio do descanso, da adoração, dos relacionamentos sociais e das atividades missionárias. Ellen White afirmou: “O sábado foi feito para o homem para lhe ser uma bênção mediante o desviar-lhe a mente do trabalho secular para a contemplação da bondade e glória de Deus. É necessário que o povo de Deus se reúna para falar acerca Dele, para trocar pensamentos e ideias a respeito das verdades contidas em Sua Palavra, e dedicar uma parte do tempo à devida oração. Esses períodos, porém, mesmo no sábado, não deviam ser tornados tediosos por sua extensão e falta de interesse.”9

A contemplação e a meditação parecem não encontrar espaço no estilo de vida atual, e isso dificulta a qualidade da adoração e do descanso no tempo sabático. O que se observa por todos os lados são os esforços do inimigo para impedir que o homem desenvolva o caráter do Criador mediante um tempo de conexão mental e espiritual com Ele. Portanto, manter o pensamento alinhado com o alto deve ser nossa maior prioridade. O sábado é uma experiência espiritual. E para que essa experiência seja plena, o estado de espírito do adorador precisa entrar em sintonia com a eternidade.

Referências

  • 1 Eduardo Giannetti. O valor do amanhã: ensaio sobre a natureza dos juros (São Paulo: Companhia das Letras, 2005).
  • 2 Eugênio Trivinho. A dromocracia cibercultural: lógica da vida humana na civilização mediática avançada (São Paulo: Paulus, 2007).
  • 3 Susan Greenfield. “O lado sombrio da tecnologia”, Veja (São Paulo: Editora Abril), set. 2012.
  • 4 Ibid.
  • 5 Nicholas Carr. A geração superficial. O que a internet está fazendo com os nossos cérebros (Rio de Janeiro: Agir, 2011).
  • 6 Ibid.
  • 7 Ellen G. White. Educação, p. 260.
  • 8 Ellen G. White, Testemunhos para a Igreja, v. 2, p. 529.
  • 9 Ibid., p. 583.