A Igreja está empenhada no louvável esforço de evangelizar o grande número de pessoas que ainda não ouviu a respeito de Jesus ou não tomou ainda sua decisão ao lado da verdade. Novos e variados métodos são adotados, com o propósito de anunciar o que acreditamos seja um acontecimento iminente — o retorno de nosso Senhor Jesus Cristo a este mundo. Com reprimida alegria, antecipamos os resultados positivos que certamente advirão deste envolvimento dos nossos pastores e membros nesse nobre propósito.
Copiosos são os textos bíblicos que servem de incentivo aos que seguram o estandarte do evangelho, dispostos a fazê-lo tremular por todas as partes. Entre eles, o de Eclesiastes 11:6: “Pela manhã semeia a tua semente, e à tarde não retires a tua mão, porque tu não sabes qual prosperará: se esta, se aquela, ou se ambas igualmente serão boas.” Todo pregador da Palavra, acostumado já com a veracidade destas declarações, terá a oportunidade de vê-las se cumprir mais uma vez em sua própria experiência e na de muitos companheiros de jornada evangelística.
Ficará, todavia, contente por saber — se é que já não tomou conhecimento deste fato — que pode tornar muito mais receptiva a mensagem que se propõe levar, caso a apresente em linguagem belamente ataviada.
Não significa que deva consultar a cada momento o dicionário, à procura de uma palavra rara, nem que esteja na obrigação de usar uma linguagem empolada para transmitir a verdade; basta que faça uso adequado do mecanismo da voz, e que empregue o mais corretamente possível as regras gramaticais. Pelo menos, as mais comuns.
O cuidado que se deve ter em aformosear as boas novas da pregação com uma forma correta de ler e falar, é bem salientado pela Sra. White. Dela são as palavras que transcrevemos a seguir, e que são merecedoras de nossa atenção: “Cada cristão é chamado para anunciar a outros as inescrutáveis riquezas de Cristo; por isso deve procurar perfeição no falar. Deve apresentar a Palavra de Deus de maneira tal que a recomende ao auditório. Deus não pretende que seus porta-vozes sejam incultos.” — Parábolas de Jesus, pág. 336.
Em Sua infinita bondade e misericórdia, Deus nos aceita com as limitações que possuímos; não deseja, porém, que venhamos a atrofiar os recursos de que dispomos, por algum descuido ou pela falta de uso. Por vezes, Sua força “se aperfeiçoa na fraqueza” (II Cor. 12:9) quando, apesar de nossos melhores propósitos, não conseguimos transpor as barreiras que temos à frente. Não aceita, contudo, que sepultemos o talento sem com ele negociar.
Até “pessoas de inteligência e de atividade cristã” (pág. 335), fazem incorreto uso da voz, lendo e falando de maneira incorreta. Uns, por elevarem demasiadamente o tom, produzindo assim sons “agudos e estridentes”; outros, por falarem de maneira tão baixa que não são entendidos. “Este é um mal que pode e deve ser corrigido”, diz a autora.
O outro mal, não menos passível de ser reparado, é o do emprego incorreto de certas regras gramaticais. Como já frisamos, é até deselegante usar linguagem rebuscada; mesmo ao escrever. A linguagem, porém, torna-se pouco recomendável “ao auditório” quando deixamos de empregar corretamente um verbo, ou deslocamos a acentuação de uma palavra.
Quem já não ouviu o imperativo negativo ser atropelado em recomendações como esta: “Não falai mal dos outros”? Quem assim age, deve imaginar: “Bem, se a forma positiva é falai, basta acrescentar a palavra não, e tudo estará resolvido.” Há, todavia, regras gramaticais para que, em lugar de “não falai”, digamos não faleis mal dos outros.
Recomenda mal, também, a Palavra de Deus, o mau emprego da segunda pessoa do singular do pretérito perfeito do indicativo. É tão comum este erro ser cometido “até por pessoas de inteligência, como diz a senhora White, referindo-se à linguagem, que fico às vezes pensando se os gramáticos não terão que admiti-lo um dia!
E o pior de tudo é que em geral cometemos esse erro quando nos estamos dirigindo a Deus. Dizemos a cada oração que fazemos a Deus: “Muito obrigado pelas bênçãos que nos concedestes”, tratamento relacionado com a segunda pessoa do plural (vós) do pretérito perfeito do indicativo, quando na verdade estamos fazendo uso da segunda pessoa do singular.
Devemos dizer, portanto, “as bênçãos que nos concedeste” (sem o s final), pois assim exige que digamos o tratamento da segunda pessoa do singular — Tu. Evidentemente, se o tratamento for você — também da segunda pessoa — diremos: “Que (você) nos deu.”
Saiamos, pois, com todo o entusiasmo que nos for possível conseguir, para anunciar as novas de um Salvador que tudo fez por nós. Lembremo-nos, não obstante, de que não é a vontade de Deus “que o homem apouque ou avilte o manancial celeste que por ele flui para o mundo” (PJ, 336) usando incorretamente meios que poderiam contribuir para ataviá-lo. — Almir A. Fonseca.