Falando de modo geral, os ministros se mudam com demasiada freqüência. Recentemente, a Igreja Luterana Americana, uma denominação de aproximadamente 3 milhões de membros e 4.200 pastores em atividade, teve 1.200 mudanças de endereços entre seus clérigos e 950 autênticas mudanças de posição num só ano! Mais de 20 por cento de seus profissionais de tempo integral se mudaram durante esse ano. Nalgumas denominações, os ministros se mudam ou são transferidos com mais freqüência ainda. Muitos pastores que conheço se mudam de dois em dois ou de três em três anos. As pesquisas reforçam a conclusão de que os pastorados de curta duração exercem um efeito negativo sobre as congregações.
Em seu relatório para a Assembléia Geral da Igreja Presbiteriana Unida, em 1976, a Comissão Especial de Tendências Entre os Membros de Igreja declarou o seguinte: “As congregações que crescem … se caracterizam por mais forte liderança pastoral.” “A igreja … precisa reconhecer adequadamente que a forte competência pastoral é um fator decisivo para a vitalidade e o desenvolvimento de uma congregação. ”2 Lyle Schaller menciona que “dezenas de pesquisas têm demonstrado que as congregações de rápido crescimento tendem a ser igrejas com pastorados de longa duração, e as congregações estáveis ou em declínio propendem a ter pastorados de curta duração.”3
Diversos fatores estão envolvidos no impacto negativo sobre o crescimento das igrejas, dos pastorados de curta duração:
Primeiro: há evidências convincentes de que os anos mais produtivos de um pastorado raramente começam antes do quarto, quinto ou mesmo sexto ano da permanência de um ministro em determinada congregação. Naturalmente, há exceções a esta generalização, mas é provável que são muito raras. O período de “arrancada” num novo pastorado é considerado agora como abrangendo doze a dezoito meses4; por conseguinte, muitos ministros se mudam antes que tenha ocorrido a transição do período de “arrancada para o período de significativa produtividade. Os pastores que se mudam muito cedo, talvez chegando à conclusão de que sua obra está terminada, quando na realidade apenas está começando, são grandemente prejudicados.
Além disso, os pastorados de curta duração contribuem para a passividade nas congregações. A maioria das congregações com pastorados de curta duração saúdam o novo pastor de modo passivo: “Outro pastor, outro programa” ou “Ele precisará do primeiro ano para acomodar-se; portanto não embalemos a embarcação”. Essa passividade é deveras perceptível em igrejas que serviram de campo de prova para ministros principiantes.
As igrejas que têm tido um novo pastor pelo menos de três em três anos, não somente saúdam o recém-chegado com uma atitude passiva, mas incidem em maior passividade ainda no terceiro ano, pois todos sabem que o pastor logo se mudará para outra localidade, a fim de “assumir maiores responsabilidades”. Os pastorados de curta duração também aumentam a passividade de alguns membros que passarão o primeiro ano do mandato do novo ministro lamentando a partida de seu predecessor e decidindo se valerá a pena estabelecer laços de amizade com o novo ministro.
Talvez o motivo mais importante de ser prejudicado o crescimento da igreja pela freqüente mudança de pastores tenha que ver com o crescente valor que hoje é dado às relações pessoais. Os pastorados de curta duração poderiam ser defendidos se adotássemos um ponto de vista puramente funcional do papel desempenhado pelo pastor. Hoje em dia, porém, os membros têm tanto interesse em saber quem é o pastor como o que ele fez. Sua satisfação total com sua experiência na igreja está intimamente ligada a sua relação com o pastor e a seus sentimentos para com ele. As igrejas que crescem são entusiastas por sua fé, por sua igreja e por seu pastor. É difícil manter esse entusiasmo se o pastor é transferido de dois em dois anos.
O assunto do mandato pastoral está recebendo especial estudo. Certo grupo de pesquisa definiu o pastorado de longa duração como sendo aquele que dura dez anos ou mais. Isto constituiu uma decisão arbitrária influenciada pela pesquisa de Levinson, a qual revela pontos de transição nos homens a intervalos de dez anos. Levinson também considera a dificuldade de manter um sonho por mais tempo do que seis a oito anos.5 Alguns acham que um período de oito anos constitui uma ótima duração para um ministério numa congregação, sendo o mínimo de cinco anos.
Há evidentes benefícios para o ministério e a congregação em pastorados de longa duração. Estes últimos proporcionam um ministério estável num mundo em contínua alteração. Pastorados mais longos são necessários para efetuar modificações significativas e duradouras numa congregação e para concretizar essas modificações.
Seria bom que os ministros pensassem em seu mandato num determinado lugar sob o aspecto de capítulos, e não de anos. Por exemplo, em minha última igreja o primeiro capítulo foi completado depois de uns quinze meses, quando todas as famílias haviam sido visitadas e se encerrou um ciclo de ocorrências de um ano de igreja, e passamos para o próximo ciclo com um novo conjunto de oficiais. O segundo capítulo abrangeu a completa remodelação do santuário da igreja e a construção de um centro recreativo — dois itens proeminentes na agenda dessa congregação, quando cheguei lá. O terceiro capítulo, talvez o mais fecundo para crescimento e desenvolvimento, jamais foi escrito devido a minha transferência para o Seminário.
Os pastores e as congregações tiram proveito de mandatos mais longos. Além de evadir-se à tensão da mudança para ele mesmo e sua família, o pastor verifica que pastorados mais longos lhe impõem a contínua necessidade de estudo e crescimento profissional que pode ser evitada no ministério de curta duração. Devido à realidade da inércia humana, a tentação de repetir a rotina de nossa arremetida (e também os sermões) numa congregação após a outra é muito forte e de conseqüências funestas.
Os pastores e as congregações precisam de tempo para aprender como labutar em meio de tensões e situações adversas. À medida que se avolumam as frustrações e se esgotam nossos recursos para enfrentá-las, é natural que concentremos nossas energias na transferência, e não na solução do que acontece aqui mesmo e agora. É verdade que mudanças periódicas e novas situações têm valor, mas o conceito que estamos salientando neste artigo é a necessidade de que o pastor obtenha contínua capacidade de trabalhar com qualquer congregação por meio de novas compreensões e novas perspectivas. Isto é impossível para o ministro cuja carreira passa rapidamente por uma sucessão de pastorados.
Hoje em dia está havendo crescente compreensão do efeito debilitador de freqüentes mudanças pastorais. Algumas denominações em que as transferências pastorais são efetuadas por repartições denominacionais estão agora limitando consideravelmente essas transferências, em especial de uma associação para a outra.
Bibliografia
- 1. Roy M. Oswald, The Pastor as Newcomer, pág. 1.
- 2. Lyle Schaller, Asstmilating New Members, pág. 53.
- 3. Idem, pág. 55.
- 4. Roy M. Oswald, op. cit., pág. 1.
- 5. Daniel Levinson e outros, The Seasons of a Man’s Life.