S. H. HORN e L. H. WOOD

(Professores do Seminário Teológico Adventista)

APÊNDICE

O Calendário Judaico de Elefantina

OS únicos documentos do século V A. C., que lançam esclarecimentos sôbre o calendário utilizado pelos judeus no tempo de Esdras e Neemias, são os papiros aramaicos de Elefantina e um monumento de pedra do Museu do Cairo. Os papiros, que somam mais de cem, informam acêrca da linguagem, da história e da vida de uma guarnição judaica do Egito; vários dêsses papiros constituem uma fonte muito importante de material para o estudo do calendário usado pelos judeus durante o século V A.C. Dêsses documentos, trinta e oito estão datados; vinte e dois dêles são portadores de data dupla: a egípcia e outra que os judeus empregavam com a utilização dos meses babilônios. Pôsto que se pode achar facilmente a equivalência das datas egípcias no calendário juliano, essas datas constituem um meio para investigar a natureza do calendário empregado pelos judeus de Elefantina. (1)

Imediatamente depois da publicação do primeiro lote de papiros, vários erudidos se dedicaram ao estudo dos problemas oriundos das datas, e da espécie de calendário usado. E. Shürer foi um dos primeiros a investigar as datas dêsses documentos. Seguiu-se-lhe F. K. Ginzel.       

Ambos partiram da hípotese de que os judeus do século V possuíam um calendário lunar semelhante ao dos persas, e de que iniciavam cada mês com a aparição da Lua nova, tal como o faziam os babilônios. Explicavam as irregularidades e os desacordos entre as datas como erros, cometidos pelos escribas. L. Belleli quis, por meio dessas discrepâncias, demonstrar que os documentos eram falsificações modernas, mas pouquíssimos eruditos creram que êsses papiros encontrados por uma expedição científica, na mesma forma em que foi encontrada a maioria dos papiros, houvessem podido ser enterrados no local por falsificadores que esperavam locupletar-se com o descobrimento. Pôsto que os papiros exumados apresentam as mesmas características dos comprados aos nativos, não paira sôbre qualquer dêles dúvida alguma quanto à sua autenticidade.

O astrônomo E. B. Knobel demonstrou, com base nos papiros AP 13 e 25, que os judeus do século V conheciam um ciclo de dezenove anos, segundo o demonstra seu sistema de intercalação. Seus descobrimentos guiaram-no à conclusão de que o calendário civil judaico estava calculado, e que o ano civil começava com 1o de tishri. (1 2 3 4 5 6) O afamado astrônomo britânico J. K. Fotheringham também chegou à conclusão de que empregavam o calendário calculado e o ano começava com 1o. de tishri, bem como que a intercalação era feita em forma arbitrária pela inserção de um segundo mês de adar, sem o emprêgo de um segundo elul. (7)

O cronólogo E. Mahler concordou com Knobel e Fotheringham em que o calendário judaico não tinha base nem na aparição do primeiro quarto-crescente da Lua, nem na conjunção, mas na aplicação de um ciclo regular. Não obstante, cria que o calendário judaico de outono a outono foi uma instituição posterior. (8)

Por outra parte, Martin Sprengling chegou a conclusões muito diferentes. Admitindo que o ano civil judaico que começava com tishri era de surgimento posterior, susteve que os papiros de Elefantina confirmavam a existência de um ano que começava com o mês de nisã, e que os judeus do século V empregavam um segundo elul, cujo uso abandonaram mais tarde. (9) Não é necessário repassar minuciosamente as obras de P. J. Hontheim, J. B. Chabot, J. G. Smyly, D. Sidersky e H. Pgnon, (10) porque seu raciocínio varia unicamente em certos pormenores das numerosas conclusões alcançadas pelos eruditos mencionados. Contudo, deve ser mencionado que S. Gutesmann pensou que os judeus possuíam um ciclo de vinte e cinco anos, em lugar do ciclo babilônio de dezenove anos. (11 12 13) Esta teoria não encontrou aceitação, já que os papiros com data dupla teriam demonstrado o uso dêsse ciclo de vinte e cinco anos num período mais dilatado que o compreendido pelos documentos existentes. Visto que êsse ciclo não era empregado em nenhum outro lu-gar do mundo antigo, parece pouco provável que o tenham usado os judeus.

R. A. Parker, cujo estudo dêsse assunto parece ser o último que apareceu, sustém a opinião de que os papiros de Elefantina expressam suas datas em têrmos do calendário persa, isto é, do babilônio. (11) Sustém, também, que as divergências encontradas entre as datas egípcias e babilônias são devidas a erros cometidos pelos escribas que, como estrangeiros, não estavam bem familiarizados com o calendário egípcio, pelo que poderiam confundir as datas. (14)

As várias opiniões encontradas nos numerosos estudos relacionados com as datas dêstes papiros revelam que não se chegou ainda a conclusões definitivas. Não obstante, a maioria dos erudidos concordam em que o ciclo de dezenove anos estava em uso entre os judeus do século V A.C. Também muitos estão concordes em que o calendário judaico não era uma duplicata do babilônio, a menos que tôdas as divergências sejam explicadas como erros dos escribas.

No tocante a outros pontos, existe muita dife-rença de opiniões. Se os judeus começavam seu ano civil com nisã ou tishri, se empregavam um segundo elul, além do segundo adar, e se a intercalação se efetuava em forma regular, são assuntos controversos.

O grande aumento no número de documentos devido ao descobrimento dos papiros do Museu de Brooklyn, torna urgente a necessidade de examinar uma vez mais todo o problema. Êsses documentos nos estão conduzindo a mais uma etapa no caminho da solução final, como o demonstrará a seguinte exposição. Conquanto ainda não estejamos em condição de explicar tôdas as fases do calendário utilizado pelos judeus do período pós-exílico, em realidade sabemos muito mais a êsse respeito, graças a êsses papiros, do que pelo período do primeiro século cristão.

O Procedimento Seguido

No estudo dos papiros, a primeira etapa deve ser, converter a data egípcia em têrmos do calendário juliano, o que resulta em relativa facilidade, como foi demonstrado no capítulo I, devido ao ano solar invariável de 365 dias, empregado pelos egípcios antigos. A data a que se chegou por êsse meio, abrange parte dos dias do calendário juliano, visto que o dia egípcio começava ao amanhecer. Por isso eram empregados dois números. A fórmula 7/8 de julho (sS a sS.) (15) de 465 A. C., assinalava um dia egípcio que durava desde a saída do Sol de 7 de julho, até à saída do Sol de 8 de julho, do ano 465 A. C.

Visto que os judeus e os babilônios faziam seu dia começar com o pôr-do-Sol, também abrange dois dias do calendário juliano. Nesta forma, 7/8 de julho (pS a pS) (16) do ano 465 A. C ., assinala o dia que começou com o pôr-do-Sol de 7 de julho e terminou com o pôr-do-Sol de 8 de julho. Assim, o dia egípcio não coincide exatamente com o dia computado por qualquer dos povos mencionados. Daí que o documento legal assinado no dia egípcio de 7/8 de julho (sS a sS) originaria duas datas possíveis em têrmos do calendário judáico, dependendo da parte do dia em que o documento foi firmado. Se o foi antes do pôr-do-Sol, estaria datado com data judaica, mais cedo do que se o foi depois do pôr-do-Sol.

Assim, se um papiro com data dupla é portador de data egípcia que equivale à do calendário judaico, persiste a incerteza de determinar se o dia judaico em questão começou no amanhecer anterior à data egípcia mencionada ou no anoitecer dêsse dia egípcio. Tinham os judeus um calendário lunar em que o primeiro dia do mês devia começar num tempo razoável depois da conjunção (não muito menos que um dia depois). Portanto, nossas conclusões nos conduzirão, em uns poucos casos, a deduzir que um documento foi redigido depois do pôr-do-Sol, (17) se o tempo transcorrido entre a conjunção e o comêço do primeiro dia do mês e o pôr-do-Sol, é demasiado curto para ser razoável. Assim, deve reconhecer-se que não é possível evitar a incerteza na exatidão de um dia, devido aos fatos seguintes: (1) os dias egípcios e judaicos não coincidem inteiramente, e (2) os escribas não indicavam em caso algum a parte do dia em que escreveram os documentos.

Os papiros de Elefantina foram escritos, em sua maior parte, num tempo em que o Egito era uma satrapia persa; pelo que, com uma exceção (AP 35), os papiros estão datados em conformidade com os anos régios persas. Não obstante, o cômputo egípcio dos anos régios de um determinado rei, começava com 1o. de thot, que, durante o século V, correspondeu a uns quatro meses antes de nisã — o primeiro mês do calendário babilônio, — e a uns dez meses antes de tishri, o primeiro mês do calendário civil dos judeus, como já foi demonstrado. Em conseqüência, qualquer documento egípcio datado depois de 1o. de thot e antes do dia de ano novo persa ou judaico, levava um ano régio superior em um ao correspondente ano persa ou judaico.

Também foi demonstrado que, com pouquíssimas exceções, os anos régios ocorrem em conformidade com o sistema egípcio de computar êsses anos. Dir-se-ia que, no Egito, se requeria isto para todos os documentos legais, tais como os papiros de data dupla.

Depois de haver explicado suscintamente o procedimento seguido na interpretação das datas duplas, passaremos a estudá-las de acôrdo com sua seqüência cronológica. O leitor que tenha analisado com atenção os capítulos I e II não achará difícil a compreensão da análise seguinte:

AP 5

Elul 18 = Pachons 28, ano 15 de Xerxes (471 A. C.)

O ano 15 de Xerxes é o ano 277 da era de Nabonasar do Cânon de Ptolomeu; começou no dia 19 de dezembro de 472 A. C., até 18 de dezembro de 471 A. C. 28 de pachons coincidiu com 12/13 de setembro (sS a sS) de 471 A. C. Visto que o dia judaico começava ao pôr-do-Sol, como já foi explicado, 18 de elul não coincide exa-tamente com 28 de pachons, mas abrange parte dos dias egípcios. Portanto, existem duas possibilidades, segundo o demonstra a figura 7:(1) 11/12 de setembro (pS a pS), se o documento foi redigido durante as horas do dia, ou (2) 12/13 de setembro (pS a pS) se foi escrito depois do pôr-do-Sol de 12 de setembro. Isto propõe duas da tas possíveis para o dia 1o. de elul (ver a figura 8), isto é (1) 25/26 de agôsto (pS a pS) se o documento foi escrito durante as horas do dia, ou (2) 26/27 de agôsto (pS a pS) se o foi de-pois do pôr-do-Sol.

Como a conjunção anterior da Lua ocorrera em 24 de agôsto aos 78 centésimos do dia, ou seja, 24 de agôsto às 18,43, hora civil de Elefantina, contada desde meia-noite, o período da traslação ocupava os 97 centésimos de um dia (23 horas, 17 minutos) se 25/26 de agôsto (pS a pS) era 1o. de elul, ou 1,97 dias (47 horas, 17 minutos) se 26/27 de agôsto (pS a pS) era 1o. de elul. Não poderemos chegar a conclusões razoáveis sem que todos os papiros sejam analisados. Diferiremos no momento de chegar a uma conclusão definitiva sôbre qual das duas datas mencionadas era o dia 1o. de elulsar de que esta hora, naturalmente, variava um pouco durante as estações do ano.

AP 6

Quisleú 18 = Thot do ano 21, o comêço do reinado de Artaxerxes I (464 A. C.)

O número do dia egípcio está danificado neste papiro. Cowley sugeriu restaurá-lo para 7 ou para 14; Gutesmann e Hontheim restauraram-no para 17. Não é possível realizar outras restaurações paleogràficamente. Uma rotura de dezoito milímetros destruiu parte do número, deixando únicamente quatro traços verticais. Nessa rotura devem ser supridas as duas últimas letras da palavra “dia”, visto existir uma única letra. O vazio restante mede uns doze milímetros e pode ser preenchido com três traços, o que dá o número 7. Esta é a maior restauração paleografica que se pôde fazer. A restauração de um “10” no espaço vazio não o enche bem, pelo que também pode ser descartado o número 14. A inserção do núme-ro 10 seguido de três traços, o que faz o número 17, é o único número que corresponde ao dia que se pode fazer concordar astronômicamente com quisleú 18, mas deve admintir-se que os caracteres ficam um pouco apinhados.

Êste papiro é importante porque parece fazer corresponder o 21°. ano de um rei com a ascensão do rei Artaxerxes ao trono. Visto que unicamente Artaxerxs I subiu ao trono no ano 21°. de seu antecessor (Xerxes), o nome dêste último rei se obtém por dedução.

Em contraste com o método que os judeus de Elefantina comumente seguiam, de anotar somente o ano egípcio quando era mencionado um único ano em um documento, esta é uma das duas exceções (também no Kraeling 6) onde se anota únicamente o ano persa ou judaico em seu lugar.

O ano 21°. de Xerxes, que também era o ano ascensional de Artaxerxes I, começou na primavera do ano 465 A. C., segundo o sistema persa de computar o tempo, e no outono do mesmo ano, segundo o ano civil judaico. Quisleú, nono mês do calendário babilônio, sempre correspondeu à última parte do ano do calendário juliano, isto é, entre dezembro de 465 e janeiro de 464 A. C. para o ano que analisamos. O mês egípcio thot dêsse período começou em 17 de dezembro de 465 e terminou em 15 de janeiro de 464 A. C. Que unicamente thot 17 pode fazer-se corresponder a 18 de quisleú, pode ver-se pelos resultados seguintes:

Thot 17 = 23/24 de dezembro (sS a sS) de 465 A. C. .

Thot 14 = 30/31 de dezembro (sS a sS) de 465 A. C.

Thot 17 = 2/3 de janeiro (sS a sS) de 464 A. C.

A conjunção da Lua ocorreu em 15,04 (0,57) de dezembro de 465 A. C. A data mais recente possível para o 1o. de quisleú seria 15/16 de dezembro (pS a pS) de 465 A. C., e 18 de quisleú seria, então, 1/2 de janeiro (pS a pS) de 464 A. C.

Se 1o. de quisleú correspondia a 15/16 de dezembro (pS a pS) de 465 A. C., o período de traslação atingia 71 centésimos de um dia (17 horas, 2 minutos); se 1o. de quisleú correspondia a 16/17 de dezembro (pS a pS), o período de traslação seria 24 horas mais longo (41 horas, 2 minutos), e o documento teria sido escrito ao anoitecer, depois do pôr-do-Sol, visto que neste caso, quisleú 18 teria correspondido a 2/3 de janeiro (pS a pS) de 464 A. C.

AP 8

Quisleú 21= Mesori 1, ano 6°. de Artaxerxes I

Êste papiro está bem conservado e não apresenta problemas de decifração. Não obstante, não se pode fazer corresponder as datas por método algum conhecido, de modo que se presume ter havido um êrro do escriba. Se o escriba escreveu erradamente mesori 1o. em lugar de mesori 21, que é o certo, as datas concordam astronômicamente, embora não com o calendário babilônio. Também harmonizam se se aceitam como corretos os números dos meses e dos dias, mas supondo que o ano 6 foi escrito por engano em lugar do 5. Uma vez mais, porém, não concordariam com o calendário babilônio. Os dois resultados possíveis, seriam os seguintes:

  • 1. Quisleú 21= Mesori 1o. do ano 5 (?) de Artaxerxes I (460 A. C.) 1o. de mesori do 5o. ano régio egípcio de Artaxerxes I (ano 288 da era de Nabonasar) correspondeu a 11/12 de novembro (sS a sS) de 460 A. C. Assim, 21 de quisleú teria correspondido a 10/11 de novembro (pS a pS) ou a 11/12 de novembro (pS a pS), e 1o. de quisleú teria coincidido com 21/22 de outubro (pS a pS) ou a 22/23 de outubro (pS a pS). Visto que a conjunção da Lua ocorreu em 21,09 de outubro (às 2,09), o período de traslação ter-se-ia elevado para 66 centésimos de um dia (15 horas, 50 minutos) no primeiro caso, e a 1,66 dias (39 horas, 50 mi-nutos) no segundo. Não obstante, dever-se-ia notar que 1o. de quisleú ocorreu um mês lunar mais tarde, segundo o calendário babilônio.
  • 2. Quisleú 21= Mesori 21 (?) do ano 6 de Artaxerxes I (459 A. C.) No 6o. ano régio egípcio de Artaxerxes I o dia 21 de mesori correspondeu a 1/2 de dezembro (sS a sS) de 459 A. C. E. 21 de quisleú correspondeu a nov. 30/ dez°. 1 (pS a, pS), ou a 1/2 de dezembro (pS a pS) de 459 A. C., e 1o. de quisleú ao dia 10/11 de novembro ou a 11/12 de novembro (pS a pS). A conjunção da Lua ocorreu em 9,14 de novembro (às 3,21), e o período de traslação deve ter sido de 1,61 dias (38 horas, 38 minutos) ou 2,61 dias (62 horas, 38 minutos). Uma vez mais, se os resultados são corretos, quisleú teria ocorrido um mês completo antes do que indicava o calendário babilônio.

Se os dados das datas do papiro não necessitassem de emenda para fazê-los concordar com os fatos astronômicos, então teríamos a prova de que os judeus de Elefantina deixaram de seguir o costume de acrescentar um segundo mês de adar, para harmonizar com o ano babilônio 462 A. C., (18) e que o não acrescentaram nos anos 461 e 460; neste caso teriam estado um mês lunar completo em atraso quanto ao calendário babilônio. Infelizmente, chega-se a êstes resultados através de correções conjeturais da data do papiro AP 8, o que a torna duvidosa. Se há outro êrro implicado, diverso destas duas conjeturas, chegar-se-á a conclusões também diferentes.

AP 9

Ano 6o. de Artaxerxes I

Êste documento está relacionado com o AP 8 e deve haver tido a mesma data, possivelmente sem o êrro cometido pelo escriba. Entretanto, os dados da data estão em tão mau estado, que não é possível extrair conclusão alguma definitiva.

A Estrêla de Arenisca do Cairo (17)

Sivã = Mechir do 7o. ano de Artaxerxes I (458 A. C.)

A amplitude e a ambigüidade desta data não esclarecem o problema suscitado com o AP 8. Se aqui figura o 7o. ano de Artaxerxes, em conformidade com o sistema egípcio de computar o tempo, como é muito provável, seria o ano 290 da era de Nabonasar, e começaria em 16 de dezembro de 459, para terminar em 15 de dezembro de 458 A. C. O mês de mechir, do 7o. ano de Artaxerxes I, como está registado no calendário egípcio, estende-se de 15 de maio a 13 de junho de 458 A. C. O mês de sivã estende-se, segundo o calendário babilônio, de 6 de junho a 5 de julho de 458 A. C., (19 20) e de 8 de maio a 5 de junho de 458 A. C., de acôrdo com a reconstrução hipotética do calendário de Elefantina e com base, para êsses anos, em AP 8 (em que os meses do calendário judaico precediam o do calendário babilônio em um mês lunar).

Se certa palavra da inscrição puder ser traduzida por “no mês”, concordará com ambos os siste-mas, visto que os dias 1 a 8 de sivã, segundo o calendário babilônio, coincidiam com os oito últimos dias do mês egípcio mechir, e os dias 8 a 29 de sivã, segundo o calendário hipotético judáico, com base em AP 8, coincidiam com os primeiros vinte e dois dias de mechir. Entretanto, se essa palavra fôr traduzida por “no primeiro dia do mês lunar,” (21) só serviria um calendário cujos meses coincidissem com os meses babilônios, pôsto que o primeiro dia de sivã do suposto calendário judaico não caía em mechir.

Kraeling 14

Iyar 8 = Tybi 20

Neste mal conservado documento matrimonial, o nome e o número do ano régio do rei perderam-se. Foram preservados unicamente cinco traços do número do dia do mês de iyar. O espaço vazio que se lhe segue pareceria permitir a restauração de um possível número 8, a única data que coincide com 20 de tybi (que se nota com clareza) durante todo o século V A. C. (22) A análise cuidadosa de todos os anos do século V, o período em que êstes papiros foram escritos, leva à conclusão de que iyar 20 concorda unicamente cinco vêzes 

Kraeling 1

Phamenot 25 = Sivã 20, Ano de Artaxerxes I (451 A. C.)

Embora neste papiro o escriba se aparte do método usual e dê primeiramente o mês egípcio, método adotado unicamente uma vez mais, no Kraeling 6, o número do ano era, com na maioria dos casos, o ano régio egípcio de Artaxerxes I, porque não é possível encontrar harmonia entre as datas se se intentasse identificar o ano 14, segundo o cômputo judaico. Portanto, deve atribuir-se a um engano do escriba esta alteração da seqüência.

O dia 25 de pharmenot do 14°. ano régio egípcio de Artaxerxes I correspondia a 6/7 de julho (sS a sS) de 451 A. C. Conseqüentemente, sivã correspondia a 5/6 de julho (pS a pS) ou a 6/7 de julho (pS a pS). A conjunção da Lua nova ocorreu em 16,59 de junho (às 14,09), o que dá um período de traslação de 16 centésimos de um dia (3 horas, 50 minutos) se o dia 1o. de sivã coincidia com 16/17 de junho (pS a pS), ou a 1,16 dias (27 horas, 50 minutos) se o 1o. de sivã coincidia com 17/18 de junho (pS a pS) de 451 A. C.

Kraeling 2

Tammuz 18 — Pharmouti 3 do Ano 16 de Artaxerxes I (449 A. C.)

Neste papiro estão danificados o nome do mês judaico e o número do dia egípcio. Foram restaurados com base nos cálculos feitos sôbre o calendário, visto que tammuz é o único mês judaico que tem um 18°. dia que pode sincronizar-se com qualquer dia do mês de pharmouti no 16°. ano régio egípcio de Artaxerxes I. Restaura-se o dia 3 de pharmouti porque dá os melhores períodos de traslação. Em vista de alguns dos períodos baixos da traslação dos papiros anteriores, não se pode desprezar totalmente o 2 de pharmouti como a data egípcia correta, por crê-la impossível. Os dados seguintes exporão as diversas possibilidades.

O dia 2 de pharmouti do 16°. ano régio egípcio era o 12/13 de julho (sS a sS) de 449 A. C.; 3 de pharmouti era 13/14 de julho (sS a sS). O dia 18 de tammuz deve ter sido uma destas três datas possíveis: 11/12 de julho, 12/13, ou 13/14 (pS a pS. A conjunção da Lua ocorreu em 23,92 de junho (às 22,04), e o período de traslação deve ter sido de 83 centésimos de dia (19 horas, 55 minutos) se o dia 1o. de tammuz foi 25/26 de junho, e de 2,83 dias (67 horas, 55 minutos) se 1o. de tammuz foi 26/27 de junho.

AP 13

Quisleú 2 (?) = Mesori 11(?) do Ano 19 de Artaxerxes I (446 A. C.)

A reprodução dêste papiro (23 24) contém só dois traços visíveis do número do dia de quisleú, e não dá margem para o terceiro traço que Cowley considera “provável”. (22) Visto que quisleú 3 produziría períodos de traslação extremamente baixos, quisleú 2, também decifrado assim por Honheim e admitido por Gutesmann como possível, (25) é, com muita mais probabilidade, a data judaica cor-reta.

Existem vestígios muito tênues do número que acompanha o mês egípcio de mesori. Cowley, que tinha perante si o original, leu 10, (26) mas no facsímile publicado era possível ler-se também 11,(27) em cujo caso seria razoável o período de traslação para quisleú 2, como o demonstra o se-guinte :

O dia 11 de mesori correspondia . a 18/19 de novembro (sS a sS) de 446 A. C., e 2 de quisleú era 17/18 de novembro (pS a pS) ou 18/19 de novembro (pS a pS). Devido a que a conjunção ocorreu em 16,25 de novembro (às 6,00), o período de traslação era de 50 centésimos de dia (12 horas) se 1o. de quisleú era o dia 16/17 de novembro (pS a pS), ou de 1,50 dias (36 horas) se 1o. de quisleú era o dia 17/18 de novembro (pS a pS).

Êste papiro é importante por demonstrar que não haviam intercalado um segundo elul durante êsse ano. Parker e Dubberstein registraram em suas tábuas um segundo elulu não confirmado, no calendário babilônio para o ano 446/5 A. C. (28, 29) Entretanto, visto que não existia regularidade para a inserção do segundo elulu no calendário babilônio antes do século V, não estamos seguros de que êsse ano houvesse tido um segundo elulu. Esta incerteza no tocante aos meses intercalares não confirmados é demonstrada por ladrilhos procedentes de Ur (27) que foram dados a conhecer recentemente, os quais demonstram que foi intercalado um segundo elulu no calendário babilônio, no ano 409 A. C., em vez de no ano 408, e outro mais no ano 621 A. C., em vez de em 622, como o registam as tábuas de Parker e Dubberstein. (30)

Se se pudesse demonstrar que os babilônios tinham um segundo elulu em 446/445 A. C., possuiriamos uma prova de que os judeus não intercalavam por um segundo elul, mas o faziam pelo emprêgo de um segundo adar. Como se apresentam as coisas agora, pode estabelecer-se unicamente que não é possível produzir provas para a afirmação de que os judeus empregavam sempre um segundo elul, mas ainda não é possível provar que êles jamais o empregaram.