Lemos freqüentemente a respeito de “novo” evangelismo, e damos graças a Deus pelo envolvimento de nossos jovens em novas tentativas de aproximação por parte da mocidade. Os jovens da América do Sul não estão atrasados no desenvolvimento de novos métodos de conquista de almas. Eles encetaram recentemente um extraordinário programa de evangelismo jovem que está produzindo abundante resultado.
Enquanto estávamos em licença, perto do fim de 1972, um jovem, Aecio Cairus, meu ex-aluno, elaborou os regulamentos de uma nova organização de estudantes, que ele chamou de “Missão Estudantil do Prata”. Essa missão foi planejada por analogia com uma associação local, para dar aos alunos o privilégio de labutarem juntos num ambiente em que pudessem aprender estruturas e relações denominacionais por experiência, ampliando também suas possibilidades no evangelismo público e pessoal.
Durante os anos que antecederam a formação da MEP, tanto os professores como os alunos tinham ficado descontentes com a falta de um programa suficientemente integrado para aplicar à experiência pessoal dos alunos do colégio a teoria que estavam aprendendo na sala de aula. Ao estudarem os professores e alunos as idéias para equilibrar o trabalho missionário e evangelístico com o estudo, quatro pontos sobressaíram nas páginas 64 e 65 do livro Serviço Cristão. Deve-se conceder tempo para fazer trabalho missionário como parte do seu preparo. Isto abrange obviamente todas as disciplinas.
“Para sua completa educação é necessário que se dê aos alunos tempo para fazer trabalho missionário — tempo para se relacionarem com as necessidades espirituais das famílias da vizinhança. Não devem ficar tão sobrecarregados de estudos, que não tenham tempo de empregar o conhecimento adquirido”. — Serviço Cristão, p. 64.
O Colégio do Rio da Prata há muito é conhecido por seu ambiente muito intelectual e erudito. Não havia o menor desejo de diminuir isso, mas era evidente que os alunos tinham bem pouco tempo programado para outras coisas além do estudo, e, também, estando ele situado a grande distância de importantes centros populacionais, não havia uma estrutura adequada para incentivar os alunos a empreenderem alguma aplicação sistemática do “conhecimento adquirido”.
O segundo ponto elucidado era que os alunos “devem fazer trabalho missionário nas vilas e povoações vizinhas”. “Sempre que for possível, os alunos devem, durante o ano escolar, tomar parte em obra missionária na cidade”. — Serviço Cristão, p. 65.
Dois outros princípios sobressaem na frase: “Devem organizar-se em grupos para efetuar obra de auxílio cristão”. — Ibidem.
O primeiro desses dois princípios é exposto em numerosos lugares nos escritos do Espírito de Profecia. A idéia de formar pequenos grupos para serviço cristão foi recomendada por “Um que não pode errar”. — Idem, p. 72.
O segundo princípio nesta frase declara especificamente quem deve organizar os jovens nesses pequenos grupos. ELES MESMOS devem ter este privilégio e responsabilidade.
O conceito da MEP parecia corresponder exatamente a esses quatro princípios, e os alunos do Colégio do Rio da Prata foram incentivados a organizar-se de acordo com as normas apresentadas pelo irmão Cairus. *
Em abril de 1973, enquanto ainda estávamos em licença, fazendo um curso de aperfeiçoamento na Universidade Andrews, o corpo discente do colégio estudou as idéias apresentadas pelo irmão Cairus e votou constituir-se na “Missão Estudantil”. A associação local apoiou a organização com uma verba especial e designou-lhe um território abrangendo três igrejas e um grande número de cidades e vilas em que nunca dantes penetrara a mensagem do advento.
O colégio e a igreja local também apoiaram a “Missão Estudantil” concedendo-lhe auxílio financeiro. Os alunos viram a necessidade de ajudar a “Missão” com seu próprio dinheiro, que no segundo ano representava mais de um terço do orçamento operativo da “Missão”. No último ano os alunos angariaram na íntegra a metade dos fundos necessários. Os membros da igreja do colégio comprometeram-se a utilizar seus carros nos fins de semana para transportar os “obreiros da Missão” a seus campos de trabalho.
Os alunos elegeram os oficiais característicos de que se compõe uma associação denominacional: presidente, secretário, tesoureiro e secretários departamentais, e começaram a formar “pequenos grupos” para trabalharem nas igrejas designadas e para darem início à obra nalgumas das cidades e vilas ainda não penetradas. No fim do ano a “Missão” preparara 31 pessoas para o batismo. Em 1974 os alunos prepararam 46 pessoas para o batismo e no fim do último ano letivo quase tinha sido alcançado o alvo de 70 batismos. No fim de 1976 eles talvez tenham superado o número de 200 batismos para esse ano.
À medida que a “Missão” se tem aperfeiçoado, a associação local tem-lhe confiado cada vez maiores responsabilidades. Atualmente o território da “Missão” se estende a um raio de 160 km ao redor do colégio, com seis igrejas. Os alunos fundaram além disso cerca de 20 grupos nos quais, sábado após sábado, se reúnem centenas de pessoas para prestar culto e para estudar a Palavra de Deus.
As experiências que os alunos têm tido são realmente sensacionais, ao labutarem juntos em seu próprio programa de trabalho pastoral e evangelístico. Numa cidade a uns 80 km do colégio não tínhamos nenhuma atividade até o fim da semana santa de 1975. Um grupo foi escolhido pela “Mesa Administrativa da Missão” para realizar uma série de reuniões nesse fim de semana, na cidade de Hernández. Quando assisti à penúltima reunião da série para ver como iam as coisas, verifiquei que nossos jovens realizavam as reuniões num edifício dividido em dois aposentos por um tabique de uns dois metros de altura. Do outro lado, competindo com nossos jovens, havia um salão e mesas de bilhar, um bar e a música arrebatada e ardente que acompanha tal espécie de ambiente. Do “nosso lado” do tabique havia, porém, cerca de 50 pessoas se esforçando por ouvir a mensagem do evangelho acima da algazarra de vozes altas e gargalhadas provenientes do outro lado.
A idéia de formar pequenos grupos para serviço cristão foi recomendada por “Um que não pode errar”.
Quando lhe foi perguntado por que escolhera semelhante local para as reuniões, Rigoberto Yefilaf, dirigente do grupo, respondeu: “Não havia outra coisa, Pastor!” Com a diligência dos jovens e a especial intervenção da Providência, temos hoje — um ano depois — uma atraente capela nessa cidadezinha, completamente paga, com uma assistência de cerca de 50 pessoas que fielmente prestam culto cada sábado.
As histórias que poderiam ser contadas encheriam um livro comovedor acerca da providência divina e da dedicação dos jovens. Há talvez, três coisas que mais me impressionaram a respeito da experiência que estamos atravessando.
Antes de mais nada, nos dez anos em que temos lecionado na Faculdade de Teologia do Colégio do Rio da Prata, nunca vimos um grupo de estudantes tão dedicado, consagrado e unido. Antes de ser organi-zada a “Missão”, estávamos pesarosos devido à distância entre os estudantes de teologia e os das outras disciplinas educacionais. Hoje isto desapareceu completamente.
O fervor espiritual entre os alunos é notável. Não é uma excitação doentia, mas uma tranqüila salubridade diária que tem influenciado a vida prática em todos os aspectos. A consagração desses jovens de todas as disciplinas educacionais, no cristianismo prático, é um exemplo para todos nós, pastores, professores e leigos. Todos estão concordes em que um dos fatores dessa vitalidade espiritual é a “Missão Estudantil do Prata”.
Finalmente, a melhoria na eficácia da obra evangelística tem sido extraordinária. Sempre temos enviado tantos de nossos alunos quantos é possível para ajudar nas campanhas evangelísticas dirigidas por evangelistas da associação, em seu território. No entanto, até há pouco tempo o “campo” não estava muito desejoso de recebê-los. Em anos anteriores, os alunos tinham preparado em média duas a cinco pessoas para o batismo nas campanhas em que labutaram. Em 1974 só pudemos colocar três alunos. Estes jovens tinham tido a experiência de trabalhar na “Missão Estudantil” e fizeram consideravelmente melhor do que o termo médio antes deles. Talvez em parte devido a isso, este último ano fomos capazes de colocar doze. Quatro numa campanha, sete noutra e um numa outra ainda. Embora fossem bastante jovens — alunos do segundo ano — cada um deles preparou em média mais de vinte pessoas. Sua média em conjunto, nas três campanhas, foi maior do que a média dos pastores ordenados de tempo integral.
A primeira medida que o colégio tomou para tomar seu programa mais prático foi chamar um dos melhores evangelistas que temos na União Austral para lecionar no setor de Teologia Aplicada. O programa do Pastor Daniel Belvedere é delineado de tal maneira que ele dirige os alunos uma vez ao ano numa campanha evangelística em larga escala. Então o plano é formar equipes evangelísticas em volta de três ou quatro jovens que demonstram o maior interesse e aptidão no evangelismo. O Pastor Belvedere instrui essas equipes, fornece-lhes sermões e material, e as auxilia ao empreenderem suas próprias campanhas.
Concluímos recentemente nossa primeira campanha evangelística em ampla escala baseada nesse conceito, e ficamos emocionados ao ver o que Deus tem feito por meio desses jovens. Embora o Pastor Belvedere não pudesse dirigir pessoalmente essa primeira campanha, ele instruiu a equipe de jovens escolhidos para levá-la avante. Para esta primeira experiência, a “Mesa Administrativa da Missão Estudantil” escolheu como evangelista a um jovem que leciona há pouco tempo no colégio. Quatro alunos foram escolhidos como seus assistentes. Dois colportores-estudantes precederam a equipe na cidade de Villaguay, de aproximadamente 20.000 habitantes, a fim de preparar o terreno. Dois componentes da equipe original prontificaram-se a trabalhar de graça, com exceção de quarto e comida. Os outros dois, por motivos financeiros, não puderam fazer isto. A “Missão” avançou pela fé e encontrou amigos na Argentina e nos Estados Unidos que estão ajudando a cobrir as despesas escolares desses jovens no presente ano letivo.
As experiências que os alunos têm tido são realmente sensacionais, ao labutarem juntos em seu próprio programa de trabalho pastoral e evangelístico.
Julgamos que o calor e o trabalho do verão restringiriam a assistência. No entanto, a estação de rádio local começou a solicitar entrevistas dos jovens que estavam preparando a campanha. O diretor do programa de rádio insistiu que Renê Quispe, o jovem escolhido como evangelista, iniciasse um mês antes das reuniões um programa religioso diário, de cinco minutos de duração, numa hora especial. Em virtude do apoio local, quando as reuniões começaram, no dia 10 de janeiro, havia mais pessoas em pé (300) do que sentadas (250). Fomos obrigados a realizar uma segunda reunião para acomodar todas as pessoas! Foi necessário continuar com essas duas reuniões enquanto durou a série de conferências.
Visto que tínhamos tantas pessoas pedindo estudos bíblicos que não podíamos atender a todas elas, o difícil problema com que deparava a “Missão” era: “Quem podemos conseguir para ajudar a atender a esses interessados?” O elevado índice inflacionário (75% entre março de 1975 e março de 1976) e as humildes condições da maioria dos estudantes tomaram necessário que todos que podiam fazê-lo se encontrassem fora, colportando, a fim de ganhar estipêndios para o presente ano letivo. Como podíamos esperar obter a ajuda de que necessitávamos?
Justo quando estávamos sem esperança de encontrar alguém, o Senhor começou a operar. Vítor Osório, um estudante casado que tinha três filhos e que trabalhava perto do colégio devido a suas responsabilidades como secretário do departamento ministerial da “Missão Estudantil”, expressou-se com franqueza. Estávamos numa reunião da “Mesa Administrativa da Missão”, procurando descobrir uma solução para o problema que enfrentávamos. “Não sei de onde virá o dinheiro para meus estudos — disse ele — mas tenho a impressão de que devo ir ajudá-los, se isto estiver de acordo com o pensamento desta comissão. Certamente o Senhor proverá”.
No dia seguinte outro jovem chegou inesperadamente ao colégio, e ofereceu seus serviços. Uns três ou quatro dias depois chegou um outro jovem, e ele também aceitou o desafio da fé, de trabalhar para o Mestre, confiando que Ele supriria todas as suas necessidades.
Contudo, ainda havia mais pessoas pedindo estudos do que instrutores bíblicos disponíveis para atendê-las. Então Luís Gaite, que cuidava da tenda, enviou um S.O.S. a sua jovem esposa. Quando ela chegou, Luís partiu a fim de transmitir as palavras da vida aos famintos e sedentos, enquanto sua esposa passou a cuidar de nossa tenda.
Quando a “Missão Estudantil” iniciou seu trabalho nessa cidade de Villaguay, tínhamos ali apenas um pequeno número de membros divididos e desanimados que se reuniam numa igrejinha um tanto desmantelada e sem pintura, mas belamente projetada e solidamente construída, com capacidade para 80 a 100 pessoas sentadas. O problema era que havia apenas cerca de 35 cadeiras cambaleantes e com pernas quebradas.
Atualmente, essa igrejinha não está cheia, e, sim, superlotada! Foram batizadas nessa região 97 pessoas, e os 15 a 20 membros fiéis do ano passado aumentaram para cerca de 120 leais irmãos e irmãs, que não somente freqüentam a igreja, mas também se empenham ativamente em terminar a obra nessa parte do mundo.
Todo fim de semana os alunos regressam trazendo relatos de novos interessados e das maravilhosas obras de Deus. Esta semana, uma das moças que labutavam ali voltou com o impressionante relato de que saíra de um estudo bíblico tão emocionada com a decisão tomada por uma de suas alunas, que colidiu distraidamente com uma senhora que andava na rua. A colisão foi tão forte que ambas tiveram de parar. Então a outra senhora perguntou para Mônica:
—Que você tem na mão?
— Uma Bíblia — respondeu a moça.
A senhora quis saber então se era uma Bíblia católica ou das Testemunhas de Jeová. Quando Mônica lhe disse que não era nem uma nem outra, mas uma Bíblia publicada pela Sociedade Bíblica Internacional, disse a senhora:
— Oh! como eu gostaria de estudar a Bíblia! Poderia instruir-me?
No domingo à tarde ela recebeu seu primeiro estudo bíblico!
Para estabelecer o aspecto evangelístico da “Missão Estudantil” sobre uma sólida base, precisamos ter nosso próprio equipamento evangelístico. No dia 22 de janeiro de 1976, pela graça de Deus, o sacrifício e a energia dos componentes da “Missão” e a generosidade dos amigos, conseguimos assinar um contrato para a aquisição de um auditório móvel. A oferta MV para 1976, da União Austral, foi dedicada para ajudar os jovens do Colégio do Rio da Prata a equipar essa tenda.
O segundo aspecto do programa que estamos promovendo aqui no colégio diz respeito ao preparo dos jovens para mobilizar as forças leigas de nossas igrejas. Numa época em que os leigos estão melhor equipados do que jamais no passado, e em que os homens desejam reavaliar os métodos atuais e estudar por que a igreja primitiva foi tão eficiente em expandir-se até os confins do mundo em tão pouco tempo, procuramos desafiar nossos jovens a serem mais do que “pregadores”, tornando-se educadores que inspirem todo membro da congregação local a descobrir o “dom” que Deus prometeu a cada um de Seus filhos regenerados e a empregá-lo para Sua glória. Os secretários departamentais da União Austral e a associação local participam ativamente nesse processo preparatório, ajudando nossos estudantes a serem mais eficientes em adestrar nossas forças leigas e em transformar os recém-batizados em eficientes “ministros” (Efés. 4:12), para que seja concluída a obra e o Senhor possa vir resgatar-nos deste mundo enfadonho.
Que sucederia com nossos jovens em outras partes do mundo se algo semelhante a isso fosse adaptado a nossos centros educacionais, ou às cidades em que temos jovens suficientes para trabalharem juntos em suas próprias “Missões”?
Se nossa experiência aqui no Colégio do Rio da Prata tem alguma relação com o que pode ser esperado em outras partes do mundo, a resposta teria de ser: HAVERIA UMA VERDADEIRA REVOLUÇÃO! Logo possuiríamos aquele “exército de jovens devidamente preparados” que iria avante para terminar a obra. Um exército com bandeiras, entoando o cântico da vitória! Levando o evangelho a novas regiões! Promovendo um evangelismo cada vez mais novo e recente!
*Aecio Cairus atualmente está estudando na Universidade Andrews, e pretende regressar ao Colégio do Rio da Prata, onde leciona Línguas Bíblicas e Teologia. Na elaboração dos regulamentos da “Missão Estudantil”, ele sentiu-se devedor pela idéia geral ao nosso Colégio do Peru, a antiga organização estudantil do Colégio do Rio da Prata e aos regulamentos da associação local.