Milhares de livros sobre liderança abrangem muitos assuntos, como estilos, abordagens, sistemas e teorias. Embora a maioria dos pastores queira ter sucesso, a necessidade mais urgente é promover mudanças significativas em suas igrejas. Eles querem ser líderes transformadores.

Neste artigo, exploraremos alguns estilos de liderança ilustrados por diferentes aves e seus comportamentos.

Águia: líder carismático

Ao pensarmos em águias, somos atraídos pelos traços de liderança que se assemelham às suas qualidades, como nobreza, visão e impacto. No entanto, as águias também apresentam características menos admiradas: tendem a ser inacessíveis, egoístas e solitárias. Apesar de serem habilidosas caçadoras, não é raro que se alimentem de carniça, poupando-se do esforço da caça.1

Com uma envergadura de até dois metros, a águia pode voar a mais de oito quilômetros de altitude, o que lhe proporciona uma visão incomparável. Ela pode ver uma formiga no chão enquanto está pousada no topo de um edifício de dez andares. Seu campo de visão alcança 270 graus (em comparação com os 180 graus dos humanos), e o que está diretamente à sua frente é ampliado e exibido em tons de cores brilhantes.2 Águias enxergam o que os humanos não conseguem ver – assim como líderes eficazes percebem o que os outros ainda não viram.

Contudo, essa capacidade de supervisão, embora excelente para capturar presas ou encontrar carniça, serve primordialmente ao benefício individual, e não necessariamente à capacitação de outros. O empoderamento requer confiança e genuíno interesse nas pessoas. “A capacitação não é apenas uma transação unilateral de autoridade; é um processo bidirecional de confiança e responsabilização.”3 A águia, comumente solitária em seu ninho, tem um senso de equipe limitado à sua família imediata, sem muita conexão com uma comunidade mais ampla.

Além disso, uma das táticas mais eficazes da águia é descer repentinamente para capturar sua presa. De forma semelhante, um pastor bem-intencionado, ao implementar uma visão de maneira precipitada, pode parecer agir com a mesma impulsividade. Alguns pastores se assemelham à águia por sua visão aguçada, mas sua falta de construção de uma equipe em torno dessa visão os coloca em risco de voarem sozinhos.

Líderes carismáticos podem apelar às emoções dos outros, convencendo-os a acreditar em seus grandes sonhos. Todavia, como o ego do líder se eleva acima dos objetivos do grupo, sua ambição obstinada pode minimizar o valor e a contribuição da equipe. Quando a visão do líder se torna mais importante do que as pessoas, ele acabará voando sozinho. O pastor “águia” precisa estar atento a como essas tendências agressivas podem afetar os outros e limitar a capacidade coletiva de realizar a visão.4 Embora visão e carisma sejam importantes, construir e motivar uma equipe são aspectos essenciais para o cumprimento da visão.

Estas são as palavras que o pastor “águia” precisa prestar atenção: “Pastoreiem o rebanho de Deus que há entre vocês, não por obrigação, mas espontaneamente, como Deus quer; não por ganância, mas de boa vontade; não como dominadores dos que lhes foram confiados, mas sendo exemplos para o rebanho” (1Pe 5:2, 3).

Pinguim: líder despreocupado

Seja “sapateando” em terra, rodopiando na água ou conquistando corações nas telas, o extravagante pinguim é uma ave que pode “fazer praticamente qualquer coisa – exceto voar”.5 Sempre em bandos, eles demonstram gostar da companhia uns dos outros. Altamente sociáveis, costumam permanecer com os membros da família até a maturidade, por volta dos quatro anos de idade. Encontrar um companheiro para a vida não é difícil, já que vivem em grandes colônias, repletas de possíveis parceiros.6

Embora desajeitados em terra, os pinguins são pura graça debaixo d’água; inaptos para voar, são, no entanto, nadadores excepcionais. Eles também se destacam na construção de alianças para a sobrevivência. Ao se agruparem para se proteger do frio, revezam-se entre as posições externas e internas da formação, garantindo calor e abrigo mútuo. Sua visão se resume a sobreviver e aproveitar ao máximo o momento presente.

O pastor “pinguim” é excelente em formar uma multidão que se reúne alegremente, mas, devido à falta de visão, nada de significativo se realiza além da sobrevivência. O interesse se limita à alegria do momento. Dominado por inclinações sociais, esse líder aprecia estar rodeado de amigos, mas nunca atinge um objetivo real. A sobrevivência do grupo é o maior testemunho do seu sucesso.

Uma colônia de pinguins satisfeitos pode ilustrar uma igreja voltada para si mesma, na qual os membros permanecem isolados e o crescimento espiritual é mínimo. O ambiente promove diversão, comunidade e contentamento, mas carece de propósito maior. O pastor deseja que todos se sintam felizes e seguros, mas o grupo permanece estagnado, sem alcançar a verdadeira essência de uma comunidade bíblica vibrante que impacta o mundo ao redor.

Apesar de estar cercado por muitos, o pinguim não expressa um senso real de trabalho em equipe. Como não há visão, pouco se realiza – e ninguém parece se importar. Para que o pastor “pinguim” contribua de fato para o avanço do Reino de Deus, é essencial ir além dessa mentalidade de clube social e cultivar uma visão que aponte para o discipulado e a missão. O foco excessivo em manter todos contentes pode facilmente negligenciar aspectos fundamentais da liderança, como o crescimento pessoal e a evangelização. Esse estilo de liderança, por vezes excessivamente cauteloso, tende a evitar conflitos em detrimento da visão, esquivando-se até mesmo de problemas e desafios atuais, o que pode prejudicar o crescimento.

O livro de Atos retrata a igreja apostólica como uma comunidade que, embora socialmente conectada, também se dedicava intensamente ao crescimento espiritual. Eles cuidavam uns dos outros, partilhavam refeições, adoravam a Deus e se dedicavam à oração e à leitura das Escrituras. Como resultado, mais discípulos se uniam a eles: “Diariamente perseveravam unânimes no templo, partiam pão de casa em casa e tomavam as suas refeições com alegria e singeleza de coração, louvando a Deus e contando com a simpatia de todo o povo. Enquanto isso, o Senhor lhes acrescentava, dia a dia, os que iam sendo salvos” (At 2:46, 47)

Papagaio: líder imitador

Com sua bela variedade de penas coloridas e uma capacidade única de imitar a fala humana, o papagaio é um dos artistas mais encantadores da natureza – e também um ótimo companheiro. Os papagaios aprendem a falar e conseguem captar e reproduzir sons com rapidez.7 O papagaio-cinzento-africano, por exemplo, é capaz de escutar conversas humanas, discernir o contexto adequado e até manter um diálogo razoável – claro, dentro dos limites de um pássaro.8

Você já se perguntou por que os papagaios imitam a fala humana? A resposta está no desejo de serem aceitos e de atrair atenção. “Coloque um papagaio em uma casa humana e ele tentará se integrar à situação como se as pessoas fossem seu bando.”9 Com pouca (ou nenhuma) compreensão das palavras que pronuncia, o papagaio é, essencialmente, um perfeito imitador.

Da mesma forma, o pastor “papagaio” pode cair na tentação de repetir mecanicamente o que outros fazem, mas sem reflexão profunda ou compreensão pessoal. Isso se torna evidente quando ele retorna de um seminário de liderança e tenta implementar, de forma imediata, as melhores e mais recentes estratégias e programas. Essa abordagem raramente funciona.

Pastores devem, sim, aprender o máximo que puderem com igrejas em crescimento e reunir o maior número possível de princípios de liderança, adaptando-os ao seu contexto específico.10 Repetir simplesmente o que outros fizeram, sem passar pelo processo necessário de discernimento e direção divina, tende a gerar frustração, conflitos e poucos resultados duradouros.

O pastor “papagaio” consegue apenas refletir a visão de outra pessoa, repetindo o que os outros fazem, mas negligenciando o processo que leva à visão única de Deus para o contexto local. O verdadeiro sucesso é encontrado na luta pessoal do pastor com Deus – uma luta que mostra os princípios corretos necessários para seu contexto imediato. Deus já nos garantiu: “Eu é que sei que pensamentos tenho a respeito de vocês, diz o Senhor. São pensamentos de paz e não de mal, para dar-lhes um futuro e uma esperança” (Jr 29:11).

Ganso: líder transformador

Onde quer que os gansos estejam, essas aves emplumadas voam juntas. As formações de voo em “V” demonstram o valor da cooperação, permitindo-lhes viajar até 70% mais longe do que conseguiriam individualmente. Esse desempenho é alcançado porque cada ganso gera sustentação para o que vem logo atrás. O ganso que lidera enfrenta maior resistência ao ar, enquanto os demais o encorajam
com grasnados constantes. Quando o líder se cansa, ele recua para uma posição mais fácil, e outro assume a dianteira. Os gansos praticam uma liderança compartilhada, distribuindo a responsabilidade entre todos os membros do grupo. Sua cooperação e incentivo mútuo permitem que a formação alcance o destino desejado com menos esforço individual – e o sucesso é atribuído ao coletivo.11

Da mesma forma, o pastor “ganso” deve aplicar os princípios de liderança compartilhada, trabalhando em unidade com a congregação para alcançar um futuro melhor (visão) junto à congregação. “Unidade é o estado de muitos agindo como um. É um atributo de equipes altamente eficazes, seja no casamento, nos negócios, na igreja ou no governo. Sem ela, o progresso para.”12 O líder transformador enxerga as mudanças necessárias, constrói uma visão clara e executa ações com o compromisso e a colaboração de todos. Ele não trabalha sozinho; há uma visão, há parceria e há encorajamento mútuo. A colaboração se torna seu maior patrimônio. Esses líderes demonstram empatia pelos membros de sua equipe, cultivam relacionamentos e constroem confiança com seus liderados.

A liderança transformadora desenvolve um ambiente no qual os seguidores são constantemente encorajados a se tornarem líderes, contribuindo com seus dons para a saúde e o sucesso do grupo. “A liderança transformadora aumenta a motivação, o moral e o desempenho dos seguidores por meio de diversos mecanismos: conectando o senso de identidade pessoal à missão coletiva; sendo um exemplo que inspira; desafiando os seguidores a assumir responsabilidades maiores; e compreendendo seus pontos fortes e fracos, a fim de designar tarefas que maximizem seu potencial.”13 Parafraseando o filantropo Andrew Carnegie, nenhum pastor será um grande líder se quiser fazer tudo sozinho ou receber todo o crédito por isso.14

O pastor transformador demonstra comprometimento dizendo, com sua vida e ações: “Serei o primeiro a seguir em frente, inspirando o restante da congregação a fazer o mesmo.”

A sinergia gerada quando cada membro da equipe lidera de forma significativa em benefício do todo ecoa a descrição de Paulo sobre a diversidade e a unidade da igreja como um corpo: “Porque, assim como o corpo é um e tem muitos membros, e todos os membros, mesmo sendo muitos, constituem um só corpo, assim também é com respeito a Cristo” (1Co 12:12). O pastor “ganso” se compromete a garantir que todas as partes do corpo funcionem com excelência, de acordo com seus dons e chamados.

Melhor modelo

Cada estilo de liderança tem pontos fortes e fracos. No entanto, os gansos são os melhores modelos de liderança transformadora: uma visão compartilhada que envolve todos trabalhando em unidade. Quando
um líder transformador apresenta uma visão, ela deixa de ser apenas sua – torna-se algo com que os outros digam: “Esta é a nossa igreja.” Uma visão compartilhada motiva e capacita as pessoas a caminhar juntas. A mensagem é clara: “Se você deseja chegar ao destino para onde estamos indo, então suba a bordo – vamos juntos.” Precisamos uns dos outros para que algo realmente significativo aconteça para Cristo.

Craig Carr, secretário ministerial e diretor de evangelismo em Nebraska, Estados Unidos

Joseph Kidder, professor de teologia pastoral e discipulado na Universidade Andrews

Referências

1“Bald Eagle”, Audubon, disponível em <link.cpb.com.br/4b4d21>, acesso em 24/3/2025.

Natalie Wolchover, “What If Humans Had Eagle Vision?”, LiveScience, disponível em <link.cpb.com.br/a899e9>, acesso em 10/4/2025.

“5 Reasons That Make It Difficultto Empower Others to Lead”, Dan Reiland, disponível em <link.cpb.com. br/c193d9>, acesso em 10/4/2025.

Merrick Rosenberg, “Which Bird Are You? Taking Flight With the DISC Styles”, Training, disponível em <link.cpb.com.br/a57daa>, acesso em 10/4/2025.

Erica Langston e Xander Zellner, “10 Fun Facts About Penguins”, Audubon, disponível em <link.cpb.com.br/420035>, acesso em 10/4/2025.

Steph Yin, “A Lonely Penguin Journeys Cross-Country for Love”, Audubon, disponível em <link.cpb.com.br/78e3d8>, acesso em 10/4/2025.

Ashley P. Taylor, “Why Do Parrots Talk?”, Audubon, disponível em <link.cpb.com.br/26c83f>, acesso em 10/4/2025.

Sandra C. Mitchell, “Top 10 Talking Birds”, PetMD, disponível em <link.cpb.com.br/eb9e8d>, acesso em 10/4/2025.

Taylor,“Why Do Parrots Talk?”.

10 Christian Schwarz, Natural Church Development: A Guide to Eight Essential Qualities of Healthy Churches (Carol Stream, IL: ChurchSmart Resources, 1996).

11 Osfatos interessantes e as lições de liderança que aprendemos com os gansos estão em“Lessons From Geese”,transcrito de um discurso proferido porAngeles Arrien na Organizational Development Network de 1991, baseado no trabalho de Milton Olson.

12 Michael Hyatt,“Howto Create the Kind ofTeam UnityThat Drives Results”, Full Focus, disponível em <link.cpb.com.br/8f915a>, acesso em 10/4/2025.

13 Fatmah Hussein Jaafari, “A Theoretical Understanding of Transformational Leadership”, International Journal of Development Research 5 (2019).

14 “Leadership Quotes”, GovLeaders.org, disponível em <link.cpb.com.br/d38877>, acesso em 10/4/2025.