Todo mundo experimenta ansiedade, mas nem todos lidam com ansiedade excessiva. Ansiedade é diferente de depressão; enquanto a depressão está associada à tristeza, a ansiedade está relacionada à aflição. A ansiedade excessiva surge quando a pessoa se sente ameaçada por algo que parece estar fora do seu controle, quando cultiva pensamentos trágicos com frequência ou enfrenta conflitos importantes em seus relacionamentos, seja na família, no trabalho ou na comunidade religiosa.

A ansiedade revela que existe uma fonte de estresse que essa pessoa ainda não aprendeu a administrar. Essa fonte pode ser subjetiva, como a insegurança emocional, ou objetiva, como relacionamentos abusivos, possibilidade de demissão, doenças graves, crises conjugais, entre outros fatores.

Como a ansiedade aparece

A ansiedade excessiva se manifesta de diversas formas, como impaciência, medo, nervosismo e falta de serenidade. Quando uma pessoa está muito ansiosa, tende a evitar situações que acredita intensificar seu desconforto emocional, como sair de casa sozinha, ir ao trabalho ou permanecer em lugares em que se sente desprotegida.

Se a ansiedade se torna intensa e prolongada, surgem sintomas psicossomáticos – manifestações físicas de uma luta mental. Esses sintomas incluem reações na pele, tontura, sensação de falta de ar e até o desenvolvimento de doenças autoimunes. Além disso, a ansiedade excessiva pode comprometer o funcionamento de órgãos e agravar os sintomas de doenças preexistentes, mesmo que suas causas sejam independentes da saúde mental.

Pessoas muito ansiosas tendem a focar mais nas possibilidades negativas de um evento do que nas positivas. Seus pensamentos interpretam estímulos normais do corpo como perigosos. Por exemplo, se o intestino emite sons normais devido a gases, o ansioso pode começar a se perguntar se isso não seria um sinal de uma doença grave.

Tipos de ansiedade

Uma pessoa pode ter o que chamamos de “ansiedade traço”, que é um perfil ansioso de personalidade existente desde a infância, diferentemente da “ansiedade estado”, que se refere a um aumento temporário da ansiedade. Quando alguém tem ansiedade traço, eventos comuns, como mudanças no corpo, a ideia de uma viagem ou uma troca de emprego, podem ser vividos com muita ansiedade, pois essa pessoa já possui um perfil ansioso. Em muitos casos, o que intensifica a ansiedade em indivíduos com ansiedade traço é mais a imaginação do que a realidade.

Crianças sensíveis que crescem em ambientes familiares traumatizantes – com gritaria, brigas frequentes entre os pais, separação, ou pais agressivos, autoritários ou nervosos – podem desenvolver um nível alto de ansiedade que poderá piorar na vida adulta diante de eventos igualmente desagradáveis, como um chefe agressivo, um colega de trabalho competitivo ou um cônjuge problemático. A ferida emocional já estava presente desde a infância e, na vida adulta, algum evento pode dispará-la, desencadeando uma ansiedade excessiva. Um fator do presente mexe na ferida do passado, provocando dor.

Questione seus pensamentos

É muito importante que uma pessoa excessivamente ansiosa comece a questionar seus pensamentos que geram sentimentos de medo, insegurança e inquietação. Os pensamentos produzem os sentimentos, e os sentimentos nos conduzem a atitudes. O ansioso pode melhorar gradativamente à medida que avalia se seus pensamentos têm base na realidade ou são fruto da imaginação. Por exemplo, se um indivíduo muito ansioso precisa fazer uma viagem de carro, seus pensamentos podem disparar ideias como: “E se o pneu furar?”, “E se errarmos o caminho?”, “E se houver um assalto?” Quanto mais esses pensamentos forem cultivados, maior será a ansiedade. O ansioso precisa entender que é parte da vida tomar precauções, mas também deve aceitar que não é possível prevenir todos os perigos. Isso implica aprender a conviver com um certo grau de incerteza. Para isso, pode ser útil recorrer a textos bíblicos, como 1º Coríntios 10:13 , que diz: “Não sobreveio a vocês nenhuma tentação que não fosse humana; mas Deus é fiel e não permitirá que vocês sejam tentados além do que podem suportar; pelo contrário, juntamente com a tentação proverá livramento, para que vocês a possam suportar.” Paulo também nos lembra em Romanos 8:28 : “Todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus.”

A ansiedade excessiva pode surgir de diferentes formas. Uma delas é a “ansiedade generalizada”, em que a pessoa se sente ansiosa quase o tempo todo. Outra forma é por meio de fobias, que podem ser simples ou sociais. A fobia é um medo exagerado, como o medo de altura, de certos animais, de estar sozinho, de estar em uma multidão, ou o medo excessivo de ser observado por outras pessoas. As consequências das fobias incluem faltas à escola, queda de produtividade no trabalho e dificuldades econômicas, como a incapacidade de ganhar dinheiro devido à insegurança emocional. A fobia é, na verdade, um disfarce para a ansiedade exagerada.

Outro tipo de sofrimento relacionado ao excesso de ansiedade é a chamada “agorafobia”, que geralmente surge após a pessoa ter passado por vários ataques de pânico. Agorafobia é o medo de lugares e situações que possam causar desespero, impotência ou constrangimento. Isso pode acontecer, por exemplo, com alguém muito tímido, que apresenta um medo exagerado de ser rejeitado, criticado ou humilhado.

Olhe para fora de si

Uma pessoa tímida pode se beneficiar ao desviar o foco de seus pensamentos sobre si mesma e sobre como se sente em um grupo, concentrando sua atenção em algo externo, como o assunto da conversa. Em vez de pensar: “Meu coração está acelerado! Estou suando muito!”, ela pode tentar mudar o pensamento para: “Que interessante o que essa pessoa está dizendo!” Além disso, pode aprender a se proteger para evitar humilhações e a se defender adequadamente.

No tratamento psicológico dos transtornos de ansiedade, especialmente na abordagem da Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), são utilizadas diversas intervenções. Entre elas, estão estratégias de relaxamento, treinamento de habilidades sociais, exposição gradual ao que causa ansiedade e reestruturação dos pensamentos.

No caso específico de fobias, a psicoterapia ajuda a pessoa a enfrentar gradualmente seus medos, conforme sua capacidade de suportar a ansiedade. Por exemplo, se alguém tem fobia de um animal inofensivo, o psicólogo começa expondo a foto do animal, depois um brinquedo de pelúcia e, assim por diante. Esse processo permite descondicionar o medo excessivo.

Tratamento

No tratamento de pessoas com ansiedade generalizada, o foco é ajudá-las a perceber que sua preocupação está mais relacionada à tentativa de aliviar o desconforto gerado pela ansiedade do que a situações realmente perigosas ou ameaçadoras. É necessário forçar o pensamento para refletir que a situação pode não ser, de fato, perigosa, mas que é a ansiedade que a faz parecer assim. Isso implica uma reeducação dos pensamentos, que não pode ser substituída pelo uso de medicamentos.

Jesus nos orientou a não sermos excessivamente ansiosos ou preocupados na vida. Ele disse: “Não se preocupem com a sua vida, quanto ao que irão comer ou beber; nem com o corpo, quanto ao que irão vestir. Não é a vida mais do que o alimento, e não é o corpo mais do que as roupas?” (Mt 6:25).

Preocupações inúteis

Quando perceber que está se preocupando à toa com algo ou alguma situação, não permita que isso o aprisione. Para evitar que essa preocupação cresça e paralise sua vida, deixe de alimentá-la, questione-a e enfrente-a diretamente.

Muitas crianças se tornam excessivamente preocupadas porque seus pais também são ansiosos, enfatizando a insegurança, o medo e a incerteza, sem elogiar o filho quando ele consegue superar um desafio. Esse padrão ansioso tende a se perpetuar na vida adulta. Assim, é fundamental refletir sobre como essa maneira ansiosa de ser se desenvolveu e iniciar um processo de desconstrução dessa abordagem disfuncional, substituindo-a por uma perspectiva mais leve e funcional.

É importante cultivar o hábito de analisar seus pensamentos, pois isso melhora a autoconsciência, o que, por sua vez, auxilia no combate à ansiedade excessiva. Quem deseja melhorar sua ansiedade deve avaliar seus pensamentos, identificando o que é positivo e o que é negativo. Ao refletir sobre seus próprios pensamentos, você pode perceber distorções, como a tendência de imaginar catástrofes ou achar que todos estão contra você, entre outras formas de pensamento distorcido. Ao identificar essas maneiras negativas de pensar, o caminho é lutar contra elas e substituí-las por pensamentos mais saudáveis.

Pegue leve com você

Muitas pessoas são muito severas consigo mesmas Incapazes de relaxar devido à autocrítica excessiva, muitas vezes se cobram mais do que são cobradas pelos outros ou por Deus. Nesses casos, a ansiedade pode diminuir quando começam a se tratar melhor, em vez de se atacarem ou se depreciar por qualquer imperfeição em sua vida. Se você é muito exigente consigo mesmo, pense: “Eu seria tão crítico assim com outra pessoa? Então, porque não usar de misericórdia comigo mesmo?” É interessante notar que o sábio Salomão, rei de Israel, inspirado por Deus, escreveu: “Não seja demasiadamente justo, nem exageradamente sábio; por que você destruiria a si mesmo?” (Ec 7:16).

Caso você não consiga melhorar sua ansiedade excessiva praticando sozinho essas informações e outras úteis para sua saúde mental, um psicólogo ou psiquiatra que trabalhe com psicoterapia poderá ajudá-lo a analisar seus pensamentos, identificando quais são baseados na realidade, quais são fruto de imaginações preocupantes e quais estão distorcidos. Assim, será possível educar seus pensamentos para que eles possam produzir sentimentos mais agradáveis e menos ansiosos.

No tratamento psicoterápico, você também poderá aprender a enfrentar seus medos com exposição controlada, desabafar em um ambiente ético e seguro, o que pode ajudar a diminuir sua tensão emocional e aliviar a ansiedade. Você aprenderá a ser mais assertivo e a se proteger melhor em situações abusivas, além de filtrar as preocupações, eliminando aquelas que são inúteis. Também poderá aprender a perdoar as pessoas que contribuíram para sua ansiedade exagerada, deixando o passado para trás.

Angústia existencial

Finalmente, é importante considerar que todos os seres humanos possuem o que os filósofos chamam de “angústia existencial”, decorrente da ruptura da relação íntima e presencial com o Deus Criador do Universo e da entrada do pecado em nosso planeta. Quando Adão e Eva comeram do fruto proibido, a angústia entrou neles. Essa angústia, de origem espiritual, só pode ser aliviada por meio da oração, da aproximação a Deus pela fé, da leitura da Bíblia e do auxílio espiritual ao próximo. Ela só será completamente eliminada quando Jesus voltar em breve e fizer novas todas as coisas, transformando nosso corpo e mente corrompidos em uma nova criatura, como eram Adão e Eva antes da Queda.

Apegue-se a essas verdades e promessas bíblicas, e sua ansiedade diminuirá, permitindo o surgimento de serenidade, aceitação das limitações e perdas, além de paz interior, mesmo em meio aos conflitos. 

Cesar Vasconcellos, médico psiquiatra