No livro Se Eu Começasse Meu Ministério de Novo, John M. Drescher menciona várias atitudes que corrigiria em seu pastorado, caso tivesse a chance de um recomeço. Entre elas, está o maior nível de prioridade que daria às Escrituras, em sua vida pessoal, na pregação e no cotidiano pastoral. É possível que muitos outros pastores digam a mesma coisa. Tão grande é o volume de trabalho, o corre-corre para cumprir tarefas, atingir metas, que a falta de tempo se torna desculpa com que tentamos justificar a negligência para com o estudo da Palavra de Deus. Cabe ao pastor levar às pessoas o conhecimento da salvação, edificar e nutrir espiritualmente os salvos que estão sob seu cuidado. Então, soa óbvio dizer que ele não pode falhar em ser profundo conhecedor das Escrituras.
“Se eu estivesse começando meu ministério de novo”, sugere Drescher, “eu invernaria cada ano com um livro da Bíblia, ou uma série de livros pequenos […], lendo, ouvindo o Espírito através da meditação e oração.”
“É pecado da parte dos que tentam ensinar a Palavra a outros, negligenciar, eles mesmos, seu estudo”
Entendendo, desde os primórdios do cristianismo, o papel superior das Escrituras nas atividades de liderança pastoral e evangelística, os apóstolos decretaram: “e nos dedicaremos à oração e ao ministério da Palavra” (At 6:4). Por sua vez, escrevendo a Timóteo, o apóstolo Paulo foi claro ao aconselhar: “Pregue a Palavra, esteja preparado a tempo e fora de tempo” (2Tm 4:2). “É pecado da parte dos que tentam ensinar a Palavra a outros, negligenciar, eles mesmos, seu estudo. São poderosas as verdades com que eles lidam? Então devem lidar com elas habilmente. Suas ideias devem ser clara e vigorosamente apresentadas. De todos os homens sobre a face da Terra, devem ser os que proclamam a mensagem para este tempo os que mais compreendam a Bíblia, e estejam inteiramente familiarizados com as provas de sua fé. Uma pessoa que não possui o conhecimento da Palavra da vida, não tem o direito de procurar instruir outros no caminho do Céu” (Ellen G. White, Obreiros Evangélicos, p. 249).
Bem cedo em sua história, a Igreja Adventista do Sétimo Dia, por meio de sua liderança, compreendeu a realidade desse pensamento e empreendeu esforços na qualificação de seus pastores. Escolher os homens certos, prepará-los, ordená-los e credenciá-los foram atitudes que ajudaram a evitar o ingresso de pessoas não comprometidas com a excelência das verdades a ser proclamadas e proteger a igreja contra aproveitadores. Essas atitudes também resultaram no fornecimento de homens de mentalidade espiritual e capacitados para a liderança das congregações. Afinal, como escreveu Dwight L. Grubbs, “a dignidade de uma vocação deve ser medida sempre pela seriedade da preparação que se faz para ela” (Beginnings – Spiritual Formation for Leaders, p. 56; citado por John Drescher).
É natural que assim seja, considerando a excelência e origem do chamado pastoral, bem como seu supremo objetivo: levar às pessoas a salvação provida por Deus em Jesus Cristo. Isso “por meio da loucura da pregação” (1Co 1:21). Pode-se até dizer que esse não é o único meio, mas é absolutamente indispensável, uma vez que o pastor é o arauto comissionado por Deus, para anunciar salvação, em público ou especificamente a indivíduos, e também deve discipular outras pessoas para fazê-lo.
O tema dessa proclamação é o evangelho eterno, pleno. Não se trata de uma mensagem que apresente
unilateralmente doutrinas, profecias, ou apenas as boas-novas evangélicas. Cada um desses aspectos da mensagem bíblica é parte de todo o plano redentor de Deus. Um não pode ser enfatizado em detrimento do outro.
A necessidade de equilíbrio na abordagem desses assuntos, no púlpito adventista, e a razão por que deve ser assim, é o tema do artigo do Dr. José Carlos Ramos, nesta edição. Evidentemente, o leitor encontrará outros temas que, acreditamos, vão enriquecê-lo espiritualmente no dia a dia pastoral. Essa é nossa sincera oração.
Zinaldo A. Santos