Dr. Salim Japas
Esta dissertação tenciona indagar, na tipologia das Escrituras, o simbolismo oculto dos móveis do Lugar Santo, especialmente o da Mesa dos Pães da Presença e sua relação com a coroação de Cristo em Sua ascensão.
É necessário dizer de imediato que a tipologia é um ramo do saber religioso absolutamente indispensável para entender corretamente a revelação divina.1 Num capítulo dedicado à Interpretação tipológica, Von Rad chama a atenção para o fato de que a recente investigação teológica mostra um ressurgir do pensamento tipológico que se fundamenta como uma das causas essenciais da gênese do vaticínio profético.2 Von Rad pergunta se nossa avaliação teológica do Antigo Testamento e nossa determinação da relação entre ambos os Testamentos pode prescindir da tipologia, a qual insiste ele — deve ser usada como qualquer outra ferramenta teológica na busca de uma compreensão de conjunto.3
Os usos e abusos da tipologia bíblica têm sido examinados por Childs, o qual lhe dedica um capítulo em sua exegese do livro de Êxodo.4 Childs insiste que embora seja verdade que não queremos retornar à época das exagerações, também não podemos desconhecer o fato de que em nossos dias os exegetas do Antigo Testamento estão redescobrindo o valor da tipologia.5
O fato de que nenhum detalhe da construção do Santuário do deserto tenha sido entregue à insegurança das decisões humanas indica um desígnio divino em que o concreto material está inseparavelmente unido a um sentido espiritual que o transcende. Para o crente cristão, esse sentido espiritual tem por meta o Senhor Jesus, o qual é o destinatário final de toda tipologia (S. Lucas 24:25-27, 45-49).6
Nomes Dados ao Santuário
A Bíblia designa o Tabernáculo com diferentes termos hebraicos, cada um dos quais descreve aspectos estruturais e significativos do próprio edifício e de sua liturgia.7
Há pelo menos cinco nomes ou títulos que são dados ao Tabernáculo, e cada um desses nomes lança certa luz, para se entender melhor a natureza e a função do mesmo.
1) Miqdosh (Êxodo 25:8). Esta palavra hebraica traduzida por “santuário” tem a conotação de algo sagrado. Deriva de QA-DOSH, significando algo separado, apartado para um uso especial.
2) Mishkan (Êxodo 25:9). É traduzida por “tabernáculo” e provém do verbo SHAKAN, que significa habitar8 no estilo de um vizinho próximo.
3) Ohel (Êxodo 26:36). A Bíblia de Jerusalém e a Edição Revista e Atualizada no Brasil traduzem corretamente essa palavra por “tenda”, e ela dá a ideia de uma morada temporal.9
4) Ohel Moed (Êxodo 29:42). A Bíblia de Jerusalém traduz literalmente estas palavras por “tenda de reunião”, e a Edição Revista e Atualizada no Brasil diz “tenda da congregação”. Na realidade, “tenda de reunião” significa “tenda da revelação”, pois é ali que Deus entra em diálogo com Seu povo.
5) Mishkan Haedut (Êxodo 38:21). Significa “tabernáculo do testemunho”. É provável que este nome lhe tenha sido dado por causa das tábuas do testemunho ou Dez Mandamentos depositados dentro da Arca.
De acordo com os seus nomes, o Tabernáculo passaria a ser uma tenda sagrada e temporal em que Deus habitava no meio de Seu povo. Além disso, porém, a “tenda de reunião”, com seu conteúdo litúrgico, antecipa em sua tipologia verdades salvíficas e cristológicas essenciais à compreensão da proclamação evangélica, como é indicado especificamente na Epístola aos Hebreus.
Mensagem Religiosa do Tabernáculo
O “tabernáculo do testemunho” proclama, pois, por meio de seus símbolos e tipos, verdades religiosas fundamentais para a fé cristã. Algumas dessas verdades são expostas a seguir:
1) É o recinto sagrado em que Deus habita (Êxodo 25:8; 29:44 e 45) aqui na Terra no meio de Seu povo. Mas Deus também mora no Céu, onde tem Seu próprio templo e é exercido Seu governo para a harmonia do Universo (Atos 7:48-50; Salmo 11:4). A ideia de um trono ou templo de Deus no Céu era comum entre os judeus da época apostólica.10 O trono de Deus, assim como o viram os profetas, não era estático, ou imóvel; pelo contrário, há uma dinâmica que assombra. Leia-se com cuidado Ezequiel capítulo 2 e Daniel capítulo 7, e observe-se que no primeiro caso as rodas ocupam um lugar de proeminência, e em Daniel há um deslocamento do trono. Neste último exemplo se vê o Pai e o Filho moverem-se de um lugar onde está o trono para outro lugar onde o trono fica estabelecido. A descrição do trono de Deus que aparece em Apocalipse capítulos 4 e 5 é impressionante. O trono, aí, parece ser circular e diante dele há um altar de incenso (Apocalipse 8:3-5); também há sete lâmpadas ardendo, e Jesus, o “Cordeiro”, está à direita de Seu Pai (Apocalipse 5:7 e 9; 3:21).
2) A Vontade de Deus para Seu povo é revelada do Tabernáculo. O povo é dirigido de dia por uma coluna de nuvem, e de noite por uma coluna de fogo (Números 9:15-23) e, enquanto o povo exerce sua liberdade dentro dos limites das leis divinas, o rumo é claro e o destino brilhante (Salmo 99:1-9). Nesta relação, como já dissemos e insistimos (Ezequiel 43:1-7; 1:5-28), não se concebe a Deus como uma deidade estática, imóvel ou restringida a determinada localidade geográfica.11 Deus é o Todo-poderoso que viaja com Seu povo, que muda de lugar, segundo o exija a cambiante situação dê Seus filhos aqui na Terra, mas sem modificar com isso o eterno propósito de Seu amor (Gênesis 28:12-27; II Crônicas 5:13 e 14; 7:1-3) manifestado plenamente na pessoa de Seu Filho Jesus Cristo.
3) As linhas da relação entre Deus e Suas criaturas se cruzam no Tabernáculo (Êxodo 29:43-46). As verdades espirituais mais sublimes tipificadas nas celebrações anuais da nação, encontram seu epílogo no Tabernáculo, e é ali que o crente descobre, talvez pela primeira vez, que a adoração é a maneira mais bela de dizer “Sim” ao mandamento do Senhor (Salmo 27:1-6).
4) As linhas arquitetônicas e estruturais do Tabernáculo, esboçadas no livro de Êxodo, tinham por finalidade despertar no povo que adora, uma estável e significativa dimensão de santidade (Êxodo 28:36; 30:32). A mensagem não se presta a confusão. Deus é santo, e sem santidade “ninguém verá o Senhor” (Hebreus 12:14).
5) Pois bem, o próprio Tabernáculo é, por desígnio divino, uma “figura e sombra” do santuário celestial (Hebreus 9:1-12; Apocalipse 11:19). O terrestre não é uma finalidade em si mesmo, mas uma antecipação ou tipo de um santuário celestial erigido pelo próprio Deus (Hebreus 12:1 e 2), eterno e verdadeiro.
6) Por outro lado, o ministério messiânico do Senhor na Terra e Sua intercessão no Céu têm uma antecipação tipológica no Tabernáculo, pois este último, bem como sua liturgia, constituem uma prefiguração profética e típica do plano salvífico de Deus centralizado em Jesus Cristo. A carta aos Hebreus é precisamente um dos testemunhos mais fortes em favor de que a antiga história da salvação é, toda ela, anúncio e profecia do acontecimento neotestamentário de Cristo. Von Rad afirma que Paulo, em suas epístolas, pensa de um modo histórico-salvífico-tipológico.12
Símbolos Mais Evidentes
São vários os estudiosos do Livro Sagrado que têm descoberto que no Tabernáculo terrestre há símbolos, que chamaremos de símbolos evidentes, facilmente discerníveis, visto que os escritores bíblicos se expressaram com toda a clareza a seu respeito. Também se reconhece outro grupo de símbolos menos evidentes, que não são identificados com tanta facilidade, embora sejam igualmente certos e estejam tão cheios de conteúdo cristocêntrico como os anteriores. Nós os chamaremos de símbolos ocultos.13
Antes de considerar a Validez e o significado desses símbolos ocultos, vejamos alguns exemplos dos primeiros, cuja evidência é confirmada pelo uso que deles é feito no Novo Testamento:
1) Jesus é o “Cordeiro” de Deus (S. João 1:29).14 2) O candelabro designa a Igreja e a obra de iluminar o mundo que o Espírito Santo realiza por seu intermédio (Apocalipse 1:4 e 20).15 3) No altar de incenso se declara a verdade fundamental da intercessão do Filho, o qual exerce aí Suas funções de Sacerdote em favor de Seu povo. O Espírito Santo, como representante de Cristo na Terra, se une ao Filho na obra de intercessão, ao rogar por nós “com gemidos inexprimíveis” (Apocalipse 8:3-5; Romanos 8:26 e 34).16 4) Na Arca do Concerto, Cristo é o “propiciatório” por excelência, e é ali que a Trindade se vê corporizada numa unidade absoluta, na qual se conjugam a justiça e a misericórdia numa oferenda cruenta de amor eterno (Romanos 3:25).17 5) Cumpre assinalar que na Mesa da Presença se encontra o Pão essencial. Nesta relação o “pão” é o alimento divino com o qual Deus, em Cristo, alimenta a Seu povo. Este é o único pão que satisfaz, pois Cristo mesmo é o “pão que desceu do Céu”, e todo aquele que fizer desse pão seu alimento essencial terá a vida eterna (S. João 6:30-35 e 42-58). As duas pilhas de pães (seis em cada pilha) e as duas coroas que rodeiam a mesa certamente antecipam a presença (a mesa é a “Mesa da Presença”) do Pai e do Filho no ato de alimentar a Seu povo.18
Sentado à Destra do Pai no Tabernáculo Celestial
Afirmamos que as funções régias e sacerdotais que o Senhor passou a desempenhar no Céu depois de Sua ascensão foram prefiguradas no mobiliário e na liturgia do santuário terrestre. A Epístola aos Hebreus, em sua totalidade, dá testemunho desta verdade. Paulo declara enfaticamente que o Senhor “Se assentou à destra do trono da Majestade nos Céus, como ministro do santuário…” (Hebreus 8:1 e 2). Esta declaração foi extraída do Salmo 110, onde a Inspiração indica que o Senhor seria investido da autoridade de Rei, Sacerdote e Juiz. Sentar-se é uma expressão técnica que equivale a ser entronizado (II Reis 11:12-19), e Jesus foi coroado duplamente como Rei e como Sacerdote.19 Por outro lado, “à destra” indica especial associação com o Pai. Essa associação do Filho com o Pai ocorre nos principais eventos da história salvífica: na Criação (Gênesis 1:1, 2 e 26; S. João 1:1-3); na redenção do homem (II Coríntios 5:17-19); na proclamação da Lei (Êxodo 19:9 e 16; Neemias 9:12-15).20 O Pai e o Filho também estão juntos na obra do Juízo (Daniel 7:9-14) e no governo do Universo (Apocalipse 21:3; 22:3).
Tornamos a insistir que, neste sentido, a associação do Pai e do Filho: “Se assentou à destra de Deus”, não é uma relação estática, imóvel; a referência bíblica insinua o contrário.21 “Assentar-se à destra”, além de referir-se a determinada posição geográfica, significa o poder de Deus (Êxodo 13:6; Salmo 60:5; 80:17; 98:1; 109:31; 110:1 e 5; 118:15; Isaías 41:10; Atos 2:33). “Exaltado à destra” equivale a assumir a máxima autoridade e honra (Efésios 1:20-23; Filipenses 2:9-11).
Inimigos que Devem Ser Postos por Estrado de Seus Pés
Segundo Hebreus 10:9-13, Cristo permanece “à destra” do Pai, “aguardando… até que os Seus inimigos sejam postos por estrado de Seus pés”. Esta afirmação, em certo sentido, é paradoxal, pois, acaso não se consumou na cruz do Calvário a obra da redenção? Certamente que assim; mas, apesar disso, ainda resta uma obra para ser realizada. A seguinte enumeração dará tuna ideia da “obra” que o Senhor, em Sua associação com o Pai e com o Espírito Santo, quer ver realizada:
Vencer a morte (I Coríntios 15:20-26); remir o corpo humano (Romanos 8:18-23); completar os sofrimentos de Cristo em Sua Igreja (Colossenses 1:23-27); santificar o nome de Deus por meio de Seu povo escolhido (Ezequiel 36:23-27); completar a obra do Juízo (I Coríntios 6:1-3); executar o juízo sobre Satanás e seus anjos (S. Judas 6) e consumar a promessa de um novo céu e uma nova Terra (Apocalipse 21:1-8).
Sentados com Ele no Tabernáculo ou Templo do Céu
O pensamento que estamos descrevendo encontra sua culminação no fato de que nosso Senhor, por ocasião de Sua ascensão, “Se assentou à destra do Pai” (Hebreus 8:1 e 2) no Tabernáculo Celestial. Isto significa que, “como Rei e Sacerdote”,22 “foi coroado de glória e de honra” (Hebreus 2:9), por obra do Pai e do Espírito Santo (S. João 16:13 e 14; Atos 3:13; S. João 13:31 e 32). E a nós outros, afirma Paulo, “nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus” (Efésios 2:6), nesse ato de amor eterno com que Ele nos amou.23
Como estas são verdades essenciais referentes à glorificação de nosso Senhor, cremos que foram antecipadas sob a forma de símbolos e tipos, nos escritos veterotestamentários.
Simbologia Oculta dos Móveis Internos do Tabernáculo
Em parágrafos anteriores, afirmamos que no Tabernáculo do deserto há um certo simbolismo básico, inconfundível e evidente. Também existe um simbolismo oculto,24 que o estudante das Escrituras tem o dever de investigar. Neste processo de esclarecer o que é “oculto” há sempre um perigo à espreita, que nenhum investigador deve ignorar. Alguns autores têm ido a extremos desnecessários ao pretender que cada detalhe, até mesmo os mínimos, tivesse um sentido tipológico.25 Salta à vista que as argolas do Altar do Incenso e da Mesa dos Pães da Presença, por exemplo, cumpriam uma função estrutural, e não era necessário que tivessem uma significação tipológica. Salomão eliminou essas argolas quando construiu os móveis do Templo de Jerusalém (Êxodo 27:7).
Examinaremos a tipologia “oculta” dos móveis interiores do Tabernáculo, e particularmente da Mesa da Presença, atentando para a recomendação que fazem de si mesmos no contexto tipológico da Escritura Sagrada.26 Começaremos fazendo uma rápida descrição dos traços mais salientes desses móveis:
1) A Arca do Concerto (Êxodo 25:11 e 17-20). No Lugar Santíssimo, ou Qodesh Qodashim, estava a Arca do Concerto, uma espécie de cofre de madeira de acácia, coberta de ouro por dentro e por fora.27 Tinha uma coroa (zer) ou cornija de ouro. Era o lugar onde foram depositadas as tábuas da Lei de Deus. A tampa da Arca se chamava “propiciatório”, e era de uma só peça de ouro, tendo em cima dois querubins também de ouro, um de cada lado. A altura da Arca era de um côvado e meio (uns 75 centímetros). A tipologia tem visto as três pessoas da Divindade simbolizadas na Arca do Concerto.28 Antecipa a Cristo na obra da expiação, visto que nosso Senhor é o verdadeiro “Hilasterion” onde é efetuada a expiação do mundo (Romanos 3:25). O trono de Deus especifica não somente as funções régias mas também as do juízo, já que Deus em Cristo é o Juiz de todos nós (Salmo 9:4; S. Mateus 25:32; II Coríntios 5:10).29
2) O Altar do Incenso (Êxodo 30:1-10; 37:25 e 26). No Lugar Santo havia três móveis. A Mesa da Presença ficava ao norte, o Candelabro (menorah) de sete braços, ao sul, e o Altar do Incenso estava colocado exatamente diante do véu que separava o Lugar Santo do Santíssimo. O Altar do Incenso era feito de madeira de acácia, totalmente coberta de ouro. A parte superior terminava numa coroa (zer) ou cornija de ouro e tinha quatro cornos de ouro. A altura era de dois côvados (uns 110 cm). Em cima dele era queimado o incenso na cerimônia diária, chamada “contínuo” (tamid). Cumpre notar que ao Altar do Incenso se atribuía a qualidade de Qodesh Qodashim (Êxodo 30:27-29).
Segundo Berkhof e outros teólogos, a obra intercessória de nosso Senhor era prefigurada pela queima diária do incenso no Altar de ouro situado no Lugar Santo.30 A nuvem sempre ascendente do incenso não somente era um símbolo das orações dos santos, mas também de nosso Sumo Sacerdote e da mediação do Espírito Santo, o qual roga por nós “com gemidos inexprimíveis” (Romanos 8:26). Asseveramos com Berkhof que a obra intercessória de Cristo no Céu não deve ser desligada de Seu sacrifício expiatório realizado aqui na Terra.31 Devemos lamentar com o autor mencionado que mesmo em alguns círculos evangélicos é dada a impressão de que a obra do Salvador cumprida na cruz foi muito mais importante do que Sua intercessão no Céu.32 Importa recordar, no entanto, que no Antigo Testamento a ministração diária no santuário culminava com a queima do incenso, o qual tipifica o ministério de intercessão.33 Não podemos dissociar a intercessão da expiação, pois constituem dois aspectos da mesma obra de redenção, em que a reconciliação e a intercessão andam de mãos dadas.34
3) O Candelabro (Êxodo 25:31-39; 37:17-23). O candelabro (menorah) era inteiramente de ouro e ficava no lado sul do Lugar Santo. Não são dadas as dimensões, mas os seus sete braços estavam decorados com cálices a modo de amêndoas, e com globos e lírios. Os sete braços terminavam em sete lâmpadas que deviam permanecer acesas de dia e de noite (Êxodo 27:20; Levítico 24:2 e 3). Um bom exemplo deste candelabro pode ser observado no famoso Arco da Vitória de Tito, em Roma. Uma função importante da lâmpada era a de prover luz para os sacerdotes oficiantes. Do ponto de vista da tipologia,35 ela antecipa o Senhor Jesus como a “Luz do mundo” (S. João 1:6-9; 8:12), e aos crentes, os quais, como “reis e sacerdotes (I S. Pedro 2:5 e 9; Apocalipse 1:6), à semelhança de seu Senhor, são a “luz do mundo” aqui na Terra (S. Mateus 5:14). No Apocalipse, a Igreja é simbolizada pelos candeeiros (Capítulo 1:13 e 20). O azeite que nutre a mecha tem sido considerado como símbolo do Espírito Santo.36
4) Mesa dos Pães (Êxodo 25:23-30; 37:10-16). A Mesa dos Pães da Presença estava situada no lado norte do santuário.37 Assim como a Arca do Concerto, tinha um côvado e meio de altura (uns 75 cm). Estava totalmente coberta de ouro. A parte superior da Mesa era rodeada por duas coroas (zer) ou cornijas (Êxodo 25:23-25; 37:10-12). A extraordinária importância tipológica da Mesa não pode ser eliminada porque, em primeiro lugar, sua descrição aparece imediatamente depois da descrição da Arca do Concerto,38 e, além disso, pelo fato dramático de que é o único móvel do Santuário com duas coroas.39
Que a Mesa constitui um tipo40 da presença pessoal de Deus é atestado pelo nome léhem panim que lhe é atribuído em I Samuel 21:6,1 Reis 7:48 e no livro de Êxodo. Philip Hyatt afirma com acerto41 que nessa frase panim, literalmente “rosto”, significa a Pessoa ou o Ser da Divindade. Se é assim, essa expressão devia ser traduzida por pão de Deus. Em Lamentações 4:16, panim foi traduzido por “rosto de Jeová” na Bíblia de Jerusalém e por “Javé mesmo” em Nácar Colunga. Essa mesma expressão idiomática aparece em II Samuel 17:11 e Provérbios 7:15, e é traduzida por “pessoa” em Nácar Colunga e algumas outras versões. Ao contrário do que afirma Holbrook,41ª devemos salientar que, embora seja certo que Deus habita na totalidade do Santuário, também é certo que há três lugares onde Sua presença pessoal é singularizada: na Arca do Concerto, no Altar do Incenso e na Mesa da Presença. Além disso, o trono de Deus não está restringido com exclusividade ao Lugar Santíssimo e à Arca do Concerto. A prova do que dissemos está no fato de que o Altar do Incenso e a Mesa da Presença também encerram a caracterização de qodesh qodeshim (Êxodo 30:27-29).41b
Esses móveis do Tabernáculo são os únicos no tocante aos quais Deus ordenou que fossem rodeados por coroas ou “bordaduras” (Êxodo 25:11, 24 e 25; 37:25 e 26). Que a coroa constitui um símbolo de entronização e glorificação é amplamente confirmado pelas Escrituras (II Reis 11:12; II Samuel 1:10; 12:30; II Crônicas 23:11; Ester 1:11; 2:17; I S. Pedro 5:4; Apocalipse 4:4 e 10).42 Nossa insistência no valor tipológico da coroa fica justificado: A arca do Testemunho tem uma coroa (Êxodo 25:11), o Altar de Ouro também possui uma coroa (Êxodo 37:26), e, para nossa surpresa, a Mesa da Presença tem duas coroas (Êxodo 25:23-25; 37:11 e 12) e este fato reclama nossa consideração.43 À guisa de comparação, vejamos este quadro:
Arca do Concerto | Altar do Incenso | Mesa da Presença |
Altura | ||
um côvado e | dois côvados | um côvado e meio |
meio (75 cm) | (110 cm) | (75 cm) |
Material | ||
Madeira e ouro | madeira e ouro | madeira e ouro |
Adorno | ||
uma coroa | uma coroa | duas coroas |
Elementos | ||
Cerimoniais | ||
sangue, incenso | sangue, incenso | pão em duas |
Frequência | pilhas e incenso | |
anual | diária | semanal |
Que o “Pão” e a “Mesa” têm um sentido messiânico é atestado pelo uso que o Senhor Jesus faz desses elementos ao narrar o episódio do sumo sacerdote Abiatar, o qual deu de comer a Davi do Pão da Presença (S. Mateus 12:3 e 4; S. Marcos 2:25-28). Sua dimensão escatológica, por outro lado, é atestada pelas claras afirmações de Jesus. Parece ser evidente que os judeus do tempo de Jesus antecipavam comer “pão” no reino dos Céus (S. Lucas 14:15) e o Senhor mesmo estabelece estreita relação entre a “Mesa” e o “Trono”, ao dizer a Seus discípulos: “Assim como Meu Pai Me confiou um reino, Eu vo-lo confio, para que comais e bebais à Minha mesa no Meu reino; e vos assenteis em tronos para julgar as doze tribos de Israel.” S. Lucas 22:29 e 30.
Segundo dissemos, Jesus Se “assentou” à “destra” do Pai, e nós, os crentes, segundo a Sua promessa, nos “assentaremos” com o Senhor em Seu trono, no Seu reino (Apocalipse 3:21; 20:4).44 Também temos assinalado, dando as evidências do caso, que no Tabernáculo do deserto Deus nos deu uma antecipação dos fatos culminantes da obra salvífica, por meio de símbolos e tipos que se tornam bem claros quando os examinamos sob a perspectiva do Novo Testamento. Assim, o Candelabro com seus sete braços antecipa a Igreja cristã enquanto participa da graça de Deus, que torna os crentes reis e “sacerdotes para o seu Deus e Pai” (Apocalipse 1:6; I S. Pedro 2:9). Foi Deus quem criou a Igreja, e Ele realiza no mundo, por meio dela, a atividade redentora de Seu poder e graça. Neste sentido, todos os remidos estão envolvidos no louvor registrado em Apocalipse 5:9 e 10, onde os vinte e quatro anciãos glorificam o Senhor dizendo: “Foste morto e com o Teu sangue compraste para Deus os que procedem de toda tribo, língua, povo e nação, e para o nosso Deus os constituíste reino e sacerdotes; e reinarão sobre a Terra.”45
No Novo Testamento há abundantes evidências adicionais, e por isso a ideia tem de ser aceita como válida (Apocalipse 3:21; S. Mateus 19:28; S. Lucas 22:29 e 30; S. Mateus 26:28; Apocalipse 20:4; 1:12-20; I Coríntios 6:2 e 3; Efésios 2:5 e 6).
O Altar de Ouro, por sua vez, prefigura a nosso Senhor em Seu ofício de Sumo Sacerdote, o qual, havendo sido “coroado de glória e de honra”, agora intercede por nós. Devemos insistir de novo que a intercessão de Cristo prefigurada no Altar de Ouro não é uma afirmação arbitrária ou antojadiça, pois as Escrituras apresentam numerosas evidências em favor da posição que estamos descrevendo (Apocalipse 8:3-5; Hebreus 7:24 e 25; Romanos 8:26, 27 e 34; I S. João 2:l)46 e, por último, ali está a Mesa da Presença com as duas coroas e as duas pilhas de pão. Não era necessário que fossem duas; poderiam ter sido uma, três ou cinco, mas Deus, que não deixou isto a critério de Bezaleel, ordenou que fossem duas coroas e duas pilhas. O tipo parecia designar o Pai e o Filho “sentados” um ao lado do outro para alimentar com o “pão do Céu” e dirigir com a luz da verdade a Seus filhos aqui na Terra, até que se cumprisse o tempo e mudassem então o Seu trono do Lugar Santo para o Lugar Santíssimo, a fim de realizar a obra final do Juízo antecipada em Sua Palavra.47
Que o simbolismo antecipado na Mesa da Presença e no Pão colocado sobre ela tenha sido parcialmente entendido pela maioria dos exegetas e tipólogos não tira a força e a autenticidade da verdade que estamos descrevendo. A limitação e, com frequência, a lentidão humana para descobrir os “mistérios de Deus” é um fenômeno recorrente na história salvífica. Verdades bíblicas que agora são claríssimas para nós, como o batismo por imersão, o sacerdócio universal dos crentes, a justificação pela fé, o sábado, etc., permaneceram na penumbra da História até que, “chegando o tempo”, começaram a impressionar as mentes dos crentes (S. Lucas 24:13-32; Atos 1:4-9). Em conclusão, diremos que, do ponto de vista da tipologia bíblica, assim como nós a visualizamos, o Lugar Santo do Tabernáculo, com seus móveis correspondentes, parece haver sido o cenário típico para a coroação do Filho como Rei e Sacerdote, pois é ah que Ele Se “assenta” e também é no Lugar Santo que se antecipa aos crentes, os quais, como irmãos menores de Cristo (Hebreus 2:17; 3:1-6; Romanos 8:29; Gálatas 3:27-29; 4:4-7), sentar-se-ão a Seu lado para estar e reinar com Ele e comer de Sua Mesa por toda a eternidade.
Afigura-se que por ocasião de Sua ascensão ao Céu, a ministração sacerdotal de Cristo em favor dos pecadores tem por cenário legítimo o Lugar Santo (Hebreus 4:14-16; 5:8-11). A tipologia do Tabernáculo, entendida da perspectiva do Novo Testamento, parece não deixar outra alternativa.
Referências:
1. Habershon, Ada R. The Study of the Types (Kregel Publ., Grand Rapids. Michigan, 1974), pág. 9;, Hyde Gordon. A Symposium on Biblical Hermeneutics (Review and Herald, Washington, D. C„ 1974), págs. 187, 209 e 232.
2. Rad, G. von. Teologia del Antiguo Testamento (Ed. Sígueme, Salamanca, 1980), pág. 473.
3. Idem, págs. 473 e 474.
4. Childs, Brevard S. The Book of Exodus (The Westminster Press, Filadélfia, 1974), pág. 547. Os exageros no uso da tipologia são exemplificados por Childs com Herman Witsius, o qual, para defender sua posição tipológica, chamava a atenção para o fato de que Deus só usou seis dias para criar o mundo e quarenta dias para instruir Moisés a respeito da construção do tabernáculo. Insiste em que Deus só usou um pouco mais de um capítulo para narrar o ato da fundação do mundo, e seis para descrever a arquitetura do tabernáculo. Ver também Shea, William H.: Daniel and the Judgement (General Conference of SDA. Washington, D. C.), págs. 416-417.
5. Idem, pág. 550.
6. Meagher, Paul K.: Encyclopedic Dictionary of Religion (Corpus Publ., Washington, D. C„ 1979), pág. 3.588; Childs, Brevard: The Book of Exodus, pág. 540.
7. Davis, John: Moses and the Gods of Egypt (Baker Book House, Grand Rapids, Michigan, 1971), pág. 244.
8. Pick, Aaron: Dictionary of Old Testament Words (Kregel Publ., Grand Rapids, 1977) , pág. 470.
9. Idem, pág. 490.
10. Buchanan, George W.: The Anchor Bible, To The Hebrews (Doubleday, Nova Iorque,
1978) , pág. 132. O autor dessa obra usa de ampla documentação para mostrar que entre os judeus era comum a ideia de um trono de Deus no Céu. Ademais, aceitava-se como certa a ideia da morada simultânea de Deus no Céu e no templo. Havia íntima conexão entre a Jerusalém terrestre e a Jerusalém celestial, e o testemunho das Escrituras é tão enfático que não dá lugar a dúvidas.
11. Howley, H. H.: Peak’s Commentary on the Bible (Nelson, 1962), pág. 234.
12. Rad, Gerhard von: Teologia del Antiguo Testamento, pág. 425.
13. Por exemplo: Davis, John: Moses and the Gods of Egypt, págs. 244-260; Rad, Gerhard von: Teologia del Antiguo Testamento, págs. 467-499; Clarke, Adam: A Commentary, The Old Testament, vol. 1, págs. 425-450; Buchanan, George W.: To The Hebrews, págs. 132-160; Ridout, S.: Lectures on the Tabernacle, págs. 7-39; Soltau, Henry: The Tabernacle; Habershon, Ada R.: The Study of the Types, págs. 9-70; Jukes, Andrew: The Law of the Offerings, págs. 9-40.
14. No Apocalipse, por exemplo, o Senhor Jesus é simbolizado umas 28 vezes na figura do “Cordeiro”. Apoc. 5:6.
15. Colunga, Alberto: Biblia Comentada (Biblioteca de Autores Cristianos, Madri, 1967), pág. 557; Davis, John: Moses and the Gods of Egypt, pág. 257. Para maiores detalhes, ver: Japas, Salim: Cristo en el Santuario, págs. 24-27.
16. Edersheim, Alfred: The Temple (Eerdmans, Grand Rapids, 1972), pág. 183; White, Ellen G.: Patriarcas e Profetas (Casa Publicadora Brasileira, 1960), pág. 365: “O incenso que subia com as orações de Israel, representa os méritos e intercessão de Cristo, Sua perfeita justiça, que pela fé é atribuída ao Seu povo.” Ver também: Japas. Salim: Cristo en el Santuario, págs. 28-31.
17. Habershon, Ada R.: The Study of the Types, pág. 64: “As três pessoas da Trindade, em tipo, estão todas ligadas em conexão com a Arca; pois, embora ela prefigura a obra e a pessoa do Senhor Jesus, a nuvem que paira acima dela parece representar o Espírito Santo; e Deus falava com o povo acima do propiciatório.”
18. Rowley, H. H.: Peak’s Commentary, pág. 234; Ridout, Samuel: Lectures on the Tabernacle, págs. 290-307.
19. Para maiores pormenores, ver: Childs, Brevard S.: The Book of Exodus, págs. 543-547. Que a expressão “se assentou” equivale a entronização ou assumir autoridade, é amplamente atestado nas Escrituras (I Reis 1:32-46; I Crônicas 29:23).
20. White, Ellen G.: Evangelismo, pág. 447.
21. Hasel. Gerhard: “Christ Atoning Ministry in Heaven”, em The Ministry (General Conference of SDA, Washington, D. C„ 1975), pág. 15c. Segundo Buchanan, To The Hebrews, pág. 159: “O próprio trono pode ter sido um carro puxado por animais celestes”, o que indica mobilidade.
22. White, Ellen G.: Hechos de los Apóstoles (PPPA, Califórnia. 1955), págs. 31 e 32. Para um estudo mais completo sobre “à destra”, ver Bruce, F. F.: Hebrews (Eerdmans, Grand Rapids, Michigan, 1977), pág. 7; Westcott, E. F.: Hebrews (Eerdmans, Grand Rapids, Michigan, 1977) , pág. 15.
23. Para um estudo recente do Santuário Celestial, ver Walenkampf, Amold: The Sanctuary and the Atonement (General Conference of SDA, Washington, D. C„ 1980), págs. 1-85 e 157-175.
24. Ver Davis, John: Moses and the Gods of Egypt, pág. 247, e Childs, Brevard S.: The Book of Exodus, pág. 547.
25. Keel, Othmar: The Symbolism of the Biblical Word (The Seabury Press, Nova Iorque.
1978) . Nesta obra pode-se observar a variedade quase infinita de possibilidades simbólicas e tipológicas às quais os crentes têm recorrido. O simbolismo e a tipologia não são exclusivos do povo de Israel. Todos os povos do Oriente Próximo participaram dessas correntes do saber e, portanto, seu estudo comparativo pode resultar numa aprofundização da tipologia bíblica. No entanto, as definições mais categóricas devem situar-se dentro do cânon da Escritura Sagrada, para que sua originalidade não fique desvirtuada pela influência do que é estranho ao nome profético-teológico-tipológico da revelação.
26. Hasel, Gerhard: Old Testament Theology (Eerdmans, Grand Rapids, Michigan, 1977), págs. 112-118. Hasel insiste no valor da investigação tipológica apoiando-se em autores de grande peso, como von Rad e Eichrodt, os quais, em estudos teológicos recentes, se volvem para a tipologia como uma “maneira peculiar de encarar a História” (pág. 112). Embora alguns eruditos tenham rejeitado totalmente o método tipológico na esfera bíblica permanece em pé o fato de que a analogia tipológica se nutre naquilo que é atestado no Novo Testamento (pág. 113).
27. A Arca foi o lugar privilegiado em que Deus resolveu exercer a direção de Seu povo (Êxodo 25:21 e 22); e, em sentido restrito, também foi a sede do trono divino (I Samuel 4:3-7) ou seu estrado (1 Crônicas 28:2). Era um testemunho inequívoco de Sua contínua morada com o povo de Deus.
28. Habershon, Ada R.: The Study of the Types, págs. 64, 148 e 150.
29. Segundo Chester K. Lehman: Biblical Theology (Herald Press, Kitchener, Ontário, 1977), vol. 1, págs. 138-140, três verdades são explicitadas por meio do Santuário: 1) Estimular o desenvolvimento da comunhão no espírito do concerto. 2) Ensinar a significação transcendental da santidade divina. 3) Mostrar o significativo conteúdo da adoração.
30. Berkhof, L.: Teologia Sistemática (T. E. L. L„ Grand Rapids, Michigan, 1974), pág. 475.
31. Para o leitor superficial, o Novo Testamento dá a impressão de não se referir com insistência à obra de intercessão de Cristo no Santuário Celestial, pois exceto em Hebreus e Apocalipse, as referências são poucas. As citações que apresentamos a seguir (Atos 7:44 e 55-60; Apocalipse 13:6; 15:1 e 5; 14:17; 21:3) nos autorizam a asseverar, porém, que o assunto era conhecido. O fato de não ser mencionado com mais frequência pode atribuir-se à dificuldade dos novos crentes que não estavam habituados às figuras e símbolos mais ocultos do Antigo Testamento (Hebreus 5:11-14; II S. Pedro 3:15 e 16).
32. Berkhof, L.: Teologia Sistemática, pág. 477.
33. Ibidem.
34. A intercessão, o sacrifício, a reconciliação, a purificação do pecado e o perdão são assuntos básicos para os dois Testamentos. Para aceitar o testemunho da Epístola aos Hebreus com seriedade, temos que rechaçar as posições teológicas que supõem que o Novo Testamento só explica o pecado em categorias existenciais, o reino de Deus como um programa político e a função de Cristo só como o revelador do amor incondicional de Deus (Hebreus 10:19-31). Para considerações mais completas, ver o artigo “Reflexões Teológicas Sobre o Tabernáculo”, escrito por Brevard S. Childs, em sua obra The Book of Exodus.
35. Para considerações tipológicas mais amplas, ver o capítulo “O Castiçal”, na obra de Samuel Ridout intitulada Lectures on the Tabernacle. Também Soltau. Henry W.: The Holy Vessels and Furniture of the Tabernacle (Kregel Publ., Grande Rapids, Michigan, 1975), págs. 73-88.
36. Davis, John: Moses and the Gods of Egypt, pág. 257.
37. A “Mesa da Presença” foi colocada para “os lados do Norte”. A recorrência do “lado norte” no Antigo e no Novo Testamento chama a atenção e reclama considerações mais amplas que agora não podemos fazer, devido aos limites que nos impusemos para este trabalho. (Isaías 14:12-14; Salmo 48:2.)
38. Spence, H. D. M.: The Pulpit Commentary. Exodus (Wilcox & Follett Co., Chicago, 1950), pág. 256; Meyer, F. B.: Devotional Commentary on Exodus (Kregel Publ.. Grand Rapids, Michigan, 1976), pág. 311.
39. Soltau, Henry W.: The Holy Vessels, pág. 59.
40. Geralmente é aceito que os móveis do Santuário encerravam um sentido tipológico. O “tipo” é uma espécie de linguagem figurada, e a figura foi preparada por Deus para representar uma verdade espiritual. Cumpre assinalar que a tipologia bíblica deve mover-se dentro de limites seguros, e esses limites devem encontrar-se na própria Escritura. O tipo não somente simboliza, mas também prefigura. Ver Fountain, Thomas E.: Claves de Interpretación Bíblica (La Fuente, México, 1961). págs. 85-89; e Grant, Robert M.: The Interpretation of the Bible (MacMillan Co„ Nova Iorque, 1966), págs. 28-56.
41. Hyatt, Philip J.: Exodus (The Attic Press, Greenwood. 1971), págs. 268-270.
41a. Hollbrook, Frank B.: “O Santuário Israelita”. em The Sanctuary and the Atonement (Review and Herald. Washington. D. C„ 1981).
41b. Cremos que os exegetas têm concedido ao Lugar Santíssimo do Santurário um grau de santidade superlativo que a própria Escritura não lhe confere. A habitação de Deus não está exclusivamente restringida ao “Lugar Santíssimo”. Há evidências bíblicas suficientes para mostrar o contrário. Vejamos, por exemplo, o uso da frase Qodesh Qodashim em relação com o Santuário:
1) O Santuário em sua totalidade é chamado Qodesh Qodashim — Ezequiel 45:3.
2) O monte em que foi construído o templo recebe a mesma qualificação — Ezequiel 43:12.
3) A Mesa, o Candelabro e o Altar do Incenso são considerados Qodesh Qudashim — Êxodo 30:27-29.
4) O Altar dos Sacrifícios também — Êxodo 29:37; 40:10.
42. A “coroa” simboliza a autoridade real de quem a possui e era colocada sobre a cabeça no ato de entronização ou de “assentar-se” (II Samuel 1:10). No caso especial do sumo sacerdote Josué, o texto indica que foram postas “coroas” sobre sua cabeça para denotar sua autoridade real e seu régio sacerdócio (Zacarias 6:11-13). Ver Buttrick. George: The Interpreters Dictionary of the Bible (Abingdon Press. Nova Iorque), págs. 745 e 746. Assim, o símbolo real por excelência era a “coroa”. Ver White. Ellen G.: O Grande Conflito.
43. Ver Ridout, Samuel: Lectures on the Tabernacle, págs. 292-318.
44. Ladd. George E.: El Evangelio del Reino (Caribe, Barcelona, Espanha. 1974), págs. 20-23. Ladd, nesta obra, faz um estudo muito valioso sobre o Reino de Deus. Os que quiserem aprofundar-se neste assunto devem lê-lo.
45. Idem, pág. 121.
46. Ver White, Ellen G.: Patriarcas e Profetas (Casa Publicadora Brasileira, Santo André, 1960), págs. 369-388; Buchanan, G.: Hebrews, págs. 157 e 159.
47. Cullman, Oscar: Christ and Time (The Westminster Press, Filadélfia. 1964), págs. 233-237; Daniel 7:8-14.