A maioria das pessoas concordaria que boa liderança é algo como uma orquestra de metais reunida no palco da vida, tocando uma linda música. Cada instrumento representa um modelo ou qualidade de liderança que tem seu valor específico, mas une-se a outros instrumentos e, juntos, criam uma harmonia cativante que transporta a audiência a uma experiência comum construtiva.
Ou, talvez, liderança de qualidade seja mais semelhante a uma receita de determinado prato, no qual toma-se um grupo de ingredientes cuidadosamente escolhidos, misturando-os em proporções dosadas. Depois de cozido ou assado, o prato está pronto para ser servido com o acompanhamento certo, de modo que a família fique satisfeita e nutrida.
Liderança é de vital importância para nós, em virtude de girar constantemente em torno de questões de poder e influência. Como pastores, representamos a liderança da Igreja. E, para lidar com os assuntos pertinentes a ela, estudamos volumosos livros, lemos revistas e pesquisamos na Internet. Analisamos entrevistas com líderes de sucesso, organizamos e participamos de congressos, e assistimos a videoconferências.
Mesmo em face de tudo isso, eu gostaria de mencionar que ainda existe um princípio jugular de liderança que precisa ser destacado acima de qualquer outro. Para descrevê-lo, necessito recorrer às vividas palavras de um renomado erudito contemporâneo, William Glasser, que escreve sobre liderança no ambiente de trabalho em geral.
Em seu livro Choice Theory [Teoria da Escolha], página 289, ele diz: “Mal temos conseguido tocar a superfície da prosperidade que poderíamos experimentar, se mudássemos do conceito de chefiar para o de liderar no ambiente de trabalho. … Não sou tão ingênuo para dizer que as pessoas não trabalharão duro para os chefes. Muitas o farão porque se vêem como trabalhadores dedicados, independentemente do tratamento recebido. Tais pessoas darão suas mãos e até o cérebro ao chefe. Mas entregarão o coração apenas a um líder, e o sentimento que experimentamos quando isso acontece é algo que um chefe jamais conhecerá.”
Chefe versus líder. Qual é a diferença? Note que os servidores “entregarão o coração apenas a um líder…” O núcleo da diferença entre um chefe e um líder reside no fato de que o líder captou a visão de quão decisivo é liderar atraindo o coração daqueles que trabalham consigo. Ele conhece o insuperável valor de liderar a partir dessa perspectiva. Embora o líder não seja capaz de fazer isso inalterada e consistentemente em toda situação, esse é sempre o fundamento essencial de uma liderança saudavelmente orientada. Ajuda a tomar mais palatáveis e efetivas certas atitudes que devem ser tomadas em tempos difíceis, quando o líder precisa agir como “o chefe”.
Um chefe simplesmente não captou essa visão. Quanto mais ele sente que não conquistou o coração dos seus liderados (uma frustração comum para ele), mais inseguro tende a se tomar, e mais propenso a agir com autoritarismo. E, quanto mais se comporta desse modo, mais sua abordagem afasta as pessoas. Assim, a tendência natural é tentar remediar o desvio tornando-se ainda mais autoritário. Essa forma de administrar ou simplesmente gerenciar – que não é realmente liderar – acaba se tomando seu estilo predominante e defeituoso. Jesus foi, na realidade, o Líder maior. Seu modelo de liderança era o discipulado, e essa é uma palavra-chave quando precisamos abordar o tipo de liderança que estamos advogando aqui. Cristo deu Sua vida inteira para modelar tal estilo de liderança (ver Mar. 10:32-45). Ele liderou com o supremo objetivo de alcançar as pessoas, de modo que elas se aproximassem e vissem por si mesmas a magnificência de Sua visão, e escolhessem segui-Lo, livremente e por sua própria vontade. Jamais Ele necessitou recorrer ao conceito de “chefia”. Se há uma área de trabalho na qual, pela própria natureza das coisas, é crucial ganhar o coração das pessoas que lideramos, essa área é a do ministério cristão.
Não deveríamos nos esforçar no sentido de sermos apenas bons líderes. Devemos, pela graça de Deus, procurar desenvolver um estilo de liderança excelente, genuinamente cheio do Espírito. Sim, devemos nos tornar líderes espirituais, cujas eficiência e efetividade são realidade porque, como Jesus, priorizamos as pessoas e ficamos felizes somente com uma abordagem que nos leva ao coração delas.
Willmore Eva, Ex-editor de Ministry