SIEGFRIED H. HORN

Período Pós-Exílico

A MAIORIA dos problemas relacionados com o período pós-exílico são de natureza secundária, tal como o são os descobrimentos arqueológicos que lançam luz sôbre o período da volta de Judá do exílio, e sua restauração. Os seguintes descobri­ mentos poderão parecer insignificantes em si mesmos. mas cada um dêles desfez os argumentos dos críticos eruditos à autenticidade das Escrituras e apoiou declarações da Bíblia, aparentemente ana­ crônicas ou fictícias.

O uso da dracma como unidade monetária no tempo de Ciro, conforme está declarado em Es­dras 2:69, foi sempre de difícil explicação. Haviam dito os historiadores que essa palavra “dracma” não poderia senão referir-se a “dareikos”, uma moeda de ouro introduzida por Dario I. A ser correta essa explicação das “dracmas” de Esdras 2:69, teríamos que admitir que o autor do livro de Esdras estava mal-informado acêrca do tempo de Ciro, e atribuiu aos judeus o uso de um sistema monetário ainda não existente em seu tempo. Êste problema, que para alguns se afigura pequeno, foi considerado sério pelos que cri­ am que o livro de Esdras apresenta fatos e não histórias fictícias. A dificuldade ficou solvida em anos recentes. Em 1931. W, F. Albright e O. R. Sellers escavaram a antiga cidade de Betzur, na Palestina, verificando que as moedas de prata gre­gas, chamadas dracmas áticas. haviam sido usa­ das na Palestina no começo do período persa , fato que ninguém admitiría antes dêsse descobrimento. Uma vez mais, pequeno pormenor da narrativa bíblica provou-se correto.
Houve estudiosos que desejaram atacar o valor histórico do livro de Ester. Mesmo muitos fundamentalistas não estavam seguros de que êsse livro relatava fatos realmente históricos. Ainda não é possível provar a historicidade do livro de Ester, mas é um fato que as escavações de Susã (a Susã bíblica), tem mostrado que o autor do livro de Ester precisaria estar muito bem familiarizado com o palácio de Susã, bem como os costumes e etiquetas da côrte persa, uma vez que as condições descritas em Ester concordam da maneira mais notável com os resultados de recentes inves­tigações arqueológicas. Alguns estudiosos têm-se sentido muito impressionados com êste fato e admitem que apenas alguém que estivesse intimamente familiarizado com o palácio real poderia ter escrito a história de maneira tão acurada.
A história faz sentir que, posteriormente, os judeus que viveram durante a última parte do reinado de Xerxes I receberam tratamento favorável dos persas. Esta conclusão que se tira do livro de Ester é sustentada por um arquivo comercial encontrado faz muitos anos em Nipur, pela expedição da Universidade dc Pensilvânia. A grande casa comercial de Murashu & Filhos de Nipur, era uma associação de banqueiros, corretores de imóveis, de fundos e industriais. Seu far­ to arquivo com milhares dc documentos que cobrem o tempo que vai de Artaxerxes I a Dario II foram preservados. Êsses documentos comerciais contêm numerosos nomes judeus que haviam estado relacionados com esta famosa casa da bai­xa Mesopotâmia. Encontramos êsses judeus como fornecedores de grandes somas em empréstimo, como senhores de grandes possessões, homens de negócios cujo comércio envolvia grandes somas de dinheiro, coletores e governadores de distri­tos.  Êsses documentos mostram claramenteque os judeus do tempo de Artaxerxes tinhamenriquecido e alcançado dos persas muitos favores, o que implica em que alguma coisa ante­riormente acontecera para que lograssem alcançar esta favorável posição no país de seu anterior exílio. Explica ao mesmo tempo por que Es­dras encontrou entre os judeus que viviam na Mesopotâmia pouco entusiasmo para retornarem a sua velha porém arruinada pátria. Dessa maneira a história de Ester indiretamente mostra-se correta.

O sustentáculo mais importante, porém, para a historicidade do livro de Ester, é o recente desco­ brimento de um ladrilho com inscrição cuneifor­me, no museu de Berlim, durante a última guerra. O prof. A. Ungnad, estudando os ladrilhos do mu­ seu de Berlim, encontrou um texto que menciona certo homem pelo nome de Marduca, tradução babi­ lônia de Mardoqueu, como um dos mais elevados dignitários de Susã durante o reinado de Xerxes. Seu título, Sipir, indica que era conselheiro influente. O professor Albright, que me chamou a atenção para êsse descobrimento em 1848, disse nessa ocasião que jamais crera na historicidade do livro de Es­ ter, mais êsse descobrimento o convenceu de que a historicidade do conteúdo deve subentender a his­toricidade do livro. Se a história fôsse fictícia, como poderiamos encontrar um homem em posição influente, com o mesmo nome que a Bíblia dá a Mardoqueu, na mesma cidade de Susã e na mesma época em que. segundo a Biblia, êle teria vivido?

Não há prova no relato bíblico, nem em fontes externas, de que qualquer outro judeu que não o indivíduo mencionado no livro de Ester fôsse conhecido pelo nome de Mardoqueu ao tempo de Xer­xes (486-465 A. C.). Quando êste homem se tor­nou “grande para com os judeus e agradável para com a multidão de seus irmãos “no império persa (Ester 10:3), seu nome tornou-se popular nos círculos judaicos, e muitos país deram a seus filhos o nome de Mardoqueu. Os documentos da casa comercial Murashu & Filhos, do tempo de Artaxerxes I (465-424 A.C.) contêm sessenta c um nomes de judeus. É extremamente interessante que embora sessenta e um nomes se refi­ram cada um a um indivíduo somente, seis diferentes judeus têm o nome de Mardoqueu. Aparentemente todos nasceram pouco tempo após os eventos relatados no livro de Ester. Pouco mais tarde o nome caiu em desuso, o que se pode inferir do fato de entre os quarenta e seis nomes de judeus mencionados nos documentos da mesma firma ao tempo de Dario II (424-405 A. C.), não aparecer o nome Mardoqueu. Muitas conclusões mais se poderiam tirar dêsses do­cumentos comerciais, porém as poucas observações aqui feitas bastam para mostrar quantas pro­ vas diretas e indiretas temos de um dos livros da Bíblia mais acaloradamente contestados.

Antes que as fontes cuneiforme nos tivessem revelado o verdadeiro calendário dos reis persas e babilônios, os estudiosos dependiam do cânon de Ptolomeu para chegar a uma data exata em relação a esses reis. Associando o cânon de Prolomeu e as afirmações de Nem. 1:1 e 2, chegaram a conclusão de que os acontecimentos descritos em Esdras 7, no sétimo ano de Artaxerxes I, ocorreram em 457 A. C. Um século mais tarde ninguém havia mudado essa data. Entretanto, a situação mudou desde que os antigos registos revelaram o sistema persa de computar o ano do reinado de seus reis. A partir de então, verificou-se que o primeiro ano de Artaxer­xes começou na primavera de 465 e terminou na primavera de 463, e os eventos narrados no capítulo 7 de Esdras foram colocados no ano 458 pela maioria dos estudiosos que trataram dêste assunto nos últimos anos. Nós temos sido pràticamente os únicos que ainda persistem te­ nazmente em tomar 457 A. C., como o ano em que o decreto de Artaxerxes I entrou em vigor. baseando nosso argumento principalmente na afirmação de Neemias (Neem. 1:1 e 2), que mos­ tra ter sido o sistema judaico de computar o tempo diferente do sistema persa.

A reconstrução do calendário judaico como era usado durante o quinto século tem sido tarefa difícil. Afortunadamente. foi encontrado grande número de papiros em aramaico, na ilha de Ele­ mantinha, no Nilo, alto Egito, há mais de quarenta anos. Êsses papiros, todos escritos numa colônia judaica durante o quinto século, dão-nos muitas informações concernentes às condições ci­ vis e religiosas sob as quais os judeus viviam. Êles provam que documentos similares constantes dos livros de Esdras e Ester não eram fictícios, mas relatos autênticos. Alguns dêsses papiros estão datados, mas outros têm data dupla, a oficial egípcia e a aramaica, usada pelos judeus. Procu­ rando fazer as datas concordarem entre si, cer­ to número de estudiosos influíram sôbre êles sem contudo conseguirem solver tôdas as dificuldades que surgiram. Muitos dêles crêem que os judeus usaram o calendário babilônio, mas não explicam por que tantas datas não concordam com as da­ tas babilônias.

O Dr. Lynn H. Hood, de mérito incontestável, tem procurado harmonizar essa duplicidade de da­ tas no papiro, presumindo que os judeus de Ele­ mantinha seguiam seu próprio sistema de calendário como Neemias, embora não estivesse em harmonia com o calendário babilônio, adotado pelos persas. Assim se chega quase a perfeita harmonia, e as provas indicam que estamos no caminho certo ao sustentar que os judeus conta­vam o ano sétimo de Artaxerxes I do outono de 458 ao outono de 457 A. C., e não de primavera a primavera.

O material até aqui conseguido, não era toda­ via bastante preciso para provar que os judeus de fato começavam seu calendário com o outono durante o quinto século, uma vez que tôdas as datas elefantinas eram do período de um ano. quando eram plausíveis ambas as possibilidades, isto é, início de outono a outono ou de primave­ ra a primavera. Recentemente, porém, foram des­ cobertos mais catorze papiros da mesma colônia judaica. Estão êles agora no museu de Brooklin e serão publicados dentro de poucos meses. Onze dêles levam datas duplas, e um nos dá a tão pro­ curada prova de que os judeus de Elefantina co­meçavam seu ano civil com o outono, e contavam o ano real dos reis persas de acôrdo com seu próprio calendário, isto é, de outono a outono. Uma palavra de gratidão ao prof. Emil G. Kraeling e ao Sr. John D. Cooney, do museu de Brooklin, por me haverem permitido anun­ciar êsse descobrimento antes da publicação dos textos.

Êle virtualmenté nos fornece a prova de que estamos certos em datar de 457 A. C. os eventos descritos em Esdras 7. Se Neemias contava o ano do reinado de um rei persa, com base no calendário de outono a outono, é inteiramente ra­ zoável admitir que Esdras haja seguido o mesmo sistema.

Outros descobrimentos recentes nos têm melhor relacionado com os três grandes inimigos de Nee­ mias, que tanto entravaram sua obra: Sambalá de Samaria, Tobias de Amon e Gesem, o arábio. (Neem. 2:19.) Todos os três são mencionados em diferentes documentos antigos. Sambalá aparece num dos papiros aramaicos de Elefantina, como go­vernador da província persa de Samaria, no tempo de Dario II. Isto explica por que foi inimigo acérrimo e perigoso dos judeus, cuja opo­sição Neemias não podia facilmente passar por alto. O relato bíblico não esclarece que ele haja sido governador da província vizinha. Para os leitores contemporâneos das memórias de Neemias, êste fato era comumente conhecido e não necessitava de menção especial, mas nós o ignorávamos. Uma vez que sabemos ter sido ele pessoa influente, podemos melhor compreender ter tido Neemias que usar de diplomacia e determi­nação para, em face de tão formidável inimigo, continuar sua obra e terminá-la.

Tobias, o amonita, era o chefe de uma famí­lia amonita muito famosa, de cujo palácio podem ver-se ainda ruínas na Transjordânia. O papiro de Zenon, encontrado na região de Faiun, do Egito, que vem da era de Ptolomeu, menciona a famí­lia de Tobias como tendo mantido extenso co­mércio com o Egito. De novo vemos que outro oponente de Neemias não pertencia a uma família comum de cidadãos do país vizinho, mas a um círculo influente que não via com bons olhos se tornasse Judá uma nação forte outra vez.

Gesem, o arábio, foi também identificado recen­temente numa inscrição midianita da Arábia do quinto século A. C.

Os descobrimentos precedentes, que têm derra­ mado luz sôbre a Bíblia, parecem ser de valor insignificante, se tomados cada um separadamen­ te, e a maioria dêles elucida apenas pontos isolados da narrativa bíblica para sustentar certas fases da Palavra inspirada. Todo investiga­ dor no campo bíblico da arqueologia sente que estamos ainda muito longe do dia em que pode­ remos escrever um comentário arqueológico para cada verso da Biblia. É evidente, contudo, para cada pessoa que tenha acompanhado a riqueza de material que tem vindo à luz em anos recentes, que muito do que se tem descoberto sustenta de maneira notável a parte histórica do Velho Tes­tamento. Esta crescente evidência tem resultado em mostrar-se mais respeito ao Velho Testamen­ to hoje do que em algumas décadas passadas. Os eruditos têm verificado que muitas fases da narrativa bíblica por êles consideradas ficção têm-se provado corretas, e com exceção de uns pou­cos irredutíveis, encontra-se hoje entre os estudiosos do Velho Testamento uma atitude conser­vadora modificada. Isto não significa que tenham abandonado a atitude de crítica e estejam come­çando a aceitar parte da história bíblica como sen­do verdade, mas sim que chegaram ao ponto de admitir base histórica para muitos fatos do Velho Testamento.

Os estudiosos da Bíblia que crêem na inspira­ ção da Palavra de Deus, deleitam-se com êsse desenvolvimento. Vêem que a obra da arqueolo­ gia bíblica tem resultado em prova da exatidão e veracidade dos relatos do Velho Testamento, e sua confiança na Palavra de Deus se tem forta­ lecido sobremaneira.

Isto os anima a proclamarem com mais fôrça que antes, a verdade das partes históricas ainda não provadas das Escrituras sendo certo que elas se baseiam em evidência histórica tão digna de confiança como as partes do Velho Testamento que se têm provado corretas.

Manuscritos Descobertos Confirmam Texto Bíblico

Cristo disse em Seu grande sermão relativo aos acontecimentos precedentes à Sua segunda vinda: ‘ O céu e a Terra passarão, mas as Minhas palavras não hão de passar.” S. Mat. 24:35. Essas palavras têm permanecido como prova dos séculos. Os descobrimentos arqueológicos não sòmente nos têm fornecido provas que revelam a exatidão dos eventos históricos narrados na Bíblia, mas também nos têm fornecido antigos manuscritos do Novo e Velho Testamentos que têm provado que os escritos do Novo e do Velho Testamentos como os temos hoje não sofreram mudança nem ajustamentos desde que saíram das mãos de seus autores originais.

Quando o criticismo bíblico floresceu faz pouco mais de cinqüenta anos, muitos escolásticos foram levados a emendar o texto bíblico por êles considerado altamente viciado. Com o auxílio da Septuaginta e de outras versões antigas, e lançan­do mão de recursos de astúcia e habilidade, êsses escolásticos de tal maneira alteraram o texto bíblico que seria difícil em muitos casos reconhecer o original.

Cada teólogo considerava trabalho principal de sua escola, separar as fontes e descobrir os diferentes pressupostos autores e editores de cada um dos livros do Velho Testamento. Coisa sabida é que os mais altos críticos não atribuem o Pentateuco a Moisés. Com efeito, crêem que a maioria dos livros do Velho Testamento foram escritos muito antes, durante ou depois do exflio. No apogeu do criticismo bíblico, foram impressas Bíblias em que os diferentes autores eram indicados em cada livro por diferentes cores. Várias edições dessa chamada Biblia policrômica, ou “Bíblia Arco-íris”, foram publicadas durante século dezenove e nos primórdios do século vinte.

É bem sabido que partes de Isaías foram cei­fadas pelo alfange do criticismo bíblico que fa­zia diferença entre dois ou três Isaías. O livro de Daniel, por sua vez, foi declarado ter sido escrito no tempo dos Macabeus, e o de Eclesias­tes ainda mais tarde. Poucos livros do Velho Testamento escaparam a êsse processo de disse­ cação escolástica. A comparação entre duas ou três obras críticas de um dado livro do Velho Testamento deixa clara a arbitrariedade do que foi feito. Ver-se-á que todos os autores dêsses livros declaram viciadas partes do texto, e o emen­dam e purificam de acôrdo com suas idéias, mas sem concordar uns com outros quanto a que partes foram viciadas ou interpoladas posteriormente. Passagens que um escolástico declara te­ rem sido intercaladas pelos editores, outro acei­ ta como parte do texto original, e onde quer que escolásticos emendem o mesmo texto, chegam a diferentes conclusões. O resultado é confusão e extravio da parte do leitor que pensa ter de aceitar o veredito dos escolásticos por causa de sua cultura educacional e posição escolástica no mundo do alto saber. Em vez de duvidar da va­ lidade desta espécie de atividade escolástica, sen­ te sua fé abalada na viabilidade do texto bíblico, pondo em dúvida o mérito de alguém confiar em alguma parte do Velho Testamento.

Os escolásticos do Novo Testamento não desejam ser deixados à retaguarda de seus colegas do Velho Testamento, e embora tenham entrado mais tarde para o redil do criticismo bíblico, não trabalharam com menor zêlo nem determina­ção. Pondo de lado todo ponto de vista tradicional sôbre a autoria apostólica dos livros do Novo Testamento, puseram-se em campo à pro­ cura dos autores reais. As mais altas luzes desta escola encontram-se nas pessoas de Ernest Renan e D. Friedrich Strauss, os quais consideraram a história da vida de Cristo um romance. Mesmo a existência histórica de Cristo foi posta em dúvida por alguns. Os únicos livros do Novo Tes­ tamento que conservaram sua tradicional autoria foram as epístolas de S. Paulo. Todos os outros livros. evangelhos, epístolas e o Apocalipse foram declarados apócrifos, escritos que navegavam sob bandeiras falsas.

Esta foi a condição que prevaleceu na maloria das universidades protestantes em 1840. Por êsse tempo Konstantin Tischendorf, um jovem escolastico conservador tornou-se professor na Universidade de Leipzig. Durante os seus anos de preparo ele sentiu que a maior necessidade no campo do estudo do Novo Testamento era de um texto com base em manuscritos mais velhos que o Textus Receptus que estivera em uso desde o tempo da reforma, mas que fôra baseado em manuscritos recentes e inexatos. Ele considerou tarefa de sua vida descobrir os mais antigos manuscritos ainda existentes do Novo Testamento e publicá-los, sentindo que desta maneira poderia ser mostrado que o texto da Bíblia tinha sido transmitido sem maiores alterações desde os tempos de Cristo e dos apóstolos. Tischendorf como estudioso do Novo Testamento pôs em ação êste plano e fêz então mais pelo texto do Novo Testamento durante sua vida do que qualquer homem havia feito desde o tempo dos apóstolos. Quando começou sua obra, apenas um manuscrito do Novo Testamento do quinto século era conhecido – o Códice Alexandrino. Todos os outros eram mais recentes. Havia, pois, um espaço de mais de trezentos anos entre a morte do último apóstolo e êste mais antigo manuscrito do Novo Testamento. Tischendorf desciava reduzir por todos os meios êste hiato, e procurou copiar o quase ilegível Códice Efraimita de Paris. Fez o que ninguém fora capaz de fazer antes. Trabalhou durante dois anos diligente e pacientemente neste manuscrito, e sem poupar a vista que durante êsse período ficou sériamente debilitada, acoplou e publicou o texto, que era da idade aproximada do Códice Alexandrino. Sendo que o vaticano não estava por êsse tempo disposto a libertar seu precioso manuscrito bíblico, o chamando Godice do Vaticange Tischendorf foi ao oriente próximo em busca fêz várias viagens através do oriente, examinando bibliotecas de mosteiros e de igrejas em busca de antigüidades bíblicas. É bem conhecida e não necessita ser repetida a história de como ele salvou o Códice Sinaltico de uma cesta de papeis velhos que estavam para ser queimados como livros velhos sem valor, no mosteiro de Santa Catarina, no Monte Sinai. Fez êle três viagens a êsse local entre os anos de 1844 e 1859, antes que pudesse levar para a Europa Esse famoso manuscrito.

Tischendorf publicou mais de uma centena de livros durante sua vida, sendo muitos dêles pu­blicações de textos, tendo tido a satisfação de ver sua obra e a de estudiosos de igual fé alcança­ rem êxito em convencer a critica teológica de seu tempo de que o texto do Novo Testamento merecia mais confiança do que a que êles esta­vam dispostos a manifestar. Quando, em 1874, êle morreu privado da vista, a autoria apostóli­ca de apenas três livros do Novo Testamento era sèriarnente posta ainda em dúvida. Todos os outros livros eram geralmente aceitos pelos estudantes da Bíblia, com exceção de alguns contumazes.

Pela obra de Tischendor o espaço entre os apóstolos e os primeiros manuscritos fôra reduzido a pouco mais de duzentos anos. Veio então a época em que o Egito proveu centenas e milhares de papiros gregos, entre os quais se encontravam muitos remanescentes dos dos primeiros manuscritos bíblicos, alguns do terceiro século. Eles nos proveram com abundância de material linguístico que nos tem ajudado a compreender melhor que antes o texto grego do Novo Testamento.

O maior descobrimento, entretanto, com referência ao Novo Testamento, foi feito em 1931, quando o chamado papiro Chester Beathy fol encontrado no Egito, contendo partes dos quatro evangelhos e Atos, dez epistolas de S. Paulo quase completas e o Apocalipse. Foram escritos no distante terceiro século, e forneceram um texto do Novo Testamento cem anos mais próximo do original do que o que se possuía antes.

A lacuna entre os originais e êsses manuscritos estava reduzida a pouco mais de cem anos, e fomos postos muito perto dos livros que haviam saído das mãos dos apóstolos.Eles apenas confirmavam o que conservadores haviam crido todo o tempo, isto é, que nenhuma mudança de importância havia sido feita no texto bíblico, e que as inúmeras variações encontradas entre Os diferentes escritores se prendiam a simples pormenores de prosódia e gramática, e uns poucos enganos tão comuns no tempo em que os livros tinham de ser copiados a mão durante séculos.

Um dos livros que não tinham sido aceitos ainda era o evangelho segundo S. João. A maioria dos estudiosos do Novo Testainento estava inclinada a atribuir êste evangelho a alguém que vivera na metade do segundo século, mas não ao apóstolo João. A primeira evidência a sacudir esta errada suposição veio à luz quando um fragmento de um evangelho desconhecido, escrito na primeira metade do segundo século, mostrou conter citações do quarto evangelho.

Esse descobrimento provou que o evangelho segundo S. João fôra conhecido no Egito durante a primeira metade do segundo século. Quando êste fragmento foi publicado em 1935, os estudiosos sentiram que tinham que revisar sua opinião referente ao evangelho segundo S. João.

Apenas poucas semanas mais tarde outro achado ainda mais sensacional forneccu a prova de que o evangelho segundo S. João fôra escrito na era apostólica. Um fragmento de papiro que continha alguns versos de S. João 18, foi descoberto na livraria de John Rylands, em Manchester, Inglaterra, da qual era propriedade havia vários anos, importância dêste pequeno fragmento consiste na sua data. Os papirologistas concordam em que essa falha do evangelho segundo S. João tenha sido escrita no Egito, onde foi encontrada, no início do segundo século, sendo, por conseguinte. o mais antigo manuscrito do Novo Testamento existente. Se o evangelho segundo S. João era já conhecido e copiado no Egito, pouco depois do início do segundo século, deve ter estado em circulação por algum tempo. Para fazer o trajeto da Ásia menor onde, segundo antiga tradição, foi escrito, ao país do Nilo, deve ter levado algum tempo.

E razoável, portanto, concluir que o evangelho de João foi escrito antes do fim do primeiro século, portanto na era apostólica.

A partir dêsse tempo certo número de famosos escolásticos como Deissmann, Kenyon e Goodspeed declararam-se a favor de uma data apostólica para o quarto evangelho.

Sem dúvida providencial é que êsse antiquíssimo documento de um livro do Novo Testamento de que estamos de posse agora, tempo nos venha de um livro da Bíblia controverso e não de um que tenha sido aceito pelo mundo estudioso.Se contivesse fragmento da carta aos aos Romanos, seu valor teria sido apenas sentimental, e provado ficaria tão somente o que cada um tinha por as• sentado, uma vez que não havia controvérsia, quanto a autoria da Epístola aos Romanos. Só há um descobrimento que se poderia igualar ao achado do fragmento e isto do evangelho segundo S. João, seria um antigo manuscrito que contém a segunda epístola de S. Pedro, ou porções dela, uma vez que sua autoria apostólica é ainda muito posta em dúvida pelos estudiosos do Novo Testamento.

Faz cinco anos o manuscrito mais velho que contem partes do Velho Testamento não excedia de mil anos, o que deixava um espaço de quase mil e quinhentos anos dos originals. Estudiosos do Velho Testamento, por longo tempo haviam-se resignado a jamais poderem ser tão afortunados como seus colegas do Novo Testamento.

Invejavam-nos por sua sorte de possuírem manuscritos tão próximos do original, mas sabiam que não poderiam esperar descobrimentos similares, uma vez que os descobrimentos que haviam fornecido tanta prova Dara a exatidão do texto do Novo Testamento haviam falhado completamente no que tange ao Velho.

Argumentavam os críticos que muita coisa acontecera ao texto do Velho Testamento durante os muitos séculos entre o tempo em que os livros originais foram escritos e o período de que data nosso mais velho manuscrito, isto é, um intervalo de 1.400-2.500 anos. dependendo do livro a que se refira. Os críticos escolásticos emendaram o texto, portanto, para restaurá-lo de acórdo com suas opiniões. enquanto os conservadores teólogos sustentavam que Deus havia preservado até ao presente o texto incontaminado. Os de um lado construíam seus argurnentos sabre a razão: os do outro, sobre a fe.

Nenhum tinha provas cientificas para suas opiniões. Um grande descobrimento feito durante o ano 1947, mudou completamente esta situação, descobrimento. Esse que o prof. Albright assevera ser o maior de todos os tempos, ocorreu da seguinte maneira:

Goetherds, pastoreando seus rebanhos nas montanhas escarpadas da Judéia, próximo à costa noroeste do mar morto, notou uma cavidade nova no lado oposto da montanha, e deduziu, com segurança. que uma das muitas cavernas escondidas fôra aberta pelos freqüentes terremotos comuns naquela região. Atirou para dentro da caverna uma pedra, e ouviu son de cerâmica partida, pelo que fugiu temeroso. Mais tarde, recobrando animo voltou para examinar a contente de caverna.

Encontrou alguns vasos bem preservados e certo número de Dergaminhos enrolados em linho. Levou os rolos para Belém e mostrou-os a seu sacerdote maometano que, pensando tratar-se de manuscritos siríacos, aconselhou-o a vendê-los ao mosteiro sírio em Jerusalém. Dessa maneira, quatro dos manuscritos foram ter às mãos do mosteiro metropolitano de São Marcos. Os demais, uns quatro ou cinco, foram comprados pelo prof. E. L. Sukenik, da universidade hebraica.

Vários estudiosos que viram esses manuscritos no mosteiro sírio não creram em sua autenticidade e declararam-nos falsos, até que foram mostrados ao Dr. John Trever, diretor interino das Escolas Americanas de pesquisas orientais, em Jerusalém, em fevereiro de 1948.

Trever, vendo os manuscritos, ficou impressionado com sua aparente antigüidade, e, quando os comparou com o papiro Nash, um documento hebraico do primeiro ou segundo século, o qual continha o decálogo, creu em sua autenticidade.

Fotografou-os todos imediatamente, dado o perigo de sua destruição, representado pela batalha de Jerusalém, então em curso, e persuadiu os sírios a porem-nos em lugar seguro, fora do país. Antes de apresentar à imprensa o descobrimento.

Trever enviou fotografias ao prof. Albright, de Baltimore, uma das maiores autoridades em textos semíticos antigos. Eu era por essa ocasião aluno de Albright, jamais esquecerei o excitamento havido quando ele confidencialmente nos mostrou as fotos, em março de 1948. Seu ôlho treinado reconhecera imediatamente que os manuscritos eram genuinos, juizo êsse que, na ocasião,se evidenciou ser correto, embora alguns estudiosos obstinados ainda não estejam convencidos de sua autenticidade.

Bibliografia

  1. A’bright. The archeology of Palestine and the Bible (38, Edição; Nova York, 1935). Pag. 227.
  2. Hernann Gunkel, “Estherhuch, Die Religion in Geachichte und Gegenwart, Val. II, col. 381
  3. Rudolf Kittel. Geachichte der Volkes Tarael (Stutt. gart. 1929). Vol. TIT, págs. 518 e 519. B. EbelinK, Awa dem Leben der Südischen Eculaten in Babylon, (Berlin, 1914.).
  4. Ver o artigo do Signaturen: “Important Archaeological Discoveries”. The Ministry, 21 (Nov, 1943), N°. 11, pág. 8.
  5. H. V. Hilbrecht and d. S. Clay. Buxinens Documental Jureshu Sone of Nipur, The Babylon Expedition of the University of Pennsylvânia, Cuneifom Teste, Vol. 1X (Philadelphia. 1898), págs. 47-71.

6. Clay Busineas Documenta of Muraahu Sone af Niper. University of Pennaylvônio Publications of the Babylonian Section, Col. 11, N°. 1, (Philadelphia, 1912). págs. 9-44

7. Declarações feitas por Haley (1830), Pusey (1868). Beathes (1880). e Goode (1891) para confirnar que os acontecimentos descritos em Esdras 7 são datados de 457 A. C.. Não citados no Source Book
for Bible Students (Washington, 1932), págs. 39. Pag, 554•566.

8. George Rawlinson, Erra (Palmil Commentury). pág. 101; D. W. Batten, “Eara” in Hastings’ Ditionary of the Bible (Novn York. 1908)- vol. 1. pág. 820; Julian Morrenstern, book review of Parker Dubbersteine’& Babylonian Chronology (Chienk, 1942). Journal of Near Enetern Studies, (1913), pag. 130: A. T. Olmstead, History of the Pernian Empire (Chicago, 1948). pag. 306.

9. A. Cowker, Aramair Papyri of the Fifth Century B. C. (Oxford, 1923), XXXII e págs. 319.

10. Os últimos patudos das datas foram feitos por M. Sprengling, “Chronological Votes Form the Aramaic Paurri ” Americon Journal of Semitir Languages and Literatures. 27 (Abril de 1911). págs. 233-966: Richard A. Parker. “Persian and Egyptian biology,” ibid., 58 (Julho de 1911), pag. 285 e 101.

11. Uma vez que os papiros últimamente descobertos min foram publicadoR e o autor tem de suas datas co mhecimento apenas confidencial, nada mais além do que é dito no testo pode ser revelado arères desses docminentos extremamente importantes. Um artigo n ser publicado. intitulado “The Fifth Century Jewish “alender nt Flephantine” escrito pelo signatário D. II. Wood, aparecerá no Journal of Near Eastera Ntadiva. Uma pormenorizada apresentação da possível evidência da afirmação do texto acima será então feita.

12. A mais recente tradução dos papiros que mencionam Sambala como governador de Samaria foi feita por II. l.. Ginsberg. Ancient Near Eustern Texts, págs. 141 .199

18. Hugo Gresmann, ” Die Amonitischen Tobiaden. Sitzunusberihte der Prenssischen Akarlemie der Wissenschaften (Berlin, 1921). págs. 663-671.

11. Ous W. Van Beek, “Recosering the Ancient Civilization of Arabia, The Biblical Archeologial, 15 (1952), pág. 6