POSTO que o calendário judeu de Esdras 7 é uma continuação do que era empregado antes do cativeiro babilônio, necessário é, para poder analisar o sistema do calendário posterior ao cativeiro, estudar o calendário hebraico, tal como pode ser reconstituído com base nas informações anteriores a êsse cativeiro.

Encontramo-nos sôbre base muito mais segura para tratar de conseguir esta reconstrução, do que no tocante aos calendários empregados pelos egípcios e babilônios. O motivo desta incerteza se deve à pobreza das fontes de investigação. Na Mesopotâmia, centenas de milhares de tabuinhas com escrita cuneiforme nos fornecem tôda a informação necessária para reconstituir o calendário babilônio de maneira que se possa dêle obter conhecimento comparativamente amplo. É igualmente completa a nossa compreensão do calendário egípcio; mas para investigar os fatos relacionados com o antigo calendário hebraico, virtualmente a única fonte de informação antes do século V da era pré-cristã é a Bíblia. Além disso, as declarações relativas a êste tema são escassas o desconexas, e nalguns casos não de todo claras.

O Calendário de Noé

O primeiro calendário acêrca de que podemos ter provas bíblicas deve haver sido solar, em conformidade com as informações do dilúvio (Gên. 7:11, 24 e 8:4). A chuva começou no dia 17 do segundo mês, e as águas prevaleceram durante 150 dias, depois do que a arca repousou sôbre o monte Arará, no dia 17 do sétimo mês. Posto que êste período abrange exatamente cinco meses, perfazendo o total de 150 dias, que se estendem do dia 17 do segundo mês ao dia 17 do sétimo, pode deduzir-se, então, que cada mês estava formado de trinta dias; do que se deduz que não pode haver existido nesse calendário meses de 29 dias. Esta observação levou muitos eruditos a crer que o calendário de Noé era solar e constituído de meses de 30 dias, com alguns dias intercalares no fim dos doze meses, como no caso do calendário egípcio (1).

A saúde mental e emocional, tanto como a física, são determinadas por uma vida equilibrada. Sôbre cada pessoa pesa a obrigação de organizar um plano equilibrado de atividades sociais e da prá-tica de recriações.

Pensaram outros que a evidência indicava um ano lunar. O raciocínio empregado para chegar a esta conclusão é o seguinte: O dilúvio começou no dia 17 do segundo mês, no ano 600 de Noé (Gên. 7:11), e durou até ao 27° dia do segundo mês do ano 601 dêsse patriarca (Gên. 8:13 e 14), totalizando um ano e dez dias. Em vista de o ano lunar ser uns dez dias mais curto que o solar, pensa-se que o dilúvio deve, portanto, haver durado um ano lunar, mais dez dias, o que equivale a dizer, um ano solar. Esta última opinião, ou seja, que o período total do dilúvio foi de um ano solar, parece encontrar apoio na tradução do Velho Testamento, conhecida por Setuaginta. Seus tradutores, que viviam no Egito, onde estavam familiarizados com o ano solar egípcio, parecem refletir a tradição de que o dilúvio durou um ano, pois fixam a data inicial dêsse acontecimento no dia 27 do segundo mês, em lugar do no dia 17 (2).

Por motivo da escassez de provas quanto a êsse período primitivo, impossível se torna dizer mais, acêrca do calendário empregado no tempo de Noé, do que as poucas reflexões que acabamos de anotar. Devemos, porém, assinalar que não existe a mínima prova de que Noé ou os judeus de qualquer época hajam tido um calendário de 360 dias, que pudesse servir de base para o ano profético desta longura (3).

É possível que a base do ano profético de doze meses de trinta dias seja a mesma que a do calendário esquemático babilônio, empregado com propósitos comerciais e burocráticos. Êste ano burocrático de 360 dias existia paralelamente com o verdadeiro calendário lunar, com sua seqüência irregular de 29 e 30 dias. Êste calendário simplificado com propósitos burocráticos tornou-se muito útil, tanto para computar o passado como o futuro, pôsto que eliminava a necessidade de manter um registo exato da longura real de cada mês. É possível verificar a longitude dos meses no que tange ao passado, mas não no que se refere ao futuro, senão até muito mais tarde no desenvolvimento da astronomia babilônia. Portanto, durante muitos séculos foram redigidos contratos e calculados rendas e juros em relação ao futuro, sem tomar em conta a longura real de cada ano, mas com base no calendário burocrático de 360 dias cada um (4). Foi êle empregado meramente como um sistema uniforme para expressar em forma ordenada datas relacionadas com o futuro. Ao chegar o momento de cumprir o contrato, naturalmente era êle ajustado à data verdadeira do calendário lunar.

Mesmo no presente empregam-se meses teóricos de trinta dias cada um para calcular juros, e é possível que os judeus, dotados de senso prático, houvessem tido um calendário burocrático ideal, semelhante a êste, completamente independente de seu calendário real. Não obstante, não existe prova alguma de um calendário tal entre os judeus, a não ser que o calendário profético de 360 dias seja tomado como prova da existência de um sis-tema tal entre êles.

Moisés Reforma o Calendário

Não se sabe que tipo de calendário empregavam os hebreus no Egito, antes do êxodo. É possível que tenham empregado o calendário egípcio com seu dia de ano novo que, com o correr do tempo, migrava por tôdas as estações do ano, ou que houvessem preservado o calendário cananeu, que parece haver sido lunar, e que deve haver começado no outono. Sòmente sabemos por Êxo. 12:2, que Moisés recebeu ordem divina no sentido de fixar o comêço do ano no mês em que devia ocorrer o êxodo (Núm. 33:3), ao qual, no capítulo 13, v. 4, é dado o nome de Abib. Abibsignifica “o mês das espigas,” porque o trigo granava nessa época do ano. Êsse mês (melhor conhecido pelo nome que recebeu depois do cativeiro, isto é, Nisã) caía grandemente em fins de março e começos de abril, pôsto que, na Palestina, a colheita da cevada não começava antes de abril.

De várias declarações bíblicas podemos deduzir que o ano, no período mosaico e pós-mosaico, era lunar. As leis mosaicas faziam previsão para apresentar ofertas na época do comêço do “mês” ou “lua nova” (5), dando significação especial a êste dia (Núm. 28:11-14; 10:10). Que o dia da lua nova era o primeiro dia do mês no tempo de Saul, torna-se evidente ao ler-se I Sam. 20:24 e 27, onde se nos diz que o dia seguinte ao da “lua nova” quando se estava celebrando o festim real, recebeu o nome de “o segundo dia da lua nova.” Assim, o calendário hebraico, a partir de Moisés, em diante, sem dúvida foi lunar.

Da lei relativa à festa da Páscoa deduzimos que os judeus devem haver empregado um sistema de intercalação mediante o qual punham o seu ano lunar em harmonia com o ano solar natural, o que se torna evidente ao estudar a lei relativa à Páscoa. Esta lei requeria que esta festa se mantivesse imutável em meados do primeiro mês (Lev. 23:5), mas também estava relacionada com a colheita da cevada, pois eram requeridas ofertas de molhos das primícias (Lev. 23:10 e 11). Dêste modo, provavelmente o calendário era corrigido pela inserção de meses embolismais quando se necessitava de que a Páscoa ocorresse no comêço da colheita da cevada.

O Ano Civil

A nova ordem, que fixava o comêço do ano na primavera, implica em que o ano dos israelitas deve haver começado antes disso em outra época, provavelmente no outono. Se bem seja certo que desde então o ano “eclesiástico” ou “sagrado” começava sempre na primavera, através de tôda a história da nação hebraica, pode demonstrar-se a existência de outra espécie de calendário, chamado aqui “ano civil,” com base numa quantidade de provas bíblicas e extrabíblicas. Isto é confirmado pelo historiador Josefo, que regista a tradição judaica acêrca dêste ponto, tal como existia no primeiro século da era cristã. Depois de citar um antigo sistema de cômputo para começar o ano no outono, prossegue:

“Moisés, entretanto, assinalou o mês de Nisã, ou seja, Xanticus (6), como o primeiro mês das festividades, porque nesse mês tirou os hebreus do Egito; também assinalou êste mês como o comêço do ano para tudo quanto se relacionasse com o culto divino, mas para comprar e vender, e outros assuntos comuns, reservou o antigo calendário” (7).

Êste calendário de outono a outono provavelmente se harmonizava com os que estavam em uso entre os habitantes da Palestina antes de que os israelitas chegassem, e é possível que o tenham adotado os patriarcas e os judeus depois da conquista de Canaã (8).

Observou-se que o clima e as estações na Palestina contribuem para que o comêço do ano no outono seja natural. Êste é o fim do verão sêco e cálido, quando durante vários meses tudo estêve morto e estéril. Ao cairem as primeiras chuvas, surge nova vida, e é natural começar o ano nesse momento (9).

Uma quantidade de expressões hebraicas apoiam êste asserto. A palavra tequpha é usada três vêzes como têrmo cronológico no Velho Testamento. Significa “rotação” e origina-se do verbo naqoph, que significa “fazer um círculo” ou “rodear”. Em

  • I Sam. 1:20, a palavra denota o término da gestação de Ana e, na versão da Bíblia Trinitária, lemos “na revolução do tempo”, expressão traduzida na versão brasileira: “Tendo passado o período”, para indicar que o número regular dos dias de sua gestação se havia completado. Em Êxo. 34:22 e
  • II crôn. 24:32, a palavra tequpha foi traduzida respectivamente, “no fim do ano” e “no decurso de um ano” pôsto que todo o ano havia feito uma rotação ou revolução completa, e começava um ano novo. O passo paralelo de Êxo. 34:22 encontra-se no capítulo 23:16, onde a palavra “saída” foi traduzida da palavra hebraica se’th (infinitivo de yasa, no modo construtivo) que significa “o surgimento”. Êstes versículos falam das festas que haveriam de celebrar-se no sétimo mês do ano eclesiástico e revelam-nos claramente que ocorriam no fim do ano, o que não pode referir-se ao ano eclesiástico, cujo comêço caía na primavera. Os versículos mencionados devem referir-se, sem dúvida, ao comêço do ano civil (10).

Outro têrmo cronológico hebraico é a palavra teshubah, que significa literalmente o “regresso”. Essa expressão é empregada em II Sam. 11:1; I Reis 20:22 e 26; I Crôn. 20:1, e II Crôn. 36:10. Pode traduzir-se corretamente I Reis 20:22 e 26 por “no regresso do ano”. A tradução constante de outros passos, tal como a encontrada em II Sam. 11:1 “tendo decorrido um ano”, são mais interpretações que traduções. Em algumas versões, a nota marginal indica que êsses versículos rezam, em hebraico, “ao voltar o ano”. Apesar de os eruditos não estarem concordes na interpretação desta palavra quando se refere ao ano (11), a explicação mais plausível consiste em considerá-la uma expressão que indica um ponto especial do ano que se encontrava situado na metade do caminho, por assim dizê-lo, entre seu comêço e seu fim. A palavra teshubah origina-se da hebraica shuh, que significa “tornar”, da mesma maneira que a palavra portuguêsa “retornar” deriva do verbo “tornar”. Isto não significa nem o comêço nem o fim de determinado período ou viagem, mas o ponto de retôrno. As campanhas militares, às quais êstes versículos se referem, geralmente começavam na primavera, segundo no-lo ensinam muitos documentos antigos. Isto nos revela que a primavera era considerada o ponto culminante, que se encontrava entre o comêço e o fim do ano, o que nos indica que o outono era o comêço do ano civil.

O Calendário Civil de Salomão

Da época de Salomão chega-nos outra prova de que o ano civil começava no outono e terminava no outono seguinte. Em I Reis 6:1, 37 e 38, diz-se que a obra do templo de Salomão começou no segundo mês do quarto ano do rei e terminou no oitavo mês do undécimo ano de Salomão, havendo sido empregados na construção, sete anos.

Quando no Velho Testamento se enumeram os meses, isso sempre é feito a partir de Abib, ou Nisã, sem tomar em consideração se o cômputo do ano começa com a primavera ou com o outono. Se um ano começava com Ethan (mais tarde Tishri), êste sétimo mês do ano eclesiástico nunca era enumerado como o primeiro mês do ano civil, embora o fôsse, mas sempre conservava o seu número sete. Um ano civil que começava no outono, iniciava-se pois com o sétimo mês, e tinha seu décimo-segundo mês por volta de meados do ano, e terminava com o sétimo (12). Daí que se dois acontecimentos fôssem datados do sexto e sétimo meses do mesmo ano régio, significava que o ano começava com o último mês, como entre os babilônios, e que o sétimo mês seguia o sexto no mesmo ano calendário. Se, não obstante, dois acontecimentos sucessivos eram datados do nono e do último mês do mesmo ano régio, como ocorre por exemplo em Nee. 1 e 2, no calendário empregado neste caso não se usa o último mês como comêço do ano novo.

Os intervalos que começam com um acontecimento, geralmente são computados por meio do aniverssário dessa ocorrência, e não pelo ano calendário, tal como ocorre com os anos régios (13). Portanto, os sete anos empregados na edificação do templo devem ser computados a partir da data do comêço da construção, e não do comêço do ano.

Ao computar o tempo incluiam-se geralmente a primeira e a última unidade do período, quer fôssem completas quer não. Êste método é conhecido pelo nome de “cômputo inclusivo.” Um exemplo dentre os vários de seu emprêgo na Bíblia encontramo-lo em II Crôn. 10:5 e 12. Embora Roboão houvesse pedido ao povo que tornasse “daqui a três dias”, “veio pois Jeroboão, e todo o povo a Roboão, no terceiro dia.” Para nós, essa maneira de computar o tempo seria tão estranha como se, numa segunda-feira, pedíssemos a alguém que voltasse depois de três dias, e o víssemos comparecer perante nós na quarta em lugar de na quinta-feira quando o esperávamos. Para os antigos hebreus, bem como para muitos outros povos da antiguidade (14), o “cômputo inclusivo” era um método empregado comumente para calcular o tempo (15).

Se os anos régios de Salomão começavam na primavera (com Nisã), e coincidiam com o ano eclesiástico, então a construção do templo deve haver durado oito anos, em lugar de sete, tal como o demonstra a figura 2. Somente se deduzirmos que seu ano régio começava no outono (com Tishri) e que o mês segundo de seu quarto ano régio caía mais ou menos em metade do ano a partir do ano novo civil, podemos harmonizar as datas diferentes que nos fornecem os versículos mencionados (16).

[Na página 11 encontrará o leitor os diagramas que nos permitem ver, com tôda a clareza, que espécie de calendário empregavam os hebreus, à luz dos dados cronológicos da Bíblia, no tocante à reconstrução do templo salomônico. Torna-se evidente que os hebreus tinham dois calendários: um religioso, de primavera a primavera, e outro civil, de outono a outono. — N. do T.]

O Calendário de Gezer

Do mesmo século X, A. C., em que reinou Salomão, temos provas arqueológicas da existência de um calendário de outono a outono que teria estado em vigência na Palestina. Cheganos sob a forma de um ladrilho de barro descoberto por MacAlister durante as escavações que praticou na cidade palestina de Gezer (17). Seu texto foi admiravelmente explicado por W. F. Albright (18) no sentido de que abarcaria todo o calendário palestino, e apresentamos aqui sua tradução com algumas considerações adicionais (19):

“Seus dois meses são os de colheita (de azeitona) (set°.-nov°.); seus dois meses são os de sementeira do grão (nov°.-jano.); seus dois meses são os de plantação tardia (jan°.-março): seu mês é o de carpir o linho (março-abril); seu mês é o da colheita da cevada (abril-maio); seu mês é o da colheita e festividade (do trigo) (maio e junho); seus dois meses são os do trato das vinhas (jun°. e ag°.); seu mês é o das frutas do verão (ag°. e set°.).

O Calendário do Reino de Judá

Que o calendário de outono a outono permaneceu em uso no reino de Judá depois do tempo de Salomão através de seus três e meio séculos de existência, demonstra-o cuidadosa análise de todos os documentos cronológicos relacionados com êste capítulo. Os anos régios e os sincronismos contidos nos livros dos Reis e Crônicas, só se pode conseguir que harmonizem se se toma em consideração um calendário de outono a outono como base de todo o cômputo civil no reino de Judá (20).

A existência de tal calendário durante a época do rei Josias pode ser demonstrada sem muita dificuldade. II Reis 22:3 diz-nos que êsse rei iniciou sua obra de reparações no templo, no ano 18°. do seu reinado. Descobrimos, então, que se cumpriu essa ordem e foram entregues fundos aos obreiros que faziam as reparações. Durante essas atividades foi encontrado no templo o livro da lei. Depois de lido perante o rei, e mais tarde na presença dos anciãos, tomaram-se medidas para pôr em prática as instruções nêle encontradas. Josias destruiu todos os lugares dedicados à idolatria, primeiramente em Jerusalém e em seus arredores, e mais tarde no resto de seu reino, desde Geba até Berseba, e finalmente estendeu suas atividades reformadoras à província assíria vizinha de Samaria. Depois de realizar tudo quanto aqui mencionamos sucintamente, celebrou-se a Páscoa no ano 18°. do seu reinado. (II Reis 23:23.) Celebrou-se a Páscoa no 14°. dia do mês da primavera (Lev. 23:5) chamado Nisã, que era o primeiro do ano eclesiástico. Se Josias houvesse começado o cômputo de seu ano 18°. a partir de Nisã, só lhe teriam restado duas semanas, entre o comêço da reparação do templo e a celebração da Páscoa, para cumprir tôdas as atividades descri-tas em II Reis 22 e 23. Visto ser claro que é absolutamente impossível fazer tantas coisas em período de tempo tão exíguo, pode deduzir-se que o ano 18°. começou antes de 1o. de Nisã, o que equivale a dizer, em 1o. de Tishri. Neste caso, disporia o rei de mais que seis meses para levar a cabo as ati-vidades já mencionadas. Já há muito tempo reconhecem os eruditos que as declarações encontradas em II Reis 22 e 23 indicam a existência de um ano que se iniciava no outono, para terminar no outono seguinte (21).

O estudo dos registos anteriores ao cativeiro demonstra-nos que, além de um possível calendário solar usado no tempo de Noé, devem os hebreus haver empregado um calendário lunar. Também é evidente que Moisés introduziu um ano religioso que começava com a primavera, sem, porém, abolir o ano civil existente, que começava no outono, e que os anos régios dos reis de Judá eram computados em conformidade com o calendário civil de outono a outono, desde o tempo de Salomão até o fim do reino de Judá.

  • (1) Para exemplo, ver vários comentários de Gênesis 7 e 8, como The Pulpit Commentary, que cita Ewa’d, The International Criticai Commentary, e Keil e Delitzsch.
  • (2) Esta data encontrada na Setuaginta é uma das numerosas variações encontradas nessa tradução, no tocante ao texto hebraico. Têm certa coerência e parece haverem sido usadas como base da suposição de que o calendário de Noé era solar. As datas, segundo a Setuaginta, são as seguintes:
    • 1) Comêço do dilúvio Dia 27°., 2o. mês, ano 600°.
    • 2) A arca repousa no Dia 27°., 7o. mês, ano 600°. Monte Arará
    • 3) Divisa-se o cume dos Dia 1o., 11°. mês, ano 600°. montes
    • 4) Vêem-se as águas      Dia , 1°., 1o. mês, ano 601°.
    • 5) A Terra interiamente Dia 27°., 2o. mês, ano 601°.
  • (4) O. Neugebauer, The Origin of the Egyptian Calendar, FNES, 1 (1942), págs. 400 e 401.
  • (5) A palavra Chodesh, provém da raiz chadash, que significa “renovar”, tendo como primeira acepção “lua nova” e, em segunda, “mês”. (Ver a edição do dicionário hebraico de Gesênio, por Brown, Driver e Briggs.) Chodesh tem o mesmo significado em fenício e em hebraico. (Ver Zellig Harris, A Grammar of the Phoenician Language, pág. 100.
  • (6) Xanthicus é um dos nomes que os macedônios davam a um de seus meses, e que foi usado mais amplamente no mundo oriental durante os períodos grego e romano.
  • (7) Josefo, Antiguidades, 1, 2 e 3 (Ed. Loeb).
  • (8) Que o calendário civil hebraico correspondia ao cananeu pode ser demonstrado primeiramente porque ambos começavam no outono (Langdon, op. cit., pág. 24), e que dois dos quatro nomes de meses anteriores ao cativeiro, mencionados no Velho Testamento, encontram-se em inscrições onde é dito que são cananeus.
    • Abib:  1o. mês. (Êxo. 13:4; 23:15;  34:18; Deut. 16:1.)
    • Zif:  2o. mês. (I Reis 6:37.)
    • Ethanim: 7o. mês. (I Reis 8:2.)
    • Bul: 8°. mês. (I Reis 6:38.) 
    • Para encontrar as referências a inscrições fenícias em que são mencionados os meses Ethanim e Bul, ver Harris, op. cit., págs. 84 e 87.
  • (9) Franz M. Th. Böhl, livro revisado por Gustaf Dalman, Arbeit und Sitte in Palästina, Vols. I e II, em Archiv für Orientforschung, Vol VIII, pág. 245  (1.932.033).
  • (10) Brown, Driver e Briggs explicam a palavra tequpha como a dizer-nos que significa “em circuito (rotação completa) do ano”. A 17a. edição de Gesênio a traduz como “a rotação do ano,” i. é, o equinócio vernal. A edição Tregelles do mes-mo dicionário, interpreta-a como “depois do curso de um ano,” ao passo que o Dicionário Hebraico, de Fuerst a dá como o “lapso de um ano.” Os comentaristas têm a mesma explicação, das quais pode dar-se como exemplo a nota textual de Mad-sen, em The International Criticai Commentary, sôbre II Crôn. 24:23, onde diz “ao rodear, circundar, i, é, ao completar o ano.” ,
  • (11) Brown, Driver e Briggs traduzem o têrmo teshubah como “o regresso do ano, isto é, a primavera,” sem dizer que coincidia com o fim do ano. Curtis e Madsen não se comprometem em The International Criticai Commentary, sôbre II Crôn. 36:10; mas, em seu comentário sôbre I Crôn. 20:1, diz Lange: “Ao terminar o ano, na época em que os reis saem, na primavera, como o mo-mento mais adequado para reinaugurar a cam-panha,” e sôbre I Reis 20:22, é dito que significa “com o comêço do ano seguinte.”
  • (12) À primeira vista parece estranho que os judeus pudessem haver dado o nome do primeiro mês de um determinado calendário ao “sétimo,” mas prática semelhante seguem presentemente muitas firmas comerciais que usam o ano fiscal que, em muitos casos, começa com o nosso sétimo mês, a saber, 1o. de julho, e termina em 30 de junho. Também os judeus da atualidade continuam empregando um calendário que começa com seu sé-timo mês. Tishri, e o têm em uso há muitos séculos. Além disso, êste, aparente costume contraditório de dar o nome do primeiro mês ao “sétimo” encontra seu paralelo em um procedi-mento similar, seguido desde o tempo dos roma-nos até ao presente, ou seja, o de designar o nono mês dos calendários juliano e gregoriano pe-lo nome de “setembro” que significa literalmente “sétimo mês”, o décimo mês “outubro”, que sig-nifica “oitavo mês”, etc.
  • (13) O exemplo da construção do templo de Salomão que apresentamos aqui, fornece a prova mais potente em favor da correção desta declaração, pois não é conhecido outro sistema de cômputo que leve à solução das datas citadas aqui como no texto mencionado. Outra prova para a existência de um cômputo com base nos aniversários, pode ver-se em que certos feriados eram dias rememo-rativos ou aniversários de dias notáveis, como a Páscoa, por exemplo, celebrada cada ano no dia em que havia ocorrido o êxodo (Êxo. 13:3-8), ou a festa do Purim nos dois dias do libertamento dos judeus dos planos sinistros de Amã (Ester 9:27).
  • (14) Para encontrar exemplos gregos e romanos, ver H. J. Rose, Calendar: Greek Roman, Encyclopaedia Britannica (1915), Vol. IV, págs. 578 e 579; ver, em um dicionário enciclopédico, as definições de derivados tais como pentélico, oitava, terciário.
  • (15) Outros exemplos bíblicos de cômputo inclusivo são: II Reis 18:9 e 10; comparar Lev. 12:3 com Gên. 17:12; 8. Mat. 16:21 (também 17: 23; 20:19) com S. Mat. 26:61; 27:63 e 12:40, às quais o mesmo autor se refere ao mesmo intervalo como “ao terceiro dia”, “em três dias”, “depois de três dias”, e “três dias e três noites” (ver também, os versículos em outros Evangelhos relativos ao período da crucifixão e à ressurreição). Quanto ao cômputo inclusivo, ver Thiele, op. cit., pág. 31.
  • (16) Thiele, op. cit., págs. 30 e 31.
  • (17) O último e mais pormenorizado exame do proble-ma relacionado com o calendário de Gezer foi feito por Albright, The Gezer Calendar, BASOR, 92, (dezembro de 1943), págs. 16-26.
  • (18) Albright segue eruditos tais como Vincent, MacAlis-ter, Dalman e outros. (Idem, pág. 24.)
  • (19) Albright das traduções das páginas 22 e 23 com notas referentes a que meses se aplica nas notas 30, 32, 37 e 38.
  • (20) Thiele, op. cit., págs. 32 e 33. Pode mencionar-se aqui que o calendário civil de primavera a primavera foi implantado aparentemente no reino de Israel por Jeroboão I, quando as dez tribos se separaram de Judá. Ao deduzir a existência de um calendário em Israel, diferente do de Judá, pode obter-se harmonia entre as diversas datas fornecidas pelos livros de Reis e Crônicas. (Ver Thiele, op. cit., pág. 33.) O costume dos habitantes do reino do norte não tem relação com o tema que estamos estudando entretanto, porque a cronologia dos judeus posteriormente ao cativeiro, continuou com o costume dos habitantes do reino sulino de Judá. Portanto, o mero reconhecimento da existência de um calendário diferente em Israel, é suficiente.
  • (21) Thiele, op. cit., pág. 32. Esta Páscoa é citada co-mo uma prova de um calendário hebraico anterior ao cativeiro que começaria na primavera; a citação é feita por Júlio Wellhausen, em Prolegomena to the History of Israel, tradução de J. S. Black e Allan Menzies, Vol. I, pág. 108. Muitos outros eruditos alegam, em favor de um ano de outono a outono, que teria predominado antes do cativeiro; ver W. O. E. Oesrterley e Teodoro H. Robinson, A History of Israel, Vol. II, pág. 20; Adolfo Lods, Israel From Its Beginnings to the Middle of the Eight Century, tradução de S. H. Hooke, pág. 436.