Um assustado homem, vestido elegantemente com uma jaqueta esporte marrom e calça jeans, entrou anônimo na igreja e sentou-se. Assistiu aos serviços e gostou do sermão; o primeiro que ouvira em uma igreja adventista. Depois do culto, ele esperou na fila de adoradores a sua vez de passar pelo pastor e receber seu cumprimento. Querendo expressar sua apreciação pelo programa, e especialmente pelo sermão que ouviu, ele foi em direção ao pastor, estendendo a mão, mas este repentinamente virou-se e saiu do lugar onde estava, deixando de cumprimentar o visitante.

Surpreso, o homem ficou tentando encontrar explicação para aquele vexame. Teria ele passado despercebido pelo simples fato de não estar usando um terno, como muitos dos homens adoradores daquela igreja? Ou por ser ele um caucásio? Aliás, a questão racial não seria problema em sua igreja batista, onde ele exercia a função de diácono. Posteriormente, ele encontrou a razão do constrangimento pelo qual passou, quando percebeu que sua experiência era compartilhada por outros 49% dentre visitantes pesquisados pela editoria de um grande jornal metropolitano.

Ousada pesquisa

Eu era o responsável pela presença daquele estranho na igreja, naquele dia. Ele era uma das aproximadamente 40 pessoas que contratei para visitar igrejas adventistas na Divisão Norte-Americana, anos atrás. A Adventist Review tem enviado estrangeiros a igrejas através da DNA e relatado suas impressões. Isso é o que eu queria que acontecesse.

Minha pesquisa começou quando eu fui convidado para falar no centenário de uma igreja adventista no Centro-Oeste dos Estados Unidos, no 80° aniversário de uma igreja na região Leste e na dedicação de uma outra no Sul, tudo isso em poucas semanas. Inicialmente, eu decidi não parabenizar simplesmente as duas primeiras congregações por sua sobrevivência. Havia outras importantes questões para considerar: Demonstravam elas o genuíno amor de Deus pelas pessoas de fora, tanto como o faziam entre si? Eram vitais seus serviços de culto? Inalterável, seu senso de missão? Havia alguma maneira pela qual eu pudesse determinar sua vitalidade espiritual, antes de lhes falar?

Talvez, o melhor júri para dar um veredito, pensei, poderia ser um composto pelos visitantes. Poderiam eles relatar como seriam aceitos? Poderiam ser animados por uma experiência vital de culto? O que teria um adolescente, com os cabelos até os ombros e brincos pendendo das orelhas, para dizer? O que diria uma garota de roupas estravagantes e cheia de badulaques? Ou um velho vagabundo exalando cheiro de cigarro e cerveja? Poderiam essas pessoas receber uma calorosa recepção em nossas igrejas? Eu decidi saber.

Telefonei a um amigo que morava perto da igreja do Leste e disse-lhe que precisava de uns poucos não-adventistas para assistirem ao serviço sabático, nas semanas que antecederiam minha chegada. Eles nunca deveriam ter assistido a uma igreja adventista antes, e deveriam preencher um questionário sobre a visita. Eu tinha planejado um pequeno orçamento, e poderia, se necessário, pagar-lhes pelo trabalho. Nem o pastor nem os membros deveriam saber do plano.

Para a igreja do Sul, eu requisitei a colaboração de um pastor adventista do distrito vizinho, para encontrar pessoas que deveriam ser visitantes. No Centro-Oeste, telefonei para o editor de religião do principal jornal metropolitano. Expliquei meu projeto, e perguntei-lhe se poderia colaborar, com a compensação de que ele poderia imprimir o resultado da pesquisa, sem identificar a igreja. Acertei na mosca!

Ao questionário, dei o título “Observações sobre uma visita à igreja”. Entre as perguntas (algumas condensadas), eu solicitava: Expresse os pensamentos que tinha, ao entrar na igreja: mencione a coisa que mais o agradou (eu sabia que essa pergunta não era objetiva, mas queria algo positivo para relatar a cada congregação, quando eu fosse pregar ali. Não era um questionário do qual explorar generalizações para todas as igrejas da América do Norte); mencione alguma coisa que causou impressão negativa: como você descreve a saudação recebida? Alguém o convidou para um jantar ou um almoço? Sente desejo de voltar? Como você caracteriza a atitude dos membros como um todo?

Em adição, eu ofereci uma seção com perguntas cujas respostas deveriam ser dadas em notas de um a cinco, nas quais o visitante poderia caracterizar a atmosfera (ambiente, relacionamento) da igreja e o interesse mostrado em sua pessoa. A respeito do serviço de adoração, eu perguntava: Foi significativo, reverente, uma celebração à presença de Deus? Incluí um quarto de página onde o visitante poderia partilhar sugestões sobre como a igreja poderia se relacionar mais efetivamente com as visitas.

Quais eram os meus visitantes? O gerente de uma estação de rádio: um revisor de um jornal de Filadélfia, que costumava navegar pelo site de uma das igrejas; muitos casais, profissionais liberais conservadores: um repórter: um pastor metodista: um adolescente com brincos: um repórter de 28 anos com pulseiras, e uma recepcionista, que logicamente não era adventista.

O lado positivo

Agora, coloque-se você mesmo no banco de uma dessas igrejas. Imagine-se membro dela, e que, devidamente apresentado, eu vou começar a falar do púlpito. Sem a usual introdução descontraída, e mais sóbrio que o costumeiro, eu começo a falar: “Não estou aqui para parabenizar vocês por terem completado, como igreja, 80 ou 100 anos. Durante os últimos sábados, pessoas de fora adentraram a nave desta igreja e sentaram perto de alguns de vocês. Eu as contratei para vir até aqui e, depois, relatar suas impressões a respeito da aceitação, amizade, com que vocês as receberam, ou sobre a falta disso: além de outros aspectos do culto. Nem mesmo seu pastor estava atento à sua missão nesse sentido. Antes de finalizar meu sermão, vou mostrar-lhes os resultados da pesquisa.”

Agora, imagine a congregação mortalmente silenciosa. Avós olham furiosamente para seus netos cochichando: mamães praticamente sufocam seus arrulhantes bebês. Adolescentes rapidamente deixam de lado suas revistinhas e seus bilhetinhos, e o pastor olha como se estivesse petrificado. Jamais um pregador teria captado tão rapidamente a atenção do povo.

Mesmo assim, não penso que o pastor e os leitores estão esperando por um extenso relatório sobre o tema do meu sermão (essencialmente, eu mostrei que a mensagem do primeiro anjo é um povo que dá glória a Deus, permitindo-Lhe revelar Sua genuína bondade através de Seus atos). Trinta minutos depois, comecei a dar o esperado relatório, o qual, na verdade, variou de igreja para igreja. Aqui está uma seleção dos comentários que eu partilhei:

“Atmosfera condutora ao louvor.” “Assentos confortáveis.”

“Apreciei o calor entre o pastor e a congregação, além da apresentação dos convidados”, disse o repórter.

“Fiquei do lado de fora, por algum tempo, na Escola Sabatina. O sermão foi ótimo, e todos me fizeram sentir bem-vindo.”

“Eu especialmente gostei da atmosfera aberta, a falta de pressão, e o culto jovem.” Perguntada se a igreja despertou-lhe a vontade de retornar na próxima semana, essa pessoa respondeu: “Indiscutivelmente, sim.”

“Um senso de amizade numa grande família.”

“A igreja faz realmente um grande trabalho com os visitantes: muito melhor que qualquer outra igreja a que eu tenha visitado antes.”

“Os membros parecem ter o amor ensinado por Jesus.”

A última citação foi feita por uma senhora de 50 anos. Ela apreciou de tal modo a igreja sulina que voltou várias vezes, e foi batizada. Em cada uma das três igrejas, o visitante tem alguma coisa graciosa para dizer: “O espírito sociável desta igreja pode derreter montanhas de gelo”, observou uma pessoa que também já foi batizada. E, se você está ansioso para saber, eu partilhei as observações com cada pastor.

O lado negativo

No entanto, agora vamos nos deter um pouco nas observações negativas:

“A atmosfera era fria. As pessoas comunicam através de gestos.”

“Eu não me senti parte do grupo. Ninguém perguntou quem eu era.” Mas devo informar que em uma das igrejas, uma irmã convidou um dos meus contratados visitantes para almoçar em sua casa.

Um dos sentimentos experimentados por um visitante, quando ele entrou na igreja, é assim descrito: “Eu estava apreensivo e curioso.” Provavelmente a atitude de muitos que entram pela primeira vez numa igreja. “Eu tive de aguentar duramente o barulho de uma criança. Talvez por ter escolhido sentar-me atrás.” Mas, talvez, para nós, esse incômodo acontece porque nos esquecemos de construir uma sala especial para as mães. No entanto, o visitante pastor metodista, embora observando que o “choro e a agitação” das crianças “incomodavam”, expressou prazer com a atmosfera familiar. Eis outros dos seus comentários:

“Nenhuma palavra de boas-vindas transmitida por algum diácono ou recepcionista. Encontrei lugar para sentar, sem qualquer ajuda. Ninguém falou comigo, ninguém sorriu ou acenou para mim. Visitantes que eram amigos dos membros foram apresentados. Eu nem mesmo fui notado. Quando saí, um diácono à porta disse ‘oi’. Os membros eram frios e indiferentes.”

Sua observação sobre o programa de culto: “Eu não fui para criticar, mas para adorar. Foi o primeiro culto adventista a que assisti. Um lindo santuário, mas destituído dos símbolos cristãos. A dedicação de crianças foi impressiva. O local para os adoradores ajoelharem era muito duro. Um grande número de crianças foi à frente recitar versos. A congregação cantou poucas vezes. Os hinos pareciam irrelevantes, incidentais. Senti falta de fluência no louvor, de afirmação de fé e bênção. O sermão diálogo foi bem feito e enalteceu a relevância das Escrituras para os problemas atuais.”

Um profissional liberal, com aproximadamente 30 anos, disse: “O pregador, convidado especial do escritório da Associação, era cansativo. Eu cochilei várias vezes. Não aprendi muito a respeito da filosofia da Igreja. O pastor fez as apresentações, faltava entusiasmo na congregação. Havia, é verdade, um forte senso de família. Não tenho dúvida de que a religião desempenha um papel muito grande na vida daquelas pessoas. Coloquei meu endereço e o número do meu telefone no envelope de oferta, incluindo 40 dólares; mas até agora ninguém ligou para dizer nada.”

Pão com amendoim

Nesta altura, você pode estar pensando que eu me esqueci do pastor sobre o qual falei no início deste artigo. Não, eu não me esqueci de dizer-lhe a razão pela qual ele virou as costas ao diácono batista visitante. Primeiramente, entretanto, umas poucas observações mais. Estou preocupado em vista da avaliação feita pelo ministro metodista, sobre uma igreja fria e indiferente. Talvez fosse melhor dizer que estou desajeitado ou assustado. Em todo caso, esta é minha generosa avaliação de uma congregação na Pensilvânia, à qual eu e minha esposa visitamos recentemente, durante uma semana de férias.

Chegamos à igreja, que talvez tenha 80 membros, e não havia ninguém à porta. Era justamente o momento da Lição da Escola Sabatina (havia umas três classes funcionando no santuário). Sentamos em uma classe à esquerda da nave. O professor, não apenas deixou de perguntar nosso nome, como nem olhou para nós. durante todo o período da lição. Finda a Escola Sabatina, mudamos de lugar um pouco mais para a frente. O pregador era um leigo: pois o pastor estava visitando outra igreja do distrito. Ninguém aproximou-se de nós. Ninguém perguntou como nos chamávamos.

Ao final do culto, puxei o pregador a um canto e, com um sorriso, apresentei-me e à minha esposa aos meus irmãos e irmãs da família adventista. Os acenos foram superficiais; os apertos de mão foram apressados. Com as mãos abanando, minha esposa e eu ficamos sós. Pegamos nosso carro, dirigimo-nos a um parque, e comemos nossos pães com creme de amendoim.

Isso não pode acontecer. Nós podemos treinar recepcionistas e diáconos. Mas não podemos treinar amor. Somente quando o amor de Deus entra em nosso coração, podemos realmente mostrar amoroso interesse por outras pessoas. De fato, se me lembro corretamente, esta foi a maneira como terminei cada sermão nas três igrejas pelas quais fui convidado a pregar numa ocasião significativa de sua história.

Porventura, fazem os comentários dos meus estranhos amigos alguma diferença em sua missão? Sim. Um exemplo: a liderança de uma das igrejas envolvidas reconheceu-se a si mesma na coluna do jornal que publicou a pesquisa. A comissão local reuniu-se para discutir a reportagem. Uma semana antes, os líderes haviam negado um pedido de uma igreja batista vizinha para alugar o seu ginásio uma noite por semana. A ação foi revista. O pedido foi atendido. Eu não sei se essa igreja batista era a do diácono mencionado no início desta matéria. Espero que sim.

E quanto ao pastor que lhe voltou as costas? Não o fez por causa da sua raça. O pastor ficou mortificado quando eu telefonei-lhe falando sobre o relato do diácono, e pedindo-lhe explicação. “Você sabe”, ele disse, “uma semana antes, um estranho apresentou-se para mim depois do culto como um adventista que sofrerá um inesperado prejuízo financeiro, e necessitava de uma ajuda emergencial. Dei-lhe 80 dólares, apenas para descobrir, dois dias mais tarde, que tratava-se de uma pessoa que enganara outras igrejas com a mesma história naquelas últimas semanas. Quando vi aquele estranho diante de mim, com as mãos estendidas, pensei: ‘aí está mais um.’ E saí de perto.”

Devo dizer que esse pastor tem uma excelente folha de serviço e, acredito, verdadeiramente ama seu Senhor. Ele confessou seu errôneo julgamento e, com a ajuda da comissão local, imprimiu na congregação um mais sensível e amoroso curso de ação entre a comunidade.

Espero que a experiência produza mudanças. Na verdade, desde que ela começou a ser divulgada, tenho observado que os recepcionistas da minha igreja estão recebendo os visitantes com nova intensidade, afetividade, e com mais calorosos e firmes apertos de mão. Essa mudança tem lá seus perigos. Poucas semanas atrás, de volta para casa, depois do culto sabático, fui abordado por uma senhora estranha que acenava, perguntando se eu não poderia inscrevê-la em nosso livro de hóspedes.

“Pastor Hegstad”, ela insistia, “você me conhece. Sou membro da igreja por 20 anos.”

Talvez ela tenha tocado numa ferida ainda mais profunda.

ROLAND R. HEGSTAD, Ex-editor da revista Liberty, jubilado, reside em Silver Spring, MD, Estados Unidos