Richard A. Morris, Pastor da Igreja de Eau Claire, Wisconsin, EE.UU.

Como pastor, nunca consegui ficar muito excitado pelo programa de alguma outra pessoa. Nem mesmo quando ele provém do próprio presidente da Associação.

Mas, quando se trata do meu programa, acontece alguma coisa dentro de mim e emprego incríveis quantidades de tempo e energia para promover o seu êxito!

Por que será que levei tanto tempo para ver que os componentes de minhas igrejas não são diferentes? Quantos anos foram desperdiçados procurando levá-los a fazer certas coisas que eles não desejavam fazer, enquanto eu, praticamente, desprezava o potencial de suas próprias esperanças e sonhos no tocante a sua igreja e a seu Senhor!

Tenho sido culpado de exercer o pastorado de maneira egocêntrica, mas suponho que não estou sozinho — e quero partilhar minha culpa com vocês. Em dez anos de ministério, tenho ouvido pastores e dirigentes de igreja fazer muitas vezes a mesma pergunta: Como conseguiremos fazer com que nosso povo faça o que “deve” fazer — isto é, o que nós queremos que eles façam?

Formulamos a pergunta errada porque todos fomos lançados no mesmo molde e não podemos mais discernir o seu formato. Pensamos que a função de nossos dirigentes é dizer-nos o que devemos fazer, e que temos a obrigação de efetuá-lo. Semelhantemente, cremos que para ser o líder de nossa igreja, devemos dizer o que nossos membros devem fazer, e que lhes compete realizá-lo. E então nos admiramos de que esteja faltando a motivação para isso!

Há uma alternativa que, no meu caso, envolveu uma revisão radical de minhas ideias sobre o que significa ser pastor. Qual é esta alternativa? Fazer menos pelos membros de minha igreja! Quando vocês se familiarizarem com este conceito, talvez queiram também fazer menos por seu povo. De acordo com esta ideia, a pergunta correta não é: Como conseguiremos que nosso povo faça o que nós queremos que eles façam? E sim: Como podemos ajudar nosso povo a cumprir suas próprias necessidades de envolvimento, dedicação e bem-sucedido ministério na igreja?

Aprendi que as pessoas já são motivadas. Teoristas da motivação, como Abraão Maslow, salientaram isto há muito tempo.1 Quase todos aqueles com os quais lidamos em nosso ministério já se acham motivados de modo essencial para a tarefa da igreja. Pois, além das necessidades “biológicas” de alimento, abrigo e companheirismo, todos temos necessidades básicas de realização, dignidade pessoal e reconhecimento. Isto significa que nosso povo quer ver a igreja crescer, porque crêem nela e desejam ver a confirmação de suas crenças. Querem fazer uma contribuição pessoal para o seu crescimento, em virtude de sua fé nos dons e habilidades que Deus lhes concedeu. Querem alcançar reconhecível êxito, pois necessitam do reforço e da reafirmação proporcionados por seus irmãos e irmãs em Cristo.

Nosso trabalho como pastores é, portanto, ajudá-los a reconhecer, expressar e satisfazer essas necessidades dentro do contexto da comunhão da igreja.

Nossas igrejas são vastos mas virtualmente inaproveitados reservatórios de energia e dedicação humana. Nosso povo está frustrado, sem conhecer a causa de sua frustração. Culpam a si mesmos e à igreja por alguma coisa que não sabem o que é.

O problema não é, como tantas vezes ouvimos dizer, que nosso povo não sabe o que fazer ou como fazê-lo. Com os dons que Deus lhes concedeu, nalguns casos eles sabem estas coisas melhor do que nós, seus dirigentes. Não resta dúvida de que há necessidade de preparo e animação. Mas precisamos adestrá-los e animá-los na direção em que são impelidos por sua motivação, e não nalgum outro sentido.

Quando eu era estudante, experimentei diversos estilos de pentear o cabelo. Alguns eram exagerados e estavam de acordo com a moda mais recente; outros eram mais tradicionais. Todos requeriam enormes quantidades de substâncias oleosas, pois o meu cabelo tinha sua própria índole e tendência. Quando finalmente aprendi isto e passei a penteá-lo na direção em que crescia, verifiquei que esta era a maneira em que ele tem melhor aspecto. Só uma revelação direta poderia levar-me a modificá-lo agora! Do mesmo modo, nosso povo prestará o melhor serviço quando reconhecemos a direção natural de sua vida cristã. Em vez de procurar ajustá-los à nossa maneira de pensar, aprenderemos a nutrir e promover seus próprios interesses e inclinações. Em vez de “lançar um

fardo sobre eles”, descobriremos maneiras de soltar as forças impelentes que Deus já colocou dentro deles.

Este método de liderança talvez não agrade a alguns, pois parece sugerir um dirigente que dá a impressão de “acompanhar”, e não dirigir. No entanto, tem uma grande vantagem: Ele funciona! Como o próprio evangelho, vai ao encontro das pessoas onde elas estão, e não onde “deviam” estar. E, do mesmo modo que o evangelho, ousa conceder-lhes toda a dignidade e respeito atribuíveis aos santos em Cristo, abrindo assim uma porta para prestarem sua própria contribuição à Causa de Deus.

Tenho visto muitas vezes a atuação destes princípios entre as pessoas, em minhas igrejas. O primeiro diácono de uma igreja manifestou pouco interesse em meus planos e programas. Fiquei decepcionado com ele. Mas quando pedi que se encarregasse de todos os preparativos materiais para uma grande série de conferências, ele demonstrou ser um verdadeiro líder. Não precisei preocupar-me com os assentos, com a recepção, com a iluminação e o aquecimento, com a limpeza e com o equipamento. Com doze ou quinze homens labutando sob a sua direção, realizou tudo muito melhor do que eu podia esperar. Esse homem era um gênio de meticulosidade e organização, e quanto mais eu ficava de fora, tanto melhor era o seu desempenho!

Os membros em todas as igrejas nas quais labutei a princípio se mostraram indiferentes para com a ideia do evangelismo público. Porém, quando eu os convidava a se empenharem pessoalmente no planejamento e na direção na próxima campanha, eles repentinamente se tornavam interessados em tudo isso!

Um simpósio sobre liderança de igreja dirigido pelo Dr. Amold Kurtz, do Seminário Teológico da Universidade Andrews, e por um grupo de estudantes ministeriais deu-me alguns conceitos que ajudaram a incrementar os princípios de motivação para minha igreja. Creio que a chave para se ter um conjunto de leigos dedicados e empreendedores se encontra em duas ideias intimamente relacionadas que chamo de “pensamento público” e “liderança partilhada”.

Por “pensamento público” quero dizer que para o nosso povo ser dedicado à igreja e seu trabalho, os processos de idear, planejar e estabelecer os alvos que formam a base desse trabalho precisam ser completamente desalojados dos escritórios dos diretores departamentais e do gabinete do pastor. Eles devem efetuar-se à plena luz pública do debate e da decisão pelos leigos.

Isto requer tempo. Isto extingue uma de nossas atividades pastorais prediletas — fazer planos para outras pessoas. Mas é necessário para que nosso povo encare a missão da igreja como sendo realmente a sua missão.

“Pensamento público” ou o que Robert C. Worley chama de “processo público” significa que “crenças, intenções e alvos particulares precisam ser transformados, mediante processos públicos, em incumbências e atividades públicas”.Por meio do pensamento público, o pensamento pessoal de todos os membros de uma congregação é colhido, reconhecido, examinado, aclarado, joeirado, cotizado e exposto como o pensamento da congregação em conjunto. Este é o processo refinador por meio do qual a igreja passa a ter “o mesmo parecer” no Espírito, segundo é relatado em Atos 1 e 2.

Os verdadeiros procedimentos pelos quais é realizado esse aprimoramento precisam ser escolhidos individualmente ou delineados pelos que irão usá-los. Materiais elucidativos e modelos da maneira de proceder podem ser obtidos de diversas fontes.3

O segundo conceito de motivação — “liderança partilhada” — significa escolher um estilo de liderança que distribui ou reparte os diversos papéis e funções de liderança entre todos os membros de um grupo de trabalho, segundo as aptidões, capacidades e a boa vontade de cada pessoa para participar.4 Assim o grupo se concentra não somente na realização da tarefa, mas também no desenvolvimento de meios individuais e do grupo para assumir os papéis de liderança necessários para uma congregação eficiente. Eis alguns exemplos desses papéis:

O Iniciador apresenta alguma coisa nova para a consideração do grupo. Quando aparece tal pessoa, o grupo encontrou um modo de expressar suas próprias motivações, e não apenas de ouvir as do pastor.

O Elaborador faz acréscimos a uma ideia ou sugestão já apresentada. Tais contribuições indicam que o grupo, como um todo, é capaz de identificar-se com as motivações do iniciador.

O Elucidador percebe e alivia a ambiguidade e os transtornos na comunicação. Sua dádiva para o grupo é um dramático melhoramento da unidade e eficiência do grupo.

O Desafiador expressa os receios do grupo quanto à ideia ou informação apresentada. Leal, mas perspicaz, esse indivíduo torna o grupo seletivo em sua aceitação das contribuições de seus membros.

O Resumidor junta vários elementos do debate. Seu aparecimento denota que o grupo agora é capaz de sintetizar ideias para uma conclusão exequível.

O Dinamizador evoca motivações subjacentes que o grupo partilha para estimular uma qualidade de trabalho mais elevada. Ele impele lembrando, não empurrando.

Muitos outros papéis de liderança, incluindo variações dos que foram mencionados, são desenvolvidos num dinâmico grupo de igreja, de liderança partilhada. O pastor fará sua contribuição como um dos membros e só desempenhará os papéis para os quais está habilitado — mas de modo nenhum todos eles, nem mesmo a maioria. Com efeito, quanto maior – for o número de funções assumidas pelos membros do grupo, com exceção do pastor, tanto mais o grupo será incentivado.

Devo salientar que o ato de um pastor ou uma igreja aceitar um modelo de liderança partilhada ou de funções distribuídas não denota desistência de responsabilidade por parte do pastor. Nem tampouco um novo arranjo de autoridade. O pastor continua sendo a autoridade responsável, tanto na igreja local como entre essa entidade e a Associação.

Liderança partilhada significa — isto sim — que o pastor recusa ser a única fonte de motivação, planos e alvos para a igreja. Embora promova todos os três e participe do seu desenvolvimento, ele partilhará os processos de desenvolvimento com todos os outros membros.

Tenho achado excitantes esses conceitos de liderança e estou procurando introduzi-los em minhas igrejas. Há, porém, alguns obstáculos que precisam ser eliminados. O pastor diligente que tenciona promover esses princípios deve precaver-se contra duas grandes barreiras a sua aceitação.

Em primeiro lugar, você e eu estamos acostumados a pensar que a liderança envolve a posse tanto da autoridade como da capacidade de incentivar e controlar a conduta dos subordinados. Requer tempo e experiência, e não apenas teoria, para dissipar essas falsas suposições. O primeiro obstáculo que enfrentamos somos nós mesmos, pois temos a tendência de ser desajeitados em funções fora do comum.

Em segundo lugar, as expectativas e suposições dos membros de nossa igreja são moldadas pelas mesmas conjeturas antecipadas que nós, como pastores, temos mantido há muito tempo. Quando começamos a tomar este novo rumo, é provável que os membros de nossa igreja perguntem a si mesmos se resolvemos deixar de ser o seu pastor. Desejam que digamos para eles o que devem fazer, não somente porque foram condicionados a esperá-lo, mas também porque ficamos sobrecarregados com a responsabilidade de incentivá-los. Se a motivação falhar, a culpa não será deles. Portanto, o segundo obstáculo que enfrentamos são as expectativas de nosso povo.

Esses obstáculos podem ser vencidos se tomarmos tempo com o nosso povo para debater e explicar o que estamos procurando realizar. Precisamos de sua ajuda para modificar os sistemas de liderança de nossas igrejas. Se eles mesmos tiverem uma compreensão básica dos princípios que servem de base para o que estamos fazendo, suas expectativas serão diferentes, e passarão a apoiar-nos ao lutarmos com o nosso novo conceito da função do pastor.

Agora você já terá descoberto que o título deste artigo não é inteiramente correto. Seguir este estilo de liderança provavelmente o levará a fazer mais, e não menos, pelos membros de sua igreja. Mas a importante diferença é que eles também estarão fazendo mais.

Referências

1. Abraham Malow, Motivation and Personality, 2ª. edição, Nova Iorque: Harper and Row, 1970.

2. Robert C. Worley. Dry Bones Breathe! Chicago: The Center for the Study of Church Organizational Behavior, 1978, pág. 29.

3. Ibidem. Ver também: Alvin J. Lindgren e Norman Shawchuck, Management For Your Church. Nashville: Abingdon Press. 1977, pág. 52.

Halvard B. Thomsen, “Designing and Developing an Intentional Corporate Ministry in the Milwaukee Central Seventh-day Adventist Church’’ (tese de doutorado não publicada. Andrews University Theological Seminary, Berrien Springs, Michigan. 1979).

4. David W. e Frank P. Johnson. Joining Together: Group Theory and Group Skills. Nova Iorque: Prentice-Hall. 1975. pág. 22.