Uma avaliação crítica a respeito da Teologia da Prosperidade

Há um falso evangelho sendo pregado que deixa de lado Cristo e Sua cruz, destacando em seu lugar promessas de riqueza, saúde e felicidade com frases do tipo: “Determine que tudo aquilo que você tocar vai prosperar” ou “seja fiel em ofertar, e Deus vai recompensá-lo”.1 Esse evangelho espúrio defende a força de uma confissão positiva que gera fé e, desse modo, constrange Deus a derramar bênçãos sobre a vida do ofertante, em forma de prosperidade financeira e vida saudável.

Tudo isso é parte da chamada Teologia da Prosperidade. Essa teologia egocêntrica e egoísta afirma que a prosperidade pode ser usufruída aqui e agora por todo aquele que crê. Robert Tilton, um representante desse movimento, afirma: “Creio que seja vontade de Deus que todos prosperem porque vejo isso na Palavra de Deus, não porque tenha funcionado poderosamente com outra pessoa. Não ponho meus olhos nos homens, mas no Deus que me dá poder para obter riquezas.”2

Contexto histórico

Uma análise do fenômeno mostra que entre os anos 1940 e 1970 começaram a surgir vislumbres da Teologia da Prosperidade entre grupos pentecostais. Contudo, é quase impossível definir com exatidão o início desse movimento, embora seja adequado indicar que sua origem “é o resultado de uma mescla de doutrinas que foram aperfeiçoadas por Essek William Kenyon, A. A. Allen, Kenneth Hagin, Benny Hinn”, entre outros.3

De fato, “as raízes dessa teologia se relacionam com o marco incomparável do boom econômico pós-Segunda Guerra Mundial”.4 Atualmente, esse movimento se encontra nas esferas neopentecostais e também em alguns círculos batistas, presbiterianos, metodistas, etc. Os principais seguidores da Teologia da Prosperidade estão nos Estados Unidos, embora suas ideias estejam espalhadas também na América Latina, África, Ásia e Europa.5

Entre os grandes expoentes da Teologia da Prosperidade está Kenneth Hagin. Seu ministério foi fundado em 1962, nos Estados Unidos, e se caracterizou “por transes, visões, profecias, revelações e experiências sobrenaturais”. Hagin dizia ter diálogos com Jesus em revelações no Céu e, às vezes, no inferno. Para justificar suas posições teológicas, certa vez afirmou que “Jesus o faria rico em troca de sua obediência”. Ele argumentava que Cristo não tem nada contra aqueles que enriquecem; a questão é cuidar para não se tornar cobiçoso.6

Ideias principais

O movimento originado nos Estados Unidos se expandiu na década de 1980, especialmente na América Latina, em países como Brasil, Argentina, Colômbia e Guatemala, onde experimenta grande êxito.

Em sua estrutura conceitual, a Teologia da Prosperidade defende que seus adeptos devem usufruir de bem-estar material e de riqueza, uma vez que Deus chamou os crentes para ser reis e sacerdotes. Além disso, se utiliza de pregações motivacionais – cujo tema principal é a prosperidade financeira, a felicidade e o êxito –, e rejeita a pobreza, considerando-a resultado da falta de fé, posto que os filhos de Deus devem ser abençoados materialmente.

De modo geral, seus templos estão em regiões centrais, e os cultos ocorrem em um clima de espetáculo, onde são abundantes as manifestações de cura, euforia e música extravagante.7

Seus principais pressupostos teológicos são:

1) Como Deus é o dono do mundo, e os seres humanos são filhos Dele, como herdeiros eles têm a permissão de reclamar seus direitos sobre o mundo.

2) As bênçãos prometidas na Bíblia são materiais e pertencem a “todo aquele que se une a Deus e investe em Seus projetos”.

3) A prosperidade é obtida por meio da fé. Quem pede com fé recebe; se não recebe, é porque não tem fé. Os demônios são os causadores da pobreza.

4) O segredo está na oferta: “Quanto maior for sua oferta, maior demonstração de confiança você dará a Deus; assim, maiores serão suas bênçãos.”

É por isso que pastores e televangelistas fazem questão de exibir sua vida de luxo como evidência de santidade e bênção divina. Constroem grandiosos impérios econômicos, “buscando cada vez mais poder e influência nos meios de comunicação”.8

Avaliação crítica

A Teologia da Prosperidade é uma doutrina que considera “a riqueza material e a prosperidade econômica como consequências autênticas da fidelidade cristã”. Por meio de uma exegese completamente equivocada, apresenta Cristo como “um homem rico e próspero” que, desde Seu nascimento, recebeu presentes dispendiosos, chegou ao ponto de ter responsáveis por Seu dinheiro, roupas caras, etc. Uma vez que Jesus foi alguém abastado, os proponentes dessa crença entendem que qualquer pessoa pode alcançar essa condição, desde que possa controlar sua fé, pois a palavra do crente move a mão de Deus.9

Esse evangelho “degrada Deus para deificar o homem”. A consequência dessa ideia é uma tendência à idolatria do ego que escraviza o homem e o destrói, fazendo com que ele se fixe em si mesmo, ignorando os demais. O cristianismo se caracteriza pelo serviço e amor ao próximo, enquanto a Teologia da Prosperidade conduz a uma atitude egoísta e egocêntrica.10

Além disso, essa doutrina apresenta a pobreza como pecado, “enquanto a riqueza material deve ser entendida como reflexo de uma vida espiritualmente abundante”.11 Por sua vez, o texto bíblico jamais condena a pobreza, mas é contundente ao afirmar que pecado é “a transgressão da lei” (1Jo 3:4). Desse modo, nem sempre a prosperidade e as riquezas pertencem aos mais consagrados.

O escasso conhecimento bíblico dos seguidores desse movimento permite que seus promotores se aproveitem e ensinem um evangelho distorcido, com vistas a ampliar seu poder financeiro.12 Contudo, isso ainda não é o pior: essa doutrina prejudica a teologia em si, por “extrair versículos bíblicos de seu contexto literário e histórico e chegar a conclusões perversas e errôneas, completamente estranhas à intenção inspirada do autor”. De fato, tal procedimento afeta consideravelmente aos que creem nesse movimento, se decepcionam e apostatam da fé. Em última instância, a Teologia da Prosperidade é um obstáculo para todos aqueles que pregam as boas-
novas, porque compromete o avanço “do reino de Deus na Terra”.13

É verdade que a abundância “pode representar uma bênção de Deus”, mas as Escrituras falam acerca de administrá-la com sabedoria. O Antigo Testamento afirma que o temor do Senhor traz bens e riquezas (Sl 112:1-3). Entretanto, a autossuficiência traz perigo. Por isso é fundamental manter a dependência de Deus. O Antigo Testamento também admoesta que os fiéis não ajuntem riquezas nem se esqueçam de que Deus é quem prospera Seus filhos (Dt 8:17, 18).

Por sua vez, o Novo Testamento enfatiza os perigos da prosperidade, mas não condena as posses. Nas parábolas e nos vários ensinamentos de Jesus, uma das maiores ênfases está em não depositar as esperanças nas riquezas terrestres, “mas em Deus” (1Tm 6:18). Há um interesse espiritual e um padrão mais elevado a ser alcançado: ter riqueza de caráter. “Pois que aproveitará o homem se ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?” Jesus ensinou que Seu reino não é desse mundo; isso não quer dizer que Ele não deseja nos abençoar, mas que nosso olhar deve se dirigir às coisas do alto.14

O verdadeiro sentido da prosperidade dentro das Escrituras “não é o acúmulo egoísta de bens, mas a solidariedade com os necessitados”. Deus nos abençoa para que possamos abençoar os outros. A pobreza não é pecaminosa em hipótese alguma, mas se trata de um chamado à solidariedade. Inclusive existe um dilema para os adeptos da Teologia da Prosperidade: a riqueza dos maus e a pobreza dos justos. Portanto, “a riqueza nem sempre é um prêmio pela fé e a santidade, nem a pobreza é sempre resultado do pecado ou da falta de fé”.15

Conclusão

Ao longo dos anos, a Teologia da Prosperidade tem se alastrado de modo significativo. Muitas pessoas, porém, decepcionadas com essa doutrina, acabam abandonando o cristianismo. De acordo com as Escrituras, ser pobre não é sinônimo de alguém descrente ou falto de fé. O texto bíblico ainda assevera que os ímpios podem ter riqueza e sucesso.

Deus é amor, e Ele nos abençoa para que possamos abençoar os demais.
As bênçãos, por sua vez, nem sempre são materiais, conforme pretende ensinar a Teologia da Prosperidade.

Em resumo, essa doutrina espúria se fundamenta em textos extraídos de seu contexto, desvirtua o sentido que o autor sagrado quis lhes dar e está distante de qualquer doutrina bíblica. Seus resultados práticos são danosos e afastam seus adeptos do verdadeiro sentido bíblico da prosperidade espiritual. 

Referências

1 David J. Jones e Russell S. Woodbridge, ¿Salud, Riquezas y Felicidad? Los Errores de la Teología de la Prosperidad (Michigan: Editorial Portavoz, 2011), p. 17.

2 Ibid., p. 19.

3 Josué Capcha, La Miseria de la Teología de la Prosperidad (San José: Universidad Biblica Latinoamericana, 2012), p. 17.

4 Arturo Piedra, Teología de la Gracia y Teología de la Prosperidad: El Desafió Permanente de las Teologías Populares (San José: Universidad Biblica Latinoamericana, 2004), p. 6-8.

5 Luis Eduardo Cantero, “¿Qué de la Teología de la Prosperidad?”, em <https://goo.gl/KGoiAJ>.

6 Capcha, p. 19.

7 Miguel Ángel Mansilla, Wilson Muñoz e Carlos Piñones-Rivera, “El Postpentecostalismo. La concepción de los migrantes peruanos y bolivianos evangélicos (quechuas y aymaras) sobre el pentecostalismo chileno”, Diálogo Andino, no 51, 2016, p. 81-91.

8 Miguel Pastorino, “Teología de la Prosperidad: El Evangelio de la Avaricia”, em
<https://goo.gl/9tDk3m>.

9 Antonio Cruz, Sociología: Una Desmitificación (Barcelona: Editorial Clie, 2001), p. 564, 565.

10 Ibid., 567

11 Ibid., 565.

12 Ibid.

13 Ibid., 566.

14 A. Lockward, Nuevo Diccionario de la Biblia (Miami, FL: Editorial Unilit, 1999), p. 888, 889.

15 Juan Stam, “¿Es bíblica la Teología de la Prosperidad?”, em <https://goo.gl/SUtygL>.

Mauro Campillay é aluno da Faculdade de Teologia da Universidade Adventista do Chile