SIEGFRIED H. HORN

(Professor de Arqueologia e História da Antigüidade, do Seminário Teológico A. S. D.)

Parte II

QUANDO esse achado foi comunicado ao governo do Reino da Jordânia, em cujo território está situada a gruta, foi dada busca para a encontrar e escavar. Logo que foi achada, G. Lankester Harding e Pere R. de Vaux, dois peritos arqueólo­ gos, escavaram-na com muito cuidado. Verifica­ram eles que uma escavação efetuada por nativos já havia sido realizada. Não obstante, conseguiram recuperar centenares de pedaços dos potes que ori­ginalmente continham os manuscritos, inclusive as tampas, e muitas peças de linho em que os manus­critos estavam envoltos. Alguns centenares de pe­quenos fragmentos de manuscritos também foram colhidos. (1) O clima úmido da Palestina não fa­vorece a preservação de material perecedouro como são os manuscritos, mas a caverna em que foram encontrados está situada num deserto absolu­tamente seco da Judeia, onde nunca chove. Este fato explica o bom estado de preservação em que vários pergaminhos foram encontrados.

O professor de Vaux teve êxito na restauração de muitos dos quarenta grandes potes, de que foram recolhidos fragmentos. Cada um deles é suficientemente grande para conter quatro ou cinco pergaminhos. Dois dos potes, tirados da gruta in­tactos, pelos descobridores originais, estão agora em poder do professor Sukenik. Um deles, recons­tituído dos numerosos fragmentos a que ficou re­duzido, pertence agora à Universidade de Chicago. Todos esses potes, concordam os arqueólogos, foram feitos durante o período helênico, que findou em 61 A. C., quando Jerusalém caiu sob o domínio dos romanos. (2)

A grande quantidade de potes encontrados na gruta indica que, originalmente, cerca de 200 per­gaminhos foram guardados nesse esconderijo. Em vista de que apenas cerca de dez deles foram en­contrados, em diferentes estados de preservação, surge imediatamente a pergunta: Que terá acon­tecido aos demais, dado que foram depositados na gruta, talvez durante o primeiro século A. D.? A condição em que a gruta foi achada, forneceu a resposta a essa pergunta. Um pote romano de co­zinhar e uma lâmpada, também achados ali, mos­traram que intrusos a haviam visitado durante o período romano e removido a maior parte de sua antiga biblioteca. Além disso, os centenares de fragmentos de pergaminhos trazidos à luz pela es­cavação da gruta, que originalmente pertenceram a muitos e diferentes livros bíblicos e extra-bíblicos, provam que uma grande biblioteca fora ali escondida.

Provavelmente nunca chegaremos a saber quem depositou sua biblioteca nesse esconderijo, com to­da a probabilidade durante um período de crise nacional, talvez durante as guerras dos macabeus ou dos romanos. Possuímos umas poucas mais de provas concernentes ao intruso de uma era mais recente, que retirou alguns desses manuscritos. Conta-nos Eusébio que o pai da Igreja, Orígenes, usou para a sua monumental obra, Hexaplos, um antigo manuscrito descoberto num pote, próximo de Jericó. (3) Os primeiros escavadores da gruta pensaram, portanto, que Orígenes ou algum dos seus contemporâneos, havia descoberto a gruta e dela retirado a maior parte do seu conteúdo.

Mais provável, porém, é que a gruta haja sido despojada do seu precioso conteúdo durante o século oitavo, conforme assinalou o prof. Otto Eiss­feldt, que atraiu para o nestoriano patriarca Ti­móteo da Seleucia, a atenção dos eruditos. Declara ele acerca do descobrimento dos manuscritos hebraicos na gruta rochosa próximo de Jericó, que os judeus retiraram esses livros e os estudaram, e ele muito desejaria saber se os pergaminhos recentemente descobertos confirmavam as citações do Velho Testamento feitas no Novo, melhor do que o fazia o conhecido texto hebraico. Dizendo que esse problema lhe queimava como fogo o coração, declara ele que não dispunha de pessoa capacitada para por ele fazer pesquisas concernentes aos problemas que o interessavam. Esse descobrimento de que Timóteo ouvira, presumivelmente explica o desaparecimento da maioria dos pergaminhos que originalmente haviam estado escondidos na gru­ta. (4)

Conquanto deploremos a circunstância de se ha­verem perdido tantos dos manuscritos ali conser­vados, folgamos com que tantos deles tenham sido preservados. A data desses manuscritos é um dos itens de maior importância da investigação erudi­ta. Alguns dos melhores paleógrafos dos antigos textos semíticos, tais como Albright, Birnbaum, Sukenik e outros, com base na escritura emprega­da, dataram esses pergaminhos do quarto ao primeiro séculos A. C. Os arqueólogos dataram-nos em consonância com a idade dos potes, e foram levados à conclusão de não serem mais recentes que o primeiro século A. C., como já foi mencio­nado. Outros eruditos, porém, apresentaram dúvidas quanto à antiguidade desses pergaminhos, e dataram-nos do período cristão ou medieval. Um os considerou embustes. (5)

Entrementes, o método científico de datar o material orgânico antigo segundo o seu conteúdo radiocarbônico, foi aperfeiçoado, de forma que um material até 2.000 anos A. C. pode, com grande margem de precisão, ser datado por esse processo. Lankester Harding, diretor do Departamento de Antiguidades do Reino da Jordânia, que foi um dos escavadores da gruta, enviou para a América do Norte suficiente quantidade do material envolven­te de linho para ser submetido ao processo cien­tífico de datação pelo método “Carvão 14”. A data dos envólucros de linho, obtidos pelo Instituto Nu­clear da Universidade de Chicago, é o ano 33 A. D. com uma margem de erro, em ambos os sentidos, até duzentos anos, o que fornece um período para a fabricação dos envólucros de linho, de 167 A. C. a 233 A. D. (6) Esta prova mostra que os eruditos que dataram os rolos no período pré-cristão parece estarem acertados, e mais e mais eruditos abando­naram suas dúvidas quanto à antiguidade desses manuscritos. Contam-se hoje nos dedos das mãos os que ainda duvidam da sua genuinidade ou anti­guidade.

Agora que temos a história do descobrimento dos manuscritos, e de suas datas, bem como a história da própria gruta, passemos à descrição dos agora famosos pergaminhos.

O primeiro deles, reconhecido pelo Dr. Trever quando os manuscritos lhe foram levados pelos sí­rios, contém o livro completo de Isaías. Esse per­gaminho, desde aquela Primavera de 1948, tornaram-se famosos. Está em estado de quase perfeita preservação e apresenta o texto completo de Isaías, do primeiro ao último versículo. Foi publicado faz dois anos, em reprodução fotográfica, com uma transliteração em caracteres modernos hebraicos, dando aos eruditos da Bíblia esse precioso manus­crito em forma digna da sua importância. (7)

Outro pergaminho contém um comentário do primeiro e segundo capítulos de Habacuc, com a citação de cada passo deste profeta menor e a res­pectiva explicação. Dessa maneira temos dois ter­ços desse profeta também em forma textual do pe­ríodo pré-cristão. Um pergaminho contém um ma­nual de disciplina vigorante entre a seita ou comunidade judaica a que essa biblioteca uma vez pertenceu. Não foi ainda estabelecido se os proprietários dos livros eram essênios ou pertenciam a uma seita desconhecida. Um dos livros contém uma coleção de hinos semelhante à do livro de Salmos. Outro descreve uma “Guerra Entre os Filhos da Luz e os Filhos das Trevas”. Também não é sabido a que guerra histórica esse manuscrito faz referência. Um pergaminho muito danificado con­tém a última parte de Isaías, fornecendo-nos dessa forma, dois manuscritos do mesmo livro bíblico.

Um pergaminho está em estado tão precário de preservação que todos os esforços feitos para de­senrolá-lo têm sido até agora infrutíferos. Pequena camada externa foi desagregada. Está escrito em aramaico, ao passo que todos os demais estão escritos em hebraico. Umas poucas palavras que puderam ser lidas dessa camada extraída, parece mostrarem que o manuscrito contém o há muito extraviado livro apócrifo de Lamec. (8)

Além desses pergaminhos mais ou menos bem-conservados, muitos fragmentos de outros livros foram recolhidos na gruta, como foi mencionado anteriormente. São eles os remanescentes de livros que haviam estado enfurnados, mas foram retira­ dos no tempo dos romanos. Entre eles temos vários fragmentos do livro de Daniel, inclusive os versículos em que a linguagem passa do hebraico para o aramaico. Os fragmentos de Daniel são muito importantes, porque os eruditos têm susten­tado que o livro desse profeta não foi escrito antes do segundo século A. C., e sendo que temos nesses fragmentos restos de um pergaminho de Daniel, a ser aceita a data dos especialistas, provém justamente desse período.

Também foram encontrados fragmentos dos livros de Gênesis, Levítico, Deuteronômio e Juízes, e de muitos livros ainda não identificados. Os poucos fragmentos do livro de Levítico são da máxi­ma importância, visto estarem escritos na língua hebraica pré-exílica. É sabido que, de conformi­dade com a tradição judaica, os hebreus abando­naram sua antiga grafia, adotando o aramaico pouco depois do exílio, durante o tempo de Esdras. Durante algum tempo ambas as maneiras de escrever foram usadas simultaneamente, até que a es­crita quadrangular aramaica substituiu inteiramen­te a pré-exílica, que, em tempos mais recentes, somente era usada em moedas hebraicas. Por este motivo, o professor de Vaux datou do quarto ou quinto séculos A. C., os fragmentos Levíticos, ao passo que outros eruditos, entre os quais Albright, raciocinando que o escriba tinha perante si uma cópia antiga e quis manter a velha escrita vene­rável, pensam que pertençam a um exemplar mais recente, feito durante o segundo século A. C. Difícil será decidir quanto a quem está com a razão, mas é, não obstante, importantíssimo que possua­mos uns poucos fragmentos dum manuscrito bíblico escrito na forma com que deve haver aparecido no período anterior ao exílio. A comparação do texto preservado nesses fragmentos, com o atual texto hebraico, mostra que são exatamente idênti­cos.

A peça de resistência de toda a coleção dos ma­nuscritos preservados é o pergaminho de Isaías. Seu material é couro. Seu cumprimento é de cerca de sete e meio metros, e largura aproximada de 30 centímetros. Os sessenta e seis capítulos do livro estão escritos em 54 colunas em escrita muito uniforme e bela. Com exceção da última coluna, que muito sofreu com o grande uso do livro em tempos antigos e cuja tinta foi parcialmente repos­ta, as palavras estão bem legíveis e apresentam pouca dificuldade de decifração. Existem apenas umas poucas falhas nas primeiras poucas colunas, das quais parte da extremidade inferior está ras­gada. O escriba cometeu alguns erros e omissões. Ao descobri-los, escreveu entre as linhas e algumas vezes na margem, as partes omissas. Nalguns lugares as omissões lhe escaparam, especialmente nas porções onde saltou sobre uma frase ou grupo de palavras contidas entre duas palavras iguais. Isaías 16:8 e 9 é disso um exemplo. Em cada um dos versículos 8 e 9, aparece a palavra “sibmah”. Depois de o escriba haver escrito a primeira “sibmah”, seu ôlho saltou sôbre todo o restante da frase, entre a primeira e segunda “sibmah”, e continuou a partir da segunda, registando uma única vez a palavra “sibmah”. O erro do escriba, comum a todo copista antigo ou moderno, é chamado homoeoteleuton.

Desde que surgiu a reprodução fotográfica desse valiosíssimo documento, numerosos artigos e até alguns livros foram escritos sobre o pergaminho de Isaías. Eu mesmo fiz estudo cuidadoso dêsse texto, e comparei cada versículo com o texto hebraico de Isaías geralmente aceito. Quando, em 1950, o pergaminho foi exibido na Universidade de Chicago, tive a oportunidade de comparar com o original os textos sobre que recaíam dúvidas e posso, assim, fundamentar o meu julgamento num estudo pessoal minucioso. O texto do pergaminho de Isaías prova que desde o tempo em que foi es­crito, i. é., provavelmente no segundo ou primeiro séculos A. C., o livro de Isaías, tal como o temos na moderna Bíblia hebraica ou em traduções para a língua inglesa, não sofreu modificação em sentido algum até ao presente. O escriba, por certo, não foi copista cuidadoso, e cometeu numerosos erros ortográficos. Possível, também, é que haja escrito a sua cópia à medida que algum leitor lhe haja estado ditando. Isso explicaria as muitas ocorrên­cias em que confundiu palavras de som semelhante e que dificilmente teria confundido se estivesse lendo o manuscrito que copiava. Essa confusão pode ser comparada com as palavras portuguesas “esterno” e “externo”, “envolver” e “evolver”, etc.

Além disso, o pergaminho de Isaías reflete um período em que a ortografia diferia um pouco da usada ao tempo dos massoretas, que, vários séculos mais tarde, acrescentaram ao texto vogais e lhe deram forma ortográfica “standard”. Essa circuns­tância explica alguns milhares de consoantes adicionais, as quais, porém, não afetam de maneira al­guma o sentido do texto. Toda pessoa que manu­seou esse pergaminho ficou profundamente impres­sionada com o fato irretorquível de que esse ma­nuscrito bíblico de dois mil anos de idade contém exatamente o mesmo texto que hoje possuímos. Os passos que apresentam dificuldades de interpre­tação em nossa Bíblia hebraica, tal como Isaías 65:20, têm o mesmo texto difícil do pergaminho de Isaías. Uns poucos testemunhos de reconhecidos eruditos mostrarão como ficaram impressionados com a circunstância de nosso atual texto hebraico apresentar tão poucas diferenças do texto que conta mais de dois mil anos de idade.

O professor Millar Burrows, editor do pergaminho de Isaías, forneceu-nos vários estudos desse texto, e dado o seu conhecimento acurado do manuscrito de Isaías, seu depoimento é de grande importância. Diz ele:

“Com a exceção de omissões relativamente insig­nificantes… todo o livro aqui está, e é substancial­mente o livro preservado no texto massorético. Diferindo notavelmente na ortografia e um pouco na morfologia, concorda em grau notável, nos di­zeres, com o texto massarético. Nisso consiste a sua principal importância, pois confirma a fidelidade da tradição massorética. Existem omissões menores, mas nada comparáveis às da Septuaginta de alguns livros do Velho Testamento. (9)

O professor Albright, que foi um dos primeiros a reconhecer a grande importância dos manuscri­tos, e por cujo intermédio vi as primeiras fotogra­fias, antes de esse descobrimento haver sido divul­gado pela imprensa, fez a seguinte observação acer­ca da importância desse texto no tocante à fidelidade com que o texto antigo tem sido manuseado através dos séculos até ao presente:

“Não é possível insistir demasiadamente em que o Pergaminho de Isaías prova a grande antiguida­de do texto do Livro Massorético, advertindo-nos contra as críticas levianas que costumávamos fazer”. (10)

Outra declaração valiosa vem-nos da lavra de perito judeu da Septuaginta, Prof. Harry M. Orlinsky, que aconselha os seus colegas eruditos a tra­tarem a Bíblia hebraica com respeito maior do que têm feito até agora:

“Independentemente da data do Pergaminho de Isaías de S. Marcos, ponho dúvidas em que o seu valor para a crítica do texto avultará muito, ex­ceto em que ajudará a convencer mais eruditos bíblicos de que o texto tradicionalmente preservado da Bíblia hebraica deve ser tratado com muito mais respeito do que tem sido, assim como o ar­queólogo nos tem ensinado a considerar o texto de fonte histórica, de maior confiança do que o reco­nheceram as gerações que nos precederam.” (11)

Referindo-se a esse pergaminho, o professor John Bright convence-se de que as poucas correções do texto feitas no decorrer do último século podem ser aceitas com seriedade depois que o pergaminho de Isaías provou a precisão com que o texto antigo tem sido manuseado até aos nossos dias. Aconse­lhou à presente geração de eruditos bíblicos a aprenderem a manifestar atitude crítica para com os comentários escritos no passado, e declara que, se nenhuma atitude crítica fosse exercida para com esses trabalhos de erudição, as pessoas que os manuseassem estariam manuseando um texto que nunca existiu senão na mente dos comentaris­tas”. (12)

Considero providencial que Deus nos haja pre­servado esses textos e no-los haja dado nesta hora crucial da história do mundo. Há cinquenta anos seria inconcebível que os críticos eruditos, ocupan­tes de cátedras nas principais universidades, como os citados em parágrafos anteriores, houvessem de­fendido o texto do Velho Testamento, como está sendo feito hoje. Nenhum perito de fama teria ousado refutar as correções dos críticos. Ele teria sido imediatamente condenado ao ostracismo pelos colegas do mundo inteiro por solapar as fases mais importantes das suas atividades escolásticas. Vivemos hoje outro dia, e somos gratos a Deus por isso.

Os pergaminhos de Isaías, o comentário de Abacuc os fragmentos de outros livros da Bíblia fornecem-nos textos de alguns livros do Velho Testamento do tempo de Cristo e dos apóstolos. Nenhum livro da Escritura, com exceção dos Salmos, foi tão citado por Cristo e pelos autores do Novo Testamento, quanto Isaías. Eles aceitaram cada uma das suas partes como sendo a Palavra de Deus, e de autoria do profeta Isaías, sem fazerem diferença alguma entre quaisquer das suas secções. O seu julgamento deve merecer-nos suficiente autoridade para aceitarmos o que aceita­ram. Quanto ao que revela o pergaminho de Isa­ías, de que o texto, que foi aceito como integrante da Palavra inspirada de Deus no tempo dos auto­res do Novo Testamento, é o mesmo que temos hoje em nossa Bíblia, nossa confiança nas Escrituras foi grandemente fortalecida.

O estudo do pergaminho de Isaías e de outros textos antigos existentes autoriza-nos a concluir, por analogia, que os livros do Velho Testamento, de que nenhum exemplar foi ainda encontrado, foram-nos transmitidos em forma tão pura e tão fi­dedigna quanto a dos que agora possuímos textos.

Espero ver, nos anos vindouros, da pena de eru­ditos competentes, declarações ainda mais vigoro­sas, concernentes à fidelidade do texto hebraico. Logo que haja sido publicado o outro pergaminho de Isaías, que está em estado muito fragmentário, tornar-se-á evidente e de maneira muito mais vi­gorosa. Só vi duas colunas numa reprodução foto­gráfica, as quais, porém, mostram que o escriba que escreveu esse pergaminho de Isaías foi extre­mamente cuidadoso. No texto de duas colunas que tive o ensejo de comparar com o texto hebrai­co hodierno, erro nenhum de cópia é encontrado. As únicas diferenças consistem em pequenas varia­ções ortográficas.

Creio que concordareis comigo em que devemos sentir-nos imensamente satisfeitos por esses des­cobrimentos haverem sido feitos em nossa era, e felizardos por termos esse material à nossa disposição para defender a Palavra de Deus de maneira muito positiva.

Por certo vos interessareis com saber que mais grutas foram recentemente descorbertas no deserto da Judeia por nativos que verificaram ser mais vantajoso ganhar dinheiro com o descobrimento de manuscritos escondidos do que apascentando reba­nhos. Outras grutas foram descorbertas durante uma exploração feita pelas American Schools of Oriental Research e a Ecole Biblique, de Jerusalém. Na primavera passada essa expedição examinou minuciosamente toda a região em que foram acha­dos os pergaminhos do Mar Morto e efetuaram descobrimentos extraordinários. Os relatórios pre­ liminares publicados até ao presente, revelam que foram encontradas duas cartas de Bar Kokhba, líder da revolução dos judeus durante o reinado do impe­rador Adriano, bem como um contrato matrimonial desse período. Outros fragmentos de manuscritos, sendo alguns bíblicos, descobertos nessas grutas, da­tam do primeiro e segundo séculos A. D. O achado mais sensacional consistiu em duas lâminas de bronze bem enroladas juntas, cada uma com cerca de um metro de comprimento. Têm elas uma inscrição gravada em caracteres hebraicos. Seu con­teúdo não é ainda conhecido, pois a natureza ex­tremamente friável do material não permitiu fosse ainda desenrolado. (13) Essa expedição mostra que existem à nossa disposição muitas provas ar­queológicas que podemos usar em abono da auten­ticidade do texto bíblico e da veracidade das partes históricas da Bíblia. Usado convenientemente, esse material pode apoiar de maneira extraordinária a nossa atitude fundamentalista de aceitar a Bíblia toda como sendo a Palavra inspirada de Deus. Meus anos de estudo nesse terreno me têm forta­lecido profundamente a confiança no firme alicer­ce sobre que repousa a nossa fé. Não precisamos ter receio de proclamar as verdades bíblicas que ainda não podemos corroborar com provas exter­nas, contanto que permaneçamos nesse firme ali­cerce que nunca nos falhou — a infalível Palavra de Deus.

Bibiliografia

(1) O. R. Sellers, “Escavation of the ‘Manuscript’ Cave at ‘Ain Feshkha’”, Boletim, 114 (Abril de 1949), págs. 5-9.

(2) Sellers, Archaeological News from Palestine, The Biblical Archaeologist, 12 (1949), págs. 53-56; Cal H. Kraeling. A Dead Sea Scrolls Jar at the Oriental lnstitute, Boletim, 125 (Fev. de 1952), págs. 5-7.

(3) Eusébio, The Ecclesiastical History, Vol. II, The Loeb Classical Library (Londres, 1932), págs. 51 e 53.

(4) O. Eissfeldt, Der Anlass zur Entdeckung der Hohle und ihr Ahnliche Vorgange aus Alterer Zeit, Theologische Literatur-Zeitung, 74 (1949), págs. 597-600.

(5) Trever, A Paleographic Study of the Jerusalem Scrolls, Boletim 113 (Fev. de 1949), págs. 6-23; Albright, On The Date of the Scrolls From ‘Ain Feshkha and the Nash Papyrus’ibid, 115 (Out°. de 1949), págs. 10-19; Solomon A. Birnbaum, The Dates of the Cave Scrolls, ibid., págs. 2-22; Birnbaum, The Leviticus Fragments From the Cave, ibid., 118 (Abril de 1950), págs. 20-27; Millar Burrows. The Dating of the Dead Sea Scrolls, ibid., 122 (Abril de 1951), págs. 4-6; Paul Kahle, The Age of the Scrolls, Vetus Tes­ tamentum, I (1951), págs. 38-48; G. R. Driver, The Hebrew Scrolls (Londres, 1951), págs. 47 e 48. Sôbre artigo de Zeilin, que declara serem os pergaminhos forjados, ver as referências citadas na nota 21 do número anterior desta revista.

(6) Sellers, Date of the Cloth From the ‘Ain Feshkha Cave’The Biblical Archaeologist, 14 (1951), pág. 29; Radiocarbon Dating of Cloth From the ‘Ain Feshkha Cave’, Boletim, 123 (Out°. de 1951), págs. 24-26.

(7) Millar Burrows, John C. Trever, e William H. Brownlee, The Dead Sea Scrolls of St. Marks Monastery, Vol. I (New Haven, 1950) pág. XXIII, 61 clichês.

(8) Trever, Identification of the Aramaic Fourth Sscrolls From Ain Feshkha’Boletim, 115 (Out°. de 1949), págs. 8-10.

(9) Burrows, Variant Readings in the Isaiah Manus- cript, Boletim 111 (Out°. de 1950), pág. 6.
(10) Albright, The Dead Sea Scrolls of St. Mark’s Monastery, Boletim, 118 (Abril de 1950), pág. 6. (11) Orlinsky, Studies in the St. Mark’s Isaiah Scrolls Journal of Biblical Literature, 69 (1950), pág. 152.
(12) John Bright em comentário do livro de Robert The Old Testament Text and Versions, in Inter­pretation, 6 (1952), págs. 1 16 e 117.

(13) Albright, From the Acting President’s Desk, Bo­letim, 126 (Abril de 1952), pág. 2.