Que é justificação pela fé? É apenas perdão, ou requer retidão moral?

A salvação, ou redenção, é a preocupação central da Bíblia. A história bíblica mostra que toda a raça humana necessita da salvação, pois o pecado como centralização no eu e rebelião contra Deus é um fenômeno universal. O pecado prejudicou todo o relacionamento humano: com o Criador, com outras pessoas, com o ambiente e mesmo com a compreensão da posse de nós mesmos. O mundo se tornou destruidor de si mesmo.

A salvação completa deve proporcionar, por essa razão, não apenas o perdão divino dos pecados, mas também a restauração da imagem moral de Deus no crente arrependido e, como resultado, a redenção eterna da humanidade, que inclui nosso corpo e a dominação que Deus nos deu — o planeta Terra. O apóstolo Paulo referiu-se a essa salvação total em sua maravilhosa consideração escatológica de Romanos 8.

Correspondentes às necessidades do homem relacionadas com o passado, o presente e o futuro, há basicamente três aspectos da mensagem bíblica da salvação: justificação, santificação e glorificação. Todos compreendidos no inalterado e imutável evangelho.

Para compreendermos o significado da justificação, santificação e glorificação, e sua correlação dinâmica, precisamos ir às suas raízes nas Escrituras hebraicas. O Antigo Testamento é o alicerce do evangelho do Novo Testamento. Jesus e os escritores do Novo Testamento valeram-se freqüentemente do Antigo Testamento para demonstrar a continuidade de seu evangelho com revelações antecipadas de Deus a Israel (ver São Mat. 5:17-19; Rom. 4:1-8; I Ped. 1:15; Tiago 2:21-26; Heb. 8). Paulo declara que o Antigo Testamento como um todo sustenta e confirma seu evangelho apostólico da salvação: “Mas agora uma justiça de Deus, separada da lei, tornou-se conhecida, da qual testificam a Lei e os Profetas” (Rom. 3:21, NVI).

As Escrituras hebraicas precisavam anunciar que a justiça de Deus é um dom gratuito de Deus, oferecido a judeus e gentios na pessoa do Messias de Israel (ver Isa. 11:1-9). Os sacerdotes, profetas e reis funcionavam apenas como tipos divinamente apontados que prefiguravam a missão do prometido Redentor. Por fim, esse Messias julgaria todas as nações e restauraria na Terra uma sociedade justa que prosperaria em uma paz eterna (Sal. 2; 72; Isa. 9:7; Jer. 23:5 e 6). Era essencial à fé profética de Israel a expectativa de que o Messias vindouro fosse enviado por Deus primeiramente para sofrer de maneira vicária por “muitos” e entregar a vidq como sacrifício expiatório que envolvia uma culpa e punição estranhas (ver Isa. 53:6 e 10; cf. Lev. 6:1-7). Mediante Sua própria morte sacrifical, Deus reconciliaria consigo mesmo o mundo. Mais do que isto, expressava-se a esperança de que o justo Servo de Deus declarará muitos justos ao levar sobre Si mesmo as suas faltas (ver Isa. 53:11, Bíblia de Jerusalém). Assim “o bom prazer do Senhor prosperará na Sua mão” (Isa. 53:10).

O Novo Testamento anuncia o cumprimento dessa antiga esperança de Israel. O evangelho proclama que Jesus Cristo transcendeu a todas as ofertas de animais ao Se tornar ao mesmo tempo a Vítima sacrifical e o Sacerdote oficiante que agora medeia a justificação e a paz para todos os israelitas e gentios arrependidos (Atos 5:30 e 31; Heb. 7:25).

Israel como o povo redimido de Deus

Israel experimentou sua libertação e saída da opressão do Egito como uma salvação divina, rememorada como o feriado da nação, o tempo em que se tornou o povo do concerto, a comunidade adoradora de Deus (ver Êxo. 20:1). Moisés ensinou a Israel que a salvação do Êxodo serviria como a motivação duradoura para adorar a Deus e manifestar-Lhe gratidão e obediência: “Falou mais Moisés, juntamente com os sacerdotes levitas, a todo o Israel, dizendo: Escuta e ouve, ó Israel! neste dia vieste a ser por povo ao Senhor teu Deus. Portanto obedecerás à voz do Senhor teu Deus, e farás os Seus mandamentos e os Seus estatutos que hoje te ordeno” (Deut. 27:9 e 10).

Deus desejava que Sua divina santidade fosse refletida na sociedade de Israel. Na verdade, Deus conhecia a conduta justa de Noé, Daniel e Jó (Ezeq. 14:14 e 20; Gên. 6:5; Dan. 6:5 e 22; Jó 1:1 e 8). Muitos israelitas amavam ao Senhor de todo o seu coração (Deut. 6:5) e obedeciam a todos os Seus mandamentos. Sua sagrada lei foi-lhes gravada no coração: “Porque esta palavra está muito perto de ti, na tua boca, e no teu coração, para a fazeres” (Deut. 30:14). Um caráter justo era a condição para a entrada no santuário de Deus em Sião (ver Sal. 5; 15; 24). Mas quem decidia quem entre Israel pertencia aos justos ou aos pecadores?

A teologia da salvação do santuário de Israel

Os sacerdotes levitas eram comissionados a julgar se a vida de um adorador era ou não aceitável a Deus (Êxo 22:7-11; Núm. 5:11-15; Deut. 17:8-13; 21:5). Os sacerdotes deviam obstar os pecadores presunçosos (os “ímpios”) de entrarem no santuário (Sal. 5:4-6; 15; 24). Apenas os justos podiam entrar pelas “portas da justiça” (Sal. 118: 19-21). Assim, no santuário era determinado

quem devia pertencer aos justos e quem faria parte dos ímpios. Por meio de uma fórmula prescrita, o sacerdote oficiante declarava se um sacrifício apresentado por um pecador era ou não sem defeito e aceitável aos olhos de Deus. (Lev. 1:3; 22:18, 19, 21 e 23-25).

O julgamento feito pelo sacerdote, do animal sacrifical, identificava-se com o indivíduo que fazia o sacrifício, quando o adorador colocava a mão sobre a cabeça do animal (Lev. 1:4; 4:3 e 4,13-15). As Escrituras tornam clara a validade do julgamento sacerdotal: “Vossa oferta será contada (verb. hashab) para vós” (Núm. 18:27); “aquele homem será considerado (hashab) culpado de derramamento de sangue” (Lev. 17:4); “não será aceito. Não será creditado (hashab para aquele que o ofereceu” (Lev. 7:18). Deus imputou a justiça a Abraão com base na expressão de sua fé: “E Ele creditou (hashab) isto a ele como justiça” (Gên. 15:6). Os sacerdotes levitas, que serviam de intérpretes de Deus, mantiveram esta declaração de justiça imputada ao aceitarem seus sacrifícios e ministrarem o sangue da expiação; eles tranquilizavam os adoradores com a certeza do perdão divino (Lev. 17:11; 4:26, 31 e 35).

A justificação de um Israel arrependido

Zacarias, profeta do pós-exílio, pintou um quadro dramático da justificação da parte de Deus de um Israel culpado, que de novo buscou a Sua graça (Zac. 3:1-7). Um remanescente de Israel acabava de retornar a Jerusalém, procedente do exílio em Babilônia. Josué, o sumo sacerdote, apareceu diante de Deus e de Seus anjos, representando Israel. Embora Josué, que aparecera vestido de roupas sujas (cf. Isa. 64:6), estivesse sendo acusado por Satanás de transgressão da lei de Deus, Deus, não obstante, ordenou que lhe fossem trocadas as vestes sujas, explicando: “Eis que tenho feito com que passe de ti a tua iniquidade, e te vestirei de vestidos novos” (Zac. 3:4). A nova santidade de Israel é aqui descrita como uma justiça judicialmente imputada por Deus. O Senhor declarou assim justo este povo do novo êxodo.

Com o chamado divino para servir a Deus para sempre, esta justificação se seguia imediatamente: “Se andares nos Meus caminhos, e se observares as Minhas ordenanças, também tu julgarás a Minha casa, e também guardarás os Meus átrios, e te darei lugar entre os que estão aqui” (Zac. 3:7). A justificação divina está inseparavelmente ligada ao chamado de Deus para a santificação, que é ampliada pela glorificação. Só refletindo o caráter de Deus na vida religiosa e social, poderia Israel bendizer com eficiência a todas as nações (ver Zac. 8:13-17). Asafe escreveu uma impressionante descrição da maneira em que poderia o Israel de Deus alcançar a glória externa: “Guiar-me-ás com o Teu conselho, e depois me receberás em glória” (Sal. 73:24).

O caráter moral de Israel

O povo do antigo concerto recebia de Deus mais do que o perdão para seus pecados. Eles desfrutavam também de livramento do poder contaminador do pecado. Depois de confessar seu pecado, Davi orou: “Cria em mim, ó Deus, um coração puro, e renova em mim um espírito reto” (Sal. 51:10). Davi recebeu esta resposta do Senhor: “Instruir-te-ei, e ensinar-te-ei o caminho que deves seguir; guiar-te-ei com os Meus olhos” (Sal. 32:8). Em Salmo 19, Davi pede a Deus tanto o perdão como a graça protetora: “Quem pode entender os próprios erros? Expurga-me Tu dos que me são ocultos. Também da soberba guarda o Teu servo, para que se não assenhoreie de mim” (Sal. 19:12 e 13). Isto mostra que Deus esperava dos israelitas uma vida santa que fosse vitoriosa sobre o pecado (ver Sal. 119).

A liturgia do santuário de Israel tornou o Decálogo a pedra de toque da fé e do culto aceitável (Sal. 50).1 O Senhor não ficava satisfeito enquanto Sua santa lei não era plenamente restaurada no coração e na vida de Israel (Sal. 37:31; 40:8; Jer. 31:33). Com base no poder que os libertou do Egito, Deus ordenou a Israel: “Para que sejais santos, porque Eu sou santo” (Lev. 11:45). Ele deseja desenvolver um povo que reflita Sua santa imagem de justiça.

Os justos em Israel não eram em absoluto pessoas sem pecado, que já não necessitavam da graça perdoadora ou da expiação. Eram, antes, homens e mulheres que andavam com Deus e permaneciam dentro da relação de concerto com seu Redentor e seus irmãos de fé (Miq. 6:8). Quando eles caíam em pecado, arrependiam-se com sinceridade, confessando e restaurando o que podiam, e depois buscavam renovado poder vitorioso no santuário (Sal. 32:51; Prov. 24:16; Miq. 7:8, 9, 18 e 19).

Em suma, justos eram aqueles israelitas espirituais que experimentavam o poder salvador e santificador de Deus (ver Sal. 1; 19; 119).

A “perfeição” no Antigo Testamento

A ideia bíblica de perfeição pouco tem que ver com os conceitos especulativos das filosofias populares que definem perfeição, seja como a ética ideal das virtudes morais ou da razão humana, quer como estando em plena harmonia com a ordem natural. A palavra tamin, “perfeito” ou “perfeição”, ocorre mais de 130 vezes no Antigo Testamento, e se aplica tanto a Deus como ao Seu povo. Tamim é usada para descrever um relacionamento de concerto perfeito entre Deus e Seu povo escolhido.

A perfeição, portanto, não descreve nem a Deus nem à humanidade isolado um do outro. A verdade bíblica acerca da perfeição é, assim, perfeição em ação, sempre lidando com alguma situação histórica definida, na qual Deus cumpre Seu concerto com Seu povo.

No Antigo Testamento, Deus mesmo é a norma de perfeição, de justiça, de santidade, verdade e graça. Passagens que tratam diretamente com a perfeição divina, como Deuteronômio 32:4, II Samuel 22:31 e Salmo 19:7, aplicam tamin à dinâmica revelação de Deus de Si mesmo, que salva a Israel e o mantém salvo: “Sua obra é perfeita”, “Seu caminho é perfeito”, Seu Torah é perfeito. As frases paralelas nestes versos indicam que as ações de Deus são perfeitas porque cumprem Sua promessa de livramento: “Um Deus fiel que não erra” (Deut. 32:4, NVI); “Ele é um escudo para todos que nEle se refugiam” (II Sam. 22:31, NVI); “refrigera a alma” Sal. 19:7).

A perfeição de Deus refere-se a Seus atos salvadores a fim de estabelecer e manter relação com Seu povo do concerto. Sua per-feição significa Seu poder ou vontade não dividida para salvar Seu povo e conservá-lo salvo, a despeito da infidelidade deste (Oseias 11:1-7; Ezeq. 16).

O profeta Miqueias chama atos de Deus, tais como a condução de Israel para fora do Egito e a entrada a salvo na terra da promessa, a tsidqot Yahweh, a justiça do Senhor (Miq. 6:5), também traduzida como “os atos salvadores do Senhor” (RSV). Outros escritores do Antigo Testamento se referem a estes atos como “os triunfos” (Juízes 5:11, RSV) ou “feitos salvadores do Senhor” (I Sam. 12:6, RSV). Em resposta à justiça de Deus, Seu povo é chamado a manifestar perfeição humana em uma caminhada perfeita ou comunhão com o seu Criador. Foi as-sim que Noé foi chamado “homem justo, inculpável (tamin) entre as pessoas do seu tempo e andou com Deus” (Gên. 6:9). A Abraão, disse Deus: “Eu sou o Deus todo-poderoso; anda em Minha presença e sê perfeito (tamin) (Gên. 17:1). Jó é descrito como “perfeito e reto; temia a Deus e abstinha-se do mal” (Jó 1:1; cf. vs. 8, NVI). E o Sal-mo 119 pronuncia uma bênção sobre aquele “cujo caminho é reto, que anda na lei do Senhor!” (vs. 1, NVI).

Deus deu o sábado à humanidade a fim de que as pessoas jamais buscassem a dignidade ou a justiça em si mesmas, em lugar de na bênção da vida dadivosa do relacionamento com Deus e em Seu repouso divino. Assim, o sábado permanece como o emblema de união e continuidade entre o plano da criação de Deus e Seu plano de redenção. O antigo Testamento jamais descreve a perfeição humana como uma perfeição necessária como tal, mas como o relacionamento pleno com Deus, como o andar humildemente com Deus, no qual o indivíduo recebe diariamente o perdão e o poder protetor para a vida vitoriosa.

A salvação no Novo Testamento

No Novo Testamento, Cristo chamou de justificação a aceitação graciosa de Deus por um arrependido coletor de impostos: “Digo-vos que este desceu justificado para sua casa, e não aquele (o fariseu)” (S. Luc. 18:14). Assim Jesus introduziu o evangelho da salvação como uma mensagem de justificação gratuita de Deus aqui e agora para qualquer pecador arrependido. A mensagem central das parábolas de Cristo é a justificação divina — o processo pelo qual os pecadores são livrados da condenação divina e absolvidos no juízo celestial. As parábolas da ovelha perdida (S. Mat. 18:10-14), do filho pródigo (S. Luc. 15:11-32), do rico e Lázaro (S. Luc. 16:19-31), do credor incompassivo (S. Mat. 18:21-25), e das bodas e o vestido nupcial (S. Mat. 22:1-14) anunciam a maravilhosa mensagem de que Deus aceita e justifica os pecadores arrependidos por Sua graça e misericórdia. Embora Jesus empregasse a palavra justificado apenas uma vez nos Evangelhos, Sua mensagem foi basicamente a mesma de Paulo: “Eu não vim chamar os justos, mas os pecadores, ao arrependimento” (S. Mat. 9:13).

Desde o início, Jesus anunciou que entrar no reino de Deus era uma possibilidade presente, ainda que uma responsabilidade, para Israel (S. Mat. 11:11-13; 21:31; 23:13; S. Luc. 11:52; 16:16). O que havia de novo em Seu ensino era que o reino de Deus estava representado nEle, o Messias-Rei. A missão de Jesus visava tornar mais real tanto a salvação presente como a futura. Ele afirmou ao arrependido cobrador de imposto, Zaqueu: “Hoje veio a salvação a esta casa… Porque o Filho do homem veio buscar e salvar o que se havia perdido” (S. Luc. 19:9 e 10). Essa espécie de busca da vontade paternal de Deus é ilustrada na parábola de Jesus sobre o filho pródigo. Quando o errante filho retorna a seu pai e começa a confessar seus pecados, o pai já o envolveu com os braços e diz a seus servos: “Trazei depressa o melhor vestido, e vesti-lhe, e ponde-lhe um anel na mão, e alparcas nos pés; e trazei o bezerro cevado, e matai-o; e comamos, e alegremo-nos; porque este Meu filho estava morto, e reviveu, tinha-se perdido, e foi achado” (S. Luc. 15:22-24). O perdão dos pecados é mais do que um ato legal. Significa a restauração à plena comunhão com Deus como nosso Pai.

Jesus reviveu a motivação original da obediência ensinada na Torah. Como o Messias, Ele resumiu a Torah em seu duplo requisito de amor: amor a Deus e ao próximo (S. Mat. 22:34-40; cf. Deut. 6:5; Lev. 19:18). Ele deu ainda a estes dois mandamentos de amor uma prioridade significativa: Destes dois mandamentos depende toda a lei e os profetas” (S. Mat. 22:40). Ele também estendeu universalmente o mandamento do amor ao explicar que nosso próximo é aquele que necessita de nossa ajuda (S. Luc. 10:25-37). Mais do que tudo, porém, Seu desprendimento e entrega de Si mesmo em favor de outros, revelam uma nova espécie de amor.

Atrás da exigência radical de Cristo em favor do amor e da pureza moral (S. Mat. 5:21-48), encontra-se Sua convicção de que nEle a norma soberana de Deus está presente. No relacionamento salvífico do crente com Cristo, Sua ordem: “Sede vós pois perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos Céus” (S. Mat. 5:48), não é apenas uma promessa escatológica, mas também uma bênção evangélica a ser aplicada aqui e agora.

Em resumo, Jesus considerava a justificação e o perdão conceitos idênticos que implicam tanto a restauração legal da correta relação com Deus, como os frutos imediatos do renascimento espiritual. Por Seu exemplo, Cristo ensinou mais que o crente justificado está na obrigação de viver uma vida de amor santificado para a glória de Deus. Para isso, ele assegurou a glorificação máxima: “Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus” (S. Mat. 5:8).

A fé cristã e a fé hebraica

Paulo considera a declaração de Moisés de que Abraão creu em Deus e de que o Se-nhor lhe imputou isso como justiça (Gên. 15:6), de fundamental importância. Ele expõe mais fortemente o seu significado em sua argumentação contra a farisaica justificação pelas obras: “Ora quando um homem trabalha, seu salário não lhe é creditado como uma dádiva, mas como uma obrigação. Entretanto, ao homem que não trabalha, mas confia no Deus que justifica o ímpio, sua fé lhe é creditada como justiça” (Rom. 4:4 e 5, NVI).

Paulo acentua o caráter pessoal da fé do cristão em Deus. Essa fé estabelece uma relação de confiança entre o crente e Deus. Crer não é apenas um assentimento intelectual. Cremos de fato apenas quando confiamos ao Promitente, junto com o nosso coração, o trono de nossa vontade: “Pois o homem crê com o coração, e assim é justificado” (Rom. 10:10, NVI).

O segundo aspecto notável da declaração de Paulo em Rom. 4:5 é que Deus justifica o ímpio que crê. Obviamente, o ímpio não se esforça para alcançar méritos de Deus. Contudo, em resposta ao atrativo poder de Deus, pode ele arrepender-se sinceramente e confiar na promessa de Deus. Semelhante fé é aceitável ao Deus de Israel e é reconhecida, ou creditada, como justiça (Rom. 4:5). Eis a estarrecedora nova que livra a consciência do fardo de culpa diante de Deus e desobriga os pecadores de esforços para obter a aceitação de Deus.

Para mostrar que sua mensagem é essencialmente a mesma que o ensino da fé e culto litúrgico de Israel, o apóstolo faz referência ao Salmo 32: “Assim também Davi declara bem-aventurado o homem a quem Deus imputa a justiça sem as obras, dizendo: Bem-aventurados aqueles cujas maldades são perdoadas, e cujos pecados são cobertos. Bem-aventurado o homem a quem o Senhor não imputa o pecado” (Rom. 4:6-8).

Ao passo que Davi falou do perdão divino como livramento da culpa, Paulo anuncia que o perdão é igual à justificação por Deus, do pecador arrependido. Ele interpreta a bem-aventurança que Davi recebeu como ato da justiça atributiva de Deus a ele, independentemente de obras.

Paulo tencionava que suas ilustrações de Abraão e Davi servissem como exemplos de como a justificação divina é oferecida agora, na nova fase do tempo messiânico. O pecador só pode exercer fé em Deus agora, como Criador e Redentor, se reconhecer o novo ato da criação de Deus — a ressurreição de Jesus — e nEle confiar como Senhor e Salvador. “Ora não só por causa dele está escrito, que lhe fosse tomado em conta, mas também por nós, a quem será tomado em conta, os que cremos nAquele que dos mortos ressuscitou a Jesus nosso Senhor; o qual por nossos pecados foi entregue, e ressuscitou para nossa justificação” (Rom. 4:23, 24 e 25).

Essa progressão de pensamento representa a passagem da fé hebreia para a fé cristã. A fé no Senhor torna-se a fé em Jesus como o Messias do Senhor. A doutrina do Novo Testamento, de justificação pela graça de Deus mediante a fé está, portanto, centralizada na pessoa e na missão de Jesus de Nazaré como o Messias prometido. Colocado em termos teológico, a soteriologia baseia-se em sua Cristologia.

As duas referências de Paulo a Habacuque 2:4, confirmam mais esta conclusão. Como ele cita e aplica a declaração de Habacuque, “o justo viverá pela sua fé” (hebraico’ emunah, fidelidade, a fé perseverante é instrutiva): “Pois no evangelho se revela uma justiça de Deus, justiça que é do princípio ao fim pela fé, como está escrito: ‘O justo viverá pela fé’” (Rom. 1:17, NVI), ou, traduzido de outra maneira: ‘“Aquele que pela fé é justo, viverá’” (Rom. 1:17, RSV). “É claro que ninguém é justificado diante de Deus pela lei, pois ‘O justo viverá pela fé’” (Gál. 3:11, NVI), ou, traduzido de outra maneira: “Ora é evidente que ninguém é justificado diante de Deus pela lei; pois ‘aquele que pela fé é justo, viverá’” (Gál. 3:11, RSV).

Nestas declarações-chave, Paulo se concentra exclusivamente na questão de como a pessoa se torna justa aos olhos de Deus. Ele declara que ninguém pode alcançar tal justiça por qualquer esforço para observar a lei de Deus. “Concluímos pois que o homem é justificado pela fé sem as obras da lei” (Rom. 3:28). Não a justiça conquistada pela pessoa, mas a que é graciosamente dada por Deus, justifica o crente. O evangelho de Deus é a mensagem com respeito a Seu Filho (Rom. 1:1-4). A justiça de Jesus Cristo é a justiça de Deus que, portanto, é revelada como a justiça de Deus (Rom. 1:17; cf. Filip. 3:9).

Só mediante a fé pode o crente apropriar-se desse dom — “mediante a fé, pela fé” (Rom. 1:17, NVI). Essa fé existe apenas como resposta ao evangelho. Pela fé em Cristo, é a pessoa reconhecida como justa diante de Deus. O evangelho de Deus é revelado como “o evangelho de Seu Filho” (Rom. 1:9). A fé no Deus de Israel, portanto, estende-se à fé em Cristo Jesus.

Isto não é o desvio da confiança em um Deus pessoal para a fé em um credo cristão, mas uma extensão da confiança no Pai para confiar no Filho, dentro da fé hebraica na unicidade de Deus. “Se confessardes com a boca: ‘Jesus é Senhor’, e crerdes em vosso coração que Deus o ressuscitou dos mortos, sereis salvos. Pois é com o coração que credes e sois justificados, e é com a boca que confessais e sois salvos. Como diz a Escritura: ‘Todo aquele que nEle crê jamais será envergonhado’. Pois não há diferença entre judeu e gentio — o mesmo Senhor o é de todos e abençoa ricamente a todos que clamam a Ele, pois ‘todo aquele que clama pelo nome do Senhor será salvo’” (Rom. 10:9-13, NVI). Paulo usa aqui justificação e salvação como sinônimos, citando Isaías e Joel para mostrar a relação de continuidade de sua mensagem com as Escrituras hebraicas. A morte e a ressurreição de Jesus encerravam, na opinião de Paulo, significado escatológico, isto é, livram o crente da ira de Deus no juízo final: “Logo muito mais agora, sendo justificados pelo Seu sangue, seremos por Ele salvos da ira” (Rom. 5:9). A ressurreição do Jesus morto é, portanto, necessária à certeza de vida eterna do cristão (Rom. 4:25). O apóstolo transforma e renova assim a ‘emunah de Israel ao identificá-la com sua vibrante confiança e fervorosa esperança em Jesus Cristo (Rom. 6:8; I Tess. 4:14). Ele pode mesmo referir-se a Cristo e à fé de maneira intercambiável (Gál. 3:22-25). Isto realça o caráter centralizado em Cristo da fé do Novo Testamento.

Quando apela para a fé de Abraão, Davi e Habacuque como seus exemplos de fé salvadora e justificadora, Paulo diz para exercitarmos essencialmente a mesma fé confiante em Jesus Cristo. Dir-se-ia que Paulo batizou a ‘emunah hebraica a fim de que ela se tornasse a fé em Cristo.

Paulo não centralizou primeiramente sua mensagem aos gálatas e romanos em como o cristão justo deve viver (santificação), mas na ardente questão de como a pessoa se torna justa diante de Deus (justificação). Sua argumentação mostra a necessária continuidade da fé cristã e hebraica com relação á justificadora graça de Deus. (cf. Rom. 3:21).

Em Cristo

No conceito de Paulo, a essência da fé cristã deve estar “em Cristo”, e não mais “em Adão” (I Cor. 15:22). A teologia de Paulo é determinada pelo conceito de personalidade corporativa — uma pessoa representando muitas diante de Deus. Como Adão representou toda a raça humana e dessa forma decidiu sua relação com Deus, assim Deus indicou a Jesus Cristo para representar a humanidade pecadora como o segundo Adão (I Cor. 15:21, 22 e 45-49; Rom. 5:12-21). Paulo resume a mensagem do seu evangelho como segue: “Estamos convencidos de que um morreu por todos, e, portanto, todos morreram. E Ele morreu por todos, para que aqueles que vivem já não vivam para si mesmos, mas para Aquele que por eles morreu e ressuscitou de novo’ (II Cor. 5:14 e 15, NVI). Para o apóstolo, no conceito de Deus a morte de Cristo significou a morte de toda a raça humana corporativamente (Rom. 5:12, 18, 19; cf. I S. João 2:2; 4:10).

“Deus estava reconciliando o mundo consigo mesmo em Cristo, não imputando os pecados dos homens contra eles… Deus fez com que Aquele que não tinha pecado Se tornasse pecado por nós, a fim de que nEle pudéssemos tornar-nos justiça de Deus” (II Cor. 5:19 e 21, NVI). Paulo ensinava que o perdão dos nossos pecados se baseia no ato de Deus de reconciliação na morte de Cristo. Mais precisamente, Deus o Pai ordenou (Atos 2:23) que Cristo “Se tornasse pecado por nós” (cf. Gál. 3:13), o que pode ser entendido melhor à luz de Isaías 53. De fato, Paulo parece ter escrito II Coríntios 5:18-21 baseado em Isaías 52:13-53:12 e 50:6-10.

A participação divina na morte de Cristo, torna a Deus o reconciliador ativo; Ele nos reconciliou não pelo fato de polidamente ignorar Sua condenação do homem pecador, mas ao absorver em Si mesmo o pecado dos homens — “não imputando os pecados dos homens contra eles”, restaurando assim a humanidade ao Seu favor em Cristo. Este propósito divino é expresso nestas palavras excepcionais: “A fim de que nEle fôssemos feitos justiça de Deus” (II Cor. 5:21).

O apóstolo declara assim que nossa reconciliação com Deus ocorreu por meio de um ato de Deus em Cristo. Deus considera a morte de Cristo como a nossa e nos imputa Sua justiça.

A compreensão que Paulo tinha da morte de Cristo pode ser melhor explicada nos termos do pensamento hebraico: Pelo fato de Cristo ser sem pecado (cf. II Cor. 5:21), Sua morte foi tão meritória diante de Deus que, aqueles que com Ele se identificam estão livres da “maldição da Lei” (Gál. 3:13).2 Mediante a fé em Cristo, o crente aceita esta identificação com Seu corpo e sela sua fé através do batismo (Rom. 6:3-6). O crente é agora reconhecido como estando em Cristo e participa da justiça de Deus, tanto legalmente por meio da justificação, como dinamicamente através de uma união de fé como Cristo.

Justificação e pecado

Desde o início alguns entenderam mal o evangelho da justificação pela fé ensinado por Paulo — como se a justificação fosse apenas uma mudança de status legal diante de Deus, que tornasse intocáveis a vida e o caráter do crente. Sua maior objeção era que Paulo ensinava o erro do antinomismo por meio de sua ficção da justificação. Paulo era, portanto, acusado de incentivar as pessoas a pecarem, a fim de que a graça pudesse abundar (ver Rom. 3:8; 6:1 e 5). Da mesma forma, muitos objetam hoje, dizendo: Se Deus justifica o ímpio, qual a vantagem da obediência à lei de Deus?

Paulo responde à acusação de que a doutrina forense da justificação é exclusivamente sua, com uma radical negativa: “De maneira nenhuma!” (Gál. 2:17; cf. Rom. 6:2; 3:8). Se o crente continua a pecar depois da justificação, é prova apenas de que é um “transgressor da lei” (Gál. 2:18). Ele não pode responsabilizar a Cristo por seu estilo de vida. Paulo refuta então as falsas acusações, explicando que a justificação pela fé significa a morte real do antigo eu, a fim de que Cristo possa viver em nós: “Porque eu pela lei estou morto para a lei, para viver para Deus. Já estou crucificado com Cristo; e vivo não mais eu, mas Cristo vive em mim” (Gál. 2:19 e 20).

A genuína fé em Cristo é selada no ato sacramental do batismo, quando Deus Se une ao crente “em Cristo Jesus”, que significa especificamente união na morte de Cristo. Paulo explica: “Estávamos mortos para o pecado… Ou não sabeis que todos quantos fomos batizados em Jesus Cristo fomos batizados na Sua morte? De sorte que fomos sepultados com Ele pelo batismo na morte; para que como Cristo ressuscitou dos mortos, pela glória do Pai, assim andemos nós também em novidade de vida… Sabemos isto, que o nosso homem velho foi com Ele crucificado, para que o corpo do pecado seja desfeito, para que não sirvamos mais ao pecado. Porque aquele que está morto está justificado do pecado” (Rom. 6:2-4, 6 e 7).

O apóstolo baseia a renovação moral do cristão em sua união de fé com a morte e sepultamento históricos de Cristo. Por meio do batismo, o crente se une a Cristo em Sua morte e participa, na morte, do seu próprio “corpo do pecado”. O poder pecaminoso do eu findou na cruz de Cristo. No batismo, o crente “morreu com Cristo” (Rom. 6:8) e, portanto, “morreu para o pecado” (Rom. 6:2). Deus coloca a nova vida do crente sob o domínio do Cristo ressuscitado; o mesmo poder divino, pois, que ressuscitou a Cristo, motiva essa nova vida (ver Rom. 8:11).

Baseado nesta realidade redentora (o indicador da salvação) diante de Deus, Paulo exorta os cristãos: “Não reine portanto o pecado em vosso corpo mortal, para lhe obedecerdes em suas concupiscências… E libertados do pecado, fostes feitos servos da justiça… tendes o vosso fruto para santificação, e por fim a vida eterna” (Rom. 6:12, 18 e 22). Paulo pede aos cristãos que se considerem mortos para o pecado, mas livres para Deus em Cristo (Rom. 6:11). Isto envolve uma fé que apreende, que se apropria, e se aplica ao crente no acontecimento da salvação em Cristo.3 Ao participar da morte de Cristo e do poder da ressurreição, o crente se transformou radical e permanentemente. Ele é uma “nova criatura” em Cristo (I Cor. 5:17). Paulo se centraliza nesta união de fé com Cristo como seu argumento concludente de que o crente justificado viverá uma vida santificada diante de Deus e dos homens. Para o apóstolo, a justificação não é uma transação legal abstrata. É a realidade da morte do eu e da nova vida com Deus. Paulo completa o uso que faz da metáfora legal, com a linguagem vivida da morte-ressurreição. (Rom. 5:17-19; 6:1-7; Gál. 2:16-29).

O apóstolo não deixa nenhuma dúvida quanto à justiça moral da nova vida vivida pela fé em Cristo. A fé se expressa em amor (Gál. 5:6). Ele avalia essa fé viva e frutífera como genuíno cumprimento da lei sagrada, aceitável e agradável a Deus. Ele ainda conclui que essa nova obediência é o objetivo supremo da morte expiatória de Cristo. Ele morreu e ressuscitou para que “o mandamento da lei possa encontrar cumprimento em nós, cuja conduta, não mais sob o controle de nossa natureza inferior, é dirigida pelo Espírito” (Rom. 8:4, NEB). Através do Espírito de Cristo, a promessa do novo concerto torna-se cada vez mais real: a lei sagrada está novamente escrita e viva no coração e mente dos filhos de Deus (Jer. 31:31-34; Ezeq. 36:26 e 27; Heb. 8:8-12). Por ser Cristo a encarnação tanto da lei como da graça de Deus, “somos transformados de glória em glória na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor” (II Cor. 3:18).

Santificação e juízo

A justificação pela graça traz os frutos da paz com Deus e do amor de Deus ao coração, e da nova esperança pela glorificação futura. “Sendo pois justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo; pelo qual também temos entrada pela fé a esta graça, na qual estamos firmes, e nos gloriamos na esperança da glória de Deus. E não somente isto, mas também nos gloriamos nas tribulações, sabendo que a tribulação produz a paciência, e a paciência a experiência, e a experiência a esperança. E a esperança não traz confusão, porquanto o amor de Deus está derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rom. 5:1-5).

A justificação divina traz paz imediata e reconciliação com Deus. Essa certeza da salvação é descrita também como a purificação de nossa consciência, que agora conhece a “plena certeza de fé” e a inabalável esperança da herança prometida (Heb. 9:14, 15; 10:22 e 23). Verdade é, não obstante, que Paulo pode também falar da justificação como um veredicto divino futuro, no juízo final. Alguns teólogos têm ignorado ou negado este aspecto teológico da teologia de Paulo, ainda que ela faça parte integral da mensagem de salvação do Novo Testamento. Dando continuidade às Escrituras hebraicas, Paulo declara com respeito ao juízo final: Deus “recompensará cada um segundo as suas obras” (Rom. 2:6; Sal. 62:12). “Porque os que ouvem a lei não são justos diante de Deus, mas os que praticam a lei hão de ser justificados” (Rom. 2:13).

O apóstolo não está falando aqui da observância exterior da lei, apenas, mas do compromisso interno da obediência prazenteira; não das palavras da lei, mas dos frutos da fé que são agradáveis à vista de Deus.4 A ideias de Paulo de uma justificação futura como veredicto final de Deus, está em harmonia com a declaração de Cristo em S. Mat. 7:21; 25:34-40, e com a de Tiago 1:22 e 25; 2:12. Paulo aponta para a justificação futura do cristão novamente em sua carta aos Gálatas. “Mas pela fé aguardamos ansiosamente por meio do Espírito a justiça pela qual esperamos” (Gál. 5:5); ou traduzido mais literalmente: “Pois através do Espírito, pela fé, aguardamos a esperança da justiça” (RSV).

A justiça por que Paulo espera, com certeza é a ratificação ou veredicto final de absolvição no juízo divino.5 O que terá valor naquele dia não serão obras realizadas para consentir externamente com a lei, mas obras feitas em Cristo, isto é, obras da fé mediante o Espírito Santo. Paulo explica que a fé em Cristo não é eticamente indiferente, cheia de frutos de amor: “Porque em Jesus Cristo nem a circuncisão nem a incircuncisão tem virtude alguma; mas sim a fé que opera por amor” (Gál. 5:6). “A observância dos mandamentos é o que se leva em conta” (I Cor. 7:19).

Uma nova criatura (Gál. 6:15) prova-se a si mesma pelos frutos do Espírito, expressos como “amor, alegria, paz, paciência, bondade, benignidade, fidelidade, mansidão e domínio-próprio” (Gál. 5:22 e 23). Paulo vê finalmente a vida inteiramente santificada à luz perscrutadora do juízo final: “Não erreis: Deus não Se deixa escarnecer; porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará. Porque o que semeia na sua carne, da carne ceifará a corrupção; mas o que semeia no Espírito, do Espírito ceifará a vida eterna. E não nos cansemos de fazer bem, porque a seu tempo ceifaremos, se não houvermos desfalecido” (Gál. 6:7-9).

Paulo está dizendo que a vinda da colheita — veredicto final de Deus — corresponderá a nossa semeadura moral.

Segundo Paulo, Deus nos julgará finalmente de acordo com a colheita de nossa apropriação e aplicação do evangelho. Nossos pensamentos e ações formam nossos caracteres individuais — para que sejamos responsáveis. Crescer em santidade e em fazer o bem é sagrada responsabilidade do cristão (ver Gál. 6:9; II Tess. 3:13; Tito 2:11-13; II Ped. 1:4-11; 3:11 e 18). A vida santificada será tida como evidência da fé que salva no dia do juízo (Rom. 2:7).

Conseqüentemente, a justificação presente não isenta o cristão do juízo final. O crente justificado é convidado a continuar a “operar”, isto é, converter em realidade a salvação em santo temor e tremor (Filip. 2:12). Operar a salvação não significa trabalhar pela salvação, mas tornar prática a salvação. A justificação deve ser demonstrada por meio de uma vida santa que revele livramento da servidão do pecado e da culpa.

A declaração que Paulo faz logo após o que ele diz a respeito de operarmos nossa salvação, revela que Deus gera no crente tanto a vontade de viver corretamente, como o eficaz poder para realizar isto: “Porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a Sua boa vontade” (Filip. 2:13). Pelo fato de Deus fortalecer constantemente os verdadeiros crentes (Efés. 3:2), podem eles corresponder-Lhe com retidão moral. Enquanto a vida do cristão for cheia “de frutos de justiça, que são por Jesus Cristo, para glória e louvor de Deus” (Filip. 1:11), precisamos fazer com que estes frutos de boas obras sejam gerados pelo próprio Deus: “Aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até ao dia de Jesus Cristo” (Filip. 1:6; também Efés. 2:8-10).

Questionário

1. Por que a salvação plena deve incluir mais do que o perdão dos pecados?

2. De que maneira o julgamento do sacerdote do Antigo Testamento sobre as ofertas apresentadas nos ajuda a entender o conceito da justiça imputada?

3. Como a mensagem de Deus, transmitida por Zacarias, liga a santificação com a justificação?

4. Eram as pessoas justas, em Israel, totalmente sem pecado? Se não, por que eram chamadas justas?

5. O que o sábado tem que ver com a santificação?

6. Credita-nos Deus a justiça por causa de nossas obras?

7. Como podem os seres humanos “se tornarem os justos de Deus”?

8. Qual é o significado do batismo em relação com a justificação e a santificação?

9. O que significa “operai a vossa salvação”? (Filip. 2:12).

Referências

1. Ver H. LaRondelle, Deliverance in the Psalms, (Berrien Spings, Ml: Primeira Impressão, 1985, págs. 149-156).

2. Ver H. D. Betz, Galatians (Filadélfia: Fortress Press, 1979), pág. 151.

3. Ver Ivan T. Blazen, Death to Sin According to Romans 6:1-14 Princeton, New Jersey, 1979, pág. 383.

4. Ver C.E.B. Cranfield, The Epistle to the Romans, Internationnal Criticai Commentary, vol. 1, pág. 155; H. Ridderbos, Paul: An Outline of His Theology (Grande Rapids, Michigan: Eerdmans, 1975), pág. 180.

5. H. N. Ridderbos, The Epistle of Paul to the Churches of Galatia, New International Commentary of the New Testament (Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, 1965, 4ª edição), pág. 189.

DR. HANS K. LARONDELLE — Professor de Teologia no Seminário Teológico Adventista e Escritor