Deve-se notar nas declarações citadas que, conquanto a escritora mencione que Jesus tomou nossa natureza, Êle próprio não era pecador, mas inocente.

O que quer que Jesus haja tomado não era intrinsecamente Seu ou Lhe era inato. Sua tomada da carga de nossas fraquezas e falhas herdadas, mesmo depois de quatro mil anos de enfermidades e degenerescência acumuladas (O Desejado de Tôdas as Nações, págs. 34 e 82), não manchou, nem em mínimo grau, Sua natureza humana. “Êle tomou sôbre Sua natureza sem pecado nossa nature za pecaminosa.” — Medicai Ministry, pág. 181. “Não devemos ter nenhuma dúvida acêrca da perfeita ausência de pecado na natureza humana de Cristo.” — The SDA Bible Commentary, Vol. 5, pág. 1131.

“Êle voluntàriamente assumiu a natureza huma-na. Foi um ato espontâneo, por Seu próprio consentimento.” — The Review and Herald, 5 de julho de 1887.

Sujeitou-Se voluntàriamente “a Si mesmo a tôdas as humilhantes condições da natureza do homem” (Test. for the Church, Vol. 4, pág. 458), e “tomou a forma de servo” (Fil. 2:7); “tomou a descendência de Abraão” (Heb. 2:16), para que fôsse feito “pecado por nós” (II Cor. 5:21), e para que se tornasse em tôdas as coisas “semelhante aos irmãos” (Heb. 2:17).

Tudo que Jesus tomou, tudo que levou, quer fôssem a carga e a penalidade de nossas iniqüidades, ou as molésias e fragilidades de nossa natureza humana — tudo foi tomado e levado vicàriamente. Assim como o levar vicàriamente os pecados de todo o mundo não maculou Sua alma perfeita e sem pecado, tampouco o levar as doenças e fragilidades de nossa natureza caída O manchou, sequer em mínimo grau com a corrutora influência do pecado.

Lembremo-nos sempre de que nosso bendito Senhor era sem pecado. “Não devemos ter nenhuma dúvida acêrca da perfeita ausência de pecado na natureza humana de Cristo.” — The SDA Bible Commentary, Vol. 5, pág. 1131.

Ao tratarmos da humanidade de Cristo, necessitamos cuidar enèrgicamente de cada afirmação, para que nossas palavras não venham a ser tomadas para significarem mais do que implicam, e assim perdermos de vista ou obscurecer-mos as claras percepções de Sua humanidade combinada com a divindade. Seu nascimento foi um milagre de Deus. . . . “O Santo, que de ti [Maria] há de nascer, será chamado Filho de Deus.” … Nunca, de modo algum, deixemos a mais leve impressão na mente humana de que uma mancha de corrução ou inclinação para ela havia em Cristo, ou que Êle, de alguma maneira, cedeu à corrução. Êle foi tentado em todos os pontos como o homem, contudo Êle é chamado “o Santo.” É êste um mistério deixado irrevelado aos mortais: Cristo poder ser tentado em todos os pontos como o somos, mas ficar sem pecado. A encarnação de Cristo sempre tem sido e continuará a ser mistério. Aquilo que foi revelado é para nós e nossos filhos, contudo cada ser humano se precavenha de tornar Cristo totalmente humano, como um de nós; pois isto não pode ser. — The SDA Bible Commentary. Vol. 5, págs. 1128 e 1129.

Que Salvador maravilhoso é Jesus nosso Senhor!

III. Podia Cristo Ter Pecado?

Neste aspecto desta questão vital há diversidade de opiniões na igreja cristã em geral. Julgam alguns que era impossível Jesus pecar; outros, que era possível. Associamo-nos aos últimos em nossa maneira de compreender o assunto, quando em muitos outros aspectos da doutrina cristã, eminentes eruditos da igreja através dos séculos têm expressado muito como o fazemos. Nossa posição sôbre isto foi bem definida por Ellen G. White:

Pretendem muitos que era impossível Cristo ser vencido pela tentação.. Neste caso, não teria sido colocado na posição de Adão; não poderia haver obtido a vitória que aquêle deixara de ganhar. Se tivéssemos, em certo sentido, um mais probante conflito do que teve Cristo, então Êle não estaria habilitado para nos socorrer. Mas nosso Salvador Se revestiu da humanidade com tôdas as contingências da mesma. . . . Tomou a natureza humana com a possibilidade de ceder a tentação. Não temos que suportar coisa nenhuma que Êle não tenha sofrido. . . . Cristo venceu em favor do homem, pela resistência à severíssima prova. — O Desejado de Tôdas as Nações, pág. 82.

É evidente que, no passado, respeitados teólogos sustentaram a mesma idéia. Notemos o que segue:

Tivesse Êle sido dotado, desde o princípio, de absoluta impecabilidade, ou da impossibilidade de pecar, não podia ser verdadeiro homem, nem nosso modêlo: Sua santidade, ao invés de ser um ato adquirido por Si próprio e um mérito inerente, seria um dom acidental ou exterior, e Sua tentação uma exibição irreal. Como verdadeiro homem, Cristo deve ter sido um livre e responsável agente moral: e liberdade implica a faculdade de escolha entre o bem e o mal, e a faculdade de desobedecer ou obedecer à lei de Deus. — Filipe Schaff, The Person of Christ, págs. 35 e 36.

Se a verdade … — a saber, de que a fôrça da tentação era suficientemente forte para criar a consciência de uma luta — deve ser passada por alto, então todo o curso da prova moral pela qual Jesus passou na Terra, degenera de uma vez em mera exibição teatral. . . . Em nosso tempo esta idéia docetista não tem aceitação; teólogos de tôdas as escolas estão concordes em que as fôrças do mal, contra as quais o Filho do homem travou tão admirável combate, não eram sombras, mas inimigos reais e formidáveis. — Alexandre B. Bruce, D.D., The Humiliation of Christ, pág. 268.

Sempre que atribuímos, a Jesus na maneira devida e no sentido da Escritura, todos os elementos morais do homem, não devemos separar dêles a liberdade que é a faculdade de escolher entre o bem e o mal; e por essa própria razão devemos admitir isto como compreensível, que Êle pudesse em alguma ocasião ter sido influenciado a um desvio da vontade de Deus. A menos que isto seja admitido, a história da tentação, por melhor que possa ser explicada, não teria significado algum; e a expressão que encontramos na epístola aos Hebreus “Êle foi tentado em todos os pontos como nós” ficaria sem sentido.

Como Jesus era um homem completo, esta suscetibilidade e esta possibilidade devem supor-se coexistir nÊle. Não coexistissem dessa forma, deixaria Êle de ser um exemplo de perfeita moralidade humana. — Karl Ullmann, An Apologetic on the Sinless Character of Jesus (1841), pág. 11.

Não devemos entender pela expressão [impecaminosidade de Jesus] uma impossibilidade absoluta de pecar mas unicamente o fato real de não pecar, e, o que está inseparável dêste fato numa natureza racional e livre, a mais elevada perfeição moral e santidade — Idem, pág. 13.

IV. O Propósito da Encarnação

Quanto ao propósito da encarnação, a resposta aparece nos textos que apoiam os seguintes seis pontos, que resume as razões de Sua vinda à Terra em forma humana.

  • 1. Veio Para Revelar Deus ao Mundo.— Ver S. João 1:14 e 18; 3:1-36; 17:6 e 26; I S. João 1:2; 4:9.
  • 2. Veio Para Juntar Deus e o Homem. — Ver S. João 1:51 (comparar com Gên. 28:12); S. Mat. 1:23; 1 S. Ped. 3:18.
  • 3. Veio Para Identificar-Se Com o Homem Pelo Nome. — É chamado o “Filho do homem” setenta e sete vêzes nos Evangelhos, como em S. Luc. 19:10, por exemplo.
  • 4. Veio Para Levar os Pecados da Humani-dade. — Ver Isa. 53:6 e 11; S. João 1:29; I S. Ped. 2:24; I S. João 3:5.
  • 5. Veio Para Morrer em Nosso Lugar. — Ver Isa. 53:5-10; S. Mat. 26:28; Atos 20:28; Rom. 4:25; 5:6-10; I Cor. 15:3; Gál. 1:4; I Tim. 2:6; Heb. 2:9; I S. Ped. 1:18 e 19; 2:24; 3:18.
  • 6. Veio Para Destruir o Diabo e Suas Obras. -Ver S. João 12:31; 16:33; Heb. 2:14; I S. João 3:8.

V. Um Mistério Insondável

Ao considerarmos assunto de tal transcendência e importância vital como a encarnação de Cristo, temos sempre que nos lembrar de que há muitos aspectos do mesmo que não podemos penetrar. Mesmo quando apanhamos um vislumbre de verdade, a linguagem humana é inteiramente inadequada para expressar as maravilhas e belezas do mistério incomparável e inimitável da encarnação de Jesus Cristo. Escreveu Ellen G. White:

Ao contemplarmos a encarnação de Cristo em humanidade, ficamos pasmados diante de um mistério insondável, que a mente humana não pode compreender. Quanto mais refletimos sôbre ela, tanto mais assombrosa ela parece. — Signs of the Times, 30 de julho de 1896.

Ainda que isto seja verdadeiro, há, graças a Deus, certos aspectos da verdade que têm sido revelados. E o que se tornou conhecido na Palavra de Deus é para nosso estudo. A mesma autora escreveu o seguinte sôbre êste ponto:

Quando queremos estudar um problema profundo, fixemos nossa mente na coisa mais maravilhosa que jamais ocorreu na Terra ou no Céu — a encarnação do Filho de Deus. — Manuscrito 76, 1903.

De Seara Alheia

Do livro “Luz Messiânica”, do Rev. Antônio B. Trajano (presbiteriano), Vol. 1, págs. 125 e 126, extraímos o seguinte:

“Jesus veio sujeito à lei.

“Esta sujeição à lei que refere S. Paulo, deve ser tomada no sentido mais amplo da palavra, porque Jesus veio sujeito à lei natural, à lei moral, à lei ceremonial e até à lei civil.

“Veio sujeito à lei natural, isto é, às leis físicas que regem a Natureza, porque nasceu e cresceu como as outras criancinhas; passou pela infância, peurícia e juventude, como os outros homens; precisou alimentar-Se, dormir e descansar para reparar as Suas fôrças; sofreu fome, sêde, dores e tristezas, e não chegou à velhice, porque teve morte violenta e prematura.

“Veio sujeito à lei moral, isto é, a lei do Decálogo, dada por Deus no Monte Sinai, porque o mesmo Jesus, referindo-Se a esta lei, disse que não veio revogá-la, mas cumprí-la fielmente.

S. Mateus 5:17-19.

“Veio sujeito à lei cerimonial, isto é, a lei dos ritos e cerimônias do culto judaico, porque foi circuncidado ao oitavo dia, como os outros meninos hebreus . . . não deixou de celebrar a Páscoa judaica com os Seus discípulos.

“Veio, finalmente, sujeito à lei civil, porque obedeceu as autoridades estabelecidas, ensinou que se desse a César o que era de César.”