A estrutura, o ambiente e o programa dos pequenos grupos facilitam a tarefa de fazer discípulos

Assim está escrito, em Mateus 28:18-20: “Jesus, aproximando-Se, falou-lhes, dizendo: Toda a autoridade Me foi dada no Céu e na Terra. Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século.”

Fazer discípulos é o centro da incumbência missionária, estabelecida no imperativo e com sentido de urgência. Os vocábulos traduzidos como “ide”, “batizando-os” e “ensinando-os” mostram ações progressivas, dependentes e simultâneas com a ação do verbo principal: “fazer” relacionada a discípulos.

Para Mateus, o discipulado é um conceito-chave. Johnsson1 afirma que o evangelista não está interessado em registrar apenas a ação dos doze, porém, sobretudo em definir o que é ser discípulo de Jesus Cristo. Os doze são um meio utilizado por Cristo para explicar o discipulado, porque discípulos são todos os que seguem o ensino do Mestre.

Ação pontual

Ao reencontrar-Se com os discípulos, depois da ressurreição, investido de “toda a autoridade… no Céu e na Terra”, Jesus Cristo apresentou a comissão evangélica segundo a qual os discípulos deviam ir e fazer discípulos, batizá-los e ensiná-los a observar todas as coisas que lhes foram recomendadas. Junto à comissão, o Mestre prometeu estar com os discípulos todos os dias, até o fim.

Os particípios verbais utilizados no texto adquirem sentido imperativo, porque o verbo principal é imperativo. Assim, “ide”, “batizar” e “ensinar” estão subordinados ao verbo central da oração: “fazer” discípulos. O mandato “fazei discípulos” é o centro da missão.

O modo imperativo indica ordem expressa com força, autoridade e com sentido de urgência, que inclui o consentimento da pessoa que recebeu o mandato. O modo verbal imperativo aoristo (no grego, tempo verbal combinável com o tempo e o modo, que indica ação pontual) denota uma ação que deve ser empreendida imediatamente, expressa em tom vigoroso de ordem. Por essa razão, os antigos gregos nunca empregavam o imperativo na comunicação com seus superiores. Geralmente, era utilizado em decretos reais ou em cartas a subordinados.

No início de Seu ministério, Jesus Cristo tinha recomendado a Seus discípulos a missão de pregar ao povo judeu. E não somente lhes deu instruções (Mt 10:5, 6; 9-14), mas também autoridade para cumprir a tarefa (Mt 10:1, 2; 7, 8). Depois da ressurreição, com toda a autoridade que Lhe fora conferida no Céu e na Terra, Jesus Cristo deu uma comissão imperativa aos discípulos: “Façam discípulos de todas as nações”.

Discipular

Segundo a expressão de Nicoll,o poder de Deus foi manifestado no Calvário e na sepultura, vencendo o pecado e a morte. A partir dessa instância, o evangelho podia e devia ser pregado; os discípulos deviam ir a todo o mundo e mostrar a realidade desse poder; deviam fazer discípulos em todas as nações.

Discípulo é alguém que estabelece relação pessoal com o Mestre, ou seja, relação de dependência, encontro, aprendizado e crescimento. Gomá3 informa que fazer discípulos é transmitir essa experiência de tal modo que a outra pessoa estabeleça a mesma relação.

O batismo e o ensino são partes do mesmo processo e estão subordinados ao verbo principal: “fazer” discípulos. O ensino é um processo contínuo, não apenas em função da preparação doutrinária para o batismo. Ela precede e prossegue ao batismo, com o objetivo de capacitar o discípulo para andar dignamente em sua vocação.

“Fazer discípulos” é mostrar Jesus Cristo como Mestre e Senhor a uma pessoa, para que esta O conheça, O aceite e decida segui-Lo. Ser discípulo é viver seguindo o Mestre e fazendo mais discípulos, segundo Eims.Na opinião de Kuhne,5 a missão é fazer discípulos; a ordem não é fazer cristãos que simplesmente aderem a um sistema ou credo, mas discípulos. O mandato não é somente: “vão”, mas: “façam” discípulos em todas as nações, segundo Stagg.6

Proclamar, batizar, ensinar e testemunhar são aspectos da comissão ‘de fazer discípulos. A missão não estará cumprida, a menos que a desempenhemos integralmente. O trabalho mais importante da igreja é o cumprimento da obrigação evangélica. Esse encargo nada mais é que o trabalho de fazer discípulos, de acordo com Green.7

Gerber8 define que a missão não termina quando chegamos às pessoas com a proclamação. Muito menos é finalizada com o ensino, a profissão pública de fé no evangelho nem com a integração dos convertidos à igreja, por meio do batismo. A meta da grande comissão é atingida somente quando os novos crentes se tornam cristãos responsáveis e reprodutivos, completando o ciclo e garantindo o processo contínuo de evangelismo e crescimento. O objetivo é gerar cristãos e congregações responsáveis e reprodutivos.

Em sua tese doutorai, Beach8 conclui que a igreja sistematiza sua estratégia, considerando que cada crente é chamado a ter parte na tarefa de testemunhar ao mundo, já que todo membro da igreja tem a responsabilidade de cumprir a divina comissão. Por sua vez, Beach9 enfatiza que a todos os que aceitam Cristo como Salvador pessoal é ordenado trabalhar pela salvação de seus semelhantes, em obediência à ordem de Cristo.

Cada verdadeiro discípulo que nasce para o reino de Deus, nasce como missionário. Que privilégio! Que responsabilidade! Cada um de nós, sendo um discípulo missionário para fazer mais discípulos. Esse é nosso mandato; essa é a missão da igreja; ambos originados na ordem dAquele que tem “toda a autoridade no Céu e na Terra”. Graças a Deus, o imperativo divino está acompanhado de uma grande promessa: “E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século.”

Os pequenos grupos

Ao longo de toda a Escritura é possível perceber com clareza o modo como os pequenos grupos formam parte integral do plano de Deus, no cumprimento da grande comissão. Há quem afirme que a unidade familiar estabelecida no Éden foi o primeiro e mais importante pequeno grupo. Depois do Êxodo, por meio de Jetro, Deus fez chegar a Moisés a orientação de que ele devia organizar toda a nação em grupos de dez, não apenas para organizar melhor o trabalho, mas também para facilitar o acesso do povo a Deus (Êx 18:23).

Jesus investiu muito tempo no desenvolvimento de Seu pequeno grupo de doze pessoas (Mc 1:13-15; Lc 6:12, 13). A igreja do Novo Testamento se revela como uma comunidade em pequenos grupos, com reuniões em sinagogas e em casas, diariamente (At 1:41-47).

O principal objetivo do pequeno grupo é fazer discípulos. O ambiente, a estrutura e o programa dos pequenos grupos constituem o lugar ideal para se cumprir a missão de fazer discípulos. Esse ambiente provê diversos recursos que fomentam o processo do discipulado: companheirismo, amizade, informalidade, participação, integração, interação, confraternidade, apoio mútuo, além de espaço para que cada um se sinta à vontade para descobrir e utilizar seus dons.

A estrutura do pequeno grupo também fortalece o processo do discipulado. Reuniões semanais com poucas pessoas em casas de famílias permitem fomentar e fortalecer vínculos, dando lugar a cada membro e ajudando em seu crescimento pessoal, social e espiritual.

O programa do pequeno grupo colabora na formação do discípulo. Esse programa inclui louvor, momentos de oração e estudo sistemático da Bíblia. Os momentos de testemunho, treinamento e capacitação nutrem, motivam, mobilizam e conduzem o crente ao cumprimento da missão. O pequeno grupo também é o meio ideal para levar interessados ao conhecimento de Cristo, do ensinamento bíblico, ao batismo e, finalmente, ao compromisso missionário de fazer discípulos.

Referências:

  • 1 William G. Johnsson, Religious in Oversalls, p. 37.
  • 2 W. Robertson Nicoll, The Expositors Greek Testament, v. 4.
  • 3 Isidro Gomá Civit, El Evangelio Según San Mateo, 2 v.
  • 4 Leroy Eims, The Lost Art of Diciple Making (Grand Rapids, MI: Zondervan, 1978).
  • 5 Gary Kuhne, La Dinâmica de Adiestrar Discípulos (Caparra: Terrace, 1980).
  • 6 Frank Stagg, Teologia del Nuevo Testamento (La Aso), p. 266.
  • 7 Michael Green, La Evangelización em la Iglesia Primitiva, v. 6.
  • 8 Borges Schantz, The Development of Seventh-Day Adventist Missionary Thought, p. 753.
  • 9 Walter Beach, Review and Herald, 1985.