Recentes explorações da região ao sul e sudeste de Bab edh-Dhra trouxeram à luz as ruínas de quatro outras cidades antigas: Numeira, 13 km ao sul; Safi, 13 km mais ao sul; Feifa, 10 km ao sul de Safi; e Khanazir, 6 km ao sul de Feifa. Todas essas cidades existiram no começo da Idade do Bronze, e parece que foram destruídas mais ou menos ao mesmo tempo, a saber: antes de 2000 A.C. Alguns eruditos têm sugerido cautelosamente que essas cinco cidades devem ser ligadas às “Cidades da Planície”, de Gênesis 18 e 19. Se essa insinuação for correta, então o período patriarcal, que comumente tem sido identificado com a parte média da Idade do Bronze I, teria de ser elevado para as etapas finais do começo da Idade de Bronze, isto é, para os últimos séculos do terceiro milênio A.C. É muito cedo, neste ponto das explorações em Bab edh-Dhra e nas localidades mais ao sul, para fazer uma declaração definida a esse respeito.59

3. Siquém. Depois de Jerusalém, Siquém era uma das cidades mais importantes da Palestina. A despeito de algumas interrupções, esta cidade desempenhou um papel relevante na história de Israel, desde o período patriarcal até o tempo dos Macabeus.

As primeiras escavações em Siquém foram efetuadas por expedições austríaco-alemãs, em 1913 e 1914, e novamente em 1926 a 1934, sob diversos diretores, e depois por uma expedição americana, em 1956 a 1972, da qual eu participei em diversas ocasiões. Os resultados desse trabalho de muitos períodos aumentaram consideravelmente o nosso conhecimento da antiga história dessa cidade. Foi escavada a área sagrada, em que houve primeiro o pátio de um santuário e mais tarde um templo-fortaleza dedicado a Elberith, “o deus do concerto”. Este templo, destruído por Abimeleque, filho do juiz Gideão (Juízes 9), nos proveu uma data, no período dos Juizes, para a qual é difícil obter datas de fontes que não sejam bíblicas. Foram descobertas as fortificações e as áreas internas dos diversos períodos da agitada história de Siquém, bem como os fundamentos do templo samaritano num dos cumes do monte Gerizim e os de um templo cananeu na encosta nordestal desse monte.60

4. Hazor. Esta grande cidade cananéia e israelita na Alta Galiléia foi escavada sob a direção de Yigael Yadin, em 1955 a 1958 e em 1968 a 1970. Hazor consistia de uma cidade baixa, fortificada, de 70 hectares, ocupada do décimo oitavo ao décimo terceiro século A.C., e de uma cidadela de 12 hectares, ocupada do vigésimo século A.C. até o período helenístico. A cidade experimentou diversas destruições. Yadin interpretou a destruição no décimo terceiro século como tendo sido efetuada pelos israelitas, sob a direção de Josué. Entretanto, é possível que essa destruição deva ser atribuída à guerra dos israelitas, sob a liderança de Débora e Baraque, contra Hazor (Juizes 4 e 5), ao passo que uma destruição mais antiga, atribuída por Yadin a Tutmés III ou a Amenhotep II, pode ter sido realizada por Josué.

Durante os últimos períodos de escavação descobriu-se um sistema de água subterrâneo, construído no nono século A. C. Consistia de um poço de cerca de 16 metros de diâmetro e 30 metros de profundidade. No fundo do poço começa um túnel inclinado de 4,75 metros de altura e 35 metros de comprimento, o qual termina num tanque situado no nível natural da água. A instalação toda testifica da importância de Hazor no tempo dos reis hebreus.

Além dos templos cananeus e de outras estruturas de extraordinário interesse, foi escavado o portão de uma cidade salomônica em Hazor, o qual era idêntico aos portões encontrados em Megido e Gezer. Visto que estas três cidades, além de Jerusalém, são mencionadas em I Reis 9:15 como os principais empreendimentos das atividades Construtoras de Salomão,, não é surpreendente encontrar nelas idênticas estruturas públicas construídas provavelmente pelo mesmo arquiteto e de acordo com os mesmos planos.61

5. Arade. Arade fica no Neguebe, o deserto sul-oriental da Judéia. A razão para ser mencionada entre as cidades-chave do antigo Israel escavadas em anos recentes é o fato de que ali, pela primeira vez, foram encontradas as ruínas de um templo hebraico. As escavações de Arade foram dirigidas por Yohanan Aharoni, em 1962 a 1967, quando então se descobriu esse templo que pode ter sido construído originalmente no tempo de Salomão, quando esse rei tolerava a edificação de relicários de outros deuses. Ele continuou a ser usado — sendo reconstruído uma vez no nono século A. C. — provavelmente até o tempo do rei Josias, quando tais lugares de culto foram destruídos. O templo de Arade escapou à destruição porque, no planejamento da nova cidade, executado no referido tempo, parte do muro da cidade passou diretamente sobre o templo, o qual foi assim encoberto com todos os objetos de culto nele contidos. Destarte o templo preservou-se para o arqueólogo que o descobriu mais de 2.500 anos depois disso. Em Arade deparamos, portanto, com uma amostra do tipo de templos cismáticos que existiram em Judá no período anterior ao exílio e que foram denunciados por diversos profe-tas. No relato sobre os textos, já mencionamos que em Arade foram encon-trados também mais de cem óstraços, sendo que um deles faz alusão ao “Templo de Yahweh”.62

6. Berseba. Tell Berseba, escavada por Aharoni, em 1969 até sua morte prematura em 1976, não é a Berseba dos patriarcas. Essa localidade mais antiga deverá ser procurada provavelmente debaixo da moderna cidade com esse nome. A antiga cidade escavada, que fica a curta distância ao leste de Berseba moderna, só existiu durante o período dos reis israelitas.

A mais importante descoberta nessa localidade foi a de um grande altar de pedra de 1,6 metros de altura, com cornos em seus quatro cantos. Conquanto pequenos altares providos de cornos, usados provavelmente em casas particulares, tenham sido encontrados’ em várias escavações na Palestina, como as de Megido e Siquém, está é a primeira vez que veio à luz um grande altar dessa natureza, o qual deve ter pertencido ao público num santuário regular, durante o período dos reis hebreus. Sua descoberta confirmou a interpretação de que Amós 5:5 e 8:14 se referem a um santuário cismático em Berseba no tempo do profeta Amós.63

7. Ramate Rahel. Esta é uma pequena localidade, a meio-caminho entre Jerusalém e Belém, onde Aharoni dirigiu escavações em 1959 a 1962. O escavador tem afirmado plausivelmente que Ramate Hahel deve ser identificada com a cidade bíblica de Bete-Haquerém. All foram encontradas as ruínas de um palácio real dos últimos reis de Judá. Não se descobriu nenhum objeto nas ruínas desse palácio, o que indica que ele provavelmente foi completamente saqueado pelas forças babilônicas quando elas o destruíram, ou em 597 A. C., quando levaram o rei Joaquim para o exílio, ou durante o cerco de Jerusalém, em 588-586 A. C. Foram encontrados, porém, vários capitéis de pedra proto-eólicos que em tempos passados rematavam colunas, e a balaustrada de pedra de uma janela. Este aspecto arquitetônico é conhecido por representações encontradas em placas de marfim que retratam uma mulher olhando por uma janela, cuja parte inferior consiste de uma balaustrada semelhança à que foi encontrada em Ramate Rahel. Compõe-se de uma fileira de pequenas colunas, decoradas com um motivo de uma pétala inclinada e encimadas por pequenos capitéis de tipo proto-eólico, ligadas nas bordas das volutas. Além disso, um caco de louça encontrado durante as escavações contém um desenho que representa um rei barbado, com cabelo encaracolado, vestido de um manto ornamentado, com mangas curtas, sentado numa alta cadeira decorada. Visto que esse caco é de um utensílio local, o desenho deve ser o de um artista local, e como foi encontrado num palácio real, somos propensos a ver nesse quadro a representação de um dos últimos reis de Judá.64

8. Qumran. Khirbet Qumran fora conhecida por muito tempo como uma antiga localidade em ruínas, mas ninguém lhe atribuira grande significação histórica. Quando, porém, em suas cercanias foram descobertos manuscritos hebraicos numa caverna após a outra, considerou-se de bom alvitre investigar essas ruínas e verificar se existia alguma conexão entre o povo que habitava em Qumran e as pessoas que deixaram os rolos nas cavernas. Portanto, efetuaram-se sondagens sob a direção de Rolando de Vaux, em 1951, e quando os escavadores trouxeram à luz cerâmica idêntica à que havia sido descoberta na primeira caverna, foram realizadas escavações em grande escala, em 1953 a 1956. Essas escavações revelaram que Khirbet Qumran fora um centro comunitário dos essênios semelhante a um mosteiro. Ali os membros da seita trabalhavam, comiam e adoravam juntos numa vida comunal, embora passassem as noites nas cavernas situadas nos arredores . A propriedade continha diversos tanques ao ar livre, abastecidos por um aqueduto que trazia água das montanhas a oeste de Qumran. Alguns desses tanques serviam de reservatórios de água potável, ao passo que outros eram necessários para as abluções religiosas dos membros da seita, contendo, portanto, escadas para poderem entrar na água. Além disso, as escavações trouxeram à luz uma fábrica de cerâmica, onde os membros da seita fabricavam seus próprios utensílios; uma cozinha repleta de artigos de cutelaria; um refeitório; uma sala de reuniões onde eles prestavam culto; e compridos bancos e mesas usados como escritório. Consitiam de armações de madeira, agora desintegradas, as quais se achavam revestidas de camadas de reboco. Também foram encontrados alguns tinteiros em conexão com as mesas e os bancos.

Em Ain Feshkha, um oásis a uns três quilômetros ao sul de Qumran, os essênios dirigiam uma propriedade rural que lhes provia os artigos de primeira necessidade. Foram escavados os edifícios dessa localidade: O estudo da literatura dos essênios encontrada nas cavernas, acrescido dos resultados das escavações em Qumran, possibilitou que reconstruíssemos a história, o estilo de vida e as crenças e os costumes religiosos da seita dos essênios.65

9. Jerusalém. Algumas das mais importantes escavações já realizadas na Cidade Santa foram efetuadas nos últimos 20 anos, primeiro por Kathleen Kenyon, em 1961 a 1967,66 e, depois da Guerra dos Seis Dias, por eruditos israelenses.67 Essas escavações solucionaram até alguns dos mais intrincados problemas da história da cidade antiga. Entre essas questões incertas podemos citar as seguintes: 1) A Fonte de Giom era acessível do lado interno da cidade dos jebuseus e de Davi? 2) A colina ocidental se achava incluída na Jerusalém do Velho Testamento, e, em caso afirmativo, desde quando? 3) O local da Igreja do Santo Sepulcro estava dentro ou fora da cidade no tempo de Cristo? Nas encostas orientais do outeiro de Ofel e um pouco a oeste e acima da Fonte de Giom, Kenyon escavou uma parte do muro jebuseu da cidade de Jerusalém conquistada por Davi. Ela solveu dessa maneira um molesto problema que apoquentou os arqueólogos desde que um trecho do muro da cidade, escavado por R. A. F. Macalister e J. G. Duncan, na década de 1920, fora interpretado como parte do muro jebuseu, com alguns reparos visíveis atribuídos ao rei Davi. No entanto, esse muro ficava a oeste da íngreme rampa que conduzia ao “Poço de Warren” e a um túnel aberto na rocha até o Giom, não dando portanto acesso à água da fonte sem afastar-se do muro protetor da cidade. Kenyon descobriu que o muro Macalister-Duncan, com sua torre e trincheira, foi construído no tempo de Neemias e mais tarde, e que o verdadeiro muro jebuseu, do qual ele encontrou claros vestígios, ficava mais abaixo na encosta da colina, a leste da entrada da rede de água subterrânea, a qual se encontrava assim bem dentro da cidade.6*

As escavações de Nahman Avigad na zona judaica da Velha Cidade desvendaram uma parte de um antigo muro de 7 metros de espessura, do qual ele escavou um setor de 65 metros de comprimento, bem como as ruínas de uma torre forte, construída por Ezequias ou por seu filho Manassés. Estas descobertas provaram que aparte oriental da colina ocidental estava incluída na cidade murada de Jerusalém pelo menos desde o tempo de Manassés, e talvez já mesmo desde os dias do rei Ezequias. 69

As escavações de Kenyon, em 1961 a 1963, e de Ute Lux, em 1970 e 1971, ambas efetuadas a sudeste do Santo Sepulcro, revelaram que essa região ficava fora da cidade de Jerusalém no primeiro século A. D., e só foi incorporada à cidade no tempo de Adriano, no segundo século A. D. 70 Esta descoberta não solveu a questão acerca de que o Santo Sepulcro está ou não no autêntico local da crucifixão e do sepultamento de Cristo, mas tomou possível que se aceite esse local tradicional como autêntico.

Amplas escavações numa grande região ao sul e sudoeste da área do Templo foram dirigidas por Benjamim Mazar, em 1968 a 1977. Os resultados de seu trabalho são de especial importância para melhor compreensão da Jerusalém do Novo Testamento. Ele descobriu certas evidências de que a entrada sul-ocidental do Templo não era atingida através de uma ponte de muitos arcos, que se pensava ter ligado a colina ocidental de Jerusalém com a colina do Templo, e, sim, através de uma escada que conduzia do fundo do Vale de Tiropoão, passando por uma ponte de um só arco, até o Pórtico Real no pátio exterior do Templo. Além disso, Mazar descobriu a mui impressionante e monumental escada de 64 metros de largura e composta de 30 degraus, que conduzia de uma praça ao sul da área do Templo até à Porta Dupla, no muro ao sul da plataforma do Templo. Essa porta dava acesso ao pátio externo do Templo, ao Pátio dos Gentios, por meio de uma íngreme rampa subterrânea que atingia a superfície do pátio um pouco ao norte do Pórtico Real. É preciso ver essas ruínas da Jerusalém do Novo Testamento para apreciar devidamente a beleza dessa cidade no tempo de Cristo.”

Durante as escavações veio à luz um grande número de fileiras de pedra do muro meridional de sustentação da plataforma do Templo construída por Herodes, o Grande. Nalguns lugares foram preservadas 34 fileiras de alvenaria, tendo cada uma delas 1,14 metros de espessura, e alguns desses blocos de pedra têm 10,5 metros de comprimento. Foram cortadas primorosamente e se ajustam tão bem que não houve necessidade de argamassa entre os blocos de pedra individuais. Tendo sido protegidas pelo entulho por quase dois mil anos, as pedras das partes recentemente escavadas do muro herodiano não se desgastaram; elas têm a aparência de que acabaram de sair das mãos dos pedreiros.72 Ver este muro nos ajuda a compreender melhor como os discípulos de Cristo encaravam com pasmo e admiração as estruturas do Templo de Jerusalém (S. Mat. 24:1). Partes da rua pavimentada foram escavadas do lado de fora e ao longo dos muros de sustentação situados a oeste e ao sul da plataforma do Templo herodiano. Nesse pavimento há grandes blocos de pedra em grande desordem, exatamente como caíram das estruturas erigidas sobre a plataforma acima da rua, quando esses edifícios foram destruídos pelos soldados de Tito, em 70 A. D.

Antes de deixar esta parte de nosso estudo, quero acentuar mais uma vez que de maneira alguma apresentei na íntegra a profusão do material encontrado nas escavações das localidades mencionadas. Por exemplo, só fiz alusão a bem poucos objetos descobertos durante essas escavações e também fui influenciado em certa medida, na escolha dessas localidades, por meus próprios interesses. Alguns leitores provavelmente desejariam que houvessem sido incluídas tão importantes escavações como as de Betei, Dã, En-Gedi, Gezer, Gibeá, Gibeom, Hesbom, Laquis, Megido, Taanaque, Tirza e outros. Reconheço que todos esses lugares e muitos outros fizeram importantes contribuições para a nossa compreensão da história, cultura e religião bíblica, mas o tempo e o espaço me impuseram certas restrições. O fato de que tanta coisa não foi considerada nesta sinopse realça o que eu disse no início, a saber: que a quantidade de evidências arqueológicas que foram desenterradas durante os últimos trinta anos é tão surpreendente que se toma impossível expor adequadamente o assunto num breve relato.

7. Descobertas do Novo Testamento

Há alguma coincidência desta seção com a anterior porque as escavações de algumas localidades já consideradas, tais como Qumran e Jerusalém, forneceram dados que lançaram muita luz sobre os estudos do Novo Testamento. Permiti, porém, que eu mencione algumas importantes descobertas que ainda não foram citadas.

Em primeiro lugar, cumpre fazer menção de um bom número de papiros contendo livros do Novo Testamento dos primeiros séculos, que foram descobertos ou publicados durante os últimos trinta anos. Dentre os principais encontram-se os papiros Bodmer, do Egito, alguns dos quais remontam ao fim do segundo século. Entre esses papiros se encontra também a mais antiga cópia das duas epístolas de Pedro conhecida até agora, procedente do terceiro século.73

Nenhum relato seria completo sem que fosse citada a grande coleção de 13 códices gnósticos descobertos em Nag Hammadi, em 1946, e publicados a partir de 1956. Alguns eruditos afirmam que esses documentos cópticos, num total de 1.200 páginas manuscritas, são de maior importância para as pesquisas bíblicas do que os rolos do Mar Morto. Preciso deixar uma verdadeira avaliação de seu significado para os meus colegas.74

Durante as escavações de Cesaréia foram descobertas duas importantíssimas inscrições fragmentárias de pedra, uma das quais faz menção de Pôncio Pilatos como prefeito da Judéia,7’ e a outra se refere a Nazaré como a sede da família secerdotal de Hapizzez após a revolta de Bar-Coqueba.76 A inscrição de Pilatos, encontrada por uma expedição italiana, sob a direção de A. Frova, durante a escavação do teatro romano de Cesaréia, em 1961, é de grande importância, porque constitui a primeira confirmação do cargo de Pilatos como governador da Palestina, procedente do primeiro século A. D., além do testemunho da Bíblia e de Josefo.

A inscrição de Nazaré, encontrada durante a escavação de Cesaréia sob a direção de Michael Avi-Yonah, em 1962, tem maior importância ainda, porque Nazaré não é mencionada em nenhuma fonte antiga, fora do Novo Testamento. Esse nome não aparece no Velho Testamento nem nas obras de Josefo, e tampouco na literatura judaica que não é bíblica. Por esta razão alguns críticos chegaram até a pôr em dúvida a sua existência nos tem-pos do Novo Testamento. Tal descoberta foi, portanto, uma ocorrência sumamente importante.

Outra descoberta muitíssimo importante ocorreu em Jerusalém, em 1968, quando foram encontrados os ossos de um homem crucificado, num sepulcro aberto em rocha, no arrabalde nordestal de Giv’at ha-Mivtar. O esqueleto foi encontrado num receptáculo de pedra chamado ossuário. Ambos os ossos calcâneos haviam sido transfixados por um grande cravo de ferro, e descobriu-se que as tíbias foram quebradas intencionalmente. Esse homem, cujo nome — Johanan — estava gravado sobre o seu ataúde, atingira 24 a 28 anos de idade ao ser executado, media 1,68 metros de altura e, evidentemente, nunca se empenhara em trabalhos pesados, segundo é evidenciado pela condição de seu esqueleto. Talvez tenha pertencido a uma família abastada, ou era um erudito ou professor, que pode ter sido executado por algum crime político. A evidência arqueológica revela que a sua crucifixão ocorreu no primeiro século A. D., antes da queda de Jerusalém em 70 A. D., e, por conseguinte, durante o tempo de ministério de Jesus ou pouco depois. Os calcâneos traspassados por um comprido cravo de ferro demonstram que ele foi crucificado de um modo muito incômodo e numa posição física extremamente dolorosa, a qual tem sido objeto de diferentes interpretações pelos eruditos.77 Visto que essa é a primeira vez em que foram encontrados os restos mortais de um indivíduo crucificado, a evidência é importante. Juntamente com outros indícios disponíveis, temos agora um quadro mais claro dos sofrimentos e das humilhações que Jesus Cristo suportou a fim de salvar a humanidade caída.

No verão do ano passado visitei pela quinta vez o Mosteiro de Santa Catarina, no sopé do monte Sinai, e obtive mais algumas informações de um guia israelense local a respeito de uma sensacional descoberta da qual eu já tomara conhecimento através de um vago relato num jornal. Depois disso, também saiu um breve anúncio no número de março de 1978, da revista Biblical Archeologist,78 que encontrei sobre minha escrivaninha ao voltar do Oriente Próximo, no fim de julho.

As informações fragmentárias, juntadas umas às outras, indicam que há uns dois anos houve um incêndio numa das estruturas construídas em sentido oposto à face interna da parede do mosteiro, causando algum dano, e durante os reparos subsequentes, os trabalhadores penetraram acidentalmente num pequeno aposento desconhecido, no qual encontraram várias caixas contendo manuscritos.

Depois dessa descoberta, três eruditos gregos, de Atenas, obtiveram permissão para estudar e microfilmar o material no mosteiro, mas eles não emitiram um relato oficial de seu trabalho e de seus achados. Segundo notícias de segunda mão, o material descoberto consiste de textos patrísticos e litúrgicos, em pergaminhos e papiros, originados entre o quarto e o nono século. O ponto mais surpreendente nesses boatos é que entre os manuscritos há algumas páginas adicionais da Bíblia incompleta, do quarto século, que Constantino von Tischendorf descobriu nesse mesmo mosteiro mais de cem anos atrás — o famoso Codex Sinaiticus, que é agora um dos inapreciáveis tesouros do Museu Britânico, em Londres.

Conclusão

Ao examinar as excitantes descobertas realizadas no âmbito da arqueologia bíblica durante as três últimas décadas não podemos deixar de sentir-nos como Ulrich von Hutten, humanista do século dezesseis, se sentiu no tempo em que a Renascença e a Reforma tornaram sua vida muito emocionante. Ele disse que freqüentemente dava graças a Deus por permitir que vivesse numa época em que era tão interessante e inspirador estar vivo. Durante as últimas décadas, ao serem feitas descobertas e mais descobertas que iluminam a Bíblia em tantos aspectos, muitas vezes também tenho ficado emocionado e grato por ver uma luz tão brilhante incidindo sobre a Bíblia em meu tempo.

É maravilhoso que durante estas três últimas décadas se descobriram dezenas de manuscritos bíblicos em hebraico, que fortaleceram a confiança dos que sempre acreditaram que o texto da Bíblia nos chegou às mãos essencialmente inalterado. Nosso coração também tem ficado excitado ao vermos que certas descobertas feitas nas terras bíblicas evidenciaram que existia uma escrita alfabética no tempo dos mais antigos escritores da Bíblia; que tais lugares como Sodoma e Gomorra não eram cidades de lendas antigas; e que muitos pormenores históricos do Velho e do Novo Testamento são historicamente fidedignos. E os sensacionais achados que estão sendo feitos constantemente nas antigas terras bíblicas prendem a imaginação de muitos diligentes estudantes da Bíblia, conforme é claramente demonstrado pela crescente popularidade de periódicos ou livros que tratam da arqueologia bíblica. Isto pode ser visto pelo fato de que a Biblical Archeology Review (“Revista de Arqueologia Bíblica”), só para citar um exemplo, já alcançou 35.000 assinantes no quarto ano de publicação. Quem sabe o que revelarão as próximas décadas? Ninguém é capaz de predizer o que o solo da Palestina ou da Mesopotâmia trará à luz antes que decorram mais trinta anos. Contudo, se os últimos trinta anos constituem uma indicação do que se pode esperar que seja descoberto no futuro, nossas esperanças não poderão ser demasiado elevadas.

Depois de Jerusalém, Siquém era uma das cidades mais importantes da Palestina. A despeito de algumas interrupções, esta cidade desempenhou um papel relevante na história de Israel, desde o período patriarcal até o tempo dos Macabeus.

As primeiras escavações em Siquém foram efetuada» por expedições austriaco-alemãs, em 1913 e 1914, e novamente em 1926 a 1934, sob diverso» diretores, e depois por uma expedição americana, em 1956 a 1972, da qual eu participei em diversas ocasiões.

Além dos templos cananeus e de outras estruturas de extraordinário interesse, foi escavado o portão de uma cidade salomônica em Hazor, o qual era idêntico aos portões encontrados em Megido e Gezer.

Arade fica no Neguebe, o deserto sul-oriental da Judéia. A razão para ser mencionada entre as cidades-chave do antigo Israel escavadas em anos recentes é o fato de que ali, pela primeira vez, foram encontradas as ruínas de um templo hebraico.

inscrição de Nazaré, encontrada durante a escavação de Cesaréia sob a direção de Michael Avi-Yonah, em 1962, tem maior importância ainda, porque Nazaré não é mencionada em nenhuma fonte antiga, fora do Novo T estamento.

59. A. Ben-Tor, “Bab edh-Dhra”, EAEHL 1:149-151; Walter E. Rast e R Thomas Schaub, “Sinopse da Planície Sul-Oriental do Mar Morto, 1973”, Annual of the Department of Antiquities of Jordan, 19 (1974): 5-53.

60. G. Ernest Wright, Shechem, the Biography of a Biblical City (Nova Iorque, 1965); Robert J. BulI, “As Escavações de Tel er-Ras no Monte Gerizim”, BA 31 (1968): 58-72.

61. Yadin, “Hazor”, EAEHL 2:474-495.

62. Aharoni, “Arade”, Idem, 1:74-75, 82-89.

63. Aharoni, “Berseba”, Idem, 1:160-168; “O Altar Provido de Cornos, de Berseba”, BA 37 (1974): 2-6.

64. Aharoni, “Bete-Haquerém”, em Archaeology and Old Testament Study (Oxford, 1967), págs. 171-184.

65. R. de Vaux, Archaeology and the Dead Sea Scrolls (Londres, 1973).

66. Kenyon, Digging Up Jerusalem (Nava Iorque, 1974).

67. Yadin, ed., Jerusalem Revealed (Jerusalém, 1975).

68. Kenyon, Digging Up Jerusalém, págs. 76-97.

69. Avigad, em Yadin, ed., Jerusalem Revealed, pág. 43; Idem, em IEJ 27 (1977): 56.

70. Kenyon, Digging Up Jerusalem, págs. 226-235, 261; Ute Lux, “Vorlãufiger Bericht über die Ausgrabung unter der Erlöserkirche im Muristan in der Altstadt von Jerusalem in den Jahren 1970 und 1971”, Zeitschrift des Deutschen Palestina Vereins 88 (1972): 184-201.

71. Benjamim Mazar, em Yadin, ed., Jerusalem Revealed, págs. 25-35.

72. Idem, fotografia na pág. 34.

73. Floyd V. Filson, “Um Novo Manuscrito de Papiro do Evangelho de S. João”, BA 20 (1957): 54-63; Filson, “Os Papiros Bodmer”, BA 22 (1959): 48-51; Filson, “Mais Papiros Bodmer”, BA 25 (1962): 50-57.

74. Victor R. Gold, “A Biblioteca Gnóstica de Cheno-boskion BA 15 (1952): 70-88; Filson, “Novos Manuscritos Gregos e Cópticos do Evangelho”, BA 24 (1961): 2-18; A. K. Helmbold, The Nag Hammadi Gnostic Texts and the Bible (Grand Rapids, Mich., 1967), James M. Robinson, ed., The Nag Hammadi Library (Nova Iorque, 1977).

75. A. Frova, “L’iscrizione di Ponzo Pilato a Cezarea”, Rendiconti, lstituto Lombardo, Accademia di Scizenze e Lettere, 95 (1961): 419-434; J. Vardaman, “Uma Nova Inscrição que Menciona Pilatos como ‘Prefeito ”, JBL 81 (1962): 70-71.

76. Avi-Yohah, “Uma Lista de Carreiras Sacerdotais de Cesaréia”, IEJ 12 (1962): 136-139.

77. V. Tzaferis, “Túmulos Judaicos de Giv’at ha-Mivtar, Jerusalém” IEJ 20 (1970): 18-32; N. Haas, “Comentários Antropológicos Sobre os Restos Esqueletais de Giv’at ha-Mivtar, Idem, págs. 49-59; Yadin, “Epigrafia e Crucifixão , Idem, 23 (1973): 18-22; V. Moller-Christensen, “Restos Esqueletais de Giv’at ha-Mivtar”, Idem, 26 (1976): 36-38.

78. S. Agourides e J. H. Charlesworth, “Nova Descoberta de Manuscritos Antigos no Monte Sinai: um Relatório Preliminar”, BA 41 (1978); 29-31.

Dr. Siegfried H. Horn