É de lamentar-se o descuramento a que se relega a nossa língua. O mal vem de longa data, pois ainda no século XVI escrevia o escritor luso Antônio Ferreira:
“A portuguêsa língua . . .
Se até aqui estêve baixa e sem louvor Culpa é dos que a mal exercitaram Esquecimento nosso e desamor.”
Como detentores da maravilhosa mensagem para os dias finais da História, precisamos dá-la com precisão, eloqüência e, ao mesmo tempo, com simplicidade. Precisamos anunciá-la com a expressão mais correta possível. A nosso ver, não se justifica que alguns dos nossos obreiros, engolfados na azáfama absorvente das tarefas pastorais, não consigam um poucochinho de tempo para melhorar o português, rever algum ponto gramatical, aprimorar a expressão, tornando, destarte, mais eficiente seu ministério. É inegável que a expressão correta, embora simples, é poderoso auxiliar na propagação da nossa mensagem entre os patrícios. Não há dúvida que a expressão correta é mais persuasiva, mais agradável, mais explícita. A linguagem não deve ser descuidada. Não devemos maltratar a língua. Cremos que o obreiro, a quem se confiou a difusão da mensagem do terceiro anjo, deve saber falar e escrever corretamente o seu idioma. Muito se prejudica quem fala errado, quem fala mal, quem desleixa a expressão.
Isto não quer dizer que devamos empregar linguagem erudita, difícil, rebuscada, burilada, cheia de arabescos expressionais. Não, isto não produziría efeito algum sôbre a grande maioria dos auditórios que se compõem de pessoas simples, de instrução rudimentar. No evangelismo seria até contraproducente. A mensagem que deve alcançar o coração tem que ser simples na sua exposição. A linguagem deve ser singela, desataviada, chã, enxuta mesmo, porém correta e elegante. Um trabalho perfeito que se faça para Deus, se depender de expressão, deve sê-lo de acôrdo com os melhores cânones da linguagem.
Não se justificam erros crassos de concordância, de regência, e de pronúncia. Importa arranjar um pouco de tempo para cultivar a língua (o que, aliás, é interessante variação). De quando em quando, consultar o vocabulário, recapitular a gramática, ler algum autor clássico. Sobretudo cuidar de melhorar a linguagem que empregamos no púlpito.
Ouvimos, com freqüência, impropriedades de expressões, como: “Vamos inclinar as nossas cabeças,” “Vamos dobrar os nossos joelhos,” e semelhantes. Mais vernáculas ficariam estas frases sem o possessivo, e a primeira, com o substantivo no singular: “Vamos inclinar a cabeça,” “Vamos dobrar os joelhos.”
Outra expressão descuidada é esta: “Jesus em breve voltará a esta Terra.” Sendo que não existe outra Terra além da nossa, dispensa-se o demonstrativo. Mais correto será: “Jesus em breve voltará à Terra.” No entanto, a expressão: “Jesus voltará a êste mundo” é correta, pois há ou-tros mundos além do nosso. O que é inadmissível é dizer-se: “Jesus voltará outra vez.” Há pregadores descuidados que cometem estas barbaridades linguísticas.
Ouvimos um conferencista dizer: “Os ímpios ressurgirão de novo no fim do milênio.” Êsse de novo é dispensável, pois ressurgir já quer dizer voltar de novo à vida. É, pois, pleonasmo grosseiro, e deve ser evitado.
Com relação a certos livros da Bíblia, há alguns que dizem: “Vamos ler em segunda Crônicas que …” Deve ser “em segundo Crônicas”, porquanto há aí a elipse do substantivo masculino “livro”. Dir-se-á: “Segundo Reis”, que quer dizer “segundo livro de Reis”. No entanto, deve-se dizer “segunda Coríntios”, porque se subentende a palavra “epístola” ou “carta”, que são substantivos femininos. Apesar de tudo, é preferível dizer por extenso: “Segundo livro de Crônicas”, “Primeira carta a Timóteo”, “Terceira carta de São João”. A Bíblia merece isso. Não se deve pecar por falta de clareza.
Outra expressão incorreta que ouvimos: “Sôbre a mesa havia os pães da preposição”; deve ser “pães da proposição”. Preposição é uma palavra inflexiva que liga duas orações; proposição é o que se propõe e, no caso bíblico, provém do fato de os pães serem postos continuamente perante o Senhor, no primeiro compartimento do santuário.
Cuidado com a pronúncia de certos nomes próprios da Bíblia! Por exemplo, “Herodes Ântipas”, sobrenome proparoxítono. “Eliezer” é errado: o certo é “Eliézer”. Os obreiros devem ler a Tradução Revisada de Almeida, que modificou alguns nomes próprios. Por exemplo, um dos discípulos que estavam na estrada de Emaús, na manhã da ressurrreição, chamava-se Cléopas, com p e com acento no e. Não se deve dizer Cleófas.
A.B.C.