Em 1995, o evangelismo adventista viveu um novo tempo com a NET 95, campanha via satélite que obteve grande sucesso nos Estados Unidos, tendo como pregador o Pastor Mark Finley, orador do programa Está Escrito naquele país. A primeira transmissão foi vista por 76 mil pessoas. Com o desenvolvimento da campanha, os batismos surgiram aos milhares. O êxito do programa levou à execução de uma segunda arrancada, a NET 96, novamente com o Pastor Finley. Dessa vez, porém, as transmissões ultrapassaram os limites dos Estados Unidos e alcançaram países europeus, interamericanos e sul-americanos. As mensagens na língua portuguesa foram traduzidas pelo Dr. Amin Rodor, brasileiro, ex-professor de Teologia no Salt-Iaene, e que, atualmente, serve como pastor na Associação de Ontário, no Canadá. Em meio às atividades da NET 96, desempenhadas a partir de Orlando, na Flórida, região Sul dos Estados Unidos, o Dr. Amin se dispôs a entrevistar o Pastor Mark Finley, para a revista Ministério, na qual ele fala sobre o verdadeiro sentido do evangelismo e como ele pode alcançar com sucesso a mentalidade secularizada, predominante nos dias atuais.
MINISTÉRIO: Quais foram os maiores desafios da fase de planejamento da NET 96?
MARK FINLEY: Começamos a pensar no plano NET 96 a partir do que havia acontecido na série NET 95. Naquela ocasião, começamos a desenvolver a percepção de um evangelismo potencial, via satélite. Era algo inédito e nos perguntávamos se as pessoas estariam dispostas a ouvir um evangelista pelo satélite. Se assistissem, qual seria a resposta? Bem, nos Estados Unidos, 76 mil pessoas viram a abertura da NET 95 e a resposta foi muito positiva. Tivemos milhares de batismos. Com a NET 96, o desafio maior era cruzar barreiras culturais. Como falaríamos, ao mesmo tempo, aos europeus, interamericanos, norte-americanos e sul-americanos? Nossas preocupações não estavam centralizadas na tecnologia, embora problemas técnicos pudessem atrapalhar a comunicação da mensagem. Tínhamos profissionais competentes e confiáveis para cuidar disso. O maior desafio era, realmente, estabelecer contato ao cruzar as linhas das diferentes culturas.
MINISTÉRIO: O que o senhor considera ter sido a maior realização do projeto?
MARK FINLEY: A julgar pelas preocupações mencionadas, os resultados têm sido extraordinários. Não estou dizendo que não haja limitações culturais, mas quando você vê, por exemplo, a resposta da Alemanha, onde tivemos 13 mil pessoas no início, e depois de quatro semanas dez mil continuam assistindo; ou Portugal, América Central e Romênia, com milhares de telespectadores, isso é animador. Temos entre 400 e 500 mil pessoas em todo o mundo assistindo às programações. Podemos pensar em 50 mil batismos. O que é extraordinário para mim é verificar como o evangelho transcende barreiras culturais. Quando o Espírito Santo trabalha nos corações, Ele Se eleva acima de qualquer limite.
MINISTÉRIO: Diante das preocupações iniciais e do êxito presente, quais são as suas maiores expectativas futuras?
MARK FINLEY: Minha maior expectativa quanto à NET 96 é que haja, nos 48 países participantes do projeto, um reavivamento do evangelismo cristocêntrico adventista. Minha expectativa vai além do número de batismos, para abranger o desenvolvimento, dentro do coração dos pastores, administradores e leigos, do sentimento de que o evangelismo ainda funciona na era moderna e que as pessoas podem ser alcançadas onde estão. O evangelho é relevante e satisfaz às necessidades das pessoas que vivem no século 20. Um dos meus grandes anseios é ver um reavivamento do espírito de evangelismo. Um reavivamento da paixão missionária, daquele sentimento de que Deus está ativo no controle.
MINISTÉRIO: Parece haver uma preocupação de que o evangelismo tradicional não esteja apelando à mente secularizada. Em seu julgamento, que adaptações seriam necessárias para solucionar esse problema?
MARK FINLEY: Orlando não é um lugar fácil para o evangelismo. É a capital mundial do divertimento, com a Disneylândia e tudo o mais. Uma cidade altamente secularizada. Mas iniciamos aqui um trabalho de preparo que durou quase um ano e meio. Desenvolvemos seminários sobre como fazer amigos, preparando a igreja para tratar com os diferentes tipos de pessoas na comunidade; realizamos seminários sobre saúde, nutrição e outros, oferecemos cursos sobre profecias. Durante todo esse tempo, envolvemos a irmandade, não esquecendo o ministério da oração em cada congregação e igreja da área. Tudo isso, para realizar cinco semanas de evangelismo. E vamos batizar umas 350 pessoas, entre filhos de adventistas, ex-adventistas, pessoas que foram atraídas pela propaganda e pessoas que participaram da fase preparatória. O maior percentual de batizados será de amigos que foram contatados pessoalmente. O que estou dizendo é que, para mim, evangelismo não é um evento, mas um processo. Podemos alcançar pessoas secularizadas. Elas responderão diretamente à pregação na medida em que sua mente e coração forem devidamente preparados. Para isso, a congregação deve ser totalmente envolvida. Se você trouxer uma pessoa secularizada, diretamente da rua, para uma programação de cinco semanas, suas perguntas serão tantas e tão grandes que será muito difícil alcançá-la. Mas se um amigo adventista partilha com ele, no contexto do lar, quando os preconceitos podem mais facilmente ser desfeitos, o evangelismo apenas concentrará a mensagem, tomando mais fácil a decisão.
MINISTÉRIO: Há dois aspectos cruciais em sua resposta: primeiro, o evangelismo como processo; segundo, o envolvimento dos membros da igreja.
MARK FINLEY: Exatamente. Talvez aqui esteja um dos problemas do método tradicional de evangelismo, que o trata como evento. Você imprime convites, escolhe três pessoas para auxiliarem o evangelista, este sobrevive durante cinco semanas e, quando termina o trabalho, cai exausto. É um evento. Eu vejo o evangelismo como um processo, envolvendo a própria vida da Igreja. O evangelismo entra pela ação de Cristo na própria textura da vida congregacional e, assim, meu papel como evangelista é olhar a cidade a longo prazo, não em termos de cinco ou dez semanas. Mas observá-la, estudá-la por um ano, um ano e meio de antecedência, como Paulo trabalhou em Éfeso ou Filipos. Eu penso que isso é, realmente, o fundamento do sucesso no evangelismo atual.
MINISTÉRIO: O que o senhor pensa que devemos saber sobre ouvintes de mente secularizada para que nossa pregação faça sentido para eles?
MARK FINLEY: O evangelismo, em sua melhor expressão, apresenta Cristo no centro de cada doutrina e ministra às necessidades das pessoas. Então, precisamos conhecer as necessidades básicas do homem moderno, tais como aceitação, perdão, esperança, direção e significado para a vida, possibilidade de um novo começo como novas criaturas em Cristo. Evidentemente, para chegar até aí, também necessitamos construir pontes de contato com essas pessoas. Não deveríamos presumir que todas as pessoas que vêm às nossas reuniões aceitam a Bíblia, ou acreditam na existência de um Deus pessoal. Houve um tempo em que isso poderia até ser feito, mas hoje temos de construir pontes racionais. Há duas áreas nas quais tenho colocado ênfase: primeira, as “janelas” nos sermões, para que falemos às pessoas cujas vidas estão se desintegrando, no nível existencial. Assim, atendemos às suas necessidades emocionais. O outro aspecto provê evidências adequadas para a fé, para que a mentalidade intelectual perceba a fé como algo razoável. Esse é um ponto muito importante, freqüentemente desconsiderado.
MINISTÉRIO: Em outras palavras, somos ouvidos na medida em que somos relevantes, racional e emocionalmente. Mas o senhor não acha que nessa tentativa corremos o perigo de perder nossa identidade bíblica adventista?
MARK FINLEY: Eu creio que a mencionada relevância é fundamental. Por outro lado, não penso que devamos sacrificar nossa identidade por sua causa. Isso porque, basicamente, as duas coisas não se excluem. Nossa mensagem doutrinária pode ser extremamente relevante. Existem pessoas entre nós que julgam que para sermos relevantes temos de nos afastarmos da ênfase escatológica da Igreja Adventista, particularmente no contexto dos livros de Daniel e Apocalipse. Meu ponto de vista é este: o que pode ser mais relevante do que o sábado, num mundo em que a vida das pessoas está em pedaços, onde elas se sentem altamente estressadas? Num mundo onde as doenças do coração estão matando tanta gente, o que poderia ser mais relevante do que a mensagem do sábado, mostrando o repouso em Cristo? O que poderia ser mais relevante do que a mensagem do segundo advento, num mundo poluído, caótico, no qual as questões econômicas, ecológicas e de segurança são preocupação constante? Quando você vê os milhares de refugiados de Ruanda ou do Zaire, você sabe que eles necessitam de alimento para o estômago. Mas eu lhe digo que todo alimento do mundo não vai resolver seu problema básico. No entanto, se eles puderem agarrar-se a um refúgio sólido, à esperança da volta de Jesus Cristo, isso pode elevá-los acima do desespero. Assim, eu vejo a pregação doutrinária adventista como relevante para o nosso tempo. As doutrinas, em sua apresentação lúcida, cristocêntrica, têm um extraordinário poder para satisfazer as necessidades de homens e mulheres do nosso tempo.
MINISTÉRIO: Mesmo a doutrina do Santuário que, segundo alguns criam até pouco tempo, subverte a segurança e certeza do evangelho, tem um grande potencial de relevância para o homem moderno.
MARK FINLEY: Absolutamente correto. Sem dúvida, a doutrina do Santuário pode ser apresentada em termos de extrema relevância para pessoas que se sentem culpadas, condenadas e incertas do seu valor. Quando você entende o Santuário, onde Cristo é o Cordeiro morto; quando você vê essa mensagem no contexto do grande conflito, e particularmente na hora do julgamento, Deus revela diante de todo o Universo, que Ele fez tudo o que era possível para salvar a todos; que Cristo pagou o “salário do pecado”; enviou Seu espírito aos corações e mentes. Ele pergunta ao Universo: “Poderia Eu ter feito algo mais?” Em suma, Deus está dizendo que os imensos recursos do Céu estão disponíveis igualmente a todos, e a resposta humana é que faz a diferença no resultado final. Assim, a doutrina do Santuário é relevante, porque ela atribui extraordinário valor pessoal a cada homem e mulher, num tempo em que a baixa estima esmaga e aflige os seres humanos. Saber que o Deus do Universo me considera tão valioso, a ponto de não medir nenhum custo na tentativa de me salvar, pequena partícula que sou na imensidão universal, é tremendamente fantástico. {Continua)