Aquele que dá testemunho destas coisas diz: Certamente cedo venho. Amém. Vem, Senhor Jesus.” (Apoc. 22:20).

A Igreja primitiva esperava ver o retomo de Jesus Cristo num tempo relativamente breve. Entretanto, passados quase dois mil anos, Ele ainda não veio.

O que a Bíblia quer dizer ao usar a expressão “cedo”, quando aplicada à volta de Cristo, eu realmente não sei. Mas, aparentemente não é a mesma coisa que eu tenho em mente.

De fato, brevidade de tempo não foi o único aspecto cronológico dos ensinamentos de Cristo a respeito do fim do mundo. Um outro fator era justamente a demora. Repeti­damente, nas parábolas sobre os últimos dias, relatadas em Mateus 24 e 25, Ele men­ciona o fato de que Sua vinda poderia tardar (Mat. 24:48; 25:5 e 19).

Jesus parecia estar bem ciente das tensões que Seus seguidores enfrentariam no espaço entre Sua ascensão e a segunda vinda. A ênfase principal do Sermão da Montanha é que eles deveriam viver esse período num clima de expectativa e fidelidade. Assim, muitas parábolas em Mateus 24 e 25 incentivam os cristãos, não apenas a um estado de vigilância, mas também de diligência e fidelidade. Numa parábola registrada em Lucas 19, Cristo ordenou a Seus discípulos: “Negociai até que Eu volte.” (v. 13).

A ordem é bastante clara; mas, de que maneira pode ser implementada? Essa questão, entre outras, seria enfretada por todos quan­tos levam a sério a Segunda Vinda de Jesus Cristo. Os primeiros adventistas no período pós-1844 depararam-se com ela. O mesmo acontece com os adventistas modernos.

As primeiras tensões

O adventismo pós-desapontamento foi mergulhado numa crise de identidade nos últimos dois meses de 1844 e no início de 1845.1 Dois tipos de abordagem do problema de ocupação do tempo, antes do Segundo Ad- vento, vieram à tona. O primeiro acentuava a vinda imediata, enquanto o segundo enfatiza­ va a continuidade normal do trabalho, durante o tempo de espera, descartando entretanto a expectativa de uma longa demora.

Aqueles que enfatizavam o imediatismo continuavam a sustentar a necessidade de algum tipo de pregação, e muitos deles continuavam trabalhando para manter suas famílias. Por outro lado, opunham-se a qualquer arranjo institucional ou contratual, alegando que tais coisas implicavam demora e, dessa forma, tomavam-se indicadores de falta de fé na Segunda Vinda. Ainda entre os que sustentavam a posição imediatista, houve os que sucumbiram à tentação de continuar es­tabelecendo novas datas para a volta de Cristo. Guilherme Miller e Josias Litch, por exemplo, esperaram que o advento tivesse lugar na primavera de 1845.2

Os primeiros adventistas sabatistas não foram imunes à tentação de estabelecer da­ tas. Entre eles encontrava-se o influente José Bates. Em 1850, ele criou um excitamento ao interpretar “as sete marcas de sangue … antes do assento de graça” como represen­tando “a duração dos procedimentos judi­ciais no lugar santíssimo do Santuário, rela­cionados com os santos vivos”. Dizendo que cada marca representava um ano, Bates ar­gumentava que o ministério celestial de Cristo duraria sete anos. Assim, Ele voltaria em outubro de 1851.3

Dois outros pioneiros se opuseram a Ba­ tes. Na Review and Herald, de 21/07/1851, apareceu uma carta de Ellen White sobre o assunto. “O Senhor me tem mostrado”, ela escreveu, “que a mensagem do terceiro anjo deve ir, e ser proclamada aos dispersos fi­lhos do Senhor, mas não deve estar na dependência do tempo; pois tempo jamais será um teste outra vez. Vi que alguns estavam conseguindo um falso excitamento, desper­tado por pregarem tempo; mas a mensagem do terceiro anjo é mais forte do que o tempo possa ser. Vi que esta mensagem pode sus­ tentar o seu próprio fundamento e não necessita de tempo para fortalecê-la; e que ela irá em grande poder e fará a sua obra, e será abreviada em justiça.”4

Esta não foi a primeira vez que Ellen White levantou-se contra o estabelecimen­to de data para a volta de Jesus. Anterior- mente, ela afirmou que “o tempo de angústia deve ser antes da vinda de Cristo”. Mesmo sua primeira visão insinuava que “a cidade estava muito longe”. Sua recom­pensa por ter assumido tal posição foi que alguns julgaram-na semelhante ao servo infiel da parábola, que dizia em seu coração: “Meu Senhor tarde virá”.5

Tomada como um todo, a mensagem de Ellen White contra o estabelecimento de data é uma poderosa declaração de que ela estava entre aqueles crentes adventistas que focalizavam sobre ocupação, em lugar de imediatismo. Deve também ser notado que sua ênfase na pregação da mensagem do terceiro anjo implica um processo, ao contrário de um ponto de tempo. Tiago White estava de pleno acordo com ela, na questão do estabelecimento de datas, e também quanto a necessidade de reunir o povo de Deus que deveria estar colocado sobre a plataforma do terceiro anjo de apocalipse 14.

Mas Tiago nem sempre lutou contra o es­tabelecimento de novas datas. Em setembro de 1845, ele acreditava firmemente que Jesus voltaria em outubro daquele ano. Nessa época, ele sustentava que o casamento era “uma astúcia do demônio”, pois indicava falta de fé na proximidade do advento. No entanto, no verão de 1846. ele casou-se com Ellen Harmon.6
Entre outubro de 1845 e agosto de 1846, aconteceu uma reviravolta no pensamento de Tiago e Ellen White. Perceptivelmente moveram-se da perspectiva imediatista para o pensamento da ocupação até a volta de Cristo. Seu casamento é um símbolo impressivo dessa reviravolta. Eles tinham um trabalho para fazer, e Ellen não podia exe­cutá-lo sozinha. Como resultado, tomaram a primeira medida rumo à institucionaliza­ção do adventismo. Se o fim não estava tão próximo, como eles inicialmente pensa­vam, era necessário tomar atitudes adequa­ das no sentido de se prepararem para o ser­ viço neste ínterim.

Obviamente eles não haviam deixado a fé adventista. Pelo contrário, nos próximos cin­co anos começaram a ver que o Senhor tinha uma outra mensagem para o Seu povo pro­ clamar antes do Segundo Advento – a mensagem do terceiro anjo de Apocalipse 14:9-14. O casamento, para o casal White, tomou- se um meio para melhor cumprir a pregação da mensagem. Além de apontar sua aceita­ ção da continuidade do tempo. Aliás, foi apenas o primeiro caminho na tarefa de colo­ car o adventismo numa base mais permanen­te para a pregação da proximidade do fim.

Repetidamente, Tiago e Ellen White em­ penhavam-se em estabilizar as raízes adventistas, de tal modo que o soar da terceira mensagem angélica fosse apoiado por uma base institucional adequada. Todavia, em cada ponto eles tinham de combater aqueles cuja mente estava fixa na posição imediatista da esperança do advento.

Foi assim na esfera da educação. Pelos idos de 1862, alguns crentes indagavam se o ato de enviar filhos para a escola significava falta de fé na proximidade do advento. Tia­go White respondeu que “uma mente bem disciplinada e informada pode melhor receber e alimentar as sublimes verdades do Segundo Advento”. A mesma lógica, ele afirmava, era válida para aqueles que pregavam o evangelho. Assim, a próxima década en­controu Tiago e Ellen White liderando o es­tabelecimento do Colégio Battle Creek, para treinamento de obreiros.7

O casal White também envolveu-se na or­ ganização da Igreja. Como é sabido, o movimento milerita era contrário à organização, primeiro por causa da crença de que o tempo era curto e uma organização formal era desne­cessária, pois Jesus deveria voltar logo. Além disso, muitos seguiram George Storrs, em sua crença de que uma igreja “toma-se Babilônia no momento em que é organizada.”8

Alguns dos líderes sabatistas aceitaram a lógica de Storrs, no início de 1860. Em respos­ta a essa posição, Ellen White escreveu: “Foi-me mostrado que alguns estão teme­rosos de nos tor­narmos Babilô­nia se nos organi­zarmos; mas as igrejas em Nova Iorque cen­tral têm sido uma perfeita Babilônia, confu­são. E agora, a não ser que elas se organizem de tal maneira que possam conduzir e aplicar ordem, nada têm a esperar para o futuro.”9 A organização, ela concluiu, deveria providen­ciar poder para o trabalho futuro.

A luta empreendida por Tiago e Ellen White em favor da organização frutificou entre 1861 e 1863. Os frutos apareceram também nas áreas de publicações e saúde. Com os marcos que colocaram a denominação numa base firme, foi possível pregar com mais efi­ciência a proximidade da Terra porvir.

Um dilema

Os Whites escolheram enfrentar a ten­são entre a iminência do advento e a necessidade de continuidade da ocupação, para que os adventistas pudessem continuar pregando sobre a vinda de Jesus. Desafortu­nadamente, havia (e ainda há) um paradoxo inerente a esta abordagem.

Há um sentimento segundo o qual a falha nasceu do próprio sucesso da jovem denominação. Isto é, a preocupação em preservar a mensagem do iminente retomo de Cristo levou as instituições a atuar sobre uma base de continuidade, construindo uma imagem de quase perenidade. E nesse processo, algumas transformações sutis (às vezes não tão sutis) tiveram lugar.

Talvez tenha sido John Harvey Kellogg a pessoa que, como nenhuma outra, centralizou o dilema adventista na passagem do século. Kellogg levantou a cabeça e os ombros acima dos líderes da Igreja, como o construtor de um reinado. Não apenas estava presente no processo de criação de um sistema mundial de sanatórios controlados a partir de Battle Creek, mas começara ele mesmo sua própria escola de medicina em 1895, e foi o principal proponente adventista de uma obra largamente baseada no bem-estar do pobre. Em 1901, havia mais adventistas trabalhando para as organizações s Kellogg do que para o resto da denominação.10 Não há ne­nhuma dúvida quanto ao inte­resse missioná­rio de Kellogg e mesmo quanto ao seu interesse inicial na missão do adventismo. Cada es­tudante admitido em sua escola de medici­na era obrigado a assinar um compromisso dedicando sua vida ao trabalho médico-missionário. Mas o esforço de Kellogg co­ locou-o face a face com o dilema adventista entre imediatismo e ocupação um modo que outros líderes adventistas jamais haviam tratado.
Os outros ramos do trabalho adventista eram muito afastados dos efeitos diretos da cultura secular e de aceitação por essa mesma cultura. Já os esforços de Kellogg toma­ram lugar no limite entre a cultura e a Igreja.

Como resultado, a aceitação de sua contriuição pela sociedade era tanto uma real possibilidade como uma potencial tentação.

Um caso a ser apontado é o credenciamento de sua escola de medicina, negado em 1897 em virtude de ser patrocinada por adventistas e ensinar vegetarianismo. Em 1899 Kellogg estava pronto para mais uma tentativa de conseguir o credenciamento. Dessa vez, ele mostrara ter aprendido as li­ções da primeira tentativa. Uma série de car­ tas às autoridades responsáveis pela conces­são, mostrava o que o Dr. Kellogg estava querendo fazer para conseguir seu intento. Não apenas proclamou que não acredita­ va “em tal coisa, como uma escola sectária de qualquer tipo, médica ou teológica”, como expôs sua heterodoxia: “Eu sou exa- tamente tão heterodoxo quanto vocês”, ele escreveu. “Creio no natural, não no sobre­ natural.”11 Até mesmo negou suas fortes convicções sobre dieta.
Tais declarações, feitas em cartas secretasa não-adventistas, contradisseram diametralmente muito do que ele havia dito aos líderes da Igreja. Mas tal era o preço da política de aceitação. O ponto a ser notado é que, nas mãos de Kellogg, a mentalidade adventista sobre saúde e temperança tinha sofrido uma transformação radical. Estabelecidas como instituições de apoio à mensagem do terceiro anjo, elas haviam se tornado instituições para o bem da humanidade. E para conseguir sucesso fora da Igreja. Kellogg achou conveniente silenciar seu adventismo.

Ellen White lutou contra o afrouxamento de Kellogg e suas andanças em direção à Secularização da obra médico-missionária adventista. “O Senhor”, escreveu ela, em 1900, “planejou que o evangelho restaurador da saúde jamais devia estar separado do ministério da Palavra.” Ela também se opôs aos esforços do Dr. Kellogg no sentido de desenvolver desproporcionalmente a obra mé­dico-missionária, em relação a outros aspectos da denominação. A obra médico-missio­nária deve ser o braço direito da terceira mensagem angélica, “mas o braço direito não deve tornar-se todo o corpo”. Ela ex­pressou preocupação de que muitas tarefas realizadas por Kellogg “poderiam ser bem realizadas pelo mundo. Mas o mundo não poderia fazer o trabalho para o qual Deus tinha comissionado o Seu povo”.12

Em suma, Ellen White estava chamando Kellogg de volta a seu foco missionário original, e ao equilíbrio entre iminência e ocu­pação, que inicialmente havia caracterizado a institucionalização do adventismo. Mas o doutor tinha sua própria agenda. A idéia de ocupação tomara-se tudo para ele, e o pensamento de iminência, um incômodo e um embaraço. Finalmente, ele deixaria a denominação no início do século. Assim, poderia operar seu trabalho filantrópico sem o estor­vo do adventismo.

A tensão continua

Tiago e Ellen White, José Bates e John Kellogg já se foram. Mas continua a existir no adventismo uma interminável ten­ são entre iminência e ocupação relacionadas à volta de Jesus.

Uma rápida olhada nos relatórios da As­ sociação Geral indica que a Igreja está indo maravilhosamente bem no aspecto ocupação. Até 31 de dezembro de 1993, existiam 539 Uniões e Campos locais, 36.920 congregações, 4.492 escolas funda- mentais, 953 escolas de segundo grau, 85 universidades, 35 indústrias alimentícias, 148 hospitais e sanatórios, 92 a.silos e orfanatos, 354 clínicas, sete centros de comunicação, 56 casas publicadoras.

Essas instituições empregavam 136.539 obreiros e funcionários.13 Tudo isso, sem-falar na Agência Adventista de Desenvolvimento e Recursos Assistenciais, Adra.

O adventismo está realmente muito bem quanto à ocupação. Mas uma intrigante questão surge quanto ao propósito dessa ocupação. E isso traz à tona o assunto da identidade.

Aliás, esse é um assunto fundamental para todos os organismos cristãos. Compreender a identidade e o papel da Igreja no quadro da história, infunde propósito e direção. É desne­cessário dizer que as percepções de identidade não são estáticas. Elas mudam com o tempo, e isso pode ser bom ou mau.

Intimamente relacionado com a identida­de está o tempo. Este pode exercer um efeito corrosivo sobre a identidade, especialmente nos grupos que esperam para muito breve a vinda de Cristo. A passagem do tempo sus­ cita questões, apresenta problemas e desafios que não seriam enfrentados pelos funda­ dores do movimento.

Os efeitos corrosivos do tempo transforma­ram a mentalidade inicial da Igreja, de pré-milenista a pós-milenista. E esses efeitos ainda estão operando dentro do adventismo atual.

Depois de 150 anos, questões sobre o que é o adventismo e o que deveria ser são de crucial importância. E elas estão sendo enfrentadas com freqüência cada vez mais crescente.

Também relacionado ao tempo, em fun­ção da identidade, está a questão das mudanças. Elas não estão operando apenas dentro da Igreja, mas são o principal fator no mundo onde a Igreja busca ministrar. A existên­cia de mudanças é certa, e a maneira pela qual a Igreja se relacoina com elas é absolu­tamente crucial para sua identidade.

Enfrentando mudanças

Existem algumas maneiras de enfrentar mudanças e a História. Uma delas é viver no passada como se este pudesse ser preservado como uma era dourada. Tal abordagem minimiza a realidade da mudan­ça. A longo prazo, seus proponentes nada têm a dizer à geração presente, porque eles perderam o contato com as realidades diá­rias. É um pensamento que encontra missão apenas entre aqueles que desejam viver num passado intelectualmente dirigido e/ou num gueto social. Muitos adventistas abraçam essa abordagem de mudança.
Uma segunda maneira inviável de a Igreja relacionar-se com mudança e História é a focalização exclusivamente ou quase exclusivamente no futuro. Embora tenha o foco oposto àqueles que se fixam no passado, o resultado é o mesmo. Perde-se o contato com as necessidades e realidades atuais.
O outro modo de enfrentar a mudança e a História é focalização quase exclusiva­ mente no presente, enquanto se enfatiza “relevância”. E isso é importante. Depois de tudo, irrelevância certamente conduz ao de­sastre. Por outro lado, mera relevância é o caminho para o lugar nenhum. A relevância que fincou suas raízes bíblicas no sobrenatu­ral é mais um caminho para a perda. A estabilidade da relevância cristã deve ser enrai­zada nos grandes e transcendentes atos de Deus na história de Seu povo.

Mas a Bíblia nos apresenta um outro caminho, que não é nem irrelevante nem mera­ mente relevante. Este ponto de vista está an­ corado na condução divina da história de Seu povo e da construção de um fim da história terrestre, por ocasião do segundo advento. Mas ele não negligencia as circunstâncias e necessidades do presente. Assim, expõe uma orientação presente na estrutura de um passa­do contínuo e o futuro. Apresenta um ponto de vista cósmico que encontra identidade para o presente tanto na História como na profecia.

Sua relevância, sendo enraizada na conti­nuidade da história e na mudança, não é transitória. Ao contrário, a linha que trans­corre do passado histórico ao futuro proféti­co provê perspectiva, direção, e identidade para o presente. Quando o adventismo, ou qualquer outro organismo cristão, perde contato com o passado histórico ou o futuro profetizado, colherá como fruto a desorien­tação no presente.

As tensões de hoje

Em 1955, o adventismo encontrou-se num lugar semelhante àquele onde es­tiveram seus fundadores mileritas, no final de 1844 e início de 1845, no que se refere à continuidade da história e mudança e às tensões entre imediatismo e ocupação. Em certos setores do mundo adventista, nós en­contramos aqueles que estão estreitamente ligados a um quase delírio de estabelecimento de datas, procurando viver num constante estado de excitamento a respeito da proximidade do fim. Sua fé é baseada nas crises do mundo em vez de nas promessas de Deus. Mesmo seu comportamento é motivado pelo sentimento de proximidade.

Esse tipo de fé adventista tende a ser uma experiência do tipo “sobe e desce”. Falha em aprender as lições de Mateus 24:36-25:46. Uma fé adventista saudável deve ser baseada em algo mais que imediatismo e excitamento. Uma profunda fé, baseada nas promessas de Deus e uma vida caracterizada pela vigilância e serviço cristão, no espaço entre a ascensão e o segundo advento, é o que é requerido.

Uma segunda preocupação que os adventistas pós-1844 e os atuais têm tido em relação à história e à iminência é a realidade de um segundo advento literal. Na metade dos anos 1840, alguns mileritas frustrados espiri­tualizaram o literalismo do advento e sugeri­ram que Cristo viria individualmente nos co­ rações e mentes. É muito fácil para os moder­nos adventistas seguir uma linha de pensamento similar, interpretando metaforicamente as promessas do advento, argumentando que esse acontecimento tem lugar na vida de cada pessoa, por ocasião da sua morte.

Seguir esse curso equivale a renunciar a esperança do advento que estimula a ressurreição do adventismo. Não apenas modifica o plano dos ensinamentos bíblicos, mas nega a promessa profética do futuro. Essa linha de pensamento leva à abdicação da crença no próprio adventismo e dissolve a identidade adventista.

No extremo oposto àqueles que vivem sob a louca ansiedade do excitamento apocalípti­co, estão os que são tentados em suas frustrações a demorar para deixar completamente o apocalipticismo. Esse curso de ação foi se­guido por muitos dos mileritas desapontados, e ainda é uma opção viva nos anos 90.

Mas seguir tal direção é renunciar o coração da identidade adventista. O adventismo milerita surgiu em resposta a um estudo das profecias de Daniel 7 a 9, e o adventismo sabatista enriqueceu esta perspectiva ao enfati­zar Apocalipse 12 a 14. Os sabatistas viram-se a si mesmos como a personificação da mensagem remanescente de Apocalipse 12:17 e do terceiro anjo de apocalipse 14:9-12. Essa compreensão providenciou uma perspectiva cósmica do tempo do fim, que os levou aos confins da Terra com sua mensagem peculiar. Eles viam-se como um povo profético.14

Tire-se essa compreensão apocalíptica, e teremos removido o coração do adventismo. E essa é uma tentação muito real para o adventismo no final do século vinte. Ela será mais intensa no sentido de que seja tirada a mensagem apocalíptica do adventismo, substituindo-a por “algo mais prático” no mundo real. Ademais, não está escrito em Mateus 25:31-46 o ensinamento de que justiça social e misericórdia serão elemen­tos cruciais entre aqueles que esperam a volta de Jesus?

Isso é verdade mas não é o quadro completo da Igreja expectante. Há dois focos apocalípticos no Novo Testamento.

O primeiro enfatiza o ministério fiel duran­te o tempo de espera e vigilância (Mat.24; 25; Marcos 13; Lucas 21). O segundo, primeiramente encontrado em Apocalipse, descreve a mensagem de Deus para os últimos dias e o conflito final entre as forças do bem e do mal.

O adventismo bíblico tanto em 1844 como em 1996, e através de sua história, tem sido chamado para integrar o apocalipse do Novo Testamento em sua teologia e missão. Não uma coisa ou outra, mas as duas.

Desafortunadamente, muitos membros da Igreja, e mesmo líderes, parecem achar mais confortável adotar a metade do quadro ao invés de seu todo. Assim, alguns que estão deixando as .asas do imediatismo são tentados a brincar de Igreja ou adotar uma visão kelloggiana.

Perigo do institucionalismo

Brincar de Igreja parece ser um esporte popular entre expressivos membros e líderes adventistas. A essência da brincadeira resideno continuísmo e manutenção do status. Pode-se argumentar que a pior coisa que aconteceu ao adventismo foi aprender a contabilizar. Hoje contabilizamos instituições, membros, conversos, dinheiro, e muita coisa mais Lamentavelmente, quantidade e sucesso não estão necessariamente relacionados. Para aqueles que gostam de contabilizar coisas, há o perigo de visualizar a identidade adventista em termos de tamanho, número, variedade de instituições denominacionais e quantidade de membros, primariamente, sem o sentido de missão. Brincar de Igreja envolve um grande número de atividades

para manter a maquinaria expandindo-se. Infelizmente a maquinaria muito freqüentemente toma-se um fim em si mesma quando devia ser um meio para alcançar um objetivo. Como resultado, fica difícil modernizá-la ou substi­tuí-la por modelos mais eficientes. A tendência em tais situações é ganhar progressivamente identidade, partindo de coisas erradas.

Há os que tem a propensão de abraçar a visão de Kellogg para o adventismo.

Freqüen­temente vêm o trabalho comunitário, na linha de saúde e tem­perança, como o ponto focal do que a Igreja deve ser durante o período de ocupação.

Michael Pearson sugere que o adventismo está enfrentando uma réplica da dinâmica ex­perimentada sob a filosofia de Kellogg, 100 anos atrás. Ele aponta, por exemplo, que as finanças do massivo sistema de saúde adventista tolhem o orçamento da Associação Geral.1*5 Além disso, poderosas forças no mer­cado têm trabalhado para secularizar o sistema de saúde adventista norte-americano. Prosperidade institucional e crescimento pa­recem ser coisas prioritárias no atual sistema, enquanto qualquer missão distintivamente adventista parece estar num segundo plano.

Pearson também nota que a mesma dinâmica deve afetar a Adra.16 Enquanto em muitos casos essa agência esteja muito mais intima­ mente ligada à distintiva missão do adventis­mo do que o sistema hospitalar, o tempo e o contínuo crescimento poderiam contradizer esse relacionamento numa agência que tem o potencial de eventualmente sobrepujar os gas­tos do sistemas hospitalar. No processo, o foco primário do adventismo poderia ser involunta­riamente redirecionado enquanto a influência da Adra é fortalecida dentro da denominação.

Para não ser erroneamente compreendi­ do, devo explicar que sou favorável aos benefícios realizados pelo sistema hospita­lar, pela Adra, e outras instituições da Igreja. O ponto principal é que o adventismo enfrenta o mesmo tipo de problemas e tentações do seu atual sucesso, e que também foram enfrentados por Kellogg, inicialmente. É muito fácil mudar o enfoque apocalíptico do adventismo em pequenos incrementos, para conquista aceitação ou receber fundos adicionais. Todavia, a terceira mensagem angélica, descrita no coração do Apocalipse, ainda é o ponto focal da missão adventista.

Tentação pós-milenista

Esperar pelo advento é talvez um ne­gócio frustrante. Assim, torna-se fá­cil desconectar a esperança pré-milenista, exceto no nome, enfatizar as boas obras e mesmo pregar justiça social como sendo a missão profética da Igreja. Nesse processo, o dualismo apocalíptico adventista e a compreensão profética gradualmente saem do quadro.

Conforme mencionado anteriormente, boas obras e trabalho para reformar as estru­turas sociais em nome de Cristo, são exce­lentes em si mesmos, mas necessitam ser vistos e apreciados dentro da perspectiva do advento pré-milenista. Tal perspectiva está enraizada na continuidade do tempo que corre do passado e se estende para o futuro.

Divorciadas dessa continuidade, as boas obras e excelentes perspectivas deri­vam uma forma de pós-milenismo, que se torna um enfoque melhor do que o segun­do advento para o mundo. Com tal visão, implícita ou explicitamente, o adventismo terá feito um círculo completo desde o ex­tremo do imediatismo até o extremo da ocupação, tornando-se, nesse caso a última contradição escatológica: um corpo religioso que teve grande sucesso com o propósito de pregar a proximidade do advento, mas uma Igreja que perdeu o signi­ficado do próprio nome que originalmente proveu sua identidade.

Aprender a viver com êxito em meio às tensões sobre o presente e o futuro é a inaca­ bada tarefa legada ao adventismo pelos so­ breviventes de outubro de 1844.

Referências:

  • 1. George Knight, Millenial Fever and the End of the World, págs. 231-325, Pacific Press; Boise, Idaho; 1993.
  • 2. Richard W. Schwarz, Light Bearers to the Remnant, pág. 54, Pacific Press, Mountain View, Califórnia, 1979.
  • 3. José Bates, An Explanation of the Typical and An- titypical Sanctuary by the Scriptures, págs. 10 e 11, New Bedford, Mass.
  • 4. Ellen G. White, Review and Herald, 21/07/1851, edição extra.
  • 5. Ellen White, Primeiros Escritos, págs. 14, 15, 22; R&H,
  • 6. Tiago White, The Day Star, págs. 25 e 26, 20/09/1845. pág. 47, 11/10/1845; Ellen White Vida e Ensinos, págs. 126 e 238, Battle Creek, MI.
  • 7. W. H. Ball e Tiago White, Review and Herald, 23/12/1862, pág. 29; Roy E. Graham, Early Adventist Educators, págs. 18 a 25; Berrien Springs, MI.
  • 8. George Storrs, Midnight Cry, 15/02/1844, pág. 238.
  • 9. R. F. Cottrell, Review and Herald, 22/03/1860, págs.
  • 140 e 141; Ellen White, Idem, 27/08/1861, pág. 101.
    10. Richard W. Schwarz, Spectrum, Spring 1969, págs. 15 a 28; “John Harvey Kellogg: American Health Re­rfoer­mer”, dissertação, Unversidade de Michigan. 1964,pág. 347.
  • 11. ______________, Adventism’s Social Gospel Ad- vocate, Dudley S. Reynolds a Robert Levy (06/01/1899) e a J; H. Kellogg (17 e 24/01/1899; Me- morandum do Concilio da Faculdade de Medicina,
  • 02/06/1897; J. H. Kellogg a Dudley Reynolds, 19 e 26/01/1899.
    12. Ellen White, Manuscrito, 01/01/1900; e Testimo­ nies, vol. 8, pág. 185.
  • 13. Relatório Estatístico Anual -1993. págs. 2, 3 e 31; Associação Geral da IASD, 1994.
    14. P. Gerard Damsteegt, Foundations of the Seventh- Day Adventist Message and Mission; págs. 327 a342, Grand Rapids, 1977.
  • 15. Michael Pearson, Millenial Dreams and Moral Di- lemmas: Seventh-Day and Contemporary Ethics, págs. 28 e 29, Universidade de Cambridge, 1990.
    16. Ibidem.