“Uma das terríveis primaveras de Deus.” Essa frase apareceu num dos sermões que ouvi de Billy Graham, mas já não me lembro do contexto em que foi em­ pregada. A idéia que ficou é que existem pe­ríodos na história, nos quais determinadas circunstâncias da vida e cultura parecem ser ameaçadoramente escuras, como o frio cor­tante e a nevasca de uma tempestade de in­ verno em regiões de clima temperado. Mas o inverno deve ser não mais que uma “terrí­vel primavera”, porque rebentos vivos estão começando a brotar das sementes adormeci­ das sob a neve e o gelo. Uma nova paisagem verdejante logo poderá ser vista.

No culto moderno, os ventos de mudança estão soprando; e, em alguns casos, muito fortes. Antigas formas de louvar, especialmente em se tratando da música, estão ceden­do lugar a novas maneiras. Algumas pessoas vêem tal mudança como uma agradável pri­mavera. A nova música e as novas expressões de louvor, como seus mara­vilhosos símbolos. Para outras, o que está havendo é um irreverente saneamento da liturgia, um des­trutivo ataque às raízes de nossas tradições evangélicas. Tais pessoas acreditam que o problema deve-se ao conflito existente entre os diversos grupos etários, ou às preferências culturais de determi­nados grupos cristãos.

Mas, poderia isso ser apenas uma “terrível primavera” que precede um genuíno reavivamen­to? Pela primeira vez, alguns evangélicos estão começando a compreender o significado do louvor cristão coletivo e comple­to, e encarregando-se de colocá-lo em prática.

Experiências do passado

A Igreja viveu tempos de terríveis prima­veras em outras ocasiões na sua história. Durante a Reforma do século XVI, num esforço para remover os erros teológicos e o excesso de liturgia na Idade Média, líderes evangélicos jogaram fora muito do que era significativo e ortodoxo. Zuínglio, por exemplo, eliminou toda música de seus serviços, e Calvino tentou fazer o mesmo.

Quando finalmente o reformador Genevan admitiu a música no culto, ela foi limitada aos salmos métricos, canto uníssono pela congregação. Hinários foram queima­ dos e órgãos destruídos a golpes de macha­do. A Igreja inglesa foi muito influenciada por Calvino, especialmente durante a rebe­lião que submeteu a comunidade ao coman­do de Cromwell. Os Puritanos erradicaram a música instrumental e coral, escritos litúrgi­cos e todos os simbolismos de culto. Uma vez restaurada a monarquia, o culto anglica­no tentou restabelecer o equilíbrio.

A mais recente onda de mudança tem afe­tado negativamente a música da Igreja ame­ricana, por quase 200 anos. Em 1800, uma reunião campal de reavivamento rompeu a severa fronteira cultural de Kentucky. Aquele encontro foi caracterizado por expressões altamente verbais e físicas semelhantes àquelas verificadas nos modernos cultos carismáticos. A própria música tinha muito em comum com a de hoje: simplista, altamente repetitiva, freqüentemente improvisada no fervor de uma experiência de culto, e centra­lizada num refrão que prefigurava os cori­nhos modernos.

A obsessão com essa novidade foi tama­nha que muitas igrejas perderam completamente o interesse nos teologicamente ricos hinos de Isaac Watts e Carlos Wesley, que estavam começando a ser conhecidos no país.

O movimento campal foi parte da longa sucessão de fenômenos reavivamentistas que culminaram com o Segundo Desperta­ mento de Carlos Finney, e as missões de Dwight Moody, no século XIX. Além disso, a reunião campal espiritual tomou-se o modelo para os cânticos que posteriormente dominaram a vida evangélica por 150 anos. Como tradutores da experiência cristã, os cânticos evangélicos se tomaram o comple­mento lógico da pregação evangelística. No entanto, em virtude de sua popularidade, muitas igrejas jamais aprenderam ou usa­ram a herança dos cânticos evangélicos de culto, que histórica e teologicamente lhes pertencia.

Louvor e evangelismo

Atualmente, nem todos os ventos das mudanças litúrgicas sopram na mesma di­reção, e nem todos os resultantes concede música e culto são realmente novos. Certas igrejas têm praticado o “culto reavivalista” através de sua história. Para elas, o servi­ço de culto é uma oportunidade para evan­gelizar os incrédulos ou recrutar membros para a igreja. A estrutura do serviço e seu estilo, lembram uma cruzada evangelística, com ênfase no sermão e seu chamado para um compromisso inicial com Cristo, ou para o serviço na igreja local. Os “preliminares” em tais ocasiões consistem de um excitante e cativante período de música e testemunho, dirigido por músicos e líderes capacitados.

Muitas igrejas reavivamentistas de hoje decidiram reformular seu estilo de acordo com o que é apresentado na televisão. Assim podem ter um auditório com alguns milhares de pessoas, assistindo a uns 500 coristas, or­questras completas, e solistas que cantam segundo os mais excitantes arranjos escritos por astros e estrelas da música atual. A su­perigreja de hoje possui atrações para todos os gostos. Vai ao quarto de dormir, sala de visitas, piscinas, saunas e clubes sociais. Oferece abertamente atividades espirituais para todas as idades.

Os especialistas em crescimento de igreja lembram aos pastores que os cristãos moder­nos cresceram numa cultura consumista, na qual têm oportunidade de fazer muitas esco­lhas. Evidentemente, muitas igrejas estão preparadas para criar um “shopping center cristão”, onde todos os desejos podem ser satisfeitos, mesmo que os custos possam ser elevados.

Outros líderes, talvez aqueles que perdem membros na competição com a superigreja, poderiam afirmar que o “culto reavivamentista” não é uma experiência de adoração completa e amadurecida para todos os seus participantes. Pois, como uma cruzada evangelística de sucesso, para os crentes mais antigos, ele apenas representaria, no máximo, uma lembrança de sua caminhada inicial na fé e uma oportunidade para renovar compro­missos com Cristo; e, no mínimo, uma experiência de entretenimento pré-evangelístico seguida de um sermão direcionado para al­guma outra pessoa.

Os organizadores do culto para a superi­greja estão convencidos de que devem pla­nejar programas atrativos para os incon­versos, com uma exibição de estímulo emocional igual é executado por artistas profissionais do Show Bussiness secular. Se alguém perguntar por que todos os solos, ou cânticos em grupos, precisam ter batidas e efeitos arrepiantes, a resposta provavelmente será que eles estão compe­tindo com o bombardeio de altos decibéis da música popular contemporânea. Kenneth A. Myers,1 ex-editor da revista Eter­nity, não deveria ficar impressionado com a explicação. Ele considera que o mundo evangélico moderno tem-se identificado completamente com a cultura popular ho­dierna, uma cultura de diversão cujos dois maiores símbolos são a música rock e a te­levisão, uma cultura caracterizada por uma busca de novidade e uma imediata satisfa­ção de desejos.

Busca de inconversos

Os boletins de serviços de culto, publica­ dos pela Willow Creek Church, no su­búrbio de Chicago, poderiam ser mais honestos quanto ao significado do genuíno evangelismo nos fins de semana. Eles não anunciam um culto, mas apenas “eventos” onde os interessados devem ouvir o evangelho de Jesus Cristo. De acordo com seus pa­trocinadores, as apresentações de final de semana são planejadas para pessoas que saí­ram de igrejas tradicionais “devido aos constantes pedidos de dinheiro”, “em virtu­de de que as formas de culto perderam o sig­nificado”, ou “porque a pregação não se re­laciona com o dia-a-dia”.

Por essas razões, as pessoas são convi­dadas para a Willow Creek a fim de que possam ouvir alguma coisa que lhes diga respeito e também se alegrem. Não se espe­ra que elas apenas “vistam-se para o do­ mingo”, cantem e doem ofertas. O cenário é o de uma representação teatral. A parte anterior ao sermão é desempenhada por uma orquestra de alta qualidade profissional, excelentes cantores, e uma apresentação dramática do sermão para ilustrar seu relacionamento com a vida real. O traço central é um sermão cuidadosamente racio­nal, desprovido de rasgos emocionais e sem muito colorido bíblico ou teológico, mas que estabelece a suprema relevância da fé cristã na vida diária.

Os líderes da Willow Creek Church expli­cam que os serviços do final da semana não são para crentes amadurecidos. Para eles, são reservadas as noites de quarta e quinta-feira, quando acontecem programações es­peciais, ou ainda as reuniões de pequenos grupos.

Certas questões, no entanto, permane­cem sem resposta. Alguns observadores crêem que muitos dos 15 mil freqüentadores da Willow Creek, nos finais de semana, não são realmente inconversos, mas cristãos antigos que escondem sua responsabilidade de discipulado no anonimato da multidão.

Culto carismático

O único grupo da Igreja contemporânea que parece estar seguro de que é chegado um tempo de primavera espiritual, são os carismáticos. Pelo menos, esses evangélicos glossolálicos desenvolveram uma prática de culto totalmente dentro de sua exegese e culto totalmente dentro de sua exegese escriturística e teológica. Ao mesmo tempo, os pentecostais possuem uma invejável marca em evangelismo. Além disso, os carismáticos têm exercido uma extraodrinária, e, segundo acredito, injustificável influência sobre o culto e a música não-carismáticos; por um lado, porque eles têm produzido muita música congregacional nova e popu­lar; e, por outro, em virtude de que eles comunicaram com êxito o fundamento lógico de seu culto.

Os carismáticos compreendem que Deus está verdadeiramente presente no culto, e es­peram vivenciar o encontro com Ele, produ­tor de milagres e grande regozijo. Ao mesmo tempo, muitos deles abominam a fórmu­la de “entretenimento” do culto, eliminando muitos solos e especialmente canto coral, em favor da participação total da congregação. Envolvimento pessoal e regozijo no culto são realçados pelos símbolos e atos que integram a pessoa completa. Emblemas e especialmente expressão corporal – levan­tar de mãos, bater palmas, abraços e danças – são atitudes muito significativas no servi­ço. Entretanto, a experiência cognitiva tende a ser enfatizada apenas no sermão.

Uma compreensão mais completa dos serviços carismáticos pode ser melhor obti­da de um de seus representantes, Graham Kendrick. Todo estudante de prática litúrgi­ca pode concordar com muito do que ele diz em seu livro Learning to Worship (Apren­ dendo a Cultuar).2 No entanto, certos con­ceitos devem ser notados, desde que eles partem do pensamento evangélico típico e afetam o uso da música no serviço de culto.

Louvor e música de culto

Para os carismáticos, louvor e culto são entidades diferentes.3 Para eles, o culto ocorre somente numa freqüente experiência glossolálica, transcendente, na qual um crente entra num lugar “Santo dos Santos”, a ver- dadeira presença de Deus. A aproximação dessa experiência íntima e extática acontece através do “Lugar Santo”, onde os adorado­res entoam apenas cânticos de louvor, “ex­ pressões dos atributos de Deus ou Seus nomes bíblicos”. Nesse processo, o líder do culto é muito importante. Essa pessoa, acom­panhada de outros cantores e orquestra, inclusive instrumentos de percussão, conduz o cântico de acordo com uma bem planejada mas aparentemente espontânea progressão, encorajando o povo a “abandonar-se a si mesmo ao Espírito”, em cânticos, palmas e dança. Finalmente, o prolongado e excitante canto dá lugar à respeitosa quietude, quando os crentes entram na santa presença de Deus, podendo expressar livremente sua adoração de qualquer maneira que escolher: falando ou cantando em línguas, interpretando, pro­fetizando, ou qualquer outra forma.

A perda de performance musical

Os não-carismáticos poderiam aprovar e imitar seus amigos mais emocionais em sua maior ênfase sobre a participação congregacional, em lugar de solistas e corais. Mas há aqueles para os quais existe um dis­tinto senso de perda, no qual não há oportunidade para música com maior identidade harmônica, melódica e substanciosa. Eles poderiam lembrar aos carismáticos que também existe emoção nas mais sofisticadas ex­pressões musicais. Deveriam questionar se o uso de mantras cristãs satisfaz a moderna preocupação por gratificação instantânea, e se não há uma adicionada, e possivelmente rica, experiência na imaginação estimulada, uma resposta que vem de outra música.

Para muitos evangélicos, o treinamento e emprego de cantores jovens, crianças e adul­tos em solos, conjuntos, corais e grupos ins­trumentais, significam uma resposta positiva ao requerimento para serem bons mordomos dos talentos musicais outorgados por Deus, e um desafio para oferecer-Lhe o nosso melhor “sacrifício de louvor”. Embora o canto congregacional possa ser elemento central no culto, o ato de ouvir a música também provê uma experiência diferente e adicional, que pode ser mais cognitiva, especialmente se a letra está impressa no boletim.

O Velho Testamento certamente endossa a execução musical. O mais profundamente comovedor relato de culto musical ali encontrado está em II Crônicas 5:11 a 14, onde, coincidente com a música do coro sa­cerdotal e dos instrumentistas, “a glória do Senhor encheu a casa de Deus”.

Fundamento do louvor carismático

The Dictionary of Pentecostal an Charismatic Movements (O Dicionário dos Mo­vimentos Pentecostal e Carismático),4 lista a palavra “louvor” como uma das nove únicas ênfases de seu movimento transdenominacional. Terry Law, um dos expoentes líderes dessa área, fala de louvor em termos quase sacramentais: “Louvor silencia o demônio. Louvor é um traje do Espírito. Louvor con­ duz os crentes no triunfo de Cristo. Louvor traz revelação. Prepara-nos para milagres. É a maneira de entrar na presença de Deus. Deus habita nosso louvor (Salmos 22:3).”5

Como Law expressa, a preparação para o louvor no lugar santo começa no átrio exte­rior do templo, onde a congregação entoa cânticos de ações de graças pelos poderosos feitos de Deus. Uma vez que estão em lugar santo, os canticos devem ser puramente de louvor, livres de autojustificação. A Escritura apóia esse pensamento, em Salmo 100:4: “Entrai em suas portas com ações de graças, e em seus átrios com louvor.” Toda­ via, na experiência prática, os carismáticos e seus imitadores raramente cantam dos atos de Deus; falam apenas da pessoa de Deus.

Nesse tipo de louvor não há espaço para cânticos que são didáticos, penitenciais, confessionais, peticionários, ou narrativos da experiência cristã. Porém, deve ser nota­ do que nenhum Salmo do Velho Testamento é um “puro louvor”. Muitos deles mencio­nam os feitos de Deus em favor de Seu povo, juntamente com todas as formas de oração mencionadas acima. A idéia que a dignidade de Deus deve ser a base para o culto cristão, tem sido mencio­nada freqüentemente como explicação de que a palavra culto em inglês – Worship – é derivada do termo anglo-saxão weorthscipe, que quer dizer “atribuindo valor”, e que Deus é digno de louvor. É verdade que Isaías 6 fala de Deus como santo (o cântico dos anjos), poderoso (as colunas da porta), e cercado de mistério (a casa encheu de fumaça), mas também fala de Seu amor expresso em ações de purificação e redenção.

Paul Wairmann Hoon assinalou que o conceito da dignidade de Deus não poderia ser o primeiro ponto de partida, porque “a categoria de valor no pensamento bíblico é secundária diante das categorias de ser, de­ cisão e ação”.6 Ao lado disso, ele afirma, essa não é uma idéia distintivamente cristã, uma vez que ela é partilhada por outras reli­giões e filosofias. Finalmente, ela nega a transcendência de Deus, pois implica que a “iniciativa do culto reside no homem … que reconhece e atribui valor”.

Um padrão melhor

Enquanto os carismáticos usam imagens do Velho Testamento no desenvolvimento de um culto racional, aparentemente ignoram as implicações no relato do Novo Testamento, no sentido de que a Igreja pri­mitiva cantava “salmos e hinos e cânticos espirituais” (Efés. 5:19; Col. 3:16). Os cânti­cos espirituais são evocados pelos carismáti­cos como sendo sua única expressão de cân­ticos glossolálicos, e não existe razão para contender com tal identificação.

Todavia, Paulo também identifica “salmos e hinos” como sendo cantados pela Igreja primitiva. Os salmos contêm muito mais que louvor. Neles são encontradas to­ das as formas de oração, tais como ações de graças, confissão, petição, submissão, e até mesmo lamentações. Hinos, segundo muitos acreditam, foram criados para satisfazer a necessidade de a Igreja primitiva expressar fé, e sua compreensão dessa virtude, em Cristo. Muitos exemplos dos hinos cristãos primitivos são encontrados nas epístolas de Paulo. Por exemplo, I Timóteo 3:16: “Aquele que foi manifestado na carne, foi justifica­ do em espírito, contemplado por anjos, pre- gado entre os gentios, crido no mundo, rece­bido na glória.”

É interessante notar o compreensivo cará- ter do canto no Novo Testamento. Os salmos eram escriturísticos, históricos, e clássi­cos em sua natureza. Os hinos eram expres­sões poéticas e teológicas. Os cânticos espirituais eram explosões espontâneas do canto. Existe mesmo um ponto de vista Trinitaria­ no aqui: os Salmos eram orações a YHWH; enquanto os hinos expressavam a verdade de que Jesus era o Filho de Deus, nosso Reden­tor; e os cânticos espirituais eram um dom do Espírito Criador.

Ultimamente tem-se procurado implantar o modismo de descartar o hinário em favor de palavras projetadas numa tela. Argumen­ta-se que tal prática ajuda a melhor fluência do serviço, já que ninguém necessita recorrer ao hinário para encontrar um hino. Centrali­za a atenção de todos num lugar, unindo, assim, a congregação. Libera as mãos para que os adoradores possam bater palmas ou levan­tá-las. Mas existe algo negativo. A tela não contém qualquer nota musical, e por isso a música deve ser muito simples, num tom que não requeira certo período de aprendizado. Nesse caso, os adoradores também estariam impedidos de formar um conjunto harmonio­so, cantando apenas a melodia.

Além disso, o uso do hinário é uma lembrança da historicidade da nossa fé, porque Deus é Deus da História. Nós confirmamos a continuidade da Igreja e a perpetuidade dos concertos de Deus, preservamos a memória da Igreja e de sua literatura quando cantamos os hinos de Lutero, Isaac Watts, Car­ los Wesley, Fanny Crosby, e outros.

Culto carismático ou reavivalista

Considerando a paixão quase universal por mudanças no culto, na estrutura e no estilo da música, parece razoavelmente se­guro assumir que elas são mesmo necessá­rias. Mas, que tipo de mudanças? Sobre quais bases bíblicas, históricas e teológicas elas deveriam ser efetuadas? O problema é que a tendência de alguns evangélicos é co­ piar técnicas que parecem ser populares em outras igrejas. Uma congregação pode que­rer celebrar os atos redentivos de Deus, mas num sentido muito mais completo que a compreensão da igreja reavivalista. Contudo, muitas igrejas adotam o entretenimento, o estilo das cruzadas ou das super igrejas que roubam da congregação o direito de expres­sar seu louvor a Deus.

Uma outra igreja também pode tomar-se convencida de que sua forma tradicional de cultuar esteja desgastada e desprovida de significado para a presente geração; e que uma experiência de “celebração” seria váli­da. Então passa a adotar o “cântico de lou­vor” recebido dos carismáticos, mesmo não desejando entrar no chamado “Santo dos Santos”, e embora esse tipo de cântico este- ja abaixo dos padrões de louvor menciona- dos pelo apóstolo Paulo. A pesquisa que faz tal congregação não inclui questões como: “Deveriamos nós ler mais a Bíblia e orar mais no culto?” Pelo contrário, o alvo pare­ ce apenas somar alguma simulação emocional, num formato de culto baseado no uso de uma informalidade controlada e surpre­sas programadas que freqüentemente resul­tam em “emoção em benefício da emoção”.

Qualquer mudança que se queira fazer no culto deve ser avaliada segundo os padrões do Novo Testamento. O desafio de Jesus no sentido de adorar a Deus “em espírito e em ver- dade”, reafirma que o culto deve ser sincero. Acima de tudo, deve expressar a submissão do coração humano à vontade de Deus, tal

como revelada em Cristo e na Palavra escrita. Significa também que o culto deve ajustar-se à verdade de Deus, especialmente Seus atos salvíficos através de Jesus Cristo, levando cada congregação ou grupo confessional a compreender tal verdade. Os sermões, as por­ções selecionadas das Escrituras, os hinos e as orações devem expressar plenamente quem é Deus e o que Ele tem feito, suscitando do ado­rador uma resposta a essa revelação.

Finalmente, o culto deve fazer tudo isso através de maneiras que falem emocional e intelectualmente ao homem moderno. Genuína expressão emocional, para clarificar e intensificar a verdade, é válida. Mas emoção pela emoção, leva a “louvar o louvor” e “cultuar o culto”.

Novos tempos?

Dar-se-ia o caso de que toda a turbulência e conflito que atualmente rondam o estilo de culto, assinalem numa verdadeira primavera espiritual na Igreja? Talvez. Existe alguma evidência de que um vasto movimento está surgindo, a longo prazo. A idéia de “celebração” teve início por volta de 1960, talvez com o 20th Century Folk Mass (Massa Popular do Vigésimo Século), de Geoffrey Beaumont, na Igreja Anglicana. O pensamento proposto naquele tempo era que o louvor deveria ser mais que algo correto e próprio; deveria ser também pastoral. Por esse mesmo tempo, apareceram os corinhos, uma contribuição do Movimento de Reno­vação Carismática. Duvido um pouco se muitos indivíduos e grupos em sua tradição foram verdadeiramente renovados, especialmente aqueles de igrejas litúrgicas, onde a memória e a literatura não foram perdidas. Mas não há evidência de que toda a igreja tenha experimentado genuíno reavivamento.

Historicamente, novas formas de culto, e, Conseqüentemente, dolorosa perda das antigas, têm sido o resultado dos fortes ventos de reavivamento supostamente originados pelo Espírito de Deus. Em contraste, os não-carismáticos de hoje parecem estar esperan­do alcançar o reavivamento por tomar em­ prestados novos métodos e formas, que pos­sivelmente não se coadunam com sua teolo­gia e sua própria compreensão da Escritura.

Mesmo que seja possível desenvolver monumentais igrejas através de fórmulas prescritas, isso não seria suficiente para ten­tar programar uma obra de verdadeiro rea­vivamento do Espírito Santo. Renovação espiritual não acontece pela determinação do homem, nem depende de formas por ele inventadas, sejam elas tradicionais ou mo­dernas. Graham Kentrick deixa claro que o verdadeiro culto espiritual é obediência to­ tal a Deus, tomando-se o adorador um “sa­crifício vivo, santo e agradável a Deus” (Rom. 12:1).

Na igreja local

É possível que uma igreja local esteja in­satisfeita com todas as modernas e po­pulares formas de cultuar, e deseje experimentar a guia do Espírito no sentido de desenvolver serviços que sejam plenamente bíblicos, agradáveis a Deus e edificantes para os seres humanos. Os itens escriturísti­cos são excelente material de orientação para a adoração. Mesmo compositores ca­rismáticos, como Graham Kendrick e Jack Hayford, já provaram que as mais completas e teológicas expressões musicais das verdades cristãs ainda são bem-vindas em seus serviços de culto. Se nossos líderes musicais dessem mais atenção à educação musical, em lugar da execução de concer­tos, as congregações novamente se deleita­ riam entoando os grandes hinos tradicionais de louvor a Deus.

A qualidade do culto na igreja deve estar fundamentada num estudo com base escritu­rística, teológica e prática histórica da adoração. Uma vez que as convicções estejam desenvolvidas, os líderes deveriam ensinar clara e incansavelmente, para toda a congregação, a experiência interior e exterior da adoração.

Referencias:

Condensado de um artigo originalmente publicado em Crux 28, n° 4, dezembro de 1992. Usado com permis­são.

  • 1. Kenneth A. Myers, All God’s Children and Blue Suede Shoes, Crossway Books, 1989.
  • 2. Graham Kendrick, Learning to Worship; Minneapo­lis, Bethany House Publishers, 1894.
  • 3. Ver Paul Wohlgemuth, “Praise Singing”, The Hymn, janeiro de 1987, págs. 18 a 23.
  • 4. Stanley M. Burgess e Gary B. McGee (editores), Dictionary of Pentecostal and Charismatic Move­ ments, pág. 156, Grand Rapids; Zondervan Publis- hing House, 1988.
  • 5. Terry Law, The Power of Praise and Worship, págs. 143 a 158; Tulsa, Okla.; Victory House Publishers.
    6. Paul W. Hoon,
    The Integrity of Worship, págs. 91 a 94; Nova Iorque, Abingdon Press, 1971.