Como é possível reconhecer o esgotamento e diferenciá-lo de outros problemas físicos e psicológicos? E o que podemos fazer com ele?

O que é esgotamento? Lemos e ouvimos muito a seu respeito hoje em dia, mas a palavra se tornou um verbete usado para descrever qualquer tipo de problema. O termo ocupou a imaginação pública em 1980, após ter sido publicado o livro Burnout: The High, Cost of Achievement (Esgotamento: O Alto Preço da Realização), e agora está em perigo de. perder todo o significado, por causa do número de enfermidades que se acham sob a designação de “esgotamento’’. Estudos recentes mostraram que os pacientes, e mesmo os clínicos, muitas vezes diagnosticam mal a depressão, a anemia ou a simples falta de apetite como esgotamento.

Dessa forma, o que é esgotamento e, mais importante ainda, como afeta ele o pastor? Minha própria definição ontológica sucinta é a seguinte: A gradual, mas, finalmente, grave ou crítica exaustão ou depleção dos recursos físicos, mentais e espirituais da pessoa por sobrecarregar um ou mais deles, sem dar tempo para recuperação ou reabastecimento.

Sintomas

O quadro das páginas seguintes mostra muitos dos sintomas, e descreve como estes se desenvolvem. É bom saber, contudo, que o aparecimento do esgotamento não segue exatamente este quadro. Por exemplo, um pastor ou outro profissional que presta auxílio, pode experimentar os sintomas do estágio quatro, antes dos sintomas do estágio dois se tornarem definidos, mas todos os estágios, em geral, ocorrem.

Os estágios não deveriam ser considerados como níveis de esgotamento, mas como fases que levam ao esgotamento.

Várias influências na vida particular e no lar do pastor, podem retardar ou apressar o aparecimento do esgotamento. A reconsagração pessoal ou os esforços de uma esposa atilada e dedicada, podem, com o tempo, aliviar os sintomas. Se, porém, o esgotamento for resultante de depleção em outras áreas que não a espiritual, a reconsagração não restabelecerá as energias que estão em declínio. E, caso não disponha a esposa dos recursos psicológicos para preencher as necessidades de seu marido, suas reações poderão acelerar o processo do esgotamento.

Os administradores que lidam com o pastor podem, também, procurar minorar-lhe os problemas. Uma tática comumente usada para tentar auxiliar o pastor acometido de letargia, é mudá-lo de igreja. Não se pode, contudo, afastá-lo do esgotamento. Este continua junto com o pastor, e logo se manifestará também no novo local. Em cada nova localidade, pode o pastor avançar nos estágios que levam avante o esgotamento, mais do que nos lugares anteriores.

Nos estágios mais avançados, um dos sintomas-chave de esgotamento é a perda de discernimento — a habilidade de ter uma visão ampla e de entender as razões dos fatos que devem acontecer. Enfermidades psicossomáticas, tais como resfriado prolongado, dor de cabeça excessiva, dor na parte inferior das costas, diarreia muitas vezes estão presentes também nos estágios adiantados.

Uma vez que o esgotamento decorra da depleção das reservas de energia, é importante saber que nem todas as pessoas sentirão estes sintomas exatamente da mesma maneira. A pessoa cujos recursos físicos estão diminuídos, apresentará sintomas diferentes dos daquela que está mentalmente esgotada. Dessa forma, um carpinteiro que trabalhe arduamente apresentará sintomas muito diferentes dos apresentados pelo matemático que trabalhe intensivamente.

A depleção e a exaustão constituem os primeiros sintomas que podem levar a pessoa a um diagnóstico de esgotamento. É claro que a perda de discernimento é um sintoma mais tardio, que indica achar-se o esgotamento em fase mais avançada.

Quem é afetado

A tragédia, com relação ao esgotamento, é que ele muitas vezes atinge os obreiros com maior motivação, idealismo e entusiasmo na missão de servir. Na igreja, são os líderes profissionais de tempo integral, em geral, as vítimas de esgotamento. As estimativas do número de pastores que sofrem de esgotamento variam grandemente. R. Oswald constatou que ‘‘um em cada seis clérigos estava experimentando os efeitos debilitadores do esgotamento”, ao passo que outro estudo realizado em Wisconsin, no mesmo ano, indicou que apenas cerca de 2% dos pastores envolvidos estavam sem esgotamento.

Causas

As causas do esgotamento podem ser agrupadas em três tipos. Primeiro, as causas de natureza íntima do indivíduo, tais como a constituição psicológica, que torna difícil ou impossível lidar de maneira criativa e flexível com os acontecimentos estressantes. Segundo, causas externas, tais como barulho, violência, condições meteorológicas, ou catástrofes. Em terceiro lugar, causas interativas, que resultam do relacionamento com o ambiente. A maneira como respondemos a estas coisas, determina o impacto que elas produzem em nossa vida.

Em especial, os ministros são suscetíveis ao terceiro grupo de causas, em virtude do seu constante relacionamento com as pessoas. E. M. Ansell, mostra que todo aquele que mantém contato direto e intensivo com as pessoas, e desempenha o papel de auxiliador, é candidato ao esgotamento; e que especialmente o obreiro zeloso ou muito dedicado é o mais suscetível.

Os fatores que contribuem para o esgotamento entre profissionais que prestam auxílio, incluem ocupação que se limita a um tipo de atividade, excesso de trabalho, dificuldade no trato geral com o problema das pessoas, desestimulo, e o esforço terapêutico para trazer à tona os próprios conflitos pessoais do profissional. Junto com estes problemas, estão a frustração e um senso de inutilidade que resultam da profunda inquietação, mas da incapacidade de aliviar os problemas de uma pessoa.

Tais frustrações levam a uma série de sintomas que tornam mais e mais difícil ser eficiente como profissional que presta auxilio. Primeiro o ajudador esgotado começa a trabalhar mecanicamente, revelando pouco ou nenhum interesse pela pessoa a quem está servindo. Em seguida, desenvolve um senso de desligamento e falta de identificação com os problemas da outra pessoa. Depois, o trabalho se torna mero dever, em lugar de um prazer. Em quarto lugar, o cinismo e a apatia impedem que o ajudador penetre no problema da outra pessoa e dele trate de modo agressivo. Como ponto número cinco, o ajudador torna-se paranóico e acusa os demais; entre estes, clientes e pessoas da família, por seus problemas. Em sexto lugar, surgem a fadiga, a irritabilidade e as enfermidades psicossomáticas.

Prevenindo o Esgotamento

Após determinarmos as causas do esgotamento, podemos agora voltar-nos para as maneiras de evitar estas causas. Há sete medidas preventivas contra elas.

1. Assistir a boas conferências e seminários. Isto trará novas dimensões e perspecti-vas que podem reabastecer vosso reservatório de idéias para sermões, atividades e programas.

2. Evitar estardes constantemente atingindo a finalidade sem fazer algo que vos dê al-gum senso de realização ou aprovação.

3. Fazer regularmente alguma coisa diferente. Trabalhar em vosso jardim, pintar a casa, deixar livre um dia por semana para sairdes com a família. Com outros interesses além do trabalho, podeis restaurar-vos. Não vos sobrecarregueis, porém, com atividades paralelas, do contrário isto apenas contribuirá pa-ra intensificar vossa sensação de exaustão.

4. Certificai-vos de que reconheceis vossos próprios limites. Não vos excedais, assumindo a responsabilidade de tudo quanto precisa ser feito. Delegai autoridade e dai aos membros de vossa igreja a oportunidade de serem necessários e importantes.

5. Não receeis lidar com sentimentos negativos quanto ao vosso trabalho. É melhor tra-balhar no meio deles, do que interiorizá-los. Lidando com eles, aumentareis vossa com-preensão dos problemas e do vosso trabalho, e impedireis que os problemas se apresentem mais tarde na forma de desordens psicossomáticas, tais como asma, alergias e úlceras pépticas.

6. “Parem o mundo que eu quero descer.’’ Dessa maneira, todos podeis tomar tempo pa-ra fazer um balanço de vossas responsabili-dades versus recursos. E enquanto estiverdes fazendo isto, tomai tempo para meditar, andar com Deus e buscar conselho; não, porém, como o fazeis rotineiramente. Tornai isto uma intensiva descoberta e confissão pessoal — achá-lo-eis calmante e renovador.

7. Se nenhum destes remédios ajudar — depois de terdes com eles feito uma tentativa cabal — podeis já estar sentindo o esgotamento em pleno voo. Pedi ajuda. A síndroma do esgotamento não é doença que desaparece sozinha.

Interrompendo o ciclo do esgotamento

Durante os últimos dois anos, dirigi vários seminários para ocupações causadoras de tensões, nas quais tratei do assunto do esgotamento. Dois presidentes de campo pediram-me que lhes desse uma sugestão para ajudar pastores vencidos pelo esgotamento. Minha sugestão, em cada uma das ocasiões, foi tomar tempo para deixar que o pastor saiba que é importante — não apenas como terapia, mas porque ele é importante. Sair com ele para comer, partilhar com ele planos que, embora não sejam sigilosos, muitas vezes escapam à posição hierárquica ou condição do ministro. Aqueles importantes almoços de trabalho que os administradores muitas vezes gastam para dar nova afeição a decisões por eles já tomadas, se gastos com um pastor a caminho do esgotamento, poderiam ser um momento decisivo para o pastor.

Cada um dos administradores aos quais sugeri isto, tentou, e partilhou comigo o fato de que essa terapia ajudou. Três diferentes pastores lhes escreveram para expressar a mudança que essa espécie de tratamento realizou em sua vida.

O Ciclo do Esgotamento de um Pastor

Torna-se pastor de um distrito ou igreja. Grandemente motivado, enche-se de entusiasmo e “primeiro amor”.

Primeiro estágio:

Envolve-se intensamente com o trabalho, aceita mais responsabilidades do que podem ser desempenhadas por uma pessoa, deixa de conceder atribuições, sobrecarrega-se, e o primeiro amor começa a diminuir.

Reflexo no lar

Foge do culto familiar, que é realizado pela esposa. Passa mais tempo no trabalho do que em casa.

Segundo estágio:

Desperta sempre uma lista interminável de necessidades humanas, não tem nenhum senso de perfeição. Os primeiros sintomas de exaustão emocional substituem o prazer original para com o trabalho.

Reflexo no lar

A esposa e os filhos queixam-se de que o pastor nunca está em casa. Eles têm que fazer serviços que competiria ao pastor fazer.

Terceiro estágio:

Começa a fazer as coisas pela metade. A lua-de-mel com a igreja passou e a visitação e a pregação se tornam uma obrigação que deve ser satisfeita.

Quarto estágio:

A depleção física torna-se evidente. Tem problemas de sono. Sente-se constantemente como se o tempo se estivesse escoando. Sente-se oprimido e desvalido. A depressão e, muitas vezes, a ansiedade têm início. A lealdade dos membros da igreja começa a mudar.

Reflexo no lar

Acareado pela esposa, o pastor racionaliza ou responde sarcasticamente para ocultar a hostilidade subjacente. A coesão familiar começa a deteriorar-se, mas a família ainda aparece em público com o pastor para salvar a aparência.

Quinto estágio:

A evidente falta de objetividade faz parecer que o pastor não tem senso de direção. O pastor começa a perder o controle das atividades da igreja e da organização. Ou as atividades caem numa rotina maçante, devida à falta de inovação.

Reflexo no lar

A irritabilidade e a falta de paciência separam a família, que começa a cerrar fileira contra o pastor. Esta é uma pedra de tropeço para a coesão familiar. Um reavivamento espiritual, a esta altura, pode retardar o ciclo do esgotamento.

Sexto estágio:

A falta de entusiasmo torna-se patente. Os sermões tornam-se repetitivos e sem conteúdo. O absenteísmo das reuniões relacionadas com a igreja, torna-se visível. Os administradores ouvem a respeito dos problemas do pastor, mas a reação do pastor para com eles é paranóica, negativa e hostil.

Reflexo no lar

A síndroma do PK pode ser notória em um ou mais filhos. A falta de harmonia na família torna-se patente aos outros. Os problemas transcendem os limites da família.

Sétimo estágio:

O pastor desenvolve uma atitude negativa e superficial para com o trabalho e a igreja e seus membros, ou revela um profundo sentimento de culpa relacionado com a falta de expectativas no trabalho.

Complemento para o box

Começa a perder o idealismo

Perda de energia

Perde o senso de direção

Perde o senso de propósito

Duvida do chamado Pesquisado e desenvolvido por José A. Fuentes

Como Reconhecer o Esgotamento nos Ministros

A lista seguinte de sinais e sintomas não é exaustiva, mas visa ajudar os administradores a identificarem e auxiliarem os pastores que se acham a caminho do esgotamento.

1. Aumento do absenteísmo demonstrado através de poucos resultados, menos dedicação demonstrada ao trabalho, pouco contato com os membros da igreja e/ou os administradores.

2. Baixo nível de entusiasmo, atitude negativa para com os novos planos ou tempo ocioso, falta de entusiasmo para relatar realizações.

3. Declínio qualitativo ou quantitativo do trabalho. O pastor não alcança os alvos, ou o faz de maneira muito mecânica e precisa de muito encorajamento.

4. Falta de objetivo. Os membros da igreja reclamam da falta de orientação clara. O pastor condena o sistema por dificilmente implementar os planos. Os pontos focais podem mudar da conquista de almas para outras atividades menos importantes ou preferências pessoais. Aumentam as dúvidas quanto ao futuro e à possibilidade de mudar de profissão.

5. Falta de comunicação. O pastor começa a evitar o contato com os líderes, não “vende” seus planos para os líderes da igreja local, ressente-se de suas críticas mas, em lugar de reparar os muros, gasta energia preparando hostilidade. Senta-se como uma figura decorativa nas reuniões e seminários. A falta de envolvimento torna-se visível. A conduta pode tornar-se paranóica.

6. Crescimento espiritual estagnado. O pastor começa a negligenciar a devoção ou a torna menos significativa.

7. Alvos inadequados. Como resultado da sobrecarga precoce, o pastor com esgotamento pode adotar alvos mínimos ou não corresponder a nenhum alvo.

8. Enfermidades prolongadas, comumente dos tipos psicossomáticos.

JOSÉ A. FUENTES — Ex-professor-assistente da Escola de Saúde da Universidade de Loma Linda e psicólogo da Clínica Familiar Clearview Loma Linda, Califórnia