Os administradores adventistas, mais do que todos os outros líderes de igreja, devem destacar-se por sua moralidade impecável e suas altas normas de conduta.
No mundo dos negócios, da política, da medicina e da prática legal, existem códigos de ética claramente definidos. A violação de qualquer deles pode conduzir a sanções importantes, que vão desde reprimendas até exclusões, desqualificações e expulsões.
Conquanto os administradores ad-ventistas nunca tenham adotado um código formal de conduta, estão, não obstante, vinculados à ética universal das Santas Escrituras. Não resta dúvida de que o Sermão da Montanha é a carta magna de todos os princípios e normas éticas. Espera-se que os líderes adventistas se sintam moralmente obrigados a aceitar e praticar a conduta imperativa que ‘ se expressa na Bíblia como fonte primordial da ética judaico-cristã.
Definição: A palavra “ética” deriva do grego ethos ou ethikos. Abrange a disciplina que tem que ver com os valores morais, regras de conduta, obrigações e deveres morais; bem como o que tem que ver com o que é bom e com o que é mau. A ética abarca todo o campo da conduta moral. Um código de ética é, portanto, um sistema de valores morais. Constitui uma série de princípios que regem a conduta de um indivíduo, de um grupo, de uma comunidade ou de uma sociedade.
Os administradores adventistas devem ser indivíduos de profunda sensibilidade moral devido a suas relações éticas para com o povo de Deus. Não é suficiente que o administrador conheça a doutrina e até esteja empenhado na evangelização. Um dirigente pode ostentar impressionantes credenciais teológicas, profissionais e acadêmicas, e falhar lamentavelmente por causa de sua atuação deficiente. O administrador conhecido por sua retidão e por sua ética impecável sempre experimentará o profundo respeito e admiração daqueles a quem dirige. O administrador de conduta duvidosa e moralidade variável causa irreparável dano à causa de Deus.
Ao considerar o assunto da ética administrativa, a regra absoluta é a que foi expressa pelo próprio Jesus em S. Mateus 7:12: “Tudo quanto quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós também a eles”.
Quatro Aspectos Significativos
Ao apresentar este tema, gostaria de analisar o importante assunto da ética administrativa de quatro ângulos distintos.
1. A Ética Cristã e a Fidedignidade.
A expressão “privilégios e fidedignidade executivos” veio à tona durante o vergonhoso episódio de Watergate. Desde então, o assunto da fidedignidade tomou-se proverbial nos círculos administrativos. A fidedignidade como ética imperativa merece profundo estudo da parte dos administradores adventistas. A assombrosa falta dessa qualidade ética nos círculos governamentais tem produzido desacordos, interpretações errôneas, decepções, perturbações pessoais e desgaste da confiança nos líderes.
Por esse motivo é essencial que, como dirigentes, estudemos o assunto da fidedignidade como questão ética. A fidedignidade tem duas dimensões. Em primeiro lugar, encontramos a dimensão perpendicular; e, em segundo lugar, a horizontal. A relação entre o administrador e seus superiores ou subordinados é perpendicular. As relações entre o administrador e seus colegas é horizontal. É importante que examinemos essas duas dimensões no contexto da necessidade de fidedignidade entre os dirigentes.
Os administradores adventistas, mais do que qualquer outro grupo de obreiros, estão moralmente obrigados a criar, promover e estimular uma atmosfera que inspire confiança. A irresponsabilidade ética da parte de um administrador produz uma colheita de dúvida, suspeita, medo e ressentimento. Saber que os assuntos de qualquer administração podem ser conduzidos com um espírito de confiança
mútua e completa veracidade ocasiona uma sensação de tranqüilidade. A vontade de Deus é que esse espírito de confiança prevaleça nas reuniões dos oficiais, nas mesas administrativas das instituições, nas comissões de qualquer espécie, etc. A falta de confiança produz tensões que podem prejudicar seriamente as relações perpendiculares e horizontais existentes numa administração.
Para conseguir que a administração funcione suave, eficiente e produtivamente, é essencial que exista um clima de confiança. Há certos costumes que podem desgastar grave mente a confiança e romper as relações entre os obreiros. Estudemos alguns desses fatores que desgastam e acabam destruindo a confiança.
a. A freqüente traição confidencial ao divulgar secretamente informações confidenciais da comissão.
b. A filtração secreta de dados adicionais a pessoas não autorizadas.
c. O abuso do privilégio da confiança ao fazer asseverações inexatas, sem fundamento e, às vezes, prejudiciais, acerca de indivíduos, sem dar-lhes antes a oportunidade de defender-se.
d. Falar mal dos companheiros nas mesas administrativas em que são tomadas decisões.
2. A Ética Cristã e os Interesses em Conflito.
O segundo aspecto da ética administrativa adventista diz respeito ao conflito de interesses. A expressão “conflito de interesses” é definida como “a situação sob a qual o funcionário público se aproveita da influência de sua posição para beneficio de seus interesses privados e financeiros. A interferência de um interesse pessoal com outro”. O problema do conflito de interesses é de extrema sensibilidade nos círculos políticos. Um exemplo recente é o do Sr. Bert Lance, ex-diretor orçamentário da administração do Presidente Carter. Este é um exemplo clássico de interesses em conflito nos círculos políticos.
Constitui o conflito de interesses um problema relevante entre os obreiros adventistas? Deparam os dirigentes adventistas com essa situação em seu papel administrativo?
a. Atividades Adicionais. Em nosso léxico se torna às vezes evidente uma espécie de conflitos de interesse, que denominamos “atividades adicionais”. Tanto a Bíblia como o Espírito de Profecia nos proporcionam conselhos definidos contra essa prática. Lemos em Filipenses 2:3: “Nunca procuremos lucros particulares”. (Tradução de Phillips.) Ellen G. White faz reiteradas referências ao problema do conflito de interesses.
“Os ministros não podem realizar uma obra aceitável para o Senhor, e ao mesmo tempo, fazer face à responsabilidade de grandes empreendimentos comerciais, particulares. Tal divisão de interesses lhes obscurece a percepção espiritual. … Todas as energias do ministro são necessárias a sua elevada vocação. O que há de melhor em suas faculdades, pertence a Deus. Ele não se deve meter em especulações, ou em qualquer outro negócio que o desvie de sua grande obra”. — Obreiros Evangélicos, p. 339.
Os regulamentos da Divisão estabelecem claramente que “nossos obreiros de Associação, Missão ou Instituição se absterão de realizar toda espécie de negócios particulares e se dedicarão cabalmente ao trabalho denominacional e ao ministério do evangelho”. Os regulamentos também estabelecem que quando um obreiro não pode viver de suas entradas regulares, “deve-se aconselhá-lo a renunciar a seu cargo e procurar outro ramo de atividade mais remunerável fora da denominação”.
b. Interesses Particulares. O conflito de interesses abrange muito mais que a especulação de negócios para benefício pessoal. Também tem que ver com práticas como as seguintes:
1. Comprometer as secretárias e outros subalternos a que realizem funções particulares durante as horas regulares de trabalho a expensas da organização.
2. Uso de materiais da organização, como equipamentos e apetrechos, para beneficio próprio, sem o reembolso apropriado. (Selos de correio, papel de cartas, papel timbrado, ar condicionado, copiadora, telefone, etc.)
3. Apropriação para uso pessoal de presentes especiais, deliberados, feitos por firmas comerciais, como incentivos à organização que os favorece com seus negócios.
A prossecução de lucros pessoais produz inevitavelmente interesses divididos, insensibilidade moral e atitude errônea para com salários, emolumentos, benefícios adicionais, auxílios, etc. Os dirigentes adventistas são pastores, não mercenários, e devem, portanto, rejeitar qualquer coisa que possa suscitar conflito, reduzindo assim a qualidade de seu ministério.
3. A Ética Pessoal Cristã nos Relatórios da Denominação.
O sistema de organização dos adventistas do sétimo dia baseia-se no princípio da honra pessoal. Assume-se que pastores, administradores, departamentais e obreiros de outras categorias devem ser homens e mulheres de retidão e ética cristã. Excetuando os que trabalham com as finanças da igreja, nenhuma das outras atividades está sujeita a investigação periódica. A razão é que nossos obreiros são homens e mulheres dedicados completamente a Deus, como mordomos fiéis. Não obstante, a ética pessoal indecorosa não é algo do passado. A seguir são apresentados alguns aspectos de interesse ético em nossa relação pessoal com a organização.
a. Inflamos às vezes os relatórios departamentais e as estatísticas a fim de projetar uma imagem favorável do departamento? Empregamos tempo para verificar certos dados que obviamente se afiguram inexatos? Ou os deixamos, sabendo que são incorretos?
b. Aumentamos às vezes as despesas de viagem para obter vantagens pes-soais?
c. Pode suceder que nossa ênfase em incentivos tangíveis para os obreiros nos conduza a uma conduta destituída de ética. Talvez tenhamos de revisar e modificar nosso sistema de incentivos tangíveis.
4. A Ética Cristã e os Regulamentos da Igreja.
Através dos anos e com base em cuidadoso estudo e na direção divina, a Igreja Adventista do Sétimo Dia tem estabelecido um sistema singular de regulamentos. Estes regulamentos salvaguardam a obra e os obreiros. Necessita-se de sensibilidade ética e percepção divina para administrar fielmente esses regulamentos. É neste aspecto que precisamos reexaminar nossa consciência da ética. Tais regulamentos podem ser divididos em três categorias: deveres, privilégios e direitos.
O administrador está moralmente obrigado a educar seus obreiros no tocante aos regulamentos da denominação, estabelecendo clara diferença entre privilégios e direitos. Por exemplo, as bolsas de estudo e o auxílio educacional são privilégios oferecidos aos obreiros, dependendo de orçamentos, necessidades específicas, antecedentes acadêmicos e outras considerações a respeito. Os obreiros não têm automaticamente direito a esses privilégios. Os privilégios se baseiam em qualificações.
Por outro lado, todos os obreiros têm direito a certas provisões dos regulamentos por direito próprio. Negar-lhes esses direitos seria falta de ética. É responsabilidade da administração informar completamente os obreiros novos a respeito desses benefícios adicionais, auxílios, emolumentos e privilégios aos quais têm direito por regulamento. Essas ajudas não são recompensas concedidas em forma paternalista aos “bons rapazes” e negadas aos que “se portam mal”.
A administração é responsável pela aplicação da escala de salários equitativa a todos os obreiros, evitando a parcialidade por amizade, paternalismo e preferências pessoais. Constitui completa falta de ética que haja administradores que desfrutem os benefícios dos regulamentos, enquanto os negam a seus companheiros. A prática da regra de ouro eliminará este problema. O obreiro adventista está sob a solene obrigação de aderir constantemente às normas éticas e morais expressas no Sermão da Montanha. O que diz respeito à ética merece tanta atenção como a ortodoxia doutrinária, visto que a prática de ambas é essencial para um estilo de vida equilibrado, cristocêntrico e íntegro.
A Ética de Apoiar os Regulamentos da Denominação
Não somente é importante que o administrador aplique os regulamentos a todos os obreiros de modo claro e equitativo. Também deve apoiar, proteger e enaltecer os regulamentos da denominação. O líder está moralmente obrigado a apoiar e salvaguardar os regulamentos de operações da igreja em todos os níveis. É uma falta de ética representar uma organização e continuar ignorando ou evitando os regulamentos que a governam. Sempre que um assunto de consciência impeça um líder de apoiar os regulamentos da organização, há duas alternativas éticas possíveis:
1. Procure efetuar as modificações necessárias ao regulamento dentro do âmbito de procedimentos estabelecidos pela organização; e
2. No caso de que as modificações recomendadas não possam ser efetuadas constitucionalmente, o líder deve renunciar a sua posição. A aceitação de um cargo de liderança pressupõe lealdade aos regulamentos, planos, programas e princípios defendidos pela organização.
O administrador está moralmente obrigado a educar seus obreiros no tocante aos regulamentos da denominação, estabelecendo clara diferença entre privilégios e direitos.
Os administradores adventistas devem ser indivíduos de profunda sensibilidade moral devido a suas relações éticas para com o povo de Deus.
Jorge W. Brown