Dicas para prevenir-se do esgotamento e desfrutar de saúde e bem-estar

O ministério pastoral pode ser desgastante até mesmo para os mais talentosos e ativos líderes da igreja.1 Os pastores estão insatisfeitos com o ministério por uma ampla gama de razões. Talvez nós mesmos estejamos lutando com as dificuldades do pastorado. Como Derek Tidball observa, “ainda que muitos verdadeiramente considerem o ministério satisfatório, é preciso encarar a verdade de que muitos não têm essa percepção”.2 Embora pastores estejam saindo do ministério por causa de várias angústias, um dos principais fatores por trás desse afastamento é o desequilíbrio na vida deles. Simplificando, eles estão se esgotando rapidamente. Tendo servido como pastor distrital, digo por experiência que somos responsáveis pelo nosso bem-estar. Criar hábitos saudáveis ajudará a nos proteger do burnout e nos capacitará a servir a Deus por longo prazo no ministério da igreja.

Burnout pastoral

As taxas de burnout entre pastores estão aumentando. Roy Oswald, em seu livro Clergy Self-Care: Finding a Balance For Effective Ministry, relata: “Aproximadamente 20% dos ministros com quem trabalhei em seminários alcançaram uma pontuação extremamente alta no Levantamento de Burnout Pastoral. Entre os ministros com longos períodos de ministério (10 anos ou mais) o número salta para 50%.”3 Christine Maslach define burnout como “estado de exaustão física, emocional e mental marcado pelo esgotamento físico, fadiga crônica, sentimentos de desamparo e desesperança, e pelo desenvolvimento do autoconceito negativo e de atitudes negativas em relação ao trabalho, à vida e a outras pessoas”.4

Em suas formas variadas, burnout pode ser classificado como uma condição grave, mas pode ser evitado se tomarmos as devidas precauções. A receita para ser vítima de esgotamento é muito simples. Como pastores, somos excessivamente zelosos, sobrecarregados e ansiosos demais para agradar as massas. Esquecemo-nos de dedicar tempo para férias e reflexão. Ignoramos os pedidos de pausa de nosso corpo. Frequentemente, nossas congregações tomam nossa renúncia ao descanso como norma. O resultado? O burnout poderá ocorrer a qualquer momento. Para evitá-lo, nós, como pastores, devemos ser proativos na busca de uma vida plena.

Este artigo procura oferecer sugestões de como podemos criar hábitos saudáveis e promover o equilíbrio para nos proteger do burnout pastoral. Vamos abordar quatro hábitos cruciais relativos ao esgotamento: emocional, físico, relacional e espiritual.

Hábitos emocionais

Uma vez que a vocação pastoral exige ampla interação humana e a capacidade
de avaliar as emoções dos outros, os ministros precisam de um rígido controle sobre sua própria condição emocional. Médicos e conselheiros de saúde mental são comumente instruídos a manter distância emocional do sofrimento humano: “Não é saudável estar em uma montanha-russa emocional todos os dias com seus pacientes e clientes.” Esse conselho não é necessariamente a melhor maneira de lidar com o estresse emocional no ministério. Controlar as emoções ao ouvir o sofrimento e a dor das ovelhas do rebanho continua sendo quase impossível para os pastores. Empurrar emoções desagradáveis para debaixo do tapete também não ajudará. Deve haver um modo melhor de lidar com isso.

Um recurso para monitorar as emoções pode ser escrever os sentimentos em um diário. Em minha graduação no seminário, recebi de minha esposa uma agenda nova em capa de couro. Fiquei grato pelo gesto, mas, na época, não havia pensado em usar aquele presente para registrar meus sentimentos. Com o tempo, escrever em meu diário se tornou água curativa para minha alma, especialmente durante períodos difíceis da vida. Nesse diário, revelei minhas lutas a Deus e também O louvei por Sua fidelidade e misericórdia.

Nos salmos, temos uma visão da verdadeira pessoa de Davi, que expressava todas as suas emoções. Quando o salmista escrevia seus sentimentos e os lia, sua alma era restaurada e ele reconhecia muitos de seus problemas emocionais. Esses salmos serviram como orações de confissão, triunfo, desespero e clamor. Dê a si mesmo a oportunidade de sentir cada emoção e
entregá-la a Deus para restauração e cura.

Em segundo lugar, o riso tem uma posição central como hábito emocional valioso, que recomendo a qualquer ministro. Há uma razão pela qual as pessoas gostam de assistir a comédias ou programas de televisão, ou passam horas observando um espetáculo humorístico. Elas gostam de se divertir e desfrutar de uma boa risada. Precisamos aprender a rir de nós mesmos, dos nossos fracassos e das circunstâncias de nossa vida, e a não levar a nós mesmos e a tudo com tanta seriedade.

As emoções são dadas por Deus. Podemos aprender a controlá-las, bem como a rir quando o momento requer isso. Ao equilibrar nossos sentimentos, não apenas nos tornamos confortáveis com nossa postura, mas também nos aproximamos do nosso Criador, à medida que experimentamos todos os tipos de emoções que Ele planejou para nós.

Hábitos físicos

Deus nos deu o corpo e espera que cuidemos dele. Em 1 Coríntios 3:16, 17, o apóstolo Paulo diz: “Não sabeis que sois santuário de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destruir o santuário de Deus, Deus o destruirá; porque o santuário de Deus, que sois vós, é sagrado.” Como vemos claramente, o Senhor se importa profundamente com Sua criação, por isso, devemos cuidar de nós mesmos. Aqui estão três passos simples:

Tenha uma alimentação adequada. As pessoas esperam que os pastores comam tudo o que for servido na casa delas. Não é elegante ser “exigente”. É aí que começa o problema. Às vezes, o que nos oferecem pode não ser a opção mais saudável, mas não temos uma alternativa melhor. Podemos ter em nosso prato alimentos fritos, bebidas com alta concentração de açúcar, batatas fritas, bolos e tortas.

No entanto, em muitas ocasiões, temos uma escolha. Quando estou em um restaurante, tento selecionar alimentos mais saudáveis e evitar a sobremesa. A dieta é um aspecto bastante negligenciado da vida pastoral. Contudo, nossos hábitos alimentares podem impactar positiva ou negativamente nosso nível de energia, humor, autoimagem e bem-estar geral.

O que escolhemos como alimento é muito importante. Em primeiro lugar, porque precisamos cuidar bem do corpo que Deus nos deu. Portanto, devemos ter uma dieta equilibrada. Você se lembra do que aprendeu na escola primária? Os professores nos ensinavam a comer os quatro grupos básicos de alimentos: produtos derivados do leite, proteínas, frutas, vegetais e grãos. Uma dieta balanceada nos dá a energia de que precisamos para realizar a obra do Senhor.

Em segundo lugar, estamos dando exemplo aos membros da igreja e a nossos familiares. Um dos elementos que constituem o fruto do Espírito é o domínio próprio, que envolve o aprendizado da arte de cuidar de si mesmo. Não é difícil engordar. Uma grande quantidade de calorias pode ser consumida em um instante. Mostremos aos membros da igreja que podemos exercer bom senso em nossa dieta.

Exercite-se regularmente. Além de uma alimentação saudável, nosso corpo precisa de exercícios físicos regulares. Muitas vezes os pastores são impelidos a um estilo de vida sedentário. Com exceção do tempo em que estamos em pé para pregar, frequentemente estamos sentados, seja no carro, na biblioteca ou na casa dos membros da igreja. Visto que temos flexibilidade para determinar nossa agenda diária, tente encaixar o exercício físico no calendário semanal. Apenas matricular-se em uma academia não garante que vamos nos exercitar com regularidade nem que praticaremos algum exercício.

As estatísticas continuam a indicar como o exercício beneficia a qualidade da nossa vida em geral. David Biebel e Harold Koenig afirmam: “A atividade física regular reduz o risco de doença arterial coronariana, acidente vascular cerebral e câncer de cólon. A atividade física regular reduz o risco de desenvolver diabetes tipo 2 ou hipertensão arterial. […] A atividade física regular pode ajudar a reduzir o estresse e os sentimentos de depressão e ansiedade. A atividade física regular pode ajudar a aliviar ou prevenir a dor nas costas.”5 A lista poderia ser muito extensa. Não se sinta culpado diante dos membros de sua igreja porque frequenta a academia. Arranje tempo para exercícios regulares. Isso trará felicidade a você e beneficiará sua igreja também.

Descanse. Ser pastor não é um trabalho realizado em horário comercial fixo, mas um chamado que não tem escala definida. Quando nossas ovelhas precisam de nós, devemos estar presentes. Muitos pastores são pressionados pelo tempo. Depois de cuidar dos nossos fiéis, há tempo para o descanso pessoal e relaxamento?

Apesar de tudo o que você tem para fazer a cada semana, tire um dia de folga! Saia, explore as belezas naturais e conheça pontos turísticos. Brinque com seus filhos em um parque. Saia para nadar, ou leve seu cônjuge para uma caminhada romântica na praia. Tire uma soneca sempre que possível. Leia o jornal enquanto desfruta de um copo de suco natural. Leve seus filhos para brincar com os amigos. Tire sua mente do trabalho e permita que seu corpo relaxe enquanto se dedica a seu hobby favorito.

Quando não descansamos o suficiente, nosso corpo nos alerta de que algo não está bem. Agimos com irritação e indelicadeza com os outros. Não gostamos do que estamos fazendo. Em suma, o tempo em que estamos acordados passa a ser depressivo. Portanto, precisamos cuidar da nossa saúde física.

Hábitos relacionais

Existem noções variadas sobre as amizades que os pastores podem nutrir. Um grupo menor incentiva os ministros a buscar amizades com os membros da igreja. Por outro lado, uma considerável quantidade de líderes mais experientes insiste em dizer que os pastores não devem de nenhuma forma procurar ser amigos próximos de suas ovelhas. Se os pastores não podem buscar amizades dentro dos limites de suas congregações, para onde eles devem se voltar em busca de apoio? Todos, inclusive os pastores, precisam de um confidente!

Faça um amigo no ministério. Como Gary Kinnaman e Alfred Ells testemunham, “a maioria das pessoas no ministério pastoral não tem amizades íntimas e, consequentemente, são assustadoramente solitárias e perigosamente vulneráveis”.6 Por isso, parece natural que os relacionamentos sejam explorados por meio da amizade com outros pastores.

Contudo, construir amizade com um colega infelizmente pode parecer difícil. Os pastores lutam com todos os tipos de insegurança quando se comparam com os outros. Lembro-me de que, durante meu primeiro ano de ministério, recebi um convite para um jantar de pastores. O clima do lugar era abafado e estranho. Perguntas sobre números foram lançadas livremente, como “Quantos casais você tem em sua igreja?”, ou “Qual porcentagem de sua oferta é destinada ao evangelismo?” Parecia que a agenda da noite era o julgamento dos “competidores” presentes no evento.

O que devemos admitir, especialmente como pastores, é que Deus abençoa cada pessoa de maneira diferente. Devemos superar a mesquinhez e parar com o territorialismo que dificulta nossa eficiência. Trabalhamos para o mesmo Empregador, cujo nome é Deus. Como uma joia rara, existem pastores com quem podemos dialogar além dos números. Isso pode exigir sua própria iniciativa, mas você vai achar que vale a pena o esforço. Amizades entre pastores são possíveis, mas precisamos amenizar nossas inseguranças e colocar valor em coisas que realmente importam.

Preste contas a alguém. Billy Graham fazia questão disso para se proteger de situações comprometedoras e do comportamento licencioso. Prestar contas a alguém é fundamental no ministério pastoral. Precisamos de pessoas que nos apresentem perguntas difíceis e façam tudo o que é humanamente possível para nos impedir de cair no pecado. Provérbios 18:24 destaca que “o homem que tem muitos amigos sai perdendo, mas há amigo mais chegado do que um irmão.” Esse tipo de amizade é muito raro, mas, possível. Para superar as tentações da vida e do ministério, precisamos de um amigo íntimo, um companheiro para o qual tenhamos que prestar contas. Devemos encontrar alguém em quem possamos confiar e com quem possamos abrir o coração. Podemos desafiar um ao outro para ter uma vida santa. Esse tipo de amizade se desenvolve com muito tempo e sacrifício, mas é fundamental para nossa vida.

Hábitos espirituais

Exercitar as disciplinas espirituais nunca foi meu forte. Talvez você se identifique com essa confissão. Durante o período de estudos no seminário, a desculpa em que eu mais confiava eram as famosas palavras de um seminarista: “Quando eu me tornar pastor, serei mais determinado quanto à nutrição de minha vida espiritual. Não tenho tempo agora, mas terei tempo no futuro.” Depois que me tornei pastor, a situação não melhorou muito. A sequidão espiritual não é única entre os pastores. Angie Best-Boss diz: “O cultivo do crescimento espiritual pessoal talvez seja uma das áreas mais negligenciadas da vida dos pastores.”7

É possível estabelecer uma relação direta entre nossa saúde espiritual e nosso grau de satisfação na vida. “Os pastores que se sentem satisfeitos com sua vida de oração e devoção tendem a se sentir igualmente satisfeitos com sua vida conjugal e familiar, seu ministério, com o apoio da congregação e com o respeito demonstrado a eles pelos líderes da igreja local e da organização.”8 Quando não me importo com minha saúde espiritual, fico mais facilmente desencorajado e cada vez menos otimista em relação ao que Deus pode realizar. Os pastores crescem com base no tempo significativo dedicado ao Senhor. Estejam em um contínuo relacionamento com o Deus verdadeiro e vivo. Não negligencie sua alma nem seu corpo por causa das ocupações e atividades do ministério. 

Referências

  • 1 Uma versão mais longa deste artigo foi publicada em Matthew D. Kim, 7 Lessons for New Pastors: Your First Year in Ministry (St. Louis, MO: Chalice Press, 2012), p. 59-76. Usado com permissão.
  • 2 Derek Tidball, Skillful Shepherds: An Introduction to Pastoral Theology (Grand Rapids, MI: Zondervan, 1986), p. 315.
  • 3 Roy M. Oswald, Clergy Self-Care: Finding a Balance for Effective Ministry (Nova York: The Alban Institute, 1991), p. 3.
  • 4 Christine Maslach, “Burned-Out”, em Human Behavior (1978): p. 17-20.
  • 5 David B. Biebel e Harold G. Koenig, Simple Health: Easy and Inexpensive Things You Can Do to Improve Your Health (Lake Mary, FL: Siloam, 2005), p. 47.
  • 6 Gary D. Kinnaman e Alfred H. Ells, Leaders that Last: How Covenant Friendships Can Help Pastors Thrive (Grand Rapids, MI: Baker, 2003), p. 10.
  • 7 Angie Best-Boss, Surviving Your First Year as Pastor: What Seminary Couldn’t Teach You (Valley Forge, PA: Judson, 1999), p. 77.
  • 8 William E. Hulme, Milo L. Brekke e William C. Behrens, Pastors in Ministry: Guidelines for Seven Critical Issues (Mineápolis, MN: Augsburg, 1985),
    p. 45.