Através do santuário, Deus procurou comunicar Seu amor e graça à humanidade. As lições devocionais que esta autora descobriu nas instruções de Deus a Moisés, podem ajudá-lo a compreender o evangelho de acordo com o santuário.

Nenhum assunto na Bíblia é de maior significado religioso e psicológico para nós do que o do santuário; não obstante, nenhum é menos conhecido ou compreendido pela média dos cristãos, nem menos comentado e explicado no presente pelo clero. Aqueles que pensam que apenas o Novo Testamento é vital para a doutrina cristã, relegaram tanto o tabernáculo do deserto como o Templo de Jerusalém (com todas as coisas, “judaicas”) ao limbo das idéias do Antigo Testamento que têm pouca relevância. Todavia, não é exagero dizer que nenhum tema bíblico projeta mais luz sobre os assuntos do Deus-figurado, sobre o inconsciente em geral, sobre toda a estrutura mental e espiritual do homem, e sobre seu funcionamento presente e destino final do que o do santuário.

Uma indicação da importância do santuário, é o espaço que lhe é dedicado nas Escrituras. A descrição do santuário do tabernáculo portátil e seus serviços ocupa grande parte do Pentateuco. Posteriormente, muitos capítulos são dedicados à construção do Templo de Salomão e da inauguração de seus serviços, e Esdras descreve a reconstrução do Templo após o cativeiro babilônico. Alguns anos antes do retorno dos judeus de Babilônia, o profeta Ezequiel recebeu uma visão do grande templo, que jamais se tornou uma construção literal; uma visão a respeito de cuja interpretação ainda existe muito desacordo. A Epístola aos Hebreus chama a atenção dos leitores cristãos de maneira muito poderosa para o assunto dos aspectos básicos do santuário. E, finalmente, o livro do Apocalipse refere-se freqüentemente a um templo no Céu, que é de vital importância para todos os que estiverem vivos para o desenrolar do drama da redenção em sua fase final.

LUGAR DA HABITAÇÃO DE DEUS

Ao construir o tabernáculo, Moisés foi instruído não só a ordenar que as pessoas trouxessem uma oferta, mas a trazê-la voluntariamente. Isto envolveria uma total, pronta e alegre aceitação da vontade de Deus. Deviam trazer generosas porções de todos os melhores tesouros a eles entregues pelos egípcios, por ocasião de sua partida, entre os quais ouro, prata, custosos materiais tingidos em belas cores, peles de animais, azeite, especiarias aromáticas e pedras preciosas; e eles próprios deviam fazer o santuário, “para que Eu possa habitar no meio deles” (ver Êxodo 25:1-8). Constituía o mais ardente desejo de todos os verdadeiros adoradores de Yahweh que Ele habitasse entre eles; não obstante, conheciam muito bem, pela experiência do Sinai,’ que sua carne mortal e pecaminosa, e sua mente finita, não podiam suportar Sua presença imediata. Isto é lembrado quarenta anos mais tarde por Moisés (Deut. 18:15-19), nas palavras: ”O Senhor teu Deus te suscitará um profeta do meio de ti, de teus irmãos, semelhante a mim: a Ele ouvirás; segundo tudo o que pediste ao Senhor teu Deus em Horebe, quando reunido o povo; Não ouvirei mais a voz do Senhor meu Deus, nem mais verei este grande fogo, para que não morra. Então o Senhor me disse: Falaram bem aquilo que disseram. Suscitar-lhes-ei um profeta do meio de seus irmãos, semelhante a ti, em cuja boca porei as Minhas palavras, e Ele lhes falará tudo o que Eu lhes ordenar. De todo aquele que não ouvir as Minhas palavras, que ele fala em Meu nome, disso lhe pedirei contas.”

Moisés e os israelitas entenderam corretamente estas palavras ao se referirem a um Profeta particularmente notável; na verdade, podemos estar certos de que Moisés cria que aquele seria o próprio Messias, o Redentor prometido, o próprio Filho de Deus, que Se ocultaria na carne humana, a fim de habitar entre Seu povo, sem pôr em perigo suas vidas pela presença de Sua não velada divindade. É evidente, portanto, de acordo com este texto, quando considerado em conexão com Êxodo 25:8, que o tabernáculo se destinava a ser uma representação simbólica da natureza do Messias, que apontava para Sua manifestação atual sobre a Terra como o Deus-homem para sempre — o Salvador. Com isso concorda a maioria dos comentaristas. O apóstolo João resume todo o assunto nestas simples, mas esclarecedoras palavras: “O Verbo Se fez carne, e habitou (gr. residiu) entre nós” (S. João 1:14.)

Entre os muitos escritores que escrevem sobre a questão do santuário, aprecio em especial Alfred Edersheim1 e Frederick Whitfield.2 Eles concordam na maioria dos pontos essenciais e suplementam um ao outro de maneira notável. É quase supérfluo acrescentar que suas obras também contêm muita coisa que não posso aceitar à luz do pensamento e da pesquisa mais recentes.

A ESTRUTURA

O tabernáculo do deserto era uma estrutura simples de trinta cúbitos de comprimento por dez de largura (aproximadamente 16 metros por cinco, se usado o cúbito egípcio de 20,6 polegadas), e dez cúbitos de altura. Foi feito de madeira de setim, geralmente conhecida como acácia — uma madeira retorcida e nodosa de consistência bastante dura. As tábuas verticais, colocadas lado a lado, repousavam em suportes de prata maciça, e eram cobertas com ouro. Elas formavam as paredes norte, sul e oeste do santuário. A extremidade oriental servia como entrada, e era coberta apenas por um véu. O teto era formado por um véu de ‘‘linho retorcido, estofo azul, púrpura e carmesim: com querubins as farás de obra de artista” (Êxodo 26:1). Esse véu consistia de dez cortinas, de vinte e oito cúbitos de comprimento e quatro de largura, ligadas entre si por dois jogos de cinco; eram estendidas sobre toda a estrutura, menos na frente, cobrindo a extremidade ocidental e os dois lados, mas não completamente até o chão. Evidentemente, isto visava preservá-lo de ser danificado pelas intempéries. Sobre o tabernáculo foram colocadas três outras coberturas, ou “tendas”, de trinta cúbitos de comprimento, portanto, mais compridas do que a cortina de linho. A primeira delas era de pêlo de cabra, a segunda de pele de carneiro pintada de vermelho e a terceira de texugo ou pele de foca, que assegurava durável proteção contra os elementos. No vão da porta da tenda havia pendentes dos mesmos materiais, como o véu interior, mas sem o querubim (versos 36 e 37). Eles eram sustentados por cinco colunas de madeira de setim cobertas de ouro e presas com colchetes de puro; mas essas colunas repousavam em encaixes de bronze.

É em conexão com a descrição da junção das cortinas de linho fino torcido, que cobriam todo o santuário e as mantinha presas umas às outras, que encontramos a importante declaração: “E o tabernáculo passará a ser um todo” (verso 6). Moisés e seu povo foram levados dessa maneira a entender que aquela de reuniões era uma unidade distinta, não um aglomerado de coisas sem nexo. Estas eram todas tão importantes como as primeiras especificações dadas pormenorizadamente pelo Senhor a Moisés, referentes aos móveis que deveriam ser colocados dentro do tabernáculo, começando com a arca do testemunho. Enquanto a outra estrutura não fosse erigida, estas coisas se conservariam unidas umas às outras como um todo vivido.

Dentro do santuário, havia dois compartimentos: o primeiro, chamado lugar santo, tinha vinte cúbitos de comprimento, disputando assim dois terços do total do comprimento; o segundo, denominado Lugar Santíssimo, ou o mais Santo de Todos, tinha dez cúbitos de comprimento, e formava, portanto, um quadrado perfeito. Os dois compartimentos estavam separados um do outro por um véu mais primoroso, semelhante ao que cobria o santuário inteiro, ‘‘de estofo azul, púrpura e carmesim, e de linho fino retorcido: com querubins o farás de obra de artista…. O véu vos fará separação entre o Santo Lugar e o Santo dos Santos” (versos 31 e 33).

No Lugar Santo, junto à cortina da direita, que ficava do lado norte, estava a mesa dos pães da proposição; essa mesa também era feita de madeira de setim coberta com ouro. Fronteiriço a ela, do lado sul, ficavam os castiçais de ouro ou, mais propriamente, a lâmpada de sete braços, feita de ouro puro. No centro, bem em frente do dividido véu, estava o dourado altar de incenso, que, como a mesa à direita, era feita de madeira recoberta de ouro. Esse altar era também um quadrado perfeito, medindo um cúbito em cada sentido, e dois cúbitos de altura, (cap. 30:1 e 2). O santuário interior era ocupado pelo maior de todos os tesouros, a arca do testemunho, uma caixa retangular de madeira de setim coberta por dentro e por fora com ouro, medindo dois cúbitos e meio de comprimento por um e meio de largura e altura. A tampa dessa caixa formava o que era chamado de o trono da graça, feito de ouro puro e adaptado exatamente ao topo da caixa. Das duas extremidades desse trono de misericórdia saíam dois querubins, feitos do mesmo ouro: ‘‘De uma só peça com o propiciatório fareis os querubins…. Os querubins estenderão as suas asas por cima, cobrindo com elas o propiciatório: estarão eles de faces voltadas uma para a outra, olhando para o propiciatório…. Porás o propiciatório em cima da arca; e dentro dela porás o Testemunho, que Eu te darei. Ali virei a ti, e, de cima do propiciatório, do meio dos dois querubins que estão sobre a arca do testemunho, falarei contigo acerca de tudo o que Eu te ordenar para os filhos de Israel” (cap. 25:19-22).

O salmista nos diz: “No Seu templo tudo diz: Glória” (Sal. 29:9); a tradução da margem diz: “Cada partícula dele proclama Sua glória.” No Salmo 77:13 está escrito: ‘‘O Teu caminho, ó Deus, está no santuário”. O que, então, é a glória de Deus, e o que significa Seu caminho? Sua glória principal é a perfeição do Seu caráter, de Sua verdadeira natureza, pois ele é luz e amor, beleza e tudo o mais que a alma do homem possa desejar; a luz inacessível na qual Ele habita não é senão a visível emanação de Seu ser. Foi, portanto, por meio da fulgurante luz do Shekinah que Ele tornou conhecida Sua presença sobre o propiciatório; isto foi mencionado como sendo a ‘‘glória do Senhor” que encheu o tabernáculo assim que este foi acabado (Êxo. 40:34). Todas as coisas, não obstante, de acordo com Davi, proclamam Sua glória, de maneira que somos corroborados ao concordar com todos aqueles comentaristas que vêem no tabernáculo uma estrutura espacial representante da natureza do Cristo.

Até aqui temos tratado apenas dos aspectos estáticos — a estrutura exterior e os móveis — e agora pararemos pelo caminho para examinar brevemente o que estes representavam.

CRISTO NO SANTUÁRIO

Como Deus-homem, a natureza de Cristo era dual, unindo a humana e a divina. A madeira nodosa do deserto representa de maneira apropriada essa natureza humana que nosso Salvador veio partilhar conosco, e sem a qual não teria ele sido o perfeito ‘‘Autor de (nossa) salvação” nem o Sumo Sacerdote compadecido ‘‘de nossas fraquezas” (Heb. 2:10; 4:15). O ouro, por outro lado, é o principal símbolo bíblico da natureza divina. Em Apocalipse 21:18, é-nos dito que a Cidade Santa, a Nova Jerusalém, é de “ouro puro, semelhante a vidro límpido’’, pois ali todos os habitantes ter-se-ão tornado participantes da natureza divina (II Ped. 1:14). Jó também conhecia esta verdade, pois disse: “Se Ele me provasse, sairia eu como o ouro” (Jó 23:10). E Malaquias acrescenta seu testemunho de que o mensageiro do concerto “purificará os filhos de Levi, e os refinará como ouro e como prata; e eles trarão ao Senhor justas ofertas” (Mal. 3:1-3). Por meio do cuidadoso exame do material de que era feito cada artigo, podemos aprender muitas lições de grande significado. Encontramos a madeira com a cobertura de ouro sendo usada pela estrutura vertical das paredes, bem como pela mesa dos paẽs da proposição, o altar de incenso e a arca do testemunho. Mas o propiciatório com seus querubins, bem como os sete castiçais, eram de ouro puro. Poderia isto indicar que tanto na natureza física de Cristo (a estrutura externa) como nas potencialidades mentais e espirituais, o elemento divino não só estava ligado com o humano, mas possuía domínio sobre este? Isto não quer dizer que Cristo tenha uma vantagem parcial sobre nós. “Eu nada posso fazer de Mim mesmo”, disse ele (S. João 5:30). O poder divino pelo qual Ele vivia, falava e operava era o mesmo que Ele tornou acessível a todos os Seus seguidores — o poder do Pai que habita no interior: “O Pai que permanece em Mim, faz as Suas obras” (cap. 14:10).

O “testemunho” que foi colocado dentro da arca eram as duas tábuas de pedra nas quais estavam escritos os Dez Mandamentos, “escritos com o dedo de Deus” (Êxo. 31:18; 32:16; 34:1). Essa lei é a síntese da vontade de Deus, a norma de Sua justiça e retidão; ela é assim entesourada no mais recôndito santuário da natureza de Cristo, constituindo um dos aspectos do Pai que habita no íntimo. Acima dela está o propiciatório de ouro puro, representando aquele outro aspecto do caráter do Pai — Seu amor e graça perdoadores, que O levaram a dar Seu Filho amado para salvar o pecador arrependido. Realmente vemos aqui que “encontraram-se a graça e a verdade, a justiça e a paz se beijaram” (Sal. 85:10). Foi pela perfeita obediência de Cristo aos mandamentos de Seu Pai, Sua completa submissão mesmo na morte, que Ele não só obteve a graça para o Seu rebanho, como também obteve a plenitude da luz do Pai, que habita no interior, a fim de que Ele mesmo Se revelasse como “a luz do mundo” (S. João 8:12).

A mesa dos pães da proposição sobre a qual eram colocados cada sábado doze pães frescos — um para cada tribo de Israel — apontava para o Redentor vindouro como o pão espiritual de Seu povo; um ensinamento que Cristo afirmou claramente com Suas próprias palavras: “Porque o Pão de Deus é o que desce do Céu e dá vida ao mundo…. Eu sou o Pão da vida; o que vem a Mim, jamais terá fome; e o que crê em Mim, jamais terá sede” (cap. 6:33 e 35).

O castiçal representa claramente a Cristo como a luz do mundo, ardendo com intensidade mediante o azeite de oliva, que é o invariável símbolo bíblico do Espírito Santo. Em S. João 8:12 encontramos o registro da reivindicação de Cristo: “Eu sou a luz do mundo; quem Me segue não andará nas trevas, pelo contrário terá a luz da vida”. No santuário, o sumo sacerdote e seus assistentes, os sacerdotes, eram untados com azeite. Lucas menciona que Cristo aplicou a si mesmo a profecia de Isaías 61:1: “O Espírito do Senhor Deus está sobre Mim, porque o Senhor Me ungiu, para pregar boas-novas aos quebrantados” (S. Luc. 4:18); e Pedro torna ainda mais claro o simbolismo nestas palavras a Cornélio: “Como Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e poder” (Atos 10:38). A razão para o castiçal ser de ouro puro virá mais tarde.

O dourado altar de incenso era o lugar de oração, de comunhão com Aquele que habitava acima do propiciatório. Apocalipse 5:8 diz-nos que as “taças de ouro cheias de incenso” são “as orações dos santos”, e Davi orou: “Suba à Tua presença a minha oração, como incenso, e seja o erguer de minhas mãos como oferenda vespertina” (Sal. 141:2). Moisés foi instruído a pôr esse altar diante do véu, isto é, no primeiro compartimento, bem no centro do espaço diretamente em frente do véu; mas o hebraico diz que havia o “Santíssimo” que “tinha o incenso dourado” (Heb. 9:3 e 4) que Paulo chama de altar de incenso. Há uma bela lição nesta aparente contradição, pois o propósito desse altar era a queima do incenso com fogo sagrado, retirado do altar do sacrifício no pátio, a fim de que a fumaça fragrante do incenso subisse e penetrasse tanto através do véu, como sobre o véu que separava no interior a real presença de Deus. Assim o altar era o instrumento, o meio que levava a um fim, e ficava diante do véu; o propósito era a coisa produzida, a expressão da alma em comunhão com Deus, e esta alcançava o interior do véu. O sumo sacerdote terreno gastava grande parte do seu tempo, se ele vivesse à altura desse nome, intercedendo por si mesmo e por seu povo nesse altar, mas lhe era ordenado queimar incenso sobre ele principalmente à hora do sacrifício da manhã e da tarde, logo depois de vestir-se e acender as lâmpadas do castiçal de ouro. Deveria ser “incenso contínuo perante o Senhor pelas vossas gerações’’ (Êxo. 30:7 e 8). Da palavra contínuo podemos concluir que ele queimava continuamente, desde quando era aceso até a próxima ocasião. Assim a congregação do lado de fora deveria unir-se no culto da manhã e da tarde em ocasiões fixas, mas aqueles que tinham discernimento espiritual se uniam em espírito com o sumo sacerdote na oração, quando iam para suas atividades diárias — como nos recomenda Paulo a “orar sem cessar’’ (I Tess. 5:17). Logo o dever de preparar as lâmpadas e queimar o incenso seria partilhado com os sacerdotes comuns. Estes se tornaram depois muito numerosos, e foram divididos em vinte e quatro ordens ou turnos (I Crôn. 24); dessa forma, lemos no primeiro capítulo de Lucas, relacionado com Zacarias, o pai de João Batista, que “exercendo ele diante de Deus o sacerdócio na ordem do seu turno, coube-lhe por sorte… entrar no templo do Senhor para queimar o incenso, e durante esse tempo, toda a multidão do povo permanecia da parte de fora, orando’’ (S. Luc. 1:8-10).

O SUMO SACERDOTE

A menção do sumo sacerdote, leva-nos ao elemento dinâmico dentro do tabernáculo e à discussão do caminho de Deus. Todo o tabernáculo desperta para a vida apenas com a inauguração dos serviços sacrificais, todos eles realizados pelo sacerdócio, sob a supervisão do sumo sacerdote. Todo sacrifício era uma prefiguração da entrega da vida do Salvador em lugar da vida do pecador, e um memorial da antiga promessa de um Redentor. Assim, um misericordioso Criador, prevendo que Seu povo cairia em pecado, por causa da fraqueza de sua natureza pecaminosa, providenciou-lhe, imediatamente após ter proclamado Sua lei no Sinai, uma minuciosa e completa lição objetiva por meio da qual pudesse ele aprender todos os aspectos essenciais do evangelho. Este era o caminho de Deus corporificado em toda a vida, morte e ressurreição de Seu encarnado Filho em um grau tal que Cristo poderia dizer com acerto: “Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por Mim’’ (S. João 14:6).

A morte sacrifical de Cristo, embora fosse o clímax de Sua vida, era a pedra fundamental, precisamente o passo inicial no caminho da redenção, o preço total e completo da expiação do pecado. O altar do sacrifício, aonde os sacerdotes levavam todos os sacrifícios animais que tipificavam o oferecimento da vida de Cristo, foi curiosamente colocado do lado de fora do tabernáculo, no pátio interno que o rodeava. O princípio aqui apresentado é que o adorador não é nem digno nem habilitado a entrar na presença de Deus, a menos que seja primeiro purificado ao aceitar o sacrifício vicário do Salvador, por meio do arrependimento, confissão e fé. Antes da promulgação da lei no Monte Sinai, o Senhor havia convidado toda a nação de Israel a uma relação íntima com Ele, um concerto ou acordo mediante o qual eles seriam Sua “propriedade particular dentre todos os povos’’ e “reino de sacerdotes e nação santa’’ (Êxo. 19:5 e 6). Este é o mesmo relacionamento do cristão com a Igreja à qual Pedro escreve: “Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes dAquele que vos chamou das trevas para Sua maravilhosa luz’’ (I Ped. 2:9). E, portanto, claro que tanto os israelitas como os cristãos devem ver-se refletidos, quer na vida, quer nas atividades espirituais, na pessoa e no serviço dos sacerdotes, ao cooperarem com seu grande Sumo Sacerdote.

A queima do animal sacrifical representava a remoção da culpa e da penalidade do pecado, uma purificação da alma penitente que foi mais tarde representada na Igreja cristã pelo batismo, uma completa lavagem do pecado e morte para este. (Rom. 6:4). O altar ficava em linha reta entre a porta do pátio e a entrada para o tabernáculo. Um pouco mais perto do tabernáculo, na mesma direção, ficava a pia de bronze, um grande recipiente redondo cheio de água, ao qual os sacerdotes se dirigiam para lavar as mãos e os pés, após lidarem com os sacrifícios e antes de entrarem no tabernáculo sagrado. Isto era um símbolo claro da lavagem da contaminação dos pecados cometidos após a primeira grande purificação, e é a esse rito que Se refere, evidentemente, quando lavou os pés de Seus discípulos: “Quem já se banhou não necessita de lavar senão os pés; quanto ao mais está todo limpo.’’ (S. João 13:10). Mas enquanto os sacerdotes lavavam os próprios pés na pia de bronze, nosso Salvador tornou claro que Ele, e somente Ele, podia realmente lavar Seus seguidores do pecado cometido depois do batismo, pois assim como a limpeza física depende da água, também a limpeza espiritual só pode advir dAquele que é Ele mesmo a Água da Vida.

E. RANDALL BINNS, professora aposentada e escritora, residente na Inglaterra

Referências:

1. Alfred Edersheim, The Temple; Its Ministry and Services (Grand Rapids; William B. Eerdmans Pub. Co., 1954.

2. Frederick Whitfield, The Tabernacle, Priesthood and Offerings of Israel (Welwyn Carden City: James Nisbet and Co., 1884).