Seis passos para plantar igrejas que se reproduzem
Peter Roennfeldt
No fim de meu primeiro ano de ministério, o presidente da Associação em que eu servia olhou para o vasto território que me fora designado e sugeriu que eu “plantasse uma nova igreja em uma das cidades não alcançadas”. Com o envolvimento dos membros de minhas duas igrejas, plantei outra. Quarenta anos depois, tendo plantado mais de 20 igrejas e capacitado centenas de equipes de plantação em todo o mundo, aprendi a seguir um processo de seis etapas para estabelecer congregações que se multiplicam. Esse método baseia-se na grande comissão (Mt 28), nas parábolas do reino (Mc 4), no modelo para equipar discípulos (Lc 10), na orientação para o recebimento do Espírito Santo (At 1) e na humildade e sacrifício de Cristo como modelo pessoal e para a igreja (Fp 2).
Quando Jesus ordenou aos doze que fizessem discípulos de todas as nações (Mt 28:18-20), Ele não falava apenas das nações como as definimos atualmente, mas também dos múltiplos fluxos relacionais encontrados em cada sociedade. Em nossos dias, existem diversos laços de relacionamento, incluindo o trabalho e as redes sociais. Enquanto a parábola do semeador afirma que o solo bom produz uma colheita abundante (Mc 4:8), a parábola da semente que germina sugere um processo de crescimento (v. 26-29).
O campo vazio é semeado; o campo semeado brota; a lavoura cresce “por si mesma”, até que se torne pronta para a colheita. No tempo da ceifa, os agricultores do Oriente Médio recolhiam a messe para alimentação e negócios, mas mantinham as melhores sementes para semeadura na safra seguinte. Em conexão com os princípios enunciados em Lucas 10:1 a 24, os campos sugerem um processo de seis passos para plantio de novas igrejas que se multiplicam.1
O processo de seis passos começa com a entrada em um campo vazio, talvez uma nova comunidade, um novo bairro, uma cidade não alcançada, membros descrentes da família ou amigos desligados da igreja. No contexto adventista, antes de iniciar o trabalho, o sábio plantador conversa com
o presidente da Associação local, delineando planos e buscando aconselhamento.
Oração
O primeiro passo inclui aprender a orar regularmente, porque a oração abre nossa percepção para as intenções e atividades de Deus na lavoura. Ao procurar o derramamento do Espírito Santo, empenhados em oração e ouvindo a comunidade (nas ruas, nos centros comerciais e nos lares), tomamos consciência da colheita potencial e da necessidade de mais trabalhadores.
A leitura conjunta do livro de Atos inspirará a equipe a trabalhar por amigos não cristãos.
Conexão
O segundo passo envolve alguma preparação. Como você descreveria o campo vazio para o qual Deus o chamou a trabalhar? Quem são as pessoas que você deseja alcançar? Dados de censo, pesquisa, visitação ou entrevistas identificarão necessidades da comunidade e pessoas-chave receptivas ao Espírito Santo. Jesus as descreveu como filhos da paz (Lc 10:5-7),
pessoas hospitaleiras, receptivas e com reputação e influência.
Ele disse para nos conectarmos a essas pessoas. “Quando entrardes numa cidade e ali vos receberem, comei do que vos for oferecido. Curai os enfermos que nela houver e anunciai-lhes: ‘A vós outros está próximo o reino de Deus’” (Lc 10:8, 9). Cristo se conectou às pessoas relacionando-se com os desejos e necessidades delas. Atualmente isso pode envolver jantares comunitários, refeições com marginalizados, abrigos para meninas ou mulheres em situação de risco, atividades para crianças, feiras de saúde, exercícios físicos, grupos de caminhada, programas de reabilitação de drogas ou álcool ou seminários bíblicos.
Não se pode subestimar a influência de uma refeição conjunta. Compartilhar o alimento ajuda a desenvolver confiança, explora culturas variadas, cria novos relacionamentos e proporciona novas experiências. Em torno da mesa as mágoas mais profundas são reveladas, dando oportunidade para a cura por meio da escuta, do toque e da oração, usando a linguagem não religiosa, cotidiana. Nesse contexto, você é capaz de se comunicar com os outros, levando em conta sua cosmovisão cristã. Jesus disse: “Curem os doentes […] e digam: ‘O Reino de Deus chegou até vocês’” (Lc 10:9, NTLH). Nos dias de Cristo, isso era um chamado ao arrependimento.
A escolha da semente e como a semeadura ocorre é fundamental no processo de plantação de igrejas. Dos quatro versículos da parábola da semente que germina, dois lidam com a forma como ela cresce: “Noite e dia, estando ele [semeador] dormindo ou acordado, a semente germina e cresce, embora ele não saiba como. A terra por si própria produz o grão: primeiro o talo, depois a espiga e, então, o grão cheio na espiga” (Mc 4:27, 28, NVI).
Como a semente pode ser semeada sem interferir no crescimento espiritual daqueles com quem compartilhamos o evangelho? Como podemos agir para que as pessoas não se tornem dependentes de nós? Os passos que a equipe de plantação de igrejas tomará nesse momento afetarão o tipo de colheita, bem como se a nova igreja se multiplicará ou se tornará um fardo, exigindo recursos da denominação. As próximas três fases no plantio se relacionam com o processo de semeadura, cultivo e colheita.
Semeadura
Se agirmos como especialistas, os alunos poderão se tornar dependentes. Alguns entendem que são necessários anos de instrução antes que possam compartilhar sua fé. No entanto, se eles experimentarem como estudar a Palavra de Deus por si mesmos sob a instrução do Espírito Santo, eles estarão capacitados a compartilhar o evangelho em seus relacionamentos, mesmo antes de se comprometerem plenamente como seguidores de Cristo.
Construir relacionamentos com filhos da paz a ponto de poder convidá-los a ler um dos Evangelhos pode não demorar muito. De fato, a experiência mostra que é melhor semear no início da relação. Comece fazendo o seguinte: Se os filhos da paz sabem quem é Jesus Cristo e estão prontos para explorar as crenças básicas da fé cristã, ler o Evangelho de João e usar perguntas de discussão é um excelente ponto de partida. No entanto, atualmente, muitas pessoas desconhecem a vida de Jesus. Nesses casos, descobriu-se que o Evangelho de Marcos abre o caminho para que elas aprendam de Cristo e compartilhem Sua história em seus relacionamentos. Além disso, você ainda pode fazer o seguinte:
1. Mostre onde elas podem adquirir uma Bíblia.
2. Revele o valor da leitura junto aos amigos ou à família.
3. Leia uma história ou capítulo de cada vez.
4. Use perguntas simples para discussão.
Esse estudo em grupo deve levar às questões: O que é novo para nós? O que não gostamos? O que não entendemos? O que vamos aplicar em nossa vida? Com quem vamos compartilhar nossas descobertas e o que compartilharemos?
Diga que você estará em contato para saber o que os interessados estão descobrindo e apresentar outras histórias sobre Jesus. Você deve reconhecer a importância de não se impor ou tentar controlá-los. A semente é a história de Cristo, e você está seguindo um processo pelo qual o
Espírito Santo pode cultivar o crescimento “por si mesmo”, quer você esteja acordado ou dormindo.
Cultivo
A menos que você esteja em um país ou lugar em que adquirir uma Bíblia seja extremamente difícil, dê às pessoas a liberdade e a responsabilidade de fazer isso por elas mesmas. Lembre-se, os
filhos da paz geralmente tomam a iniciativa e podem ser a chave para alcançar e plantar uma igreja dentro de seus fluxos relacionais. Oriente e incentive essas pessoas-chave, mesmo antes de elas chegarem a Jesus. Ligue, visite e invista tempo em refeições e desenvolvimento de amizade. Saiba como elas estão crescendo na leitura da Bíblia, descoberta espiritual e aplicação pessoal, mas não assuma a postura de especialista, tornando-as dependentes de você.
Aqui está uma abordagem eficaz. Quando você fizer uma visita, pergunte-lhes como vai a leitura do Evangelho de Marcos. O que elas descobriram? O que aplicaram à vida ou compartilharam com outras pessoas? Como seus amigos estão reagindo à sua jornada de descoberta espiritual? Lance mais sementes lendo outra história de Jesus. Explique o conceito bíblico de que há “princípios elementares da doutrina de Cristo” (Hb 6:1-3) – arrependimento, fé, batismo, “imposição de mãos”, ressurreição e julgamento – e que você gostaria de ler relatos que exploram esses temas. Por exemplo, em sua primeira visita, você poderia ler a história de Zaqueu (Lc 19:1-10) ou da mulher samaritana (Jo 4:1-42) para falar sobre o arrependimento, o primeiro ensino elementar.
Use uma abordagem relacional ao invés de um estudo acadêmico. Convide alguém para ler o relato ou o capítulo. Em seguida, peça que outra pessoa leia novamente toda a história, talvez a partir de outra tradução, se estiver disponível. Um participante pode recontar a narrativa em suas palavras e compartilhar o que descobriu. Finalmente, faça a pergunta: O que isso lhe diz sobre o arrependimento (ou o ensino elementar que está sendo explorado na visita)? Você quase não precisa comentar nada, e a visita pode terminar com uma oração simples em linguagem cotidiana.
Semana após semana, o grupo lerá o Evangelho e você o visitará para explorar relatos da vida de Jesus, conforme eles se relacionam com os ensinamentos bíblicos elementares. À medida que eles amadurecem na fé, você pode sugerir capítulos sobre a oração (Lc 11:1-13), o Espírito Santo (Jo 14:1-23), a segunda vinda de Cristo (Mt 24), ou Seu relacionamento com o sábado (Jo 5, 9, 10). Certifique-se de perguntar sobre a relação deles com Jesus. Discuta regularmente como os ensinos de Cristo estão afetando sua vida e a de seus amigos. Pode não levar muito tempo para o Espírito Santo convencê-los a seguir Jesus. Geralmente, nesse estágio da jornada, as pessoas pedem o batismo.
Quando estiverem prontas para explorar as doutrinas bíblicas do adventismo, sugira-lhes que leiam o Evangelho de João, uma vez que abrange todos os fundamentos doutrinários. Reuniões em pequenos grupos ou seminários evangelísticos ajudarão os novos crentes com respostas a perguntas específicas, esclarecendo preocupações e aliviando medos. Cuidando para que eles não se tornem dependentes, tais programas de ensino têm ajudado a reunir novos crentes em novas igrejas.
Reunião
À medida que os discípulos crescem, eles procuram se reunir. Esse é o significado prático da palavra igreja – reunião de discípulos. Envolva todos (equipe de plantadores, filhos da paz e amigos sem igreja) para discutir como esse encontro pode ser. Explore o que Jesus disse sobre dar “as chaves do reino” à Sua igreja (Mt 16:15-19). Reflita sobre a comunidade de Jerusalém (At 2:42-47; 4:32-37), os primórdios da igreja de Antioquia (At 11:19-26) e a instrução de Paulo sobre o culto participativo em Corinto (1Co 14:26).
Juntos, determinem o lugar da comida, da comunhão, da participação, do diálogo, do encorajamento, da leitura e discussão da Palavra de Deus, da oração, do louvor, do cuidado, do testemunho e do crescimento. Esses são elementos-chave para uma comunidade que se multiplica. O lugar em que as pessoas se reúnem também impactará significativamente quem estará envolvido e a capacidade de multiplicação do grupo. Discutam as vantagens e desvantagens de continuar se reunindo em uma das casas onde o grupo tem se encontrado. E sobre outras casas? Existem outras instalações comunitárias convenientes que poderiam ser usadas para reuniões de grupo com pouco ou nenhum custo? Um restaurante poderia ser usado para encontros de oração e planejamento?
Determinar em conjunto as estruturas funcionais proporciona mais oportunidades para capacitar. Como as responsabilidades serão partilhadas? Quem será o responsável pela tesouraria da igreja? Será que a liderança conversacional será adequada nessa nova fase?
Naturalmente, nenhuma jornada de plantio de igreja ocorre isoladamente. Oficiais da Associação, o pastor ou líderes-chave da igreja-mãe devem aproveitar as oportunidades para estar com o núcleo da nova igreja, conectando-se com os filhos da paz e outros interessados. Como líderes cristãos, devem estimular o crescimento espiritual e encorajar o movimento crescente de novas comunidades de fé. O núcleo da nova igreja também convidará seus amigos para eventos organizados pela Associação ou União local. Celebrações, campais, reuniões com plantadores de igreja ou capacitações proporcionam ambientes particularmente dinâmicos para conectar-se com a irmandade de igrejas adventistas.
Multiplicação
A colheita deve levar ao plantio novamente. Esse não é um processo aleatório. Igrejas saudáveis se multiplicam intencionalmente. Elas identificam e promovem processos simples, orgânicos e reproduzíveis. Os novos crentes estão conectados a novos relacionamentos, nos quais o evangelho pode ser semeado.
Novas igrejas são tentadas a querer crescer, a fim de tornar-se como outras igrejas. No entanto, crescimento quantitativo não é sinônimo exato de saúde. Quando a tentação surge, é tempo de reler o livro de Atos. A história da igreja de Antioquia e de sua disposição multiplicadora revela o desejo de Deus para todas as igrejas (At 13:1-4). Nesse contexto, discuta como Paulo plantou duas congregações em Filipos dentro de algumas semanas (At 16:6-34) e várias igrejas em Corinto (At 18:1-18; Rm 16:1). Considere como o apóstolo multiplicou líderes e comunidades de fé em toda a província romana da Ásia a partir da igreja de Éfeso (At 19:1-22) e aplique esses princípios.
Retrato de Deus
A igreja é o corpo de Cristo. O plantio de igreja deve refletir Seu coração e Sua atitude. Jesus, “subsistindo em forma de Deus”, escolheu um caminho de humilhação e morte, porque considerava os interesses dos outros acima dos Seus, a fim de que Deus fosse exaltado. Aqueles que estão em Cristo e em comunhão no Espírito compartilharão dessa mesma atitude (ver Fp 2:1-11). A encarnação fornece o modelo de como as novas igrejas devem se relacionar, servir, organizar, estruturar, adorar, comungar e multiplicar!
Referência
1 Nathan e Kari Shank, Reproducing Churches Using Simple Tools, 2007.