Alguma vez você já pensou a respeito da singularidade da mensagem adventista? O que você consideraria como o componente da mensagem adventista que a distingue do ensino das outras denominações cristãs? Seriam as doutrinas da perpetuidade da Lei de Deus e o sábado, o ministério de Cristo no Santuário Celestial, a segunda vinda de Cristo, a imortalidade condicional da alma, ou o dom profético de Ellen White?
Eu creio, realmente, que nossas doutrinas distintivas contribuem para tornar singular a mensagem adventista. Mas eu não creio que qualquer uma destas doutrinas, ou mesmo todas elas juntas, pode justificar, a contento, a ampla singularidade da mensagem adventista como entendida pelos fundadores do adventismo do sétimo dia.
Antes de prosseguir, permitam-me fazer algumas considerações sobre 1) como os primeiros adventistas do sétimo dia entendiam a singularidade de sua mensagem; 2) como aquela compreensão foi gradativamente sendo alterada através dos anos e 3) como revitalizar a singularidade da mensagem adventista em nosso contexto contemporâneo.
Os pioneiros e a singularidade
Os fundadores do adventismo sabatista não restringiam a singularidade de sua mensagem a uma, duas ou mais doutrinas isoladas. Essa singularidade era reconhecida no todo de seu sistema integrado de doutrinas. Urias Smith, por exemplo, afirmou em 1858 que “a verdade presente é harmoniosa em todas as suas partes. Seus elos são todos conectados. O inter-relacionamento de todas as suas partes é como o funcionamento de um relógio. Mas quebre um dente, e o funcionamento é interrompido. Quebre um elo, e a corrente é quebrada. Desfaça um ponto da costura, e poderemos descosturar o todo”.
Em 1894, Ellen G. White declarou que “a verdade para este tempo é ampla em seus contornos, de vasto alcance, abrangendo muitas doutrinas; estas, porém, não são unidades destacadas, de pouca significação; são unidas por áureos fios, formando um todo completo, tendo Cristo como o centro vivo”.
Essas declarações destacam o fato de que a singularidade da mensagem adventista do sétimo dia encontra-se no sistema como um todo, formado não apenas por todos os componentes doutrinários do sistema, mas também por todas as conexões entre esses componentes e um “centro vivo”. Em outras palavras, o todo da mensagem adventista do sétimo dia é bem mais amplo do que a simples soma de suas partes.
Em minha tese, intitulada The Sanctuary and Three Angels Messages, 1844-1863: Integrating Factors in the Development of Seventh-day Adventist Doctrines (O Santuário e as Três Mensagens Angélicas, 1844-1863: Fatores integrativos no Desenvolvimento das Doutrinas Adventistas do Sétimo Dia), procuro mostrar que foram ambos, o santuário de Daniel 8:14 e as três mensagens angélicas de Apocalipse 14:6 a 12 que ajudaram a integrar os principais componentes doutrinários do sistema doutrinário adventista do sétimo dia em seus primórdios.
Enquanto que a tipologia do santuário integrou esses componentes teológica e historicamente, as três mensagens angélicas os integraram histórica e teologicamente. A integração teológico-histórica foi causada pelo fato de que a purificação do santuário celestial pós-1844 era teologicamente conectada com quase todos os ensinos básicos adventistas sabatistas. A integração histórico-teológica do sistema foi gerada pela incorporação desses ensinos na estrutura cronológica provida pela pregação consecutiva das três mensagens angélicas.
Stephen N. Haskell estava correto quando declarou em 1904 que “a verdade veio para nós como um sistema”.
Até o início do século XX, autores adventistas do sétimo dia continuaram enfatizando o interrelacionamento das doutrinas. Essa ênfase, entretanto, foi sendo gradativamente substituída por um foco mais restrito em doutrinas isoladas.
Quatro fatores parecem ter influenciado essa mudança. O primeiro foi a tentativa pós-1888 de tomar cada doutrina adventista mais cristocêntrica. Procurando fazer de Cristo o centro de cada doutrina, os adventistas do sétimo dia gradualmente perderam de vista as funções integrativas, tanto do santuário como das três mensagens angélicas.
Um segundo fator que favorece uma ênfase em doutrinas isoladas, tem sido a influência dos diálogos adventistas do sétimo dia com os evangélicos, os quais iniciaram em meados da década de 50, com Walter Martin e D. G. Barnhouse, e continuaram no ambiente acadêmico mais amplo. Esses diálogos ajudaram os adventistas do sétimo dia a serem melhor compreendidos e aceitos pela comunidade evangélica. Porém, ofuscaram a singularidade geral de sua mensagem.
Além da ênfase cristocêntrica pós-1888 e dos diálogos adventistas com os evangélicos, a compartimentalização do treinamento teológico em especialidades distintas tem produzido uma geração completa de especialistas em algumas doutrinas específicas, que têm se sentido incômodos em lidar com a amplitude de um sistema teológico. Isso tem se tomado um crescente problema, devido à considerável falta de diálogo entre eles.
Uma quarta força anti-sistema vem da exagerada preocupação, em alguns círculos adventistas, com questões sociais e/ou existenciais contemporâneas. Tais preocupações têm gerado um crescente espírito antidoutrinário, que tem levado a um afastamento ainda maior da compreensão adventista inicial da singularidade da mensagem adventista.
Como resultado, a restrita ênfase em doutrinas isoladas tem levado alguns eruditos adventistas a limitarem a ampla mensagem do santuário à dimensão do juízo pré-advento. Preocupações sócio-existenciais têm influenciado outros eruditos a restringirem o significado do evento de 1844 a uma experiência existencial, não-doutrinária, de fé e coragem.
Ampliando a compreensão
A mudança de ênfase anteriormente mencionada requer uma ampliação de nossa compreensão da singularidade da mensagem adventista. Para enfrentar esse desafio, os adventistas do sétimo dia deveriam, em minha opinião, primeiramente revitalizar a função do santuário e das três mensagens angélicas, como fatores Integrativos do sistema doutrinário adventista; em segundo lugar, demonstrar como cada doutrina adventista está organicamente inter-relacionada com os demais componentes doutrinários daquele sistema; e, finalmente, mostrar como o sistema como um todo pode levar-nos a uma compreensão mais bíblica e cristocêntrica da mensagem adventista.
Começando com as profecias messiânicas e a tipologia do santuário encontradas no Antigo Testamento, deveriamos ser capazes de demonstrar como a vida religiosa do antigo Israel e os ensinos do antigo Testamento eram conectados com o santuário terrestre. Então, deveriamos explicar como a vida da Igreja cristã e os ensinos do Novo Testa-mento estão diretamente relacionados com o sacrifício de Cristo na cruz e Seu ministério sacerdotal no Santuário Celestial.
Demonstremos, por último, como o sistema doutrinário, integrado pelo santuário anti-típico, tem sido revitalizado e está sendo proclamado através das três mensagens angélicas.
Eu creio realmente que Deus tem dado à Igreja Adventista do Sétimo Dia uma mensagem singular para o mundo. Possa Deus nos ajudar a proclamar a abrangência dessa mensagem “a cada nação, e tribo, e língua e povo” (Apoc. 14:6).