É provável que nenhuma outra denominação cristã tenha escrito e ensinado tanto sobre o livro do Apocalipse quanto a Igreja Adventista do Sétimo Dia. Isso não é de surpreender, para um movimento que surgiu como resultado de uma visão apocalíptica e que fez do estudo das profecias uma questão rotineira.
Segundo Alberto R. Timm, o santuário celestial, encontrado nos livros de Daniel e Apocalipse, tornou-se o centro da teologia adventista, enquanto a tríplice mensagem angélica de Apocalipse 14 proveu o calendário divino para a proclamação do juízo iminente. Esses dois elementos, extraídos principalmente do livro de Apocalipse, fundamentaram a teologia e a missão do movimento que se tornou a Igreja Adventista do Sétimo Dia.
O legado que o estudo do Apocalipse nos deixou é indiscutível. No entanto, o desafio está no que devemos fazer com ele como pastores do século 21. A seguir estão algumas das tensões entre as quais temos que navegar ao pregar e ensinar a mensagem do último livro das Escrituras.
Iminência versus tardança. Depois de esperar pela vinda iminente de Jesus por mais de 150 anos, aumentaram as dúvidas sobre as razões para essa aparente “demora”. Alguns enfatizam o papel da igreja para apressar o segundo advento, enquanto outros negam que se possa fazer isso. De fato, Jesus indicou a existência de uma demora, e Ellen White não somente mencionou um atraso causado pelo estado da igreja, mas também afirmou que “dando o evangelho ao mundo, está em nosso poder apressar a volta de nosso Senhor. Não nos cabe apenas aguardar, mas apressar o dia de Deus” (O Desejado de Todas as Nações, p. 633, 634).
Aplicação exegética universal versus historicismo. O foco do estudo das profecias do Apocalipse pelos pioneiros adventistas estava fundamentado em uma abordagem historicista. Embora não tivessem todas as ferramentas modernas para a exegese, eles conseguiram chegar a uma interpretação não apenas historicamente correta, mas também exegeticamente sólida. Com a ênfase contemporânea na teologia bíblica e na exegese, os eruditos bíblicos têm-se inclinado a uma interpretação intratextual, negligenciando de algum modo a aplicação histórica dessas profecias. O desafio é continuar aprofundando nossa interpretação exegética do texto, sem descuidar da aplicação histórica.
Alarmismo versus indiferença profética. O alarmismo que se propagou no passado, que usava as notícias diárias para interpretar o Apocalipse resultando em sensacionalismo, deixou como consequência às novas gerações certa indiferença em relação à mensagem profética. Devemos tornar as profecias relevantes às novas gerações, sem cair no alarmismo que promove euforia por alguns momentos e, finalmente, resulta em frustração e desânimo.
Perfeccionismo versus graça barata. Chegamos aos nossos dias com uma herança teológica que tem colocado a mochila pesada do perfeccionismo cristão sobre os ombros das últimas gerações. Isso tem gerado fanatismo religioso e rejeição total às profecias. Por outro lado, a graça barata difundida, que rejeita não apenas a lei de Deus, mas também a santificação bíblica, faz com que muitos parem de lutar contra o pecado para se adequar laodiceanamente a ele.
Deus nos confiou um tesouro profético no livro do Apocalipse. Sua mensagem é para nossos dias. Precisamos estudar e nos aprofundar nesse livro, à luz das Escrituras, para encontrar a mensagem relevante que devemos pregar nestes últimos tempos.
Marcos Blanco, doutorando em Teologia, é editor da revista Ministério, edição em espanhol